sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Fp 1.9-11 Coisas excelentes



 

E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e em todo a percepção, para aprovardes as coisas excelentes, e serdes sinceros, e inculpáveis para o Dia de Cristo; cheios do fruto de justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus”.   

 

Há no ser humano um arquétipo da divindade que o leva a desejar coisas eternas. Ec 3.11 afirma “também pôs Deus a eternidade no coração do homem”. Muitas vezes nos encontramos dispersos quanto a este desejo, mas C. S. Lewis afirma que muito do desejo pelo belo e pelo estético que há na natureza humana tem a ver com o fato de que isto nos aponta para a beleza de Deus, como lemos nas Escrituras Sagradas, que fala da “beleza da santidade” de Deus. Um tema meio estranho para nós que buscamos belezas efêmeras e eventualmente desvirtuamos o belo por causa dos prazeres temporais e do hedonismo, mas por detrás de casa sonho, busca por prazer, agenda cheia, há uma busca insaciável por Deus, ainda que o homem nem sempre esteja consciente do objeto de sua busca e desejo.

 

Muitas vezes este anseio pelo Sagrado e pelo Eterno, se esconde por trás de uma variedade de entretenimentos, barulhos e atividades. Buscamos substitutos para Deus em coisas e pessoas, para resolver o anseio espiritual e profundo, mas muitas vezes nos cansamos de nossos ídolos, ou substitutos do Deus verdadeiro e o desejo por Deus volta a ser mais intenso, mas estamos tão viciados em gastar tempo e dinheiro em busca de satisfação de nossos desejos que voltamos novamente aos ídolos que se encontram nos entretenimentos e confortos tão desejados.


"
Nosso Senhor considera os nossos desejos não demasiadamente fortes, mas demasiadamente fracos. Somos criaturas perdidas, correndo atrás do álcool, sexo e ambições, desprezando a alegria infinita que se nos oferece, como uma criança ignorante que prefere seus bolinhos de barro no meio do chiqueiro, porque não consegue imaginar o que significa um convite para passar as férias na praia" (C. S. Lewis, O peso da Glória).

 

O apóstolo Paulo escreve aos irmãos de Filipos dizendo que orava para que eles aprovassem as coisas excelentes.

 

Paulo registra o conteúdo da sua oração, no qual rogava a Deus que os centres de Filipos, aprovassem as coisas excelentes e vivessem para louvor e glória de Deus. Ele fala da beleza e alegria que vem ao nosso coração quando nos tornamos parecidos com Cristo, quando a obra de Cristo estiver se realizando em nossa vida. Este é o significado maior de sermos “discípulos de Cristo”, ou “imitadores de Cristo”. 

 

No Evangelho de Joao 5.1-9 lemos sobre o encontro de Jesus com o paralítico. Ele vivia nesta situação de invalidez e dependência por 38 anos, esperando uma resposta mágica de um suposto anjo que descia do céu e movia a água no Tanque de Betesda. Ao se aproximar dele, e sabendo de sua real situação, ele faz uma pergunta estranha: “Queres ser curado?”  A estranheza está no fato de que parece óbvio que aquele homem queria ser curado. Para nossa adequação, poderíamos perguntar: “Queres ser transformado?”

 

Partimos do pressuposto de que toda pessoa enferma quer ser transformada, mas será que isto é verdade? Nem todos querem. Temos visto que muitas pessoas, apesar de doentes e inválidas, transformam o seu estilo de vida patológico em um modo doente de vida. Parecem querer viver desta forma. A doença, o pecado, a invalidez, de alguma forma parece ser conveniente. O processo de mudança nem sempre é fácil e a pessoa se acostuma com seu estado de miséria e mendicância. A verdade é que o homem não responde a Jesus se quer ser curado, mas justifica seu estado de dependência. Ele se vê como vítima de um sistema que não lhe dá chance de sair deste ciclo de paralisia. 

 

A pergunta de Jesus, pode ser feita a cada um de nós: “Queres ser curado? Queres ser transformado? Queres experimentar as coisas excelentes de Deus que podem ser encontradas em Jesus?”

 

A verdade, é que, não mudamos, por não desejarmos mudança, ou por não encontrarmos poder para mudança, e assim continuamos adoecidos. Parece que o Evangelho tem poder de nos preparar para viver a eternidade, mas não para uma vida vitoriosa no tempo presente, experimentando as coisas excelentes que se encontram na vida de Cristo que nos foi aplicada pelo Espírito Santo. Continuamos a ter corações miseráveis, somos cônjuges autocentrados, usamos a raiva para intimidar as pessoas, estamos presos à luxúria, aos vícios, aos prazeres efêmeros da carne. Manipulamos e controlamos para conseguir o que queremos, estamos aprisionados pelos ídolos do coração e em laços de iniquidade, temos uma face pública para impressionar as pessoas e manter as aparências, mas o coração continua precisando de transformação profunda. O que há de errado em nosso discipulado? No processo de sermos realmente seguidores de Cristo?

 

Ouvi certa vez uma frase que dizia:

 

“Ficamos satisfeitos com nossa insatisfação espiritual. Talvez estejamos lidando com o mesmo pecado que estávamos há décadas, mas, pelo menos, estamos frustrados com isto” (Kent Carlson), e nos justificamos assim.

 

A verdade, é que há uma questão crucial que chamamos de intencionalidade. Nós precisamos querer. Precisamos nos arrepender do nominalismo evangélico para abraçar a vida do reino de Deus e experimentar “as coisas excelentes” que nos são comunicadas pelo Espírito que em nós habita quando cremos.

 

Os pais do deserto, que trabalharam profundamente a busca por uma vida espiritual profunda e significativa, identificaram quatro aspectos fundamentais no processo de formação espiritual:

 

Primeiro, a transformação acontece nos detalhes específicos do coração

 

O problema é que, quando decidimos colocar todos os aspectos da vida sob o crivo da luz de Cristo, quando permitimos que a luz de Cristo ilumine os porões escuros de nossa alma, nos assustamos com a grandeza do nosso pecado. Quanto mais nos aproximamos de Cristo, mais percebemos a pequenez do coração, a mesquinharia, a magnitude daquilo que precisa ser mudado dentro de nós. Há tantas áreas precisando de reparos, que ao invés de olharmos de forma direta para o nosso mal, somos tentados a generalizar. “Perdoa a multidão de meus pecados”, ou “eu sei que sou um pecador”, mas nunca falamos para Deus qual é o nosso pecado.

 

Certamente é mais fácil admitir que sou pecador que declarar: “Sou um lascivo”, ou “sou um mentiroso”. O problema é que se não considerarmos a especificidade do mal seremos impedidos de entrar em contato com ele. Nas generalizações ninguém cresce, mas nos escondemos, porque ninguém é exposto.

 

Somos realmente transformados quando intencionalmente escolhemos revelar os detalhes atormentadores. A verdadeira mudança acontece quando a confissão se torna invasiva. “A palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração”(Hb 4.12). A Palavra de Deus vai penetrar em áreas abscônditas e indivisíveis de nosso ser.

 

Pecado precisa ser nomeado. Quanto mais genérico for a confissão menos efeito trará. Pecado tem nome, geografia, história. Muitas vezes com longa duração e influência em nossa vida.

 

Certa feita estávamos num encontro de pastores em Fort Lauderdale, o nosso preletor era Osmar Ludovico, e trabalhamos os sete pecados capitais. No final ele pediu para que confessássemos um pecado, e não nos distraíssemos com “muitos pecados” que sabemos ter, mas que nosso foco estivesse apenas em um aspecto central da nossa vida. Lembro-me perfeitamente como foi duro para cada um de nós, e para mim de forma específica, admitir que determinada área de minha vida estava profundamente maculada e precisava de redenção.

 

Segundo, Aja contraintuivamente

 

Este é o segundo aspecto fundamental no processo de formação espiritual que os pais do deserto identificaram.

 

Ao entrarmos em contato com nossa natureza caída, e considerar nosso pecado, percebemos o quanto nossas atitudes são automáticas, na maioria das vezes sequer percebemos o mal que elas geram e quanto isto fere as pessoas e desagrada a Deus. Simplesmente fazemos porque sempre fizemos. Simples assim.

 

Não percebemos como a luxúria está presente nos olhares lascivos que temos. Não consideramos o quanto nosso mau humor é agressivo e ranzinza, não precisamos fazer esforço para nos irritarmos com o motorista que nos corta no trânsito. Nossa raiva faz parte da rotina da vida e reina absoluta em nossas atitudes.

 

Portanto, para superar hábitos arraigados e o “fútil procedimento que nossos pais nos legaram” (1 Pe 1.18), esta herança de futilidade que social e culturalmente desenvolvemos, há uma regra estranha mas transformadora: “faça o oposto daquilo que você quer fazer”. 

Um dos mais famosos slogans de grandes companhias é o da Nike que diz: "Just do it" (apenas faça!). no entanto, para sermos transformados, o lema deveria ser: "Don't do it" (Não faça isto!).

 

Se seu coração está sempre conduzindo você à depressão ou a ansiedade, se sua relação com dinheiro está sempre te afastando da generosidade, faça o oposto daquilo que sua natureza pecaminosa pede. A palavra de Deus nos exorta: “Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências”. Uma outra tradução deste texto diz: “Não façais provisões para a carne”. A carne, os meus instintos, a natureza ávida e voraz não pode ser satisfeita, se eu quiser experimentar as coisas excelentes.

 

Se uma pessoa é controladora precisa se colocar em situações onde outra pessoa está no comando. A pessoa absorta em si mesma, precisa parar o que está fazendo e ouvir. O solitário precisa de relacionamentos. Os sociáveis precisam de solitude, e a pessoa sempre pronta a explodir precisa aprender a colocar sua agressividade explosiva sob controle.

 

“Uma atitude contraintuitiva nos leva para além dos limites da nossa zona de conforto e a um território não-familiar, onde somos mais dependentes de Deus” (Kent Carlson).

 

Terceiro, precisamos colocar nossa identidade no centro das forças

 

Um dos grandes desafios que temos é aprender a identificar quem somos no meio das batalhas. No meio da dor facilmente nos esquecemos que somos filhos amados, e questionamos o Pai amado se as coisas não estão mais sob controle. em situações de provação e tentação nos esquecemos que somos filhos da luz e cedemos às trevas.  Esquecemos quem somos em Deus: Filhos Amados e Filhos da luz

 

Quando Jesus sai do batismo, Deus afirma sua identidade: “Este é o meu filho amado, em quem me comprazo”. Deus queria lembrar a Jesus sua relação e identidade com o Pai, porque em seguida ele passaria pelo deserto. Da mesma forma, precisamos lembrar que o que nos define não é o que fazemos, nem o que dizem que somos, nem aquilo que acontece conosco, de bom ou de ruim, mas o que somos aos olhos de Deus.

 

“Formamos uma barreira que isola nosso lado obscuro. Odiamos nossos pecados, mas também os amamos. Queremos nos ver livres da luta, mas queremos permanecer nelas. Não as suportamos mas não podemos imaginar a vida sem elas. Momentos de raiva nos dão alguns momentos de liberdade, onde podemos ser incorrigíveis sem nos preocupar com o que os outros pensam. Quando estouramos em raiva, conseguimos o que queremos. A luxúria nos oferece satisfação sexual sem a inconveniência da intimidade. A correria nos faz sentir necessários e importantes. A preocupação sustenta nosso falso senso de controle. A mentira mantém nosso verdadeiro eu na obscuridade”(Kent Carlson).

 

Desta forma vamos construindo uma falsa identidade.

É impossível experimentar as coisas excelentes de Deus vivendo desta forma.

 

Jesus nos dá liberdade, e onde está o Espírito do Senhor, ai há liberdade. Mas o que seremos sem a raiva, a luxúria, o medo ou o controle? A incerteza nos mantém e nos solidifica como pessoas superficiais. Não entramos em contato com nosso mal. Precisamos do dinheiro para manter nossa falsa identidade; precisamos do poder, de sermos aceitos; precisamos da reputação e de tantos outros ídolos do coração, e nem sequer percebemos que estas coisas que amamos e queremos tanto são exatamente aquilo que cria em nós um falso ego e nos leva a perder a centralidade da vida que se encontra em Deus.

 

Precisamos descobrir que podemos lidar com passado com coragem e com nosso pecado com ousadia. Nossa reputação e valor encontram-se em Cristo. Nossa identidade está escondida nele. “fomos sepultados na morte com ele”. Pelo seu sangue fomos colocados em outro patamar de sermos “sinceros e inculpáveis no Dia de Cristo”. (Fp 1.10). Só assim seremos capazes de experimentar as coisas excelentes.

 

Quarto, a transformação pessoal traz implicações muito além das individuais

 

Isto é, quando Deus efetua uma transformação pessoal em nossa história, isto afeta todos os relacionamentos.

 

Certo homem era conhecido por sua ira. Ele explodia com as pessoas que amava, gritava com os motoristas na rua, estava sempre se metendo em dificuldades com seus colegas no trabalho, e então percebeu que isto estava atrapalhando seu crescimento espiritual, prejudicando sua família e trazendo desonra para o Evangelho. Procurou tratar da sua ira, tentando descobrir suas raízes mais profundas e Deus trouxe mudanças significativas para sua vida. Sua raiva diminuiu, ele não reagia de forma tão abrupta quanto antes e lidava com as crises com maior serenidade.

 

O que ele não esperava era o efeito que isto causaria na sua casa. Sua esposa e filhos haviam aprendido a conviver com uma pessoa raivosa e agora sua transformação estava afetando todo o sistema da casa. O casal percebeu que sem as crises de raiva, era possível tratar de questões matrimoniais não resolvidas, e os filhos estavam dormindo melhor, se tornaram mais calmos e confortáveis quando o ambiente era turbulento.

 

Sua mudança trouxe mudança ao seu redor.

A sua transformação pessoal estava provocando benéficos efeitos em toda a família.

 

Quando Deus muda a vida de uma pessoa, isto traz impacto nas pessoas de nossa convivência e passamos a experimentar as “coisas excelentes”, que estão interligadas ao evangelho.

 

Como experimentar “as coisas excelentes”?

 

Paulo afirma neste texto:

E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e em todo a percepção, para aprovardes as coisas excelentes”.

 

Preste atenção no itálico “para aprovardes”.

Para aprovar as coisas excelentes e experimentá-las na vida existem algumas condições:

 

A.      Que o vosso amor aumente mais e mais – Existe uma geografia, um itinerário, que é construído sobre o fundamento do amor. A afetividade, é uma forma de ser que nos leva a experimentar as coisas excelentes.

 

Stephen Covey, no seu livro “Sete hábitos de uma pessoa bem sucedida”, fala de depósitos emocionais. Para ele a questão dos afetos pode ser comparada a uma conta bancária. Só possui saldo quem fez depósitos.

 

O problema é que muitos querem fazer saques sem lastro emocional. Se não tivermos investimento na área da afetividade, não teremos fundos necessários para os saques que desejamos fazer.

 

Para experimentar as coisas excelentes, nosso amor precisa aumentar mais e mais.

 

B.       Pleno conhecimento e toda percepção – Ele está falando agora de outro aspecto. O amor precisa crescer com conhecimento e percepção. Existe muita gente que desenvolve relacionamentos neuróticos de amor. Ora de subserviência e idolatria em relação ao ser amado, ora de autoritarismo e arrogância em relação ao outro. E acha que está amando.

 

Existe muito amor patológico e tóxico, assim como existem pessoas que amam e cometem crimes passionais. O amor doentio tenta dominar, controlar, manipular, considera o outro como posse. Tais pessoas acham, equivocadamente, que por amor podem matar. Outros por não terem percepção do verdadeiro amor, acham que podem sufocar o outro com amor, e colocam o outro no centro, transformando-o em ídolo, dependendo do outro para sua sobrevivência. desenvolvem a Síndrome de Estocolmo, tornam-se obcecadas pelo outro de uma tal forma que se submetem a toda forma de tortura psicológica e existencial, que não consegue sobreviver sem o outro.

 

Para aprovar as “coisas excelentes”, o amor precisa aumentar dia a dia, em pleno conhecimento e percepção. Nada de amor de controle, carregado de ciúme, achando que tem a posse do outro ou que não pode viver sem o outro.

 

O objetivo das “coisas excelentes”

 

Se no tópico anterior falamos de como as coisas excelentes podem ser experimentadas, neste tópico, seguindo o raciocínio bíblico, queremos mostrar para onde nos levam estas coisas excelentes, geradas em Cristo. “Serdes sinceros e inculpáveis para o Dia de Cristo“.

 

As coisas excelentes nos purificam, nos santificam, nos tornam limpos diante de Deus.

Paulo está falando do julgamento final, do dia do nosso encontro com o Senhor.

 

As coisas excelentes que experimentamos, possuem um efeito terapêutico e redentor em nossa vida. Santificação e honra diante dos homens e de Deus.  Paulo fala a Timóteo, o jovem pastor: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15).

 

O objetivo de viver em amor, com discernimento é que nossa afetividade vai gerando santidade e cura. Vai nos moldando para sermos parecidos com Jesus, verdadeiros discípulos de Cristo.

 

Conclusão

 

Existem coisas excelentes que Deus quer nos conceder. Infelizmente estamos acostumados com a mesquinhez e a mediocridade.

 

Vivemos vidas pobres, idolátricas, consumistas, narcisistas e nossos afetos são danificados. Não conseguimos amar com percepção e pleno conhecimento. Amamos distorcidamente e adoecemos. Vivemos pobremente. Vivemos muito aquém do plano que Deus quis realizar em nós através de Cristo.

 

Parecemos com a história do mendigo que viveu durante anos pedindo ajuda aos transeuntes assentado numa enorme pedra que ficava no centro da cidade em frente a prefeitura. Certo dia, reformas e ampliações precisaram ser feitas e aquele mendigo teve que sair do “seu ponto”, e quando as máquinas começaram as escavações descobriram um tesouro de moedas antigas de ouro, justamente abaixo do lugar onde se assentava o mendigo. Viveu como pobre, tendo sob seus pés grande riqueza.


Em 2011, fiscais aduaneiros alemães, numa fiscalização de rotina, descobriram em um apartamento no Bairro de Schwaabing, Munique, um tesouro com 1.500 obras realizadas pelos melhores pintores do período entre as duas guerras mundiais do Século XX, com o valor estimado em quase 1 bilhão de euros. acreditava-se que estas obras estavam perdidas, mas encontravam-se escondidas atrás de pacotes de macarrão, frutas e feijão, já apodrecidas.

 

Entre elas estavam obras de Pablo Picasso, Marc Chagall, Max Beckmann , Otto Dix e Henry Matisse. A pessoa que morava naquela apartamento havia morrido e nunca suspeitou que aquelas obras haviam sido banidas por Hitler, que as chamava de "obras degeneradas", porque ele odiava o impressionismo e o cubismo. Era um pobre apartamento, com uma riqueza inestimável. Aquela pessoa jamais poderia entender a riqueza que tinha dentro de sua casa. Isto não é uma realidade muito parecida com nossa vida espiritual?

 

O Evangelho quer nos conceder coisas excelentes, mas nos contentamos com restos e migalhas. Não é sem razão que nos surpreendemos muitas vezes nos perguntado: “Será que é apenas isto que o Evangelho nos oferece?” Será que o Evangelho nos ensina a morrer mas não nos ensina a viver? Por que estamos tão pobres de coração e alma se já recebemos o amor de Cristo em nossos corações?

 

O apóstolo ora para que os irmãos de Filipos aprovem as coisas excelentes.

 

Será que podemos aprovar e provar estas coisas excelentes que Deus dispôs para seu povo?

 

Ef 6.4 Pais...não provoqueis...



"Pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e admoestação do Senhor"(Ef 6.4).
Col 3.21 - "Pais não irriteis os vossos filhos, para que não fiquem desanimados".


Introdução:

A exortação bíblica agora se volta para os pais.
O termo “pais” que aparece aqui, ainda que dê a impressão de se tratar da mãe e do pai, na verdade, está focado apenas na figura masculina (pateres), embora, certamente possa ser aplicado aos dois, mas especificamente quando o texto fala de “pais”, está se referindo aos homens.
A exortação bíblica é que os filhos “não provoquem seus filhos à ira”, nem “irritem seus filhos para que não fiquem desanimados”.
Uma tradução inglesa, afirma: “Pais, não irriteis vossos filhos para não perder os seus corações” (NASB). A palavra grega para “irritar” é não torná-los amargurados. Calvino preferiu traduzir da seguinte forma: "Sejam criados amorosamente".

O que irrita os filhos?
1.   Incoerência dos Pais
 Steve Farrar opta pela palavra “injustiça”. Pais podem não ser justos na aplicação da disciplina, no tratamento que dão aos filhos, pela incoerência de vida. Alguns anos atrás aconselhei um homem que estava traindo sua esposa, e seu filho, de apenas cinco anos estava percebendo tudo, até que um dia lhe disse: “Pai, o senhor não pode fazer isto... o senhor é um homem casado”. E isto foi um soco na incoerência do pai, fazendo-o repensar e retornar à sua família e sua esposa.
Filhos se tornam irritados e ressentidos quando pais continuamente tratam as coisas de forma injusta. Infelizmente alguns pais tratam seus filhos com muita ambiguidade e dubiedade, contradizendo suas próprias ordens: Sim & não. Muitos se lembram o quanto foi dolorido receber tratamento incoerente ou injusto. Algumas vezes este tipo de tratamento deixa marcas tão profundas que acompanham a vida do filho por anos a fio, e eventualmente, para sempre.
A habitual contradição na educação ou injustiça no tratamento recebido, pode causar um acúmulo de ira que amargura a relação com os pais. A disciplina incoerente fere os filhos. O favoritismo por um dos filhos também pode ser uma forma de tratamento injusto, especialmente quando tal preferência se torna explícita.

2.     Desencorajamento
 Outra forma perigosa e que gera grandes danos a alma da criança é a falta de apreciação. Existem pais sempre prontos a criticar, mas como muita dificuldade de apreciar o que o filho fez de bom. Frases como: “Você não presta pra nada”, “você não faz nada certo”, “você só me dá desgosto”, “você é imprestável”, “você é burro!” penetram na alma de uma criança como uma nódoa, trazendo sofrimento anos a fio. Esta é uma das formas mais fáceis de trazer irritação e amargura ao coração dos filhos, sem perceber o que estamos fazendo.
John Eldridge no livro, “coração selvagem” afirma que uma das maiores expectativas do filho em relação ao seu pai é saber se ele tem valor. Quem outorga tal significado é o pai. Toda criança está sempre querendo saber o que seu pai acha do que ele fez, se ele pode receber um elogio. Lamentavelmente pais encontram muita dificuldade em apreciar o que o filho faz de positivo. Muitas palavras ditas são sentenças pesadas que duram por muitos anos.
É fácil depreciar, ridicularizar, irritar. Filhos, precisam ser encorajados.
Gosta da historieta de um pai que sempre criticava seu filho. e um dia, ao olhar as notas do boletim afirmou: "Filho, na sua idade, Rui Barbosa era o melhor aluno da classe", e o filho respondeu: Ih Pai! na sua idade ele já era Águia de Haia".  

3.     Negligência e descuido – William Hendriksen coloca a negligência como um dos fatores que trazem amargura ao coração dos filhos. Robert Coles afirma: “Penso que o que os filhos precisam desesperadamente nos dias de hoje é um propósito moral. Os pais estão preocupados em conduzi-los ao colégio certo, comprar melhores roupas, morar em uma boa vizinhança, dar-lhes melhores brinquedos, fazerem viagens interessantes, e embora tais coisas sejam importantes, os pais não estão gastando tempo com seus filhos, pelo menos o suficiente”.
Infelizmente algumas das crianças e adolescentes mais amarguradas que temos encontrado procedem de lares ricos e abastados. Não seria por causa da negligência e atenção que os pais deveriam dar aos filhos? Sua desatenção para o que está acontecendo com seus filhos, a incapacidade de perceber a direção que o coração dos filhos está seguindo?
James Dobson afirma que para os filhos "tempo é moeda emocional", eles se sentem amados ou rejeitados na medida em que gastamos tempo com eles. Não é sem motivo que para os filhos, em determinada idade, o melhor horário do dia é quando o pai volta para casa. Brincar com os filhos é uma forma de dizer: "Você é importante para mim!"
Se você quiser estudar um pouco do resultado do descuido na criação de filhos, leia atentamente a história de Davi. Sua incoerência e ausência em relação aos seus filhos foram fatais na vida dos filhos. Ele não repreendeu seu primogênito Amnon, provável sucessor do seu reinado, quando este abusou de sua irmã; Ele não protegeu sua filha Tamar quando foi violentada, e nem tratou da alma de seu filho Absalão, que desenvolveu uma relação de ódio declarado contra seu pai. Com um mínimo de sensibilidade e bom senso, a família de Davi teria sido poupada das tragédias shakespearianas que aconteceram na sua casa.

Abuso verbal ou violência doméstica
Outra forma de irritar os filhos tem a ver com a dureza e forma implacável com que o tratamos. Lares sob ameaça  de abandono, gritarias, brigas frequentes, ameaça de separação, geram profunda instabilidade e insegurança emocional, além de outro elemento subjetivo e complexo: culpa. O filho pequeno, se não for adequadamente preparado num eventual divórcio de seus pais, pode erroneamente entender que ele foi o culpado da separação dos pais.
Lares debaixo de abuso verbal, intimidam os filhos, causam depressão, medo e ansiedade. Filhos ficam fragilizados e isto também gera muita agressividade nos filhos, e isto facilmente eclode na adolescência e na fase adulta, em forma de reações violentas ou auto destruição.  

A recomendação bíblica segue em duas direções: “Criai-os na disciplina e admoestação do Senhor”.
           
Criai-os na disciplina
Disciplina tem a ver com correção. 
Disciplina tem a função de estabelecer os limites. Crianças geralmente não tem noção do que é perigoso e podem sofrer graves acidentes.  Certamente vocês já foram aquelas cenas de crianças correndo riscos em situações perigosas. Quando meu filho Matheus tinha dois anos de idade, no dia da mudança para a cidade de Brasília, o encontramos assentado na janela do quarto andar do apartamento onde iriamos morar. os limites protegem tanto sua saúde, quanto o caráter. 
Quando crescem, embora os limites sejam de outra natureza, precisamos ajudá-los na vida. Eventualmente eles nos questionarão, não concordarão com a decisão que tomamos como pais, mas uma das funções claras na Bíblia é que os pais devem criar os filhos sob disciplina, e evitar que sejam “desordenados” principalmente se forem líderes na igreja (1 Tm 3.4-5). Muitos filhos são desorganizados, indisciplinados, sem noção de certo e errado, de limites. Chutam canela dos pais, batem no rosto dos pais, cospem nas pessoas. Conheço famílias que hoje não convidam amigos para irem para suas casas porque os filhos vão literalmente destruí-la”.
Por outro lado, muitas crianças são cheias de exigência, não obedecem a nenhuma regra e não recebem qualquer limite de seus pais. Muitas xingam, desobedecem frontalmente, e os pais dizem que não conseguem fazer nada. São pais inseguros em relação a sua tarefa, que deixarão seus filhos inseguros em relação ao comportamento que precisam ter.
Atualmente há uma negligência clara quando se trata da disciplina. É claro que os pais conseguem e devem disciplinar seus filhos, se desejam obedecer a palavra de Deus e tomam firme propósito em relação a este assunto. Filhos precisam entender o que significa “não”, quais são os limites, como devem se comportar. A Bíblia adverte que “a vara da correção dá sabedoria, mas a criança entregue a si mesma, envergonha a sua mãe" (Pv 29.15). Em provérbios lemos ainda: “Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso morrerá. Tu a fustigarás com a vara, e livrarás a sua alma do inferno” (Pv 23.13,14). Muitas vezes a disciplina envolve punição e castigo. Os judeus afirmam que as crianças tem ouvido nas costas.
A palavra disciplina que aparece neste texto vem do grego paideia, de onde surge o termo pedagogia em português, e significa “cuidar, possuir a força de punir, castigar, direcionar”.

Criai-os na admoestação do Senhor
Não apenas devem criá-los na disciplina, mas também na admoestação, conselho, orientação, palavra de direção. Filhos precisam saber onde podem e não podem ir, o que podem e o que não podem fazer, quando devem parar e quando podem continuar.
A palavra de Deus torna-se o nosso manual. Ela precisa ser ensinadas aos filhos. A palavra “admoestação” que aparece no texto vem de nouthesia, cuja raiz da palavra é “nous”(mente), que significa colocar a mente no lugar. Jay Adams fala muito do aconselhamento noutético afirmando que o grande desafio do conselheiro cristão é ajudar a pessoa a pensar de acordo com as Escrituras Sagradas.
Assim como a disciplina, não deve ser limitada a punição, mas tem como foco o estabelecimento de princípios, valores e limites, admoestações não são broncas, mas orientação, direção nós precisamos orientar nossos filhos em relação à vida e decisões espirituais e morais que deverão assumir, e o modelo familiar é imprescindível neste processo. Não se trata só de "broncas", mas de orientacao e conselho. 

Conclusão:
As consequências da irritar os filhos são drásticas. Trazem desencorajamento, amargura, reações de defesa ou ataque, frustração e desânimo. Isto pode desembocar em depressão ou torná-los ressentidos, ou violentos e reativas. Um exemplo bem claro disto está na vida de Esaú, filho de Isaque e Rebeca. Por causa das preferências familiares e da hostilidade dentro de casa, ele se tornou uma pessoa amargurada e birrenta. Veja o que aconteceu:
Por causa do conflito entre Esaú e seu irmão Jacó, as coisas ficaram muito difíceis em casa. Rebeca de forma direta foi a causa do ruptura entre os irmãos. Ela em seguida percebeu que algo não estava bem no coração de Esaú, por isto declara: “E disse Rebeca a Isaque: Enfadada estou da minha vida, por causa das filhas de Hete; se Jacó tomar mulher das filhas de Hete, como estas são, das filhas desta terra, para que me servirá a vida?” (Gn 27.46). O que então fez Esaú diante da preocupação de sua mãe e de seu pai, veja sua reação: “Vendo, pois, Esaú que Isaque abençoara a Jacó, e o enviara a Padã-Arã, para tomar mulher dali para si, e que, abençoando-o, lhe ordenara, dizendo: Não tomes mulher das filhas de Canaã; E que Jacó obedecera a seu pai e a sua mãe, e se fora a Padã-Arã;Vendo também Esaú que as filhas de Canaã eram más aos olhos de Isaque seu pai, foi Esaú a Ismael, e tomou para si por mulher, além das suas mulheres, a Maalate filha de Ismael, filho de Abraão, irmã de Nebaiote.” (Gn 28.6-9).
Uma criança amargurada terá para sempre uma ferida no coração e será sempre rebelde em relação aos seus pais. Filhos amargurados saberão como ferir seus pais. Uma criança abusada tende a abusar de outras pessoas também.

Por isto, a base do conteúdo deste ensinamento, encontra-se em Deus. Devemos criar nossos filhos na disciplina e temor do Senhor. A base deve estar firmada em Deus, no seu projeto, no seu plano. Fora disto o resultado será sempre catastrófico.
a base de toda disciplina e admoestação é o Senhor.

sábado, 16 de setembro de 2017

2 Cr 33.1-16 Nunca é tarde para mudanças




Introdução:

O reinado de Manassés é um dos mais perniciosos de todos os reis de Israel. Ele assumiu o trono quando tinha 12 anos, e daí para a frente seu coração se afastou de Deus e de seus propósitos.

a.     Ele se curvou diante dos deuses da terra que Deus havia expulsado de Canaã, ele ressuscitou velhos hábitos religiosos condenados por Deus (1 Cr 33.2).

b.     Ele reconstruiu altares que o seu piedoso pai, Ezequias, havia derribado (1 Cr 33.3).

c.      Ele se tornou sincrético na sua religiosidade, abarcando vários deuses.

d.     Ele se tornou sacrílego, contaminando o Sagrado templo de Salomão, lugar da habitação de Deus (1 Cr 33.4,11).

e.     Ele sacrificou filhos a Moloque (1 Cr 33.2). Um culto pavoroso, no qual os filhos primogênitos eram atirados vivos a uma fogueira acesa como oferendas a este deus pagão (2 Cr 33.6).

f.      Era místico e esotérico: adivinha pelas nuvens, praticava feitiçarias, consultava com médiuns e necromantes (2 Rs 21.6).

Manassés era espiritualizado. Atraído a todas as formas de cultos pagãos, mas nunca se inclinava ao deus verdadeiro. Comportamento semelhante aos artistas e músicos brasileiros, que se inclinam diante de deuses da umbanda, são dados a cultos da terra, tomam chás alucinógenos em cerimonias religiosas pagãs, mas não se curvam diante do Deus verdadeiro.
Sua influencia trouxe graves problemas para a nação. Sua influencia politica induziu muitos à prática de religiosidade que se distanciava de Deus. Ele se recusou a ouvir o Senhor quando este lhes enviou os profetas (1 Cr 33.10). sua rebelião se tornou oposição a Deus, posteriormente apostasia, trazendo por isto o juízo de Deus.

O julgamento veio de forma severa. (1 Cr 33.11).

A péssima sugestão que Satanás sempre fez à raça humana de que “pode pecar que não há juízo de Deus” (Ml 3.13,14), mas uma vez é desmascarada. O juízo de Deus sobre Manassés trouxe humilhação pública, decadência social e muito sofrimento para o povo. Manassés foi levado para a Babilônia, com ganchos e cadeias. No primeiro caso, o nariz era perfurado, e as pessoas eram levadas como animais, no segundo, eram acorrentados e além do seu peso precisavam carregar as pesadas correntes no severo calor do deserto.

Manassés, convertido?
Na cadeia, o arrogante e místico rei, que desprezou a Deus e recusou ouvir sua voz, passa por uma reviravolta existencial, e tem um encontro com Deus. Manassés se converteu.

O texto narra sua mudança: “Ele, angustiado, suplicou deveras ao Senhor seu Deus, e muito se humilhou perante o Deus de seus pais” (2 Cr 33.12).

Observe os termos descritos aqui:
Angustiado”. Sabe o que é angústia. É um sentimento profundo de dor, que atinge o peito, consome o ser, e quando o médico pergunta ao paciente o que ele está sentindo ele diz: “Tá doendo, aqui!” e passa a mão no peito. Ele não sabe o que sente, mas o que ele sente é visceral.
“Suplicou”- em geral pensamos que suplica é uma oração. E de fato é. Só que tal oração, é aquela que vem acompanhada de choro e lágrimas profundas. O texto diz que ele “muito se humilhou”. Sua oração veio de dentro da alma. Já oraram assim? Já tiveram uma situação semelhante na qual suas orações não se organizam, mas você está ali orando a Deus, quebrantado e moído? Esta foi a experiência  de Manassés.

“...Muito se humilhou perante o Deus de seus pais”. É muito importante esta menção, porque na verdade ele retorna ao Deus de Israel. Ele não dirige suas preces a Moloque, nem aos deuses de Canaã. “...então, reconheceu Manassés que o Senhor era Deus”.

Certo vez ouvi uma afirmação de que conversão tem muitas fases: a primeira é a conversão dos deuses falsos para o Deus verdadeiro; segundo, do meu egoísmo e vida auto centrada, à obediência e submissão à Palavra de Deus; e terceiro, do bolso, que é o último a se converter e o primeiro a esfriar.

Manassés se converte ao Deus de Israel. Ele percebe a natureza do Deus de seu povo. Ele reconhece que só o Senhor é Deus, e que não há Deus além deste Deus. Yahweh.

Encontrando Deus na Babilônia
A espiritualidade no Antigo testamento é marcada pela centralidade do culto em Jerusalém e no templo. O judeu acreditava (e acredita), que Deus deve ser encontrado em Jerusalém, na terra santa. Alguns cristãos sionistas modernos, lamentavelmente possuem esta visão distorcida da adoração e do tamanho do Deus das Escrituras Sagradas.

Manassés se encontra com Deus na Babilônia.
Ele encontra Deus nos lugares improváveis da vida.

Já leram o livro de Philipe Yancey: “Encontrando Deus nos lugares inesperados”. É onde não se espera que Deus é percebido. Durante anos, Manassés esteve no templo, mas rejeitou a Deus frontalmente e não o discerniu. Agora numa prisão, em terra distante, Deus se revela ao seu coração de forma sobrenatural. “Deus se tornou favorável para com ele” (2 Cr 33.13).

“Deus não frequenta igrejas, apenas corações” (Pe Antonio Vieira).

Tempo de mudanças

A história de Manassés nos revela que nunca é tarde para mudanças.

Revela-nos ainda que não importa o nível de sua decadência moral e falência espiritual, Deus tem poder para mudar sua história.

Se olharmos para o currículo espiritual deste homem, veremos que ele foi rebelde, idolatra, prepotente, arrogante, desobediente, mas ainda assim sua história foi transformada.

É muito importante considerarmos uma história como esta. Muitas vezes achamos que para nós não há mais esperança, que nada pode acontecer por causa dos desvios praticados, mas a história de Manassés vem nos falar do triunfo da graça de Deus sobre o pecador. É sempre possível recomeçar.

É possível que o homem vá para longe demais de Deus, escrevendo uma trajetória de decadência, mas sempre é possível mudar. Nunca é tarde para que a obra de Deus triunfo no coração do pecador.

Comece reconhecendo seu pecado, se humilhando diante de Deus.
Reconheça que ele é realmente Deus...

Não se trata de delação premiada. Um artificio jurídico usado para favorecer o criminoso, que mesmo não tendo arrependimento, resolve contar um pouco dos seus imbróglios e se delatar. Arrependimento não é isto. Trata-se de voltar, de fato, para Deus.

Assim, de forma surpreendente, Manassés é restaurado. E Deus lhe dá uma segunda chance. Miraculosamente, o rei decide enviar-lhe de volta para Jerusalém e reassumir seu reinado. Isto não é um comportamento comum entre imperadores e dominadores. Manasses volta, mas ele é um novo homem. Sua conversão não foi circunstancial e oportunista. Ele decide agora buscar a glória de Deus.

Ao retornar, eis algumas de suas atitudes.
i.                Ele restaura Jerusalém que havia sido destruída pela guerra (2 Cr 33.14). ele restaura tanto os muros quanto o exército.

ii.              Ele restaura o templo. Ele que tanto havia profanado o lugar de Deus, agora decide trazer Deus de volta para o centro de Israel (2 Cr 33.15).

iii.             Ele destrói o que construiu. Nos tempos do seu paganismo, havia construído muitos altares a ídolos e outros deuses, mas agora ele manda destruir. O que ele fez, manda desfazer.

iv.             Ele restaura o culto (2 Cr 33.16). Não apenas o “local do culto”, mas o culto mesmo. Numa linguagem moderna diríamos: “Ele voltou à comunhão do Senhor”.

v.              Ele reconhece que apenas o Senhor era Deus. Até então, ele dividia seu coração a outros deuses e cultos, mas agora ele se quebranta diante do único Deus verdadeiro.

Manassés tem o seu coração mudado.
Deus muda sua condição.
Se o meu povo, que por mim se chama, com fé se humilhar e orar.
Eu ouvirei as suas preces e sararei sua terra”.

Antes do filho pródigo ser restaurado à condição de vida digna, ele precisa passar pelo momento de dor... “então, caindo em si...

A alma precisa ser tocada para que mudanças surjam. Muitas vezes queremos bençãos de Deus com infidelidade, queremos mudança sem transformação no coração, queremos graça sem arrependimento, perdão sem confissão, misericórdia sem quebrantamento. Quando o coração muda, a situação também é tangenciada. E se Deus não mudar a situação, mas se tivermos o coração mudado, teremos condições de enfrentar a calamidade com outros olhos. “Se diante de mim, não se abrir o mar; Deus vai me fazer andar por sobre as águas”.

Pe Antonio Vieira afirma que “arrependimento não é pedir perdão, é se voltar para Deus”. A alma precisa mudar a história ser transformada.

Queremos mudar a situação?
Deus quer mudar o coração.

Mude seu jeito de pensar, de agir, de se comportar. Transforme sua rebeldia em obediência, sua rebelião em submissão, e você vai experimentar uma história com desdobramentos absolutamente diferentes.

Manassés, na cadeia, não tinha mais nada a perder, mas agora tem a Deus.

Conclusão
Com Jesus é sempre fazer o caminho de volta. Deus permite retorno. Há sempre a possibilidade de restauração e mudanças. Ele pode tirar o pecador de sua condenação e dar-lhe absolvição. Foi isto que Jesus fez na cruz. Ele nos resgatou das trevas para sua luz, tirou-nos do tremedal de lama e colocou nossos pés sobre uma rocha.

Tenho encontrado pessoas que parecem ter ido longe demais no seu cinismo, indiferença, chafurdada em pecado, opondo-se a Deus. Temos a tendência de olhar para elas com certo descredito. Haverá ainda esperança? Muitas destas pessoas, por sua vez, desacreditam de si próprias, dominadas pela escravidão do pecado, dos vícios. Aquilo que faziam por prazer agora se tornam seu pesar. Vem a angustia, o vazio da alma, a solidão, a escravidão de um estilo de vida de mentira e engano, de malandragem, esperteza, os laços da iniquidade amarram. Nem ela mesma acredita que ago possa ser feito. O desespero, a dor, a solidão, o descredito.

Deus pode mudar?
Is 1.18 afirma: “Vinde pois e arrazoemos, porque ainda que vossos pecados estejam vermelhos com a escarlate, eles se tornarão brancos como a neve”. Arrazoar é discutir, argumentar. Deus é quem está convidando seu povo para experimentar liberdade e cura, para ser restaurado. Deus convida o seu povo para experimentar a graça da restauração.

Portanto, duas lições profundas podem ser tiradas da vida de Manassés:
Primeiro, independentemente da capacidade de Deus nos amar de forma incondicional, o pecado traz sérias consequências;
Segundo, independentemente da gravidade do pecado, é sempre possível retornar.