terça-feira, 12 de setembro de 2017

Ef 5.22 Maridos, Amai...



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Introdução

Antes de estudarmos o texto, quero fazer algumas observações:
Primeira: A coisa mais difícil quando se fala de casamento é no que concerne a funções, isto porque, ao ler a lista de funções e de obrigações de cada um, tende-se a ler para o outro, e nunca para si mesmo. Então, para começo de assunto, vamos fazer um exercício: O homem lê a tarefa masculina, e a mulher a feminina: É possível? Certa pessoa se aproximou do pastor no final do culto e elogia o sermão: “Pastor, esta mensagem foi muito importante. Era tudo que meu marido precisava ouvir”. E o pastor pergunta: “Onde está seu marido?”, e a mulher responde: “Ficou em casa!” Nada pode ser mais danosa para a alma que ouvir a Palavra de Deus para o outro. Deus quer comunicar algo à nossa vida, e precisamos estar atentos à sua verdade para sermos transformados.
Segunda: Este texto fala de funções no casamento. Funções são engrenagens e estas sempre tem a tendência de emperrar em algum momento. É fácil construir uma “to do list” e passarmos a viver em função das coisas que precisamos fazer, sem considerar que existe uma dimensão muito mais ampla no relacionamento que as tarefas do dia a dia. O pecado distorce as funções, transformando-as em instrumento de manipulação e controle. Por isto este texto precisa rigorosamente começar sua leitura em Ef 5.21 e só fechar o bloco de ideias em Ef 5.32, quando ouvimos a palavra “mistério”.
Esta palavra foi traduzida do grego, onde originalmente o termo é “misterium”. Jeronimo traduziu para a vulgata latina como “sacramentum”, o que deu ensejo à igreja Católica de considerar o casamento como um sacramento. Apesar de minhas convicções reformadas, entendo que casamento, de fato, é “um sinal visível de uma graça invisível”. Que lugar pode traduzir tanto a graça de Deus para a vida de uma pessoa que um lar sob a orientação do Sagrado, vivendo no temor do Senhor?
Terceiro: em Ef 5.22 vemos a função da mulher, ou seu papel. “Mulheres, sede submissas ao seu próprio marido”. Como já estudamos este tema anteriormente, agora, precisamos avançar um pouco mais. Em Ef 5.25 lemos: “Maridos, amai vossas mulheres”. Submissão e amor se constituem nos termos centrais. Mas as funções só cumprem seu papel se contempladas à luz do “mistério”. Deus entrelaçando as atividades.

Maridos, Amai...

Esta é a ordem clara da Palavra. O marido deve amar sua esposa. (Ef 5.25; Cl 3.19).
Consideramos anteriormente como o oposto do amor é ódio, mas que a expressão mais sutil do ódio é a indiferença. Esta é a reclamação central das mulheres em relação aos seus esposos. “Meu marido não me considera!”, não se importa com o que sinto, como eu vejo as coisas, qual é a minha opinião. Portanto, o oposto do amor, não é exatamente o ódio, mas sua mais sutil e devastadora expressão que se revela no desaso e no desvalor à esposa.
Quando Deus nos ordena algo, ele o faz para nosso bem. “Os mandamentos são dados para a vida”. O que acontece quando o amor bíblico é praticado?

Implicações do amor à esposa:
1.       O amor traz vitória sobre a indiferença – Nada pode ser mais efetivo quanto ao descaso que o amor genuíno. “Ele não busca seus próprios interesses”. Quando se ama, importa sim o coração da pessoa amada. Por isto a Bíblia afirma: “Maridos, vós igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida para que não se interrompam as vossas orações” (1 Pe 3.7).
Observe como é sugestivo o texto: “tendo consideração”.
A falta de consideração sobre o que a mulher pensa, sente e deseja, facilmente se torna um grande empecilho para a relação respeitosa e amável que deve reger a vida doméstica.

2.       O amor tira a amargura do coração da mulher. Esta é a primeira coisa que observamos. O amor dá significado e valor. Certamente esta é a razão da palavra de Deus nos exortar: “Maridos, amai vossa esposa e não as trateis com amargura” (Col 3.20). Não é significativo considerar que a amargura tenha sido citada em relação ao amor? Quando um marido ama sua mulher, faz desabrochar nela o sentimento profundo e belo que pode tirá-la da depressão e melancolia tão presentes no sentimento feminino.
A palavra grega para “amargura” que aparece no texto é a mesma de Apocalipse 8.11 no qual vemos que o absinto amargou as águas a ponto de se tornarem venenosas e matarem os homens que dela beberam. Em Ap 10.9 novamente surge a mesma palavra. O estômago se tornou amargo. Sempre existe o perigo que o cinismo, incompreensão e autoritarismo amargurem a existência do outro, trazendo sensações viscerais que atingem os órgãos vitais do ser humano. Esta era a forma da antropologia hebraica expressar extrema alegria e dor, sempre associados aos órgãos como fígado, rim e intestino.

3.       O amor elimina os maus tratos no relacionamento - “Maridos, não as trateis com amargura” (Cl 3.19). Chamo atenção agora para o verbo “tratar”, que tem a ver com “tratamento”, forma de se relacionar e falar. Muitos homens maltratam e desprezam. A Bíblia não permite os maus tratos e a relação animosa em relação à mulher. Pelo contrário, precisa “ter consideração para com a mulher como parte mais frágil”.
Quem ama cuida, protege, apoia, encoraja. Só uma relação neurótica e doentia sobrevive num relacionamento de culpa, violência e acusação. Minha esposa chamou atenção para este texto afirmando que talvez o que ele sugira seja alguma coisa muito sutil. É possível tratar a mulher, mesmo tendo atitudes relativamente positivas, mas com sentimentos de amargura. Um homem pode tratar com amargura. Seu coração está chateado e suas ações passam a ser desenvolvidas dentro deste contexto de amargura.

4.       O amor realça a auto-imagem e auto estima da mulher – auto imagem se relaciona com o aspecto externo, e auto estima com o interno. Na primeira, trata-se da forma como a pessoa se vê, e na segunda, como ele se sente. A falta de amor pode acabar com a auto imagem da mulher e com seu senso de valor.
O amor protege o relacionamento em ambos os casos. Declarações de carinho, confissões de amor e elogios, ajudam positivamente na cura imagens distorcidas quanto ao corpo. Num contexto onde se cultua o corpo (fisiculturismo é uma palavra sugestiva: culto ao físico), não é comum que as mulheres se sintam tão negativas acerca de si mesmos e de sua beleza. O amor estimula a linguagem sensual e amorável no tratamento.
O amor exalta também a auto- estima feminina. A maioria das mulheres possui um amor próprio muito ruim e uma imagem ainda pior. À medida que o marido revela sua admiração por ela, e  declara seu amor ela encontrará mais facilidade em perceber seu valor próprio Não se mede a auto-estima da mulher apenas na forma de se aprontar e vestir, às vezes isto tem a ver com condição financeira, mas a forma exterior é uma boa forma de se perceber como a pessoa tem passado.
Uma pergunta desconfortável fica para os homens: Será que a forma como tratamos nossa esposa a leva a um crescimento de sua auto estima e auto imagem?
5.       O amor tem o papel de encorajar a espiritualidade da mulher – Tim Keller no seu livro “o significado do casamento”, afirma que a função bíblica mais relevante do homem é ajudar a sua esposa na sua caminhada em direção à Deus.
A Bíblia monstra como a atitude insegura de Abraão gerou crise no coração de Sara. Ele lhe disse que Deus lhe daria um filho por meio dela. Como o tempo ia passando e o filho não chegava, Sara resolveu “ajudar” para que a promessa de Deus se cumprisse para Abraão, dando-lhe Agar. Nesta hora, Abraão deveria ter confirmado a palavra recebida, mas ele vacilou e cedeu. Mais tarde, quando Deus revelou a Sara que seria através de seu corpo frágil de uma idosa mulher, ela riu, descreu e duvidou. A atitude de Abraão gerou insegurança quanto à fé de Sara.
O marido tem o compromisso de levar sua esposa para mais perto de Deus. O apóstolo Paulo diz que o esposo deve honrar, santificar e purificar sua esposa, estes passos são fundamentais na caminhada de fé. Assim como Cristo está preparando sua noiva, a igreja, para se encontrar com Deus, os maridos precisam ajudar sua esposa na direção de Deus.
O objetivo maior do casamento não é uma vida sexual abundante, nem a graça de superar traumas psicológicos e emocionais, mas ajuda-la na sua caminhada de fé. Através da unidade sexual, marido e mulher se tornam uma só carne e esta intimidade vai além do sexo e das funções, apontando para o mistério.
Veja quantas vezes aparece no texto a expressão “para que” (Ef 5.26); “para” (Ef 5.27) e “Eis porque” (Ef 5.31). Todas elas dando-nos senso de direção e objetivo.

Conclusão:

Uma pergunta fundamental e ultima fica então para os maridos na tarefa de amar suas esposas. Será que nosso amor as ajuda na caminhada de discipulado, serviço e entrega ao Senhor? Temos ajuda nossa esposa a se aproximar de Deus, ou temos gerado cinismo, incredulidade e dúvidas quanto às coisas de Deus?

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