Introdução:
O reinado de Manassés é um dos mais perniciosos de todos os
reis de Israel. Ele assumiu o trono quando tinha 12 anos, e daí para a frente
seu coração se afastou de Deus e de seus propósitos.
a.
Ele se curvou diante dos deuses da terra que
Deus havia expulsado de Canaã, ele ressuscitou velhos hábitos religiosos
condenados por Deus (1 Cr 33.2).
b.
Ele reconstruiu altares que o seu piedoso pai,
Ezequias, havia derribado (1 Cr 33.3).
c.
Ele se tornou sincrético na sua religiosidade,
abarcando vários deuses.
d.
Ele se tornou sacrílego, contaminando o Sagrado
templo de Salomão, lugar da habitação de Deus (1 Cr 33.4,11).
e.
Ele sacrificou filhos a Moloque (1 Cr 33.2). Um
culto pavoroso, no qual os filhos primogênitos eram atirados vivos a uma
fogueira acesa como oferendas a este deus pagão (2 Cr 33.6).
f.
Era místico e esotérico: adivinha pelas nuvens,
praticava feitiçarias, consultava com médiuns e necromantes (2 Rs 21.6).
Manassés era espiritualizado. Atraído a todas as formas de
cultos pagãos, mas nunca se inclinava ao deus verdadeiro. Comportamento
semelhante aos artistas e músicos brasileiros, que se inclinam diante de deuses
da umbanda, são dados a cultos da terra, tomam chás alucinógenos em cerimonias
religiosas pagãs, mas não se curvam diante do Deus verdadeiro.
Sua influencia trouxe graves problemas para a nação. Sua
influencia politica induziu muitos à prática de religiosidade que se
distanciava de Deus. Ele se recusou a ouvir o Senhor quando este lhes enviou os
profetas (1 Cr 33.10). sua rebelião se tornou oposição a Deus, posteriormente
apostasia, trazendo por isto o juízo de Deus.
O julgamento veio de forma severa. (1 Cr 33.11).
A péssima sugestão que Satanás sempre fez à raça humana de
que “pode pecar que não há juízo de Deus” (Ml 3.13,14), mas uma vez é
desmascarada. O juízo de Deus sobre Manassés trouxe humilhação pública,
decadência social e muito sofrimento para o povo. Manassés foi levado para a
Babilônia, com ganchos e cadeias. No primeiro caso, o nariz era perfurado, e as
pessoas eram levadas como animais, no segundo, eram acorrentados e além do seu
peso precisavam carregar as pesadas correntes no severo calor do deserto.
Manassés, convertido?
Na cadeia, o arrogante e místico rei, que desprezou a Deus e
recusou ouvir sua voz, passa por uma reviravolta existencial, e tem um encontro
com Deus. Manassés se converteu.
O texto narra sua mudança: “Ele, angustiado, suplicou deveras ao Senhor seu Deus, e muito se
humilhou perante o Deus de seus pais” (2 Cr 33.12).
Observe os termos descritos aqui:
“Angustiado”. Sabe o que é angústia. É um sentimento
profundo de dor, que atinge o peito, consome o ser, e quando o médico pergunta
ao paciente o que ele está sentindo ele diz: “Tá doendo, aqui!” e passa a mão
no peito. Ele não sabe o que sente, mas o que ele sente é visceral.
“Suplicou”- em geral pensamos que suplica é uma oração. E de
fato é. Só que tal oração, é aquela que vem acompanhada de choro e lágrimas
profundas. O texto diz que ele “muito se humilhou”. Sua oração veio de dentro
da alma. Já oraram assim? Já tiveram uma situação semelhante na qual suas
orações não se organizam, mas você está ali orando a Deus, quebrantado e moído?
Esta foi a experiência de Manassés.
“...Muito se humilhou
perante o Deus de seus pais”. É muito importante esta menção, porque na
verdade ele retorna ao Deus de Israel. Ele não dirige suas preces a Moloque,
nem aos deuses de Canaã. “...então,
reconheceu Manassés que o Senhor era Deus”.
Certo vez ouvi uma afirmação de que conversão tem muitas
fases: a primeira é a conversão dos deuses falsos para o Deus verdadeiro;
segundo, do meu egoísmo e vida auto centrada, à obediência e submissão à
Palavra de Deus; e terceiro, do bolso, que é o último a se converter e o
primeiro a esfriar.
Manassés se converte ao Deus de Israel. Ele percebe a
natureza do Deus de seu povo. Ele reconhece que só o Senhor é Deus, e que não
há Deus além deste Deus. Yahweh.
Encontrando Deus na
Babilônia
A espiritualidade no Antigo testamento é marcada pela
centralidade do culto em Jerusalém e no templo. O judeu acreditava (e
acredita), que Deus deve ser encontrado em Jerusalém, na terra santa. Alguns
cristãos sionistas modernos, lamentavelmente possuem esta visão distorcida da
adoração e do tamanho do Deus das Escrituras Sagradas.
Manassés se encontra com Deus na Babilônia.
Ele encontra Deus nos lugares improváveis da vida.
Já leram o livro de Philipe Yancey: “Encontrando Deus nos
lugares inesperados”. É onde não se espera que Deus é percebido. Durante anos,
Manassés esteve no templo, mas rejeitou a Deus frontalmente e não o discerniu.
Agora numa prisão, em terra distante, Deus se revela ao seu coração de forma
sobrenatural. “Deus se tornou favorável
para com ele” (2 Cr 33.13).
“Deus não frequenta igrejas, apenas corações” (Pe Antonio
Vieira).
Tempo de mudanças
A história de Manassés nos revela que nunca é tarde para
mudanças.
Revela-nos ainda que não importa o nível de sua decadência
moral e falência espiritual, Deus tem poder para mudar sua história.
Se olharmos para o currículo espiritual deste homem, veremos
que ele foi rebelde, idolatra, prepotente, arrogante, desobediente, mas ainda
assim sua história foi transformada.
É muito importante considerarmos uma história como esta.
Muitas vezes achamos que para nós não há mais esperança, que nada pode
acontecer por causa dos desvios praticados, mas a história de Manassés vem nos
falar do triunfo da graça de Deus sobre o pecador. É sempre possível recomeçar.
É possível que o homem vá para longe demais de Deus,
escrevendo uma trajetória de decadência, mas sempre é possível mudar. Nunca é
tarde para que a obra de Deus triunfo no coração do pecador.
Comece reconhecendo seu pecado, se humilhando diante de
Deus.
Reconheça que ele é realmente Deus...
Não se trata de delação premiada. Um artificio jurídico
usado para favorecer o criminoso, que mesmo não tendo arrependimento, resolve
contar um pouco dos seus imbróglios e se delatar. Arrependimento não é isto.
Trata-se de voltar, de fato, para Deus.
Assim, de forma surpreendente, Manassés é restaurado. E Deus
lhe dá uma segunda chance. Miraculosamente, o rei decide enviar-lhe de volta
para Jerusalém e reassumir seu reinado. Isto não é um comportamento comum entre
imperadores e dominadores. Manasses volta, mas ele é um novo homem. Sua conversão
não foi circunstancial e oportunista. Ele decide agora buscar a glória de Deus.
Ao retornar, eis algumas de suas atitudes.
i.
Ele restaura Jerusalém que havia sido destruída
pela guerra (2 Cr 33.14). ele restaura tanto os muros quanto o exército.
ii.
Ele restaura o templo. Ele que tanto havia
profanado o lugar de Deus, agora decide trazer Deus de volta para o centro de
Israel (2 Cr 33.15).
iii.
Ele destrói o que construiu. Nos tempos do seu
paganismo, havia construído muitos altares a ídolos e outros deuses, mas agora
ele manda destruir. O que ele fez, manda desfazer.
iv.
Ele restaura o culto (2 Cr 33.16). Não apenas o
“local do culto”, mas o culto mesmo. Numa linguagem moderna diríamos: “Ele
voltou à comunhão do Senhor”.
v.
Ele reconhece que apenas o Senhor era Deus. Até
então, ele dividia seu coração a outros deuses e cultos, mas agora ele se
quebranta diante do único Deus verdadeiro.
Manassés tem o seu coração mudado.
Deus muda sua condição.
“Se o meu povo, que
por mim se chama, com fé se humilhar e orar.
Eu ouvirei as suas
preces e sararei sua terra”.
Antes do filho pródigo ser restaurado à condição de vida
digna, ele precisa passar pelo momento de dor... “então, caindo em si...
A alma precisa ser tocada para que mudanças surjam. Muitas
vezes queremos bençãos de Deus com infidelidade, queremos mudança sem
transformação no coração, queremos graça sem arrependimento, perdão sem
confissão, misericórdia sem quebrantamento. Quando o coração muda, a situação
também é tangenciada. E se Deus não mudar a situação, mas se tivermos o coração
mudado, teremos condições de enfrentar a calamidade com outros olhos. “Se
diante de mim, não se abrir o mar; Deus vai me fazer andar por sobre as águas”.
Pe Antonio Vieira afirma que “arrependimento não é pedir
perdão, é se voltar para Deus”. A alma precisa mudar a história ser
transformada.
Queremos mudar a situação?
Deus quer mudar o coração.
Mude seu jeito de pensar, de agir, de se comportar.
Transforme sua rebeldia em obediência, sua rebelião em submissão, e você vai
experimentar uma história com desdobramentos absolutamente diferentes.
Manassés, na cadeia, não tinha mais nada a perder, mas agora
tem a Deus.
Conclusão
Com Jesus é sempre fazer o caminho de volta. Deus permite
retorno. Há sempre a possibilidade de restauração e mudanças. Ele pode tirar o
pecador de sua condenação e dar-lhe absolvição. Foi isto que Jesus fez na cruz.
Ele nos resgatou das trevas para sua luz, tirou-nos do tremedal de lama e
colocou nossos pés sobre uma rocha.
Tenho encontrado pessoas que parecem ter ido longe demais no
seu cinismo, indiferença, chafurdada em pecado, opondo-se a Deus. Temos a
tendência de olhar para elas com certo descredito. Haverá ainda esperança?
Muitas destas pessoas, por sua vez, desacreditam de si próprias, dominadas pela
escravidão do pecado, dos vícios. Aquilo que faziam por prazer agora se tornam
seu pesar. Vem a angustia, o vazio da alma, a solidão, a escravidão de um
estilo de vida de mentira e engano, de malandragem, esperteza, os laços da
iniquidade amarram. Nem ela mesma acredita que ago possa ser feito. O
desespero, a dor, a solidão, o descredito.
Deus pode mudar?
Is 1.18 afirma: “Vinde
pois e arrazoemos, porque ainda que vossos pecados estejam vermelhos com a
escarlate, eles se tornarão brancos como a neve”. Arrazoar é discutir,
argumentar. Deus é quem está convidando seu povo para experimentar liberdade e
cura, para ser restaurado. Deus convida o seu povo para experimentar a graça da
restauração.
Portanto, duas lições profundas podem ser tiradas da vida de
Manassés:
Primeiro, independentemente da capacidade de Deus nos amar
de forma incondicional, o pecado traz sérias consequências;
Segundo, independentemente da gravidade do pecado, é sempre
possível retornar.
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