sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Ef 6.4 Pais...não provoqueis...



"Pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e admoestação do Senhor"(Ef 6.4).
Col 3.21 - "Pais não irriteis os vossos filhos, para que não fiquem desanimados".


Introdução:

A exortação bíblica agora se volta para os pais.
O termo “pais” que aparece aqui, ainda que dê a impressão de se tratar da mãe e do pai, na verdade, está focado apenas na figura masculina (pateres), embora, certamente possa ser aplicado aos dois, mas especificamente quando o texto fala de “pais”, está se referindo aos homens.
A exortação bíblica é que os filhos “não provoquem seus filhos à ira”, nem “irritem seus filhos para que não fiquem desanimados”.
Uma tradução inglesa, afirma: “Pais, não irriteis vossos filhos para não perder os seus corações” (NASB). A palavra grega para “irritar” é não torná-los amargurados. Calvino preferiu traduzir da seguinte forma: "Sejam criados amorosamente".

O que irrita os filhos?
1.   Incoerência dos Pais
 Steve Farrar opta pela palavra “injustiça”. Pais podem não ser justos na aplicação da disciplina, no tratamento que dão aos filhos, pela incoerência de vida. Alguns anos atrás aconselhei um homem que estava traindo sua esposa, e seu filho, de apenas cinco anos estava percebendo tudo, até que um dia lhe disse: “Pai, o senhor não pode fazer isto... o senhor é um homem casado”. E isto foi um soco na incoerência do pai, fazendo-o repensar e retornar à sua família e sua esposa.
Filhos se tornam irritados e ressentidos quando pais continuamente tratam as coisas de forma injusta. Infelizmente alguns pais tratam seus filhos com muita ambiguidade e dubiedade, contradizendo suas próprias ordens: Sim & não. Muitos se lembram o quanto foi dolorido receber tratamento incoerente ou injusto. Algumas vezes este tipo de tratamento deixa marcas tão profundas que acompanham a vida do filho por anos a fio, e eventualmente, para sempre.
A habitual contradição na educação ou injustiça no tratamento recebido, pode causar um acúmulo de ira que amargura a relação com os pais. A disciplina incoerente fere os filhos. O favoritismo por um dos filhos também pode ser uma forma de tratamento injusto, especialmente quando tal preferência se torna explícita.

2.     Desencorajamento
 Outra forma perigosa e que gera grandes danos a alma da criança é a falta de apreciação. Existem pais sempre prontos a criticar, mas como muita dificuldade de apreciar o que o filho fez de bom. Frases como: “Você não presta pra nada”, “você não faz nada certo”, “você só me dá desgosto”, “você é imprestável”, “você é burro!” penetram na alma de uma criança como uma nódoa, trazendo sofrimento anos a fio. Esta é uma das formas mais fáceis de trazer irritação e amargura ao coração dos filhos, sem perceber o que estamos fazendo.
John Eldridge no livro, “coração selvagem” afirma que uma das maiores expectativas do filho em relação ao seu pai é saber se ele tem valor. Quem outorga tal significado é o pai. Toda criança está sempre querendo saber o que seu pai acha do que ele fez, se ele pode receber um elogio. Lamentavelmente pais encontram muita dificuldade em apreciar o que o filho faz de positivo. Muitas palavras ditas são sentenças pesadas que duram por muitos anos.
É fácil depreciar, ridicularizar, irritar. Filhos, precisam ser encorajados.
Gosta da historieta de um pai que sempre criticava seu filho. e um dia, ao olhar as notas do boletim afirmou: "Filho, na sua idade, Rui Barbosa era o melhor aluno da classe", e o filho respondeu: Ih Pai! na sua idade ele já era Águia de Haia".  

3.     Negligência e descuido – William Hendriksen coloca a negligência como um dos fatores que trazem amargura ao coração dos filhos. Robert Coles afirma: “Penso que o que os filhos precisam desesperadamente nos dias de hoje é um propósito moral. Os pais estão preocupados em conduzi-los ao colégio certo, comprar melhores roupas, morar em uma boa vizinhança, dar-lhes melhores brinquedos, fazerem viagens interessantes, e embora tais coisas sejam importantes, os pais não estão gastando tempo com seus filhos, pelo menos o suficiente”.
Infelizmente algumas das crianças e adolescentes mais amarguradas que temos encontrado procedem de lares ricos e abastados. Não seria por causa da negligência e atenção que os pais deveriam dar aos filhos? Sua desatenção para o que está acontecendo com seus filhos, a incapacidade de perceber a direção que o coração dos filhos está seguindo?
James Dobson afirma que para os filhos "tempo é moeda emocional", eles se sentem amados ou rejeitados na medida em que gastamos tempo com eles. Não é sem motivo que para os filhos, em determinada idade, o melhor horário do dia é quando o pai volta para casa. Brincar com os filhos é uma forma de dizer: "Você é importante para mim!"
Se você quiser estudar um pouco do resultado do descuido na criação de filhos, leia atentamente a história de Davi. Sua incoerência e ausência em relação aos seus filhos foram fatais na vida dos filhos. Ele não repreendeu seu primogênito Amnon, provável sucessor do seu reinado, quando este abusou de sua irmã; Ele não protegeu sua filha Tamar quando foi violentada, e nem tratou da alma de seu filho Absalão, que desenvolveu uma relação de ódio declarado contra seu pai. Com um mínimo de sensibilidade e bom senso, a família de Davi teria sido poupada das tragédias shakespearianas que aconteceram na sua casa.

Abuso verbal ou violência doméstica
Outra forma de irritar os filhos tem a ver com a dureza e forma implacável com que o tratamos. Lares sob ameaça  de abandono, gritarias, brigas frequentes, ameaça de separação, geram profunda instabilidade e insegurança emocional, além de outro elemento subjetivo e complexo: culpa. O filho pequeno, se não for adequadamente preparado num eventual divórcio de seus pais, pode erroneamente entender que ele foi o culpado da separação dos pais.
Lares debaixo de abuso verbal, intimidam os filhos, causam depressão, medo e ansiedade. Filhos ficam fragilizados e isto também gera muita agressividade nos filhos, e isto facilmente eclode na adolescência e na fase adulta, em forma de reações violentas ou auto destruição.  

A recomendação bíblica segue em duas direções: “Criai-os na disciplina e admoestação do Senhor”.
           
Criai-os na disciplina
Disciplina tem a ver com correção. 
Disciplina tem a função de estabelecer os limites. Crianças geralmente não tem noção do que é perigoso e podem sofrer graves acidentes.  Certamente vocês já foram aquelas cenas de crianças correndo riscos em situações perigosas. Quando meu filho Matheus tinha dois anos de idade, no dia da mudança para a cidade de Brasília, o encontramos assentado na janela do quarto andar do apartamento onde iriamos morar. os limites protegem tanto sua saúde, quanto o caráter. 
Quando crescem, embora os limites sejam de outra natureza, precisamos ajudá-los na vida. Eventualmente eles nos questionarão, não concordarão com a decisão que tomamos como pais, mas uma das funções claras na Bíblia é que os pais devem criar os filhos sob disciplina, e evitar que sejam “desordenados” principalmente se forem líderes na igreja (1 Tm 3.4-5). Muitos filhos são desorganizados, indisciplinados, sem noção de certo e errado, de limites. Chutam canela dos pais, batem no rosto dos pais, cospem nas pessoas. Conheço famílias que hoje não convidam amigos para irem para suas casas porque os filhos vão literalmente destruí-la”.
Por outro lado, muitas crianças são cheias de exigência, não obedecem a nenhuma regra e não recebem qualquer limite de seus pais. Muitas xingam, desobedecem frontalmente, e os pais dizem que não conseguem fazer nada. São pais inseguros em relação a sua tarefa, que deixarão seus filhos inseguros em relação ao comportamento que precisam ter.
Atualmente há uma negligência clara quando se trata da disciplina. É claro que os pais conseguem e devem disciplinar seus filhos, se desejam obedecer a palavra de Deus e tomam firme propósito em relação a este assunto. Filhos precisam entender o que significa “não”, quais são os limites, como devem se comportar. A Bíblia adverte que “a vara da correção dá sabedoria, mas a criança entregue a si mesma, envergonha a sua mãe" (Pv 29.15). Em provérbios lemos ainda: “Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso morrerá. Tu a fustigarás com a vara, e livrarás a sua alma do inferno” (Pv 23.13,14). Muitas vezes a disciplina envolve punição e castigo. Os judeus afirmam que as crianças tem ouvido nas costas.
A palavra disciplina que aparece neste texto vem do grego paideia, de onde surge o termo pedagogia em português, e significa “cuidar, possuir a força de punir, castigar, direcionar”.

Criai-os na admoestação do Senhor
Não apenas devem criá-los na disciplina, mas também na admoestação, conselho, orientação, palavra de direção. Filhos precisam saber onde podem e não podem ir, o que podem e o que não podem fazer, quando devem parar e quando podem continuar.
A palavra de Deus torna-se o nosso manual. Ela precisa ser ensinadas aos filhos. A palavra “admoestação” que aparece no texto vem de nouthesia, cuja raiz da palavra é “nous”(mente), que significa colocar a mente no lugar. Jay Adams fala muito do aconselhamento noutético afirmando que o grande desafio do conselheiro cristão é ajudar a pessoa a pensar de acordo com as Escrituras Sagradas.
Assim como a disciplina, não deve ser limitada a punição, mas tem como foco o estabelecimento de princípios, valores e limites, admoestações não são broncas, mas orientação, direção nós precisamos orientar nossos filhos em relação à vida e decisões espirituais e morais que deverão assumir, e o modelo familiar é imprescindível neste processo. Não se trata só de "broncas", mas de orientacao e conselho. 

Conclusão:
As consequências da irritar os filhos são drásticas. Trazem desencorajamento, amargura, reações de defesa ou ataque, frustração e desânimo. Isto pode desembocar em depressão ou torná-los ressentidos, ou violentos e reativas. Um exemplo bem claro disto está na vida de Esaú, filho de Isaque e Rebeca. Por causa das preferências familiares e da hostilidade dentro de casa, ele se tornou uma pessoa amargurada e birrenta. Veja o que aconteceu:
Por causa do conflito entre Esaú e seu irmão Jacó, as coisas ficaram muito difíceis em casa. Rebeca de forma direta foi a causa do ruptura entre os irmãos. Ela em seguida percebeu que algo não estava bem no coração de Esaú, por isto declara: “E disse Rebeca a Isaque: Enfadada estou da minha vida, por causa das filhas de Hete; se Jacó tomar mulher das filhas de Hete, como estas são, das filhas desta terra, para que me servirá a vida?” (Gn 27.46). O que então fez Esaú diante da preocupação de sua mãe e de seu pai, veja sua reação: “Vendo, pois, Esaú que Isaque abençoara a Jacó, e o enviara a Padã-Arã, para tomar mulher dali para si, e que, abençoando-o, lhe ordenara, dizendo: Não tomes mulher das filhas de Canaã; E que Jacó obedecera a seu pai e a sua mãe, e se fora a Padã-Arã;Vendo também Esaú que as filhas de Canaã eram más aos olhos de Isaque seu pai, foi Esaú a Ismael, e tomou para si por mulher, além das suas mulheres, a Maalate filha de Ismael, filho de Abraão, irmã de Nebaiote.” (Gn 28.6-9).
Uma criança amargurada terá para sempre uma ferida no coração e será sempre rebelde em relação aos seus pais. Filhos amargurados saberão como ferir seus pais. Uma criança abusada tende a abusar de outras pessoas também.

Por isto, a base do conteúdo deste ensinamento, encontra-se em Deus. Devemos criar nossos filhos na disciplina e temor do Senhor. A base deve estar firmada em Deus, no seu projeto, no seu plano. Fora disto o resultado será sempre catastrófico.
a base de toda disciplina e admoestação é o Senhor.

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