sábado, 22 de fevereiro de 2014

Ef 4.27 Nem deis lugar ao diabo



Introdução:

Um dos princípios mais claros da vida é o seguinte: Bem e mal agem por concessão. Judas é descrito na Bíblia como “O Filho da perdição”. O seu coração foi se inclinando de uma forma tal pela cobiça, que resolveu entender-se com os principais sacerdotes sobre como lhes entregaria a Jesus. O Evangelista Lucas descreve sua alma de forma lacônica: “Satanás entrou em Judas” (Lc 22.3).
Por isto é uma grande benção para nossas almas quando nos abrimos para a pessoa de Jesus de Nazaré. Quando o recebemos em nosso coração, quando o convidamos para entrar em nossa vida e a governá-la. Nós precisamos receber a Jesus em nossa vida, e isto implica em rendição e um convite para que ele nasça em nós. O risco aqui é um só: Deus leva a sério a oração do pecador convidando-o para ser senhor de sua vida. “Eis que estou à porta e bato, se alguém abrir, entrarei, cearei com ele e ele comigo” (Ap 3.20).   
Quando Jesus está ministrando aos discípulos sobre a bondade de Deus, ele afirma o seguinte: “Ora, se vós que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais Deus vos dará o Espírito santo àqueles que lho pediram”. A ênfase de Jesus neste texto é sobre a benção de pedir o Espírito Santo. Quando clamamos pela iluminação e direção divina, somos impactados por esta maravilhosa manifestação de seu amor.
Um antigo hino diz: “Deixa a luz do céu entrar, deixa o sol em ti nascer, abra o coração e deixas Cristo entrar, e o sol em ti raiar”. Este ato maravilhoso de querer ser absorvido pelo sobrenatural é profundamente transformador.

Por outro lado, há muitos que ficam fazendo concessão para o mal. Ficam brincando com coisas espirituais.
Fui chamado certa vez por uma mãe em Boston, cuja filha pré-adolescente,  ‘por brincadeira e curiosidade”, foi conversar com uma garota de sua idade que se intitulava de bruxa na escola e “recebia” as meninas num canto da biblioteca da escola para “dar passes”. Quando esta menina quis sair da “brincadeira”, foi ameaçada espiritualmente por aquela colega e começou a mostrar comportamentos estranhos, de medo e ansiedade, até que resolveu relatar para sua mãe o que havia acontecido na escola. Foi uma oportunidade boa para falar para toda aquela família, sobre a necessidade de abrir sua casa para Deus, e convidar aquela garota para quebrar qualquer voto que tivesse feito com sua coleguinha.
Existem muitos adultos que frequentam igrejas, mas continuam fazendo leituras de tarôs, cartas, conversando com cartomantes, necromantes, médiuns, fazendo isto por curiosidade ou ingenuidade, fazendo brincadeiras com copos no centro da mesa e há relatos de adolescentes perturbados com isto que posteriormente tiveram que recorrer a tratamentos. O jogo, que parece simples e inofensivo, baseia-se num copo que se move em direção às letras de um abecedário colocado em cima de uma mesa e forma palavras em resposta às perguntas dos jogadores.
Esta geração é atraída por forças do ocultismo, vã tentativa de controlar realidades espirituais e sobrenaturais, querendo “domesticar o mal”, ou que se adentram no esoterismo apenas por curiosidade, sem considerar todas as implicações de tais atitudes.
A Bíblia fala de processos de morte dentro de casa de pessoas, como a mulher Siro Fenícia, cuja filha estava “horrivelmente endemoninhada” (Mt 15.22) e vai se encontrar com Jesus. Endemoninhamento é um processo de vida, quando o mal vai aos poucos se aninhando, criando o seu espaço dentro de lares. Por isto o apóstolo Pedro exorta: “Sede sóbrios e vigilantes, o diabo vosso adversário anda em derredor, procurando alguém para devorar. Resisti-lhe firmes na fé ” (1 Pe 5.7). Jesus também insistia com seus discípulos a “vigiar e orar para não entrar em tentação”. Quando a força da sedução atrai de forma perigosa, colocando-nos numa espiral da morte, devemos ficar alerta. Não brinque com forças desconhecidas e tentações. “Não dê lugar ao diabo”.
Este texto também nos revela que existem movimentos éticos que destroem famílias e igrejas. O contexto de Ef 4.30 parece nos dar algumas orientações sobre realidades que abrem espaço para atuações malignas. Os versículos anteriores e posteriores de em Ef 4.25-32 orientam e apontam direção para que Satanás não tenha lugar.

Como alguém pode dar lugar ao diabo? Quando damos lugar ao diabo em nossa vida?
O texto do vs 26 está intimamente conectado ao vs 27, pois Paulo usa uma conjunção aditiva "e", dando-nos a entender que uma das formas mais comuns para satanás aja é pelas vias das emoções. Quando não somos capazes de lidar com conflitos e nos tornamos pessoas ressentidas, deixamos que tal sentimento passem de um dia para outro, às vezes de uma geração para outra, e Satanás obtém vitória. Curiosamente, todas as vezes que o Rei Saul se tornava possesso era após um período de raiva intensa: Amargura, ira, ódio e ressentimento são maus conselheiros.
Paulo descreve, pelo menos, cinco vias pelas quais o mal transita facilmente:

a)- Quando a verdade é suprimida  “Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros” (Ef 4.25). A mentira tem procedência maligna. Jesus afirmou que o diabo jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira (Jo 8.44).
A mentira dá espaço para a suspeita, gera desconfiança e constrói relacionamentos falsos. Muitas vezes não queremos dizer as verdades porque achamos que ofende ou magoa o outro, mas a verdade é que precisamos aprender a dizer sempre “a verdade em amor” (Ef 4.30). A verdade desmascara a base da ação maligna, porque o diabo é um ser de penumbras, ele age nas sombras. Quando a luz brilha, a verdade vem a tona, as trevas se retiram. Por isto a exortação bíblica “Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros”(Ef 4.25). Verdade não deixa espaço para o diabo.

b)- Quando a vida é dominada pela ira – “Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira”. (Ef 4.26).
A ira sempre tem duas vertentes:
i) Ela se projeta para fora, dando vazão à frustração interna e explode em afirmações duras e descaridosas, ferindo àqueles que se encontram ao redor. O homem sem domínio próprio, inferniza e fragiliza seus relacionamentos;
ii) Ela se desloca para dentro, assumindo a forma de ressentimento, amargura e dor. Neste caso, o organismo vai sendo destruindo pela força deste movimento maligno

c)- Quando baseada na desonestidade – O vs. 28 afirma: "Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado" (Ef 4.28). Pessoas desordenadas abrem o espaço para que satanás os acuse, trazendo dor e vergonha para suas casas, permitindo  envolvimento em ganhos ilegais, atos de corrupção e perda da benção de Deus. O termo furtar não tem a mesma conotação de roubar, antes é algo “furtivo”, e cheio de sutilezas. Podemos “furtar” em muitas coisas.
O trabalho que agrada a Deus é aquele
(1)- Que é feito com honestidade;
(b) – Realizado com as próprias mãos;
(2) – Que sirva para abençoar pessoas necessitadas.
Não agir de forma ponderada e sábia nestas questões, abre muito espaço para o mal em nossas vidas.

c)- Quando usamos mal a língua – Satanás tem usado muito esta forma destrutiva para destruir casais, amizades e ambiente de trabalho – "Não saia de vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem" (Ef 4.29).
O termo torpe era usado pelos pescadores em relação a peixes que não podiam ser comercializados, por estarem estragados. "Palavra torpe" é aquela que não deve ser usada porque é podre, cheira mal, faz mal. A Bíblia afirma que nossa palavra deve ser conforme a necessidade, isto é, apropriada para o momento certo. Existem muitas pessoas que não sabem o que falar e falam de forma inadequada ao momento. Outra exortação é para que ela transmita graça aos que ouvem. Isto é, que a pessoa, depois de ouvir a mensagem, sinta que realmente foi abençoada por Deus. O mau uso da língua, é um dos meios que satanás tem usado para destruir filhos e relacionamentos conjugais.

e) Quando o Espírito não tem liberdade de ação em nossas vidas – (Ef 4.20) O melhor antidoto contra as trevas é a luz. A melhor forma de expulsarmos satanás de nossa família é enchendo nosso lar com a presença do Espirito Santo, através de orações simples, e louvores em família. A regra é simples: afugente a escuridão com a presença do Espírito! 
A melhor tradução seria, não jogue água no fogo. Podemos entristecer o Espírito quando não permitimos que seu fogo brilhe em nós, nos purifique, nos santifique. Quando resistimos à sua liderança e governo. Estevão afirmou diante do Sinédrio: "Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis" (At 7.51). Pessoas, religiosas, acostumadas com as coisas de Deus, tendem a desenvolver uma resistência à Palavra. Aquilo que Deus dizia era sempre rechaçado e rejeitado no seu viver diário. Desta forma entristecemos o Espírito do Senhor em nossas vidas, e satanás vai encontrando seu lugar.

Conclusão:

A Bíblia nos ensina: “Não te deixes vencer com o mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12.21), afinal somos “filhos da luz”, e devemos andar como filhos da luz. Nós não somos das trevas, mas chamados para sermos guardados e iluminados pela maravilhosa obra de Cristo em nossas vidas. Por isto a exortação: “Não deis lugar ao diabo”.

Que Deus nos abençoe!

Gn 32.22-32 Em Luta com Deus





Introdução:

Um dos livros mais fortes que li tinha o seguinte título: “Não estou com raiva de Deus", e foi escrito pelo conhecido pregador David Wilkerson. Ele narra sua experiência de ir pregar na igreja de um amigo pessoal dele, pastor de uma igreja do interior, e quando chegou ali, soube que ele havia provocado um acidente que culminou com a morte de seu filho que estava detrás do carro e ele não o viu quando deu ré. Depois do dramático evento, ele descreve que aos poucos foi desenvolvendo uma atitude de desconfiança no caráter de Deus, que ele só percebeu alguns anos detrás e foi tratado pelo Espírito de Deus.
Na verdade, a vida muitas aponta para um relacionamento desconfortável com Deus, a vida com Deus eventualmente aponta para uma linha de conflitividade e batalha. Nem sempre somos capazes de perceber a vontade de Deus e temos ainda mais dificuldade em aceitar o seu plano em nossa vida e então começamos a lutar com Deus. Por isto as experiências religiosas são tantas vezes dramáticas.
Este texto revela-nos a ambigüidade de um homem que conhecia profundamente esta tensão: Jacó.
Jacó era um crente carnal (Dr. Russel Shedd questiona tremendamente esta idéia. Dizendo que não existe tal coisa como crente carnal), por esta razão prefiro usar o termo crente nominal. Rev. Walmir Soares afirmava que “não existem crentes sem vergonha, mas alguns sem vergonha que se chamam de crentes). Jacó era uma pessoa religiosa: Fazia culto, levantava altares, trazia os dízimos, tinha noção de maldição e benção de Deus. Mas tinha problemas sérios:

Um caráter fraco:
Vivia se envolvendo em tramas mal tratadas: Enrolou seu pai, seu irmão e seu sogro. Por onde passava se metia em conflitos de relacionamentos, principalmente relacionado a finanças. Conseguiu a benção de seu pai, fazendo-se passar por seu irmão. Manipulou seu irmão quando estava morto de fome para que negociar seu direito de primogenitura, e conseguiu, aproveitando a leviandade de Esaú com as coisas de Deus.
Por causa de sua atitude teve que sair fugido de casa, por medo de seu irmão; pela mesma razão, cultivou uma inimizade de mais de 20 anos com seu único irmão, vivendo assustado com sua própria sombra, sempre imaginando a possibilidade de um dia se encontrar com ele; Jacó confessava a fé, cria em Deus, mas vivia de forma ambígua e contraditória. Não vivia uma prática coerente de vida, embora tivesse consciência da presença de Deus sobre sua vida e a de seus pais. Deus estava sempre por perto de sua vida, dando promessas, confirmando a aliança com seus pais, mas tais promessas pareciam não penetrar no seu íntimo e transformá-lo.
Um dia, porém, suas possibilidades foram se reduzindo, teve que fazer uma avaliação de sua vida. Havia queimado pontes por julgar que elas nunca mais seriam usadas, mas agora se percebe tendo que usá-las novamente. Chega a hora da verdade, não dá mais para se esconder. Jacó é colocado numa luta com suas próprias sombras, é hora da verdade, ele não pode mais viver uma vida fingindo que não vê, não dá mais para se ocultar de Deus, não pode esconder-se de si mesmo, tem que ser colocado no tribunal. Sua história tem que ser acertada.
Uma vida não examinada não é uma vida digna de ser vivida, como afirmou Kierkegaard. Ele teve que olhar para si mesmo e para Deus, e sua experiência é marcada por luta e angústia, mas é ao mesmo tempo de libertação, de confirmação da promessa de Deus para sua vida, e de sua preparação para viver de forma livre.

Deus se revela a Jacó numa experiência de luta

Muitos vivem vida de fuga. Como náufragos tentando se proteger, agarrados a restos dos porões de navios. Vivem como errantes, mas chega a hora da verdade, em que não se pode mais esconder. É hora da luta.
Deus se revela a Jacó numa experiência de luta. É desta forma também que nos deparamos muitas vezes com Deus, amedrontados do julgamento que podemos ter, mas ao mesmo tempo desejosos de sermos transformados pela sua graça. Jacó se vê, de repente, em meio a um momento decisivo de sua vida, frente a frente com Deus. Deus é um valente guerreiro com o qual ele tem que lutar e não aceita desculpas esfarrapadas, arranjos, tentativas de manipulá-lo, ele não entra em discursos filosóficos, em defesas e mecanismos de projeção e resistência. Deus é Deus, e somos confrontados com sua presença forte e marcante. Hora da verdade. Hora da luta.

Este texto nos revela como esta luta com Deus se dá, nos fala das características desta luta:

Primeiro, A luta geralmente se trava num contexto de dramáticas experiências – (Gn 33.1-2). Jacó não tinha mais opções, sua história depunha contra ele. História marcada por enganos, e  malandragens. Jacó sempre encontrava uma forma de dar um jeitinho nas suas trapaças, mas agora sente que tais artifícios não podiam mais ser usado. O desespero se aproxima e ele sente que é impossível viver sem este encontro com Deus.

Quais as situações que ele se recusava tratar?

O ódio do irmão – Seu primeiro dilema. O ódio do irmão. As portas haviam se fechado em casa,  por causa de seu jeito de lidar com a vida. Saíra fugindo, na calada da noite, sem se despedir das pessoas, deixando amigos, história de vida, herança. Dai por diante passara por noites de pesadelos, dormia atormentado pelas lembranças e pelo medo. Agora, estas velhas questões do coração e do inconsciente vem à tona e precisam ser resolvidas, não podem mais ser ocultadas. Surge a necessária reconciliação. As portas não podem mais continuar fechadas, precisam ser novamente abertas.

Desavença com o sogro – Jacó sente o cerco se fechando. Tentou novamente sair escondido da casa do sogro, mas é surpreendido. A relação não era muito positiva, e agora tornam-se claras. O sogro vai atrás e o constrange, o confronta, o censura (Gn 31.25-27). Jacó perceber que suas atitudes geram conseqüências e que temos que enfrentá-las, aliás, pela primeira vez ele as enfrenta de forma muito positiva. Seu caráter de enganador não pode mais continuar desta forma.

Reencontro com o irmão – O passo mais complicado tinha relações antigas. Ele havia trapaceado seu irmão que o ameaçara de matá-lo, e agora, não tendo mais como se esconder, terá que se reencontrar com o irmão. Ele está visivelmente apavorado, veja sua reação em Gn 33.1-2. Jacó é confrontado com sua falta de opção. Assim acontece conosco: Embaralhamos tanto nossas vidas que eventualmente ficamos sem rumo, falta sentido na existência, vemos nossa história se desmoronando: Dívidas impagáveis, relacionamentos quebrados, enfermidades, problemas familiares, contas que precisam ser acertadas e não mais ocultadas.

Esta luta com Deus se trava em situações ameaçadoras, se possível escaparíamos deste confronto. Jacó não tem mais opção. Não dá mais para ficar na casa do sogro, não pode se encontrar com o irmão. Sua situação torna-se desesperadora.
Da mesma forma, a vida nos leva a ter que deparar com coisas que não queremos ver nem lidar. É a doença, a ausência de recursos, falta de opções – hora de mudança. É o casamento desmoronando, o filho enfrentando problemas, o marido deixando a casa, a mulher deprimida, enfermidades em família. Não pedimos e não queremos entrar nestas situações calamitosas, mas muitas vezes nos vemos nelas. Somos desafiados a lutar contra forças e poderes muito maiores que nós. Os desafios surgem diante de nossos estupefatos olhos.

Segundo, Deus luta com Jacó, num round exaustivo e demorado (Gn 32.24). O texto afirma que a luta se deu "até o nascer do sol". Não é uma luta fugaz e rápida, mas cansativa e longa. Nesta luta somos confrontados com a auto suficiência, altivez, onipotência, soberba, autocomiseração e auto-indulgência, máscaras, subterfúgios, atitudes e hábitos pecaminosos com os quais não queremos lidar. Jacó era malandro e agora é confrontado pelo próprio Deus. É hora de confissão, de reconhecimento, de encarar a verdade. A luta é dura, demorada, queremos colocar um ponto final nela, mas não conseguimos. A luta continua e os desafios continuam diante de nós.
É uma luta forte, que não permite disfarces, não aceita cosméticos, recusa máscaras e hipocrisia. A luta é exaustiva porque Deus é forte.

Terceiro, a luta com Deus é uma experiência na sua interioridadeO texto diz que Jacó ficou só. (Gn 32.24). Ninguém podia compartilhar este momento com ele, não há ninguém para colocar culpa, transferir responsabilidade, dividir medos e culpas. Jacó está só! Ele passou tudo. Seus negócios, todos seus bens, sua família, seus amigos, tudo encontra-se adiante dele. Jacó ficou só. Sua família não estava ali, seus gados, s o seu coração com Deus. Este é o momento da mais dura realidade humana, quando é necessário dialogar com as entranhas, não mais com personas, com aquilo que os outros acreditam que somos, mas com o ser mais íntimo e contradições mais profundas. Nada de cosméticos e defesas. Sós, desamparados, vivendo um pouco da experiência de Jesus no Getsêmani, no qual precisa atravessar sozinho. É o momento da oração, da aflição, da confissão, da súplica. A sós com Deus e é assim que se dá a luta.
Assim se vê o profeta Jeremias, tentando desesperadamente se esquivar da vocação que Deus lhe dá para o oficio de profeta: "Persuadiste-me Senhor, e persuadido fiquei, mais forte foste tu do que eu, e prevaleceste" (Jr 20,27).
Jacó atravessa uma noite inteira, só ele e Deus. Noite longa. Não pode chamar ninguém, nem transferir responsabilidade ou deslocar e projetar sentimentos - é o seu momento com Deus. O encontro com Deus é sempre luta, confronto. Nunca é romântico. O encontro se dá na crise, diante de lutas espirituais, sonhos e visões, que falam do nosso ser mais primal. O texto diz que "alguém lutava com Jacó".

Implicações desta luta

1. Deus vence para se deixar vencer. Deus só vence quando o homem prevalece, e só prevalece quando o homem é vitorioso. “Não te deixarei enquanto não me abençoares!”. Somos impactados com o texto ao perceber que Deus se faz impotente diante de Jacó. Deus se vulnerabiliza, se permite ser agarrado e não ser solto. Deus só prevalece em sua vida quando Jacó decide não deixá-lo ir sem a benção. O homem só vence quando Deus se deixa derrotar. Deus quer se deixar dominar para que sejamos dominados. Na cruz foi exatamente o que vimos, um Jesus clamando: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparastes?”Deus se torna tão fraco que morre, mas é na experiência do morrer de Deus, que descobrimos o coração do Evangelho, de um Deus que morre por nós.

2. Na luta com Deus, a forma de caminhar é alterada – Em Gn 32.31 vemos que Deus toca em Jacó, e ele sai mancando pelo resto de sua vida. Esta é outra implicação deste encontro com Deus. Ele coloca uma marca na forma de Jacó caminhar. A partir daí Jacó tem o seu sinal, e esta marca ele nunca mais vai esquecer. Estar manco tem a ver com nossa postura, jeito de andar, caminhar, reagir. Isto aponta para ética, moral e comportamento. Deus age sensivelmente na forma de Jacó caminhar. Todo homem que se encontrar com Deus nunca mais caminha da mesma forma.
Vivemos dias em que as pessoas se impressionam demais com gestos e atitudes religiosas. Algumas pessoas se reúnem para cair no espírito. Tenho perguntado se estas quedas trazem efeito no caráter, na atitude no lar, na família, no trabalho, na administração do dinheiro, no jeito da pessoa caminhar. Se a experiência com Deus não nos transformar, não mudar a maneira de andar, não transforma a ética, não nos deixar manco, ainda não experimentamos a marca de Deus. A grande questão da vida cristã é este sinal distintivo. O que importa não é a emoção sentida, mas se este encontrou me fez abandonar comportamentos pecaminosos por causa do toque amoroso e firme de Deus na vida.
Certa pessoa me disse "Eu mentia tanto que já não sabia o que era mentira e o que era verdade em minha vida". Mas quando me encontrei com Jesus, ele começou a transformar isto em minha vida. Esta é a verdadeira implicação do encontro com Deus: Vidas transformadas, mente transformada, ética transformada, famílias transformadas, lábios transformados.

2. Na luta com Deus, o caráter se transforma – É muito interessante o que acontece neste diálogo: Deus pergunta o nome de Jacó. Nome aponta para o ser, para o caráter que revela a verdadeira natureza (Gn 32.27,28). Deus lhe faz a pergunta essencial: “Qual é o seu nome?” A resposta de Jacó é autêntica, mas o denuncia. Seu nome está relacionado à identidade e jeito de ser. O nome de Jacó, literalmente significa enganador e trapaceiro. Jacó não se recusa a dizer quem ele era, afinal, Deus o conhece.
Se Deus nos perguntasse o que responderíamos: Um embuste, mentiroso, cínico, crítico, hipócrita, egoísta, insubmisso, covarde, preguiçoso? Deus pergunta o nome. Para sermos o que Deus deseja de nós, precisamos dizer aquilo que nos caracteriza. Falar a verdade para Deus é uma forma de confissão e cura. Da resposta que damos começa nossa restauração. Quando Jacó não se recusa a revelar sua natureza, Deus o surpreende dando-lhe outro nome: "Já não te chamarás Jacó, mas sim Israel , porque como príncipe lutaste contra Deus".
A grande luta que se impõe está na verdade e no enfrentamento. Quando isto acontece, o nome pode ser trocado; o impuro, purificado; o insensível, sensibilizado; o mentiroso transformado, o enganador mudado. Deus muda o caráter, não quando ocultamos dele aquilo que somos, mas quando, com temor, confessamos aquilo que realmente somos e admitimos nosso fracasso. No Evangelho, fraqueza é força; rendição é superação.
Curiosamente Jacó deseja saber o nome de Deus, e Ele não responde. Tentar fazer divagações teológicas é uma das alternativas que mais encontramos quando estamos confrontados com Deus. Ele, porém, obriga Jacó a refletir sobre o seu próprio nome. É isto que interessa.

4. Esta luta com Deus altera geraçõesO texto diz: “Por isso, os filhos de Israel  não comem, até hoje, o nervo do quadril, na articulação da coxa” (Gn 32.32) Os filhos de Jacó mudaram o costume e por isto, até hoje, ninguém come o nervo do quadril do animal.
Isto demonstra que aquilo que Deus faz hoje, traz efeitos sensíveis nas próximas gerações. A obra de Deus em nossa vida, vai transformar nossos filhos e neto. Deus quer gerações mudadas, filhos diferentes, netos transformados.

Conclusão:
Coisas que não devem ser esquecidas

A. Não abra mão da benção de Deus quando ocorrer esta luta - "Não te deixarei se me não abençoares"(Gn 32.26).
Vivemos numa vida tantas vezes indiferente, sem valor, miserável. Não tenha medo de se abrir para Deus, de se defrontar com o mistério divino. Encontrar com Deus é encontrar-se consigo mesmo, é ter contato com aquilo que existe de mais significativo no universo. Encontrar com Deus é salvação no sentido mais amplo que existe. O que Deus deseja é que você prevaleça, não desista. A luta com Deus nunca traz maldição, sempre bênçãos; esta luta não é para morte, mas para vida. É uma benção quando acontece.
O que fazer? "Não te deixarei se não me abençoares". É esta vontade de se agarrar a Deus com todo coração, ser envolvido pelo mistério da Trindade, pelo acolhimento divino e sobrenatural. É a atitude da mulher Siro Fenícia que mesmo diante da aparente desconsideração de Cristo, continua clamando que alguma migalha da bondade de Deus se manifeste na sua casa e restaure o estado caótico gerado pela ação demoníaca na vida de sua filha.  Deus não ignora gente assim. Jacó entende isto, por isto diz: "vi a Deus face a face e minha vida foi salva".


B. Saiba que enquanto você luta com Deus, Deus providencia o seu livramento – Quando continuamos a leitura no capítulo seguinte, lemos em seguida: "Levantando Jacó os olhos , viu..." (Gn 33.1). Aquilo que ele mais temia, sua maior aflição dos últimos dias, já está sendo solucionada por Deus. Às vezes queremos resolver questões da vida, sem resolver a questão mais crucial de nossa existência que é o encontro com Deus. Lidamos com o efeito, não com as causas. Resolva com Deus teus problemas, ele é o ponto de partida.


domingo, 16 de fevereiro de 2014

Gn 31.17-35 Ídolos do Lar


Introdução:

Este texto nos fala, pelo menos 3 vezes dos ídolos do lar. Que coisa surpreendente. Labão construiu nichos pessoais e entidades para sua própria família e os transmitiu a seus filhos. Aqueles deuses e entidades passaram a ter status de divindade. Pequenas esculturas de barro se tornaram a referência de sua família. Como estas coisas se desenvolvem? Como falsas divindades podem assumir o status de Deus em nossa família?
Não é interessante pensar que nossos lares se tornem nichos de deuses falsos? Que construam altares para entidades e lhe demos status de deuses que determinam atitudes, decisões, praticas, que envolvam consagração dos filhos e nos levem a viver em torno destas imagens criadas à nossa imagem e semelhança? O que tem de tão importante nos ídolos que fascinam, atraem, seduzem com suas propostas e facilmente nos fazem desviar do único Deus que merece todo louvor? Lares podem, e tem se tornado, muitas vezes, espaços para construções de relações idolátricas. Este texto fala-nos dos “ídolos do lar” (Gn 31.34).

Por uma definição de idolatria
Normalmente ao falarmos de ídolos, pensamos em grotescas imagens feitas por artesões, nem sempre com boa qualidade e talento, mas que por um processo de alquimia espiritual, tornam-se nossas referências do Sagrado. Em Isaias 44.9-20, o profeta fala deste processo patológico no qual as pessoas se envolvem: “Um homem corta para si cedros... Metade queima no fogo e com ela coze a carne para comer; assa-a e farta-se;  também se aquenta e diz: Ah! Já me aquento, contemplo a luz. Então, do resto faz um Deus, uma imagem de escultura, ajoelha-se e lhe dirige a sua oração, dizendo: Livra-me, porque tu és o meu Deus” (Is 44.14a, 17). Certamente esta é uma forma de idolatria.

Ídolos, substitutos de Deus

Mas ídolo, antes de tudo e por definição é um substituto de Deus. O pecado nos predispõe a querer viver de forma independente de Deus, e no fundo, todo ídolo é uma tentação de vivermos alienados de Deus, e encontrarmos sentido fora de Deus. Ídolo é alguma que resolvemos colocar em lugar de Deus “Adoraram a criatura em lugar do criador” (Rm 1.20). Tão logo nossa lealdade nos leva a desobedecer a Deus, estamos em perigo de fazer disto um ídolo.
A questão básica do ídolo é: Alguma coisa ou alguém está tomando o lugar de Deus em minha vida? O que tem ocupado minha mente? Se você quiser saber se possui algum ídolo na sua vida, pergunte a si mesmo: “Existe alguma coisa que temo, amo, confio e desejo mais que a Deus?” Se sua resposta é positiva a qualquer um destes pontos, isto já se tornou um ídolo em seu coração.

Ídolos controlam o coração

O problema básico do ídolo é que ele controla o coração, envolve os afetos. Lembro-me de um homem casado que se apaixonou por outra mulher, mas se defendeu minimizando o seu pecado dizendo: “Mas eu não tive nenhum envolvimento sexual com ela”. E o pastor respondeu: “O maior problema não é o encontro dos órgãos genitais, mas o fato de que você lhe entregou seu coração”. Ídolos afetam o coração, tomam o espaço de sua alma. Por isto Deus está denuncia seu povo que levantava ídolos “dentro de seus corações” (Ez 14.4).

Ídolos nos fazem pensar que é impossível ser feliz sem eles
                A pessoa, cujo deus é a gula, transforma a comida em sua obsessão;
                O homem ambicioso torna-se escravo de seu sucesso,
                A pessoa incontinente em sua luxúria, torna-se escravo de sua paixão;
                O ganancioso fica obcecado por dinheiro;
                O vaidoso, por sua aparência;
                O atleta, por sua performance.
Todas estas coisas podem ser boas, mas quando se transformam em deuses, nos dão a impressoa de que não podemos viver sem elas.
Certa jovem queria se casar. Ela já tinha mais de 30 anos e estava obcecada por esta idéia: “Deus vai me dar um casamento, porque nunca serei feliz se não me casar”. Argüida sobre esta forma de pensar, reconheceu que na verdade não podia condicionar sua felicidade a ter ou não ter alguma coisa ou pessoa. A fonte única e final da alegria tem que ser o Senhor. “A Alegria do Senhor é a vossa força!” (Ne 8.10)

Ídolos criam falsas concepções de sucesso e fracasso, de valor e estigma.

Ídolos fazem promessa de benção e maldição para aqueles que seguem suas leis ou a desobedecem. Por exemplo: “Se que fizer bastante dinheiro, estarei seguro”, ou, “Minha vida será bem sucedida se…” ou, ainda “serei feliz se tiver ____________”, ou, as pessoas me respeitarão e vão gostar de mim, se _______________

O resultado, segundo Oden, é que nos tornamos escravos destes ídolos.

a.       Torno-me ansioso na medida em que eu idolatro valores finitos. Suponhamos que eu idolatre meu corpo, diante disto, torno-me frágil e ansioso quando percebo que ele não tem mais aquela estrutura bonita que tinha aos 18 anos. Ou, se idolatro meu sucesso, quando não estou em evidência, posso me desesperar. Ou, se idolatro meu dinheiro, não consigo pensar na idéia de viver sem ele;

b.       Sinto-me culpado quando tais ídolos não mais existem

c.        Experimento vazio e falta de sentido. Alguns chamam isto de desespero, e as formas mais brandas são o desapontamento, desilusão e cinismo.[1]

Raquel, ao sair de casa, pensou da seguinte forma: Não posso viver sem os ídolos da casa de meu pai. E por isto roubou, mentiu, inventou realidades. Como podemos facilmente construir ídolos na vida e trazê-los para casa.

Ídolos mais comuns em nossos lares. Exemplos clássicos:

Þ      Ídolo do poder – A vida só tem sentido se eu tive poder e influenciar outros;
Þ      Ídolo do conforto – A vida só tem sentido se tenho ____________;
Þ      Ídolo da dependência – Minha vida só tem sentido se tenho ________ para me dar segurança;
Þ      Ídolo do trabalho – Minha vida só tem sentido se eu estiver fazendo alguma coisa produtiva;
Þ      Ídolo do materialismo – Minha vida só tem sentido se eu tiver certo nível de riqueza, liberdade financeira e lindas propriedades
Þ      Ídolo humano  – Minha vida só tem sentido se esta pessoa estiver comigo.


Lições do Texto: Este texto nos fala de algumas verdades sobre tais ídolos:

  1. Famílias tendem a criar deuses e construir ídolos. Famílias são facilmente dominadas por conceitos e idéias que se tornam centrais, concentram toda atenção e nos fazem esquecer de Deus. Ídolo, por definição, é tudo aquilo que rouba o lugar de Deus, que ocupa o primeiro lugar em nossas vidas, que roubam de nós a capacidade de amar e confiar apenas em Deus. Ídolos são substitutos de Deus, porque nos fazem crer que não podemos viver sem eles.

  1. Ídolos se constroem na estrutura familiar – Provém de heranças paternas. São hereditários, congênitos, impregnados na estrutura familiar. Muitos decidiram chamar isto de maldição hereditária, eu prefiro denominá-los de padrões familiares e comportamentais. Determinadas atitudes se enveredam por atitudes sutilmente malignas que tornam-se padrão em muitas gerações.

Talvez seja esta a razão pela qual o apóstolo Pedro afirma que “não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram” (1 Pd 1.18). Família tem potencial para cultivar gestos e atitudes malignas e a desenvolver valores que se tornam profundamente idolátricas. O apóstolo João afirma no final de sua primeira epistola: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (1 Jo 5.21). Curioso é que ele escreva isto para pessoas batizadas e ligadas às suas igrejas locais.

  1. Ídolos encontram meios e subterfúgios em nossas roupagens e utensílios pessoais-  Raquel rouba os utensílios do seu pai, e os coloca debaixo dos objetos pessoais sobre o camelo que a carregava. (Gn 31.34). Mantemos os ídolos mas queremos cobri-los para não serem achados. Muitas vezes não confessamos e até negamos a profunda dependência de tais ídolos porque temos medo de serem descobertos e desmascarados, mas os ídolos estão ali, presentes e determinando o estilo de ser e viver.


IV. Efeitos colaterais dos ídolos:
  1. Ídolos criam artificiais sentimentos de segurança, mas não podem sequer proteger-se a si mesmo. Por que me furtaste os meus deuses?” (Gn 31.30). Você cria os ídolos e os adora porque acredita que eles possam lhe manter seguros, mas os ídolos não tem proteção sequer para si mesmos. Colocamos a confiança em coisas e objetos que idolatramos, porém estas coisas são frágeis e não conseguem dar proteção. Elas se quebram, são artificiais e virtuais. O Salmo 115 é o mais enfático em relação aos ídolos, vale a pena sua leitura: “Tornem-se semelhantes a eles os que o fazem e quantos neles confiam” (Sl 115.8). Adoradores de ídolos tornam-se iguais aos seus deuses e o resultado é confusão e abandono.

  1. Ídolos provocam disputas nas famílias – Raquel cresceu pensando que aquelas imagens poderiam lhe trazer segurança e abençoá-la. Naturalmente era uma falsa visão. Elas não tinham poder algum. O resultado foi disputa e altercação entre Labão e Jacó.

Compreendendo o Deus verdadeiro:
Diante da disputa pelos ídolos, disputa esta aguçada pela competição e desonestidade entre aquela família, expressa na afirmação de Jacó, “dez vezes me mudaste o salário” (Gn 31.41), Jacó faz uma declaração de fé, revelando a fraqueza dos ídolos e o cuidado de Deus.

(a)     Jacó afirma que apenas Deus pode nos defender quando somos injustiçados e explorados“Se não fora o Deus de meu Pai...”(Gn 31.42) Facilmente nos firmamos em coisas e ídolos para nossa proteção. Mas, “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam” (Sl 128.1).  Onde temos colocado nossa confiança? Nas riquezas, bens, dinheiro, saúde, família? Onde está a fonte de nossa confiança? Se você quiser saber quanto você confia em Deus e em seus bens, pergunte a você mesmo porque você tem tanta dificuldade de colocar seus bens a serviço do Reino, a contribuir com sua igreja local, a abençoar projetos missionários, etc. Na verdade não damos nossos recursos para edificar outros, porque inconscientemente acreditamos que a segurança vem daquilo que possuímos e não de Deus. Acreditamos que os ídolos nos darão o que precisamos.

(b)     Jacó reconhece que Deus não nos deixa de mãos vazias – Não são os ídolos que nos satisfazem, mas Deus. “Se não fora o Deus de meu Pai... por certo me despedirias agora de mãos vazias” (Gn 31.42). Quem enche suas mãos, abençoa seu coração e sua vida é Deus. Ele enche sua vida. Quando minha filha foi aprovada para Harvard, fiquei entre a euforia e a preocupação, até que disse a mim mesmo: “Deus é quem tem responsabilidade pela minha filha, se ele deu o que era mais difícil, isto é, sua aprovação, porque não daria o que é secundário, isto é, seu sustento?” Se Deus cuida dos passarinhos, e das flores dos campos, ele também vai cuidar dos outros detalhes de nossa vida. Deus não nos deixa de mãos vazias, ele supre as necessidades.

(c)      Jacó aprende, no meio destas experiências que Deus se torna mais concreto e visível em nossos caminhos,quando declaramos abertamente nossa fé - “Também Jacó seguiu o seu caminho, e anjos de Deus lhe saíram a encontrá-lo” (Gn 32.1)– O que Jacó diz a Labão, seu sogro, que era idólatra é: “Pouco estou ligando para seus ídolos, se não fosse o meu Deus para me dar e tomar cuidado de mim, não sei onde estaria”. Jacó afirma sua fé, confronta a idolatria, e dá oportunidade para que aquelas pessoas possam repensar suas convicções falsas acerca de deuses falsos e do Deus verdadeiro. O resultado desta afirmação de fé, é a benção de Deus sobre sua vida, a companhia divina que se revela aqui nos anjos de Deus que saem par se encontrar com ele pelo caminho.

Conclusão:
Ø       Desmascarando os ídolos - Quando Moisés desceu do monte e viu o povo adorando o bezerro de ouro, sua primeira atitude foi a de quebrar o ídolo. Ele demonstrou que aquela imagem era falsa e fragil, obra de homens, apenas um bezerro de ouro. O ídolo foi ali denunciado e desmascarado. Precisamos começar a desmascarar, a perceber que não dependemos de tais ídolos, e só dependemos de Deus. Ídolos criam um campo de ilusão acerca deles, dão-nos a impressão que não podemos viver sem eles, quando na verdade só precisamos de Deus, e de Deus apenas.

Ø       Regozijando na graça e na obra de Jesus – Precisamos admitir que temos buscado segurança em esquemas, e na justiça própria, mas a grande mensagem do Evangelho é que nós somos aceitos em Cristo. Todos os nossos problemas surgem porque nos esquecemos quão amados somos por meio de Jesus, quão honrados, quão bonitos, quão seguros, quão ricos, quão respeitados e livres em Jesus. Todas as outras formas de encontrar sentido e prestígio são vãs. Precisamos confiar somente em Jesus, de tal forma que outro amor não nos controle.

Ø       “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” - I Jo 5.21.  Quando João está terminando sua epístola, após ter escrito 105 versículos que falam da vitalidade do relacionamento com Jesus, ele conclui com esta afirmação curta e direta: “Guardai-vos dos ídolos”. Por que será que João dá tanta ênfase a isto? Que sentido isto faz quando se escreve a cristãos? Por que ele fala deste assunto, aparentemente fora da ênfase dada anteriormente, e o deixa para o final como se quisesse reforçar e não deixar sua comunidade esquecer dos ricos dos ídolos.

João sabe o quão nocivo e fascinante é a construção de ídolos. Por esta razão, antes de encerrar a carta, deixa esta nota de rodapé, ou um post scriptum (P.S), dizendo: “Antes de encerrar. Tomem cuidado com os perigos da idolatria nas vossas vidas, corações e lares”.



[1] . Oden, Thomas C., Two worlds: Notes on the death of modernity in America and Russia, chap. 6

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Gn 31.1-18 Mude sua história pessoal




Introdução:

Não é fácil tomar decisões. Decisões são rupturas. São de-cisões. Não é possível ter o melhor dos dois mundos, e quando optamos em seguir determinada estrada isto significa que não andaremos em outra, por isto, toda decisão traz perdas e benefícios. Como bem se expressou esta música:

Well, there's two sides, to every situation (bem, existem dois lados para cada situacao)
Yes, there's two sides, two interpretations (sim, existem dois lados, duas interpretacoes)
A laugh is a cry, hello means goodbye (um riso é um choro, alô significa até logo)
You're sayin' something baby, I don't wanna buy (voce diz algo baby, que eu nao quero comprar)
Well, there's two sides to every creation (Bem, existem dois lados para cada criacao)
You and me babe, we're no revelation (voce e eu, baby, nao somos revelacao)
Well, there's darkness in our light, and there's wrong in our right (bem, existe escuridao em sua luz, e nao ha nada errado à sua direita)
There's sorry babe, I'm workin' late tonight (há perdao, baby, eu estou trabalhnado tarde esta noite).
(The Carpenters – Two sides)).

Constantemente somos colocados diante de realidades que exigem tomada de posição e atitude. Não adianta não querer decidir, porque a não-decisão também é uma decisão: A decisão de não decidir. Empresários, patrões, funcionários, pastores, funcionários públicos, eventualmente precisam tomar decisões que trazem grandes mudanças na vida e alteram completamente o caminho e a história de vida.
Neste texto, Jacó se encontra numa encruzilhada na vida. Ele precisa tomar uma decisão que pode mudar todo seu estilo de vida, toda sua história particular e de sua família. Ele teria de decidir se continuaria em Padã-Arã, que ficava na Mesopotâmia, nas proximidades do rio Eufrates, e retornaria para Canaã, de onde saíra 20 anos atrás, para proteger-se do seu próprio irmão que o ameaçara de morte. Deixaria uma cultura, região, com linguagem, culturas e hábitos diferentes e retornaria para as proximidades do Mediterrâneo.
Andou durante todo este tempo ao lado de seu sogro, Labão, que o acolheu e lhe deu duas filhas como esposa. Desde o inicio, o relacionamento foi truncado, marcado por espertezas de ambos os lados, com traições, mentiras e enganos. No meio de toda esta confusão histórica e familiar, Jacó toma algumas decisões que mudarão por completo sua caminhada. Quais foram os passos tomados, e como isto pode nos orientar nas decisões que hoje tomamos, e que podem mudar completamente nossa história?

1.       Jacó observa as circunstâncias – “Então, ouvia Jacó os comentários dos filhos de Labão, que diziam: Jacó se apossou de tudo o que era de nosso pai; e do que era de nosso pai juntou ele toda esta riqueza. Jacó, por sua vez, reparou que o rosto de Labão não lhe era favorável com anteriormente”(Gn 31.1,2).

Quais são as circunstâncias que ele observa?

ð  Ele ouviu os comentários – Ele coleta e analisa o que tem sido dito. As pessoas comentam, o ambiente fica ruim, a maledicência e fofoca tornam-se perceptíveis. Jacó organiza as informações. O que estão dizendo?
Muitas pessoas sofrem muito porque não conseguem fazer as leituras corretas, ou vivem num processo de negação, fazendo de conta que a realidade é outra. Uma leitura honesta e corajosa da situação pode nos livrar de muito sofrimento no futuro. A bíblia afirma que “o simples passa à frente e sofre as consequências, mas o homem sábio vê o mal e esquiva-se”. Isto é chamado de prudência. Por isto Jesus afirmou que devemos ser “simples como as pombas e prudentes como as serpentes”.
Tenho observado isto constantemente nas relações pastor/igreja. Muitas vezes o pastorado vai bem numa comunidade, e depois sofrem certo desgaste. Líderes e membros de uma igreja local se desentendem, por motivo carnal, luta pelo poder ou conflitos pessoais e na eleição o pastor é aprovado com 70% dos votos da comunidade, ou em alguns casos apenas com 50%. O pastor resolve ficar. Eu sei que muitas vezes ele tem convicção de Deus que deve ficar, e fica baseado nas suas convicções, mas ao fazer isto ele precisa entender que é grande o risco de muito sofrimento e luta. 30% de oposição numa comunidade local faz bastante barulho e pastores costumam sair arrebentados em casos como este.

ð  Ele observou as expressões faciais do seu sogro, que não lhe era favoráveis – Esta é outra forma de avaliar se as circunstâncias são favoráveis ou não. Em geral, situações de conflito levam as pessoas a se tornarem muito pouco simpáticas, e trabalhar num ambiente assim traz muito desgaste e cansaço. Jacó fez a leitura correta. Ele observa os interlocutores.
Ambientes de mau humor e rostos hostis geram profundo stress nas pessoas. Quem lê corretamente a situação evita muito desgaste. Naturalmente não é fácil tomar decisões que nos trarão prejuízos financeiros, status, vai gerar instabilidade, mas insistir num ambiente que vai arrebentar com sua saúde não é uma decisão muito sábia. Em tais casos a pessoa deve ir se preparando para mudanças, eventualmente radicais, e com perdas financeiras, mas escolher viver sempre é uma atitude importante.
“Portas que se fecham são iguais as que se abrem, se abertas ou fechadas por Deus” (Josué Rodrigues). “Se uma porta se fecha aqui, outra porta se abre ali”(Kleber Lucas).

2.       Jacó conversa com sua família – Gn 31.4-5

Ter a esposa e filhos como aliados em processos difíceis de decisão é uma das melhores coisas a se fazer.
Jacó vinha de uma cultura patriarcal que não considerava muito a opinião das mulheres. Ele mesmo vira isto acontecendo na sua casa, quando Isaque resolveu secretamente, sem conversar com Rebeca, abençoar Esaú antes de sua morte. Ele viu no que deu esta atitude de seu pai de se silenciar e consultar a esposa. O ambiente na casa de Labão também era muito hostil, as filhas eram instrumentalizadas, e Jacó, apesar deste contexto chauvinista, decide assentar-se com Lia e Raquel e discutir o assunto.
Quando a esposa e filhos são envolvidos no processo, tornam-se aliadas ao invés de serem competidoras. Jacó estava tomando uma pesada decisão. O ônus compartilhado foi muito positivo. Jacó se mostrou razoável, lógico, objetivo nas suas colocações. Ele mostra a situação, faz desabafos, revela os motivos. Se suas esposas não estivessem ao seu lado isto seria muito complicado.
Quais argumentos ele usa:
ð  O rosto de seu pai não é mais favorável (Gn 31.5). as pessoas estão contra mim. O ambiente é hostil;
ð  As relações de negócio estão estremecidas. Há muito suspeita pairando no ar e financeiramente não estamos nos entendendo.  
Se você está pensando ou precisa tomar uma decisão que vai mudar a historia de sua vida, chame sua esposa e converse. Se as coisas são muito difíceis, procure seus filhos e explique a situação. Em geral isto os amadurece, dá ideia de responsabilidade, une os laços. Mesmo quando é necessário chorar diante das perdas e rupturas, transmite-se a ideia de que estamos juntos.
Quando estávamos plantando uma igreja nos Estados Unidos, vivemos dias iniciais de muito conflito com o grupo que iniciou o projeto conosco. Eventualmente este grupo se dividiu, e nossos filhos percebiam a tensão no ar. Numa destas conversas, minha esposa disse aos nossos filhos o que estava acontecendo e o mais novo afirmou: “Ah, mamãe, não fique preocupada. Se ficarmos só os quatro já somos uma igreja. Jesus não disse que onde dois ou três estivessem reunidos em seu nome, ali ele estaria?”

3.       Esteja atendo à orientação de Deus – “E disse o Senhor a Jacó: Torna à terra de teus pais e à tua parentela; e eu serei contigo”. (Gn 31.3).
No meio do caos, da oposição, das circunstâncias desfavoráveis, Deus está falando. Eu fico tentando entender a forma como Deus tem falado conosco hoje em dia. Deus vai dando sinais, usando eventos corriqueiros para nos conduzir.
Uma das coisas que Deus faz é nos dar convicções de um determinado caminho a seguir. As coisas estão tensas, mas Deus vai abrindo portas e mostrando possibilidades.
Outra forma é fechando portas. Eventualmente insistimos em um determinado caminho, mas as portas não se abrem e as soluções não aparecem.
Deus ainda vai demonstrando os sinais: hostilidade, oposição.
Jacó era uma personalidade complicada. Seu relacionamento com seu pai não parecia ser muito bom. Com Esaú foi um desastre. Vai para Pada-Arã e seu relacionamento com o sogro, com o passar dos anos, sofre um desgaste imenso, mas ainda assim, Deus está dirigindo a sua vida. Deus lhe dá direção, e ainda afirma: “Eu serei contigo”. Jacó não estava só.
Fique atento à direção de Deus. Ele está agindo e fazemos bem em continuar percebendo os movimentos que ele faz na história.
Deus é muito especifico com Jacó, ao enviar um anjo em um sonho, que lhe orienta. (Gn 31.11-13).
Na nossa vida familiar tivemos uma experiência que demonstra como estas coisas podem se processar.
Meu filho Matheus foi designado pela sua empresa para um emprego no panamá. Passado os dias iniciais, ele sofreu um imenso desgaste na empresa, não se ajustando com a proposta e tarefa que lhe foi designada, e nem com o seu chefe. Resultado, pediu para ser demitido. Mas ainda ficou com alguma expectativa de se ajustar. Sua esposa estava trabalhando e cegaram a pensar que poderiam se manter e viver naquele país. O resultado foi que no mês seguinte, ela também saiu do emprego por desgaste de relacionamento. Era impossível se manter naquele país, e como tinham casa no Brasil, resolveram voltar.
Deus fechou as portas, mas abriu outras. Ao chegar ao Brasil, as coisas começaram a se ajustar novamente, e menos de dois meses depois, tudo estava resolvido.   Depois de um tempo de oração e busca de orientação, num determinado momento, em menos de 24 horas, tudo se resolveu: Ele recebeu o telefonema da empresa comunicando sua aprovação de emprego às 17 hs, no outro dia, às 8 hs da manhã sua mudança chegava em casa, e às 15 horas, havia fechado a compra de uma casa. Em 22 horas, tudo se resolvera.

Conclusão: O grande ponto!
 Para concluir, gostaria de dizer, que mudanças de nossa história pessoal são movimentos de Deus para nos levar numa direção que de outra forma não consideraríamos. A grande questão não é para onde você vai, nem se você precisa fazer rupturas, mas sim, se estamos debaixo da direção e orientação divina.
Deus estava orientando e dirigindo Jacó para retornar à sua terra, para que se cumprisse a promessa que anteriormente havia feito a Abraao e isaque. Os meios incomuns que Deus usou, foi a forma de tratar daquilo que o aborrecia, causava frustração, cansaço e ira em seu coração, foi a forma que ele usou para levar Jacó a considerar o grande projeto de vida que ele havia traçado para sua vida e sua família. Deus estava reconduzindo Jacó ao seu projeto de vida, na terra que havia prometido dar a seus pais.
Esta é a grande questão que precisamos entender. Não estamos nas mãos do acaso, circunstâncias, homens, associações e estruturas. Estamos nas mãos de um Deus sábio e providente, que fará tudo para cumprir em nós seus propósitos. Jacó deveria voltar, mas se as coisas continuassem indo bem, ele esqueceria do projeto de Deus dado a seus pais, e que incluía a vida de sua família e de seus filhos.
Outras provações maiores ainda viriam. Ele veria seu filho querido desaparecer, dando-o por morto, quando fora vendido pelos seus irmãos para se tornar escravo num país estranho. Deus estava providenciando todas as coisas. Outro aspecto é que de seu filho Judá, nasceria o Leao da tribo de Judá,, nosso salvador Jesus, que redimiria o povo de seus pecados, e regeria as nações com cetro de ferro.
Mas o mais importante ainda é que Deus queria fazer Jacó retornar ao seu projeto original. Voltar à terra que ele havia prometido aos seus pais. Ele faz Jacó recordar da aliança de Betel, quando ele erigiu e ungiu uma coluna, fazendo pacto com Deus. Esta foi a forma que ele encontrou para trazê-lo novamente ao foco central de sua existência. Deus queria fazer um povo para sua exclusiva autoridade, e daria a terra da Canaã para cumprir seus propósitos.
Portanto, a grande questão não é para onde você vai, mas se a presença e Deus vai contigo. Esta foi a equação colocada por Moisés, quando ele teve que tomar uma atitude seria em sua vida. “Se sua presença não vai conosco, não nos faça sair deste lugar”(Ex 31.13-16). Não é curioso pensar que o texto que fala da decisão de Jacó está registrado em Gn 31, enquanto que o texto que fala da decisão de Moisés se encontra em Ex 31 também, sendo ainda quase os mesmos versículos?
Para discernir o coração do Senhor, ore e peça a Deus para conduzir sua vida e sua família. Submeta-se a Deus. Ouvir a Deus no meio de oposição e em dias de desgastes emocionais e trabalhistas, é um grande desafio.


Que Deus nos abençoe!