Introdução
Antes de
estudarmos o texto, quero fazer algumas observações:
Primeira: A coisa
mais difícil quando se fala de casamento é no que concerne a funções, isto
porque, ao ler a lista de funções e de obrigações de cada um, tende-se a ler
para o outro, e nunca para si mesmo. Então, para começo de assunto, vamos fazer
um exercício: O homem lê a tarefa masculina, e a mulher a feminina: É possível?
Certa pessoa se aproximou do pastor no final do culto e elogia o sermão: “Pastor,
esta mensagem foi muito importante. Era tudo que meu marido precisava ouvir”. E
o pastor pergunta: “Onde está seu marido?”, e a mulher responde: “Ficou em
casa!” Nada pode ser mais danosa para a alma que ouvir a Palavra de Deus para o
outro. Deus quer comunicar algo à nossa vida, e precisamos estar atentos à sua
verdade para sermos transformados.
Segunda: Este
texto fala de funções no casamento. Funções são engrenagens e estas sempre tem
a tendência de emperrar em algum momento. É fácil construir uma “to do list” e
passarmos a viver em função das coisas que precisamos fazer, sem considerar que
existe uma dimensão muito mais ampla no relacionamento que as tarefas do dia a
dia. O pecado distorce as funções, transformando-as em instrumento de manipulação
e controle. Por isto este texto precisa rigorosamente começar sua leitura em Ef
5.21 e só fechar o bloco de ideias em Ef 5.32, quando ouvimos a palavra “mistério”.
Esta palavra foi
traduzida do grego, onde originalmente o termo é “misterium”. Jeronimo traduziu
para a vulgata latina como “sacramentum”, o que deu ensejo à igreja Católica de
considerar o casamento como um sacramento. Apesar de minhas convicções reformadas,
entendo que casamento, de fato, é “um sinal visível de uma graça invisível”.
Que lugar pode traduzir tanto a graça de Deus para a vida de uma pessoa que um
lar sob a orientação do Sagrado, vivendo no temor do Senhor?
Terceiro: em Ef
5.22 vemos a função da mulher, ou seu papel. “Mulheres, sede submissas ao seu próprio marido”. Como já estudamos
este tema anteriormente, agora, precisamos avançar um pouco mais. Em Ef 5.25
lemos: “Maridos, amai vossas mulheres”. Submissão
e amor se constituem nos termos centrais. Mas as funções só cumprem seu papel
se contempladas à luz do “mistério”. Deus entrelaçando as atividades.
Maridos,
Amai...
Esta é a ordem
clara da Palavra. O marido deve amar sua esposa. (Ef 5.25; Cl 3.19).
Consideramos anteriormente
como o oposto do amor é ódio, mas que a expressão mais sutil do ódio é a indiferença.
Esta é a reclamação central das mulheres em relação aos seus esposos. “Meu
marido não me considera!”, não se importa com o que sinto, como eu vejo as
coisas, qual é a minha opinião. Portanto, o oposto do amor, não é exatamente o
ódio, mas sua mais sutil e devastadora expressão que se revela no desaso e no
desvalor à esposa.
Quando Deus nos ordena
algo, ele o faz para nosso bem. “Os mandamentos são dados para a vida”. O que
acontece quando o amor bíblico é praticado?
Implicações do amor
à esposa:
1. O
amor traz vitória sobre a indiferença – Nada pode ser mais efetivo quanto ao descaso que o
amor genuíno. “Ele não busca seus próprios interesses”. Quando se ama, importa
sim o coração da pessoa amada. Por isto a Bíblia afirma: “Maridos, vós igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento;
e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a
com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida para
que não se interrompam as vossas orações” (1 Pe 3.7).
Observe
como é sugestivo o texto: “tendo consideração”.
A
falta de consideração sobre o que a mulher pensa, sente e deseja, facilmente se
torna um grande empecilho para a relação respeitosa e amável que deve reger a
vida doméstica.
2. O
amor tira a amargura do coração da mulher. Esta é a primeira coisa que observamos. O amor dá
significado e valor. Certamente esta é a razão da palavra de Deus nos exortar: “Maridos, amai vossa esposa e não as trateis
com amargura” (Col 3.20). Não é significativo considerar que a amargura
tenha sido citada em relação ao amor? Quando um marido ama sua mulher, faz
desabrochar nela o sentimento profundo e belo que pode tirá-la da depressão e
melancolia tão presentes no sentimento feminino.
A
palavra grega para “amargura” que aparece no texto é a mesma de Apocalipse 8.11
no qual vemos que o absinto amargou as águas a ponto de se tornarem venenosas e
matarem os homens que dela beberam. Em Ap 10.9 novamente surge a mesma palavra.
O estômago se tornou amargo. Sempre existe o perigo que o cinismo,
incompreensão e autoritarismo amargurem a existência do outro, trazendo sensações
viscerais que atingem os órgãos vitais do ser humano. Esta era a forma da
antropologia hebraica expressar extrema alegria e dor, sempre associados aos órgãos
como fígado, rim e intestino.
3. O
amor elimina os maus tratos no relacionamento - “Maridos,
não as trateis com amargura” (Cl 3.19). Chamo atenção agora para o verbo “tratar”,
que tem a ver com “tratamento”, forma de se relacionar e falar. Muitos homens maltratam
e desprezam. A Bíblia não permite os maus tratos e a relação animosa em relação
à mulher. Pelo contrário, precisa “ter consideração
para com a mulher como parte mais frágil”.
Quem
ama cuida, protege, apoia, encoraja. Só uma relação neurótica e doentia
sobrevive num relacionamento de culpa, violência e acusação. Minha esposa
chamou atenção para este texto afirmando que talvez o que ele sugira seja
alguma coisa muito sutil. É possível tratar a mulher, mesmo tendo atitudes
relativamente positivas, mas com sentimentos de amargura. Um homem pode tratar
com amargura. Seu coração está chateado e suas ações passam a ser desenvolvidas
dentro deste contexto de amargura.
4. O
amor realça a auto-imagem e auto estima da mulher – auto imagem se relaciona com o
aspecto externo, e auto estima com o interno. Na primeira, trata-se da forma
como a pessoa se vê, e na segunda, como ele se sente. A falta de amor pode acabar
com a auto imagem da mulher e com seu senso de valor.
O
amor protege o relacionamento em ambos os casos. Declarações de carinho,
confissões de amor e elogios, ajudam positivamente na cura imagens distorcidas
quanto ao corpo. Num contexto onde se cultua o corpo (fisiculturismo é uma
palavra sugestiva: culto ao físico), não é comum que as mulheres se sintam tão negativas
acerca de si mesmos e de sua beleza. O amor estimula a linguagem sensual e
amorável no tratamento.
O
amor exalta também a auto- estima feminina. A maioria das mulheres possui um
amor próprio muito ruim e uma imagem ainda pior. À medida que o marido revela
sua admiração por ela, e declara seu amor
ela encontrará mais facilidade em perceber seu valor próprio Não se mede a
auto-estima da mulher apenas na forma de se aprontar e vestir, às vezes isto
tem a ver com condição financeira, mas a forma exterior é uma boa forma de se
perceber como a pessoa tem passado.
Uma
pergunta desconfortável fica para os homens: Será que a forma como tratamos
nossa esposa a leva a um crescimento de sua auto estima e auto imagem?
5. O
amor tem o papel de encorajar a espiritualidade da mulher – Tim Keller no seu livro “o
significado do casamento”, afirma que a função bíblica mais relevante do homem
é ajudar a sua esposa na sua caminhada em direção à Deus.
A
Bíblia monstra como a atitude insegura de Abraão gerou crise no coração de
Sara. Ele lhe disse que Deus lhe daria um filho por meio dela. Como o tempo ia
passando e o filho não chegava, Sara resolveu “ajudar” para que a promessa de Deus
se cumprisse para Abraão, dando-lhe Agar. Nesta hora, Abraão deveria ter
confirmado a palavra recebida, mas ele vacilou e cedeu. Mais tarde, quando Deus
revelou a Sara que seria através de seu corpo frágil de uma idosa mulher, ela
riu, descreu e duvidou. A atitude de Abraão gerou insegurança quanto à fé de
Sara.
O
marido tem o compromisso de levar sua esposa para mais perto de Deus. O
apóstolo Paulo diz que o esposo deve honrar, santificar e purificar sua esposa,
estes passos são fundamentais na caminhada de fé. Assim como Cristo está
preparando sua noiva, a igreja, para se encontrar com Deus, os maridos precisam
ajudar sua esposa na direção de Deus.
O
objetivo maior do casamento não é uma vida sexual abundante, nem a graça de
superar traumas psicológicos e emocionais, mas ajuda-la na sua caminhada de fé.
Através da unidade sexual, marido e mulher se tornam uma só carne e esta
intimidade vai além do sexo e das funções, apontando para o mistério.
Veja
quantas vezes aparece no texto a expressão “para que” (Ef 5.26); “para” (Ef
5.27) e “Eis porque” (Ef 5.31). Todas elas dando-nos senso de direção e
objetivo.
Conclusão:
Uma
pergunta fundamental e ultima fica então para os maridos na tarefa de amar suas
esposas. Será que nosso amor as ajuda na caminhada de discipulado, serviço e
entrega ao Senhor? Temos ajuda nossa esposa a se aproximar de Deus, ou temos
gerado cinismo, incredulidade e dúvidas quanto às coisas de Deus?
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