domingo, 16 de fevereiro de 2014

Gn 31.17-35 Ídolos do Lar


Introdução:

Este texto nos fala, pelo menos 3 vezes dos ídolos do lar. Que coisa surpreendente. Labão construiu nichos pessoais e entidades para sua própria família e os transmitiu a seus filhos. Aqueles deuses e entidades passaram a ter status de divindade. Pequenas esculturas de barro se tornaram a referência de sua família. Como estas coisas se desenvolvem? Como falsas divindades podem assumir o status de Deus em nossa família?
Não é interessante pensar que nossos lares se tornem nichos de deuses falsos? Que construam altares para entidades e lhe demos status de deuses que determinam atitudes, decisões, praticas, que envolvam consagração dos filhos e nos levem a viver em torno destas imagens criadas à nossa imagem e semelhança? O que tem de tão importante nos ídolos que fascinam, atraem, seduzem com suas propostas e facilmente nos fazem desviar do único Deus que merece todo louvor? Lares podem, e tem se tornado, muitas vezes, espaços para construções de relações idolátricas. Este texto fala-nos dos “ídolos do lar” (Gn 31.34).

Por uma definição de idolatria
Normalmente ao falarmos de ídolos, pensamos em grotescas imagens feitas por artesões, nem sempre com boa qualidade e talento, mas que por um processo de alquimia espiritual, tornam-se nossas referências do Sagrado. Em Isaias 44.9-20, o profeta fala deste processo patológico no qual as pessoas se envolvem: “Um homem corta para si cedros... Metade queima no fogo e com ela coze a carne para comer; assa-a e farta-se;  também se aquenta e diz: Ah! Já me aquento, contemplo a luz. Então, do resto faz um Deus, uma imagem de escultura, ajoelha-se e lhe dirige a sua oração, dizendo: Livra-me, porque tu és o meu Deus” (Is 44.14a, 17). Certamente esta é uma forma de idolatria.

Ídolos, substitutos de Deus

Mas ídolo, antes de tudo e por definição é um substituto de Deus. O pecado nos predispõe a querer viver de forma independente de Deus, e no fundo, todo ídolo é uma tentação de vivermos alienados de Deus, e encontrarmos sentido fora de Deus. Ídolo é alguma que resolvemos colocar em lugar de Deus “Adoraram a criatura em lugar do criador” (Rm 1.20). Tão logo nossa lealdade nos leva a desobedecer a Deus, estamos em perigo de fazer disto um ídolo.
A questão básica do ídolo é: Alguma coisa ou alguém está tomando o lugar de Deus em minha vida? O que tem ocupado minha mente? Se você quiser saber se possui algum ídolo na sua vida, pergunte a si mesmo: “Existe alguma coisa que temo, amo, confio e desejo mais que a Deus?” Se sua resposta é positiva a qualquer um destes pontos, isto já se tornou um ídolo em seu coração.

Ídolos controlam o coração

O problema básico do ídolo é que ele controla o coração, envolve os afetos. Lembro-me de um homem casado que se apaixonou por outra mulher, mas se defendeu minimizando o seu pecado dizendo: “Mas eu não tive nenhum envolvimento sexual com ela”. E o pastor respondeu: “O maior problema não é o encontro dos órgãos genitais, mas o fato de que você lhe entregou seu coração”. Ídolos afetam o coração, tomam o espaço de sua alma. Por isto Deus está denuncia seu povo que levantava ídolos “dentro de seus corações” (Ez 14.4).

Ídolos nos fazem pensar que é impossível ser feliz sem eles
                A pessoa, cujo deus é a gula, transforma a comida em sua obsessão;
                O homem ambicioso torna-se escravo de seu sucesso,
                A pessoa incontinente em sua luxúria, torna-se escravo de sua paixão;
                O ganancioso fica obcecado por dinheiro;
                O vaidoso, por sua aparência;
                O atleta, por sua performance.
Todas estas coisas podem ser boas, mas quando se transformam em deuses, nos dão a impressoa de que não podemos viver sem elas.
Certa jovem queria se casar. Ela já tinha mais de 30 anos e estava obcecada por esta idéia: “Deus vai me dar um casamento, porque nunca serei feliz se não me casar”. Argüida sobre esta forma de pensar, reconheceu que na verdade não podia condicionar sua felicidade a ter ou não ter alguma coisa ou pessoa. A fonte única e final da alegria tem que ser o Senhor. “A Alegria do Senhor é a vossa força!” (Ne 8.10)

Ídolos criam falsas concepções de sucesso e fracasso, de valor e estigma.

Ídolos fazem promessa de benção e maldição para aqueles que seguem suas leis ou a desobedecem. Por exemplo: “Se que fizer bastante dinheiro, estarei seguro”, ou, “Minha vida será bem sucedida se…” ou, ainda “serei feliz se tiver ____________”, ou, as pessoas me respeitarão e vão gostar de mim, se _______________

O resultado, segundo Oden, é que nos tornamos escravos destes ídolos.

a.       Torno-me ansioso na medida em que eu idolatro valores finitos. Suponhamos que eu idolatre meu corpo, diante disto, torno-me frágil e ansioso quando percebo que ele não tem mais aquela estrutura bonita que tinha aos 18 anos. Ou, se idolatro meu sucesso, quando não estou em evidência, posso me desesperar. Ou, se idolatro meu dinheiro, não consigo pensar na idéia de viver sem ele;

b.       Sinto-me culpado quando tais ídolos não mais existem

c.        Experimento vazio e falta de sentido. Alguns chamam isto de desespero, e as formas mais brandas são o desapontamento, desilusão e cinismo.[1]

Raquel, ao sair de casa, pensou da seguinte forma: Não posso viver sem os ídolos da casa de meu pai. E por isto roubou, mentiu, inventou realidades. Como podemos facilmente construir ídolos na vida e trazê-los para casa.

Ídolos mais comuns em nossos lares. Exemplos clássicos:

Þ      Ídolo do poder – A vida só tem sentido se eu tive poder e influenciar outros;
Þ      Ídolo do conforto – A vida só tem sentido se tenho ____________;
Þ      Ídolo da dependência – Minha vida só tem sentido se tenho ________ para me dar segurança;
Þ      Ídolo do trabalho – Minha vida só tem sentido se eu estiver fazendo alguma coisa produtiva;
Þ      Ídolo do materialismo – Minha vida só tem sentido se eu tiver certo nível de riqueza, liberdade financeira e lindas propriedades
Þ      Ídolo humano  – Minha vida só tem sentido se esta pessoa estiver comigo.


Lições do Texto: Este texto nos fala de algumas verdades sobre tais ídolos:

  1. Famílias tendem a criar deuses e construir ídolos. Famílias são facilmente dominadas por conceitos e idéias que se tornam centrais, concentram toda atenção e nos fazem esquecer de Deus. Ídolo, por definição, é tudo aquilo que rouba o lugar de Deus, que ocupa o primeiro lugar em nossas vidas, que roubam de nós a capacidade de amar e confiar apenas em Deus. Ídolos são substitutos de Deus, porque nos fazem crer que não podemos viver sem eles.

  1. Ídolos se constroem na estrutura familiar – Provém de heranças paternas. São hereditários, congênitos, impregnados na estrutura familiar. Muitos decidiram chamar isto de maldição hereditária, eu prefiro denominá-los de padrões familiares e comportamentais. Determinadas atitudes se enveredam por atitudes sutilmente malignas que tornam-se padrão em muitas gerações.

Talvez seja esta a razão pela qual o apóstolo Pedro afirma que “não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram” (1 Pd 1.18). Família tem potencial para cultivar gestos e atitudes malignas e a desenvolver valores que se tornam profundamente idolátricas. O apóstolo João afirma no final de sua primeira epistola: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (1 Jo 5.21). Curioso é que ele escreva isto para pessoas batizadas e ligadas às suas igrejas locais.

  1. Ídolos encontram meios e subterfúgios em nossas roupagens e utensílios pessoais-  Raquel rouba os utensílios do seu pai, e os coloca debaixo dos objetos pessoais sobre o camelo que a carregava. (Gn 31.34). Mantemos os ídolos mas queremos cobri-los para não serem achados. Muitas vezes não confessamos e até negamos a profunda dependência de tais ídolos porque temos medo de serem descobertos e desmascarados, mas os ídolos estão ali, presentes e determinando o estilo de ser e viver.


IV. Efeitos colaterais dos ídolos:
  1. Ídolos criam artificiais sentimentos de segurança, mas não podem sequer proteger-se a si mesmo. Por que me furtaste os meus deuses?” (Gn 31.30). Você cria os ídolos e os adora porque acredita que eles possam lhe manter seguros, mas os ídolos não tem proteção sequer para si mesmos. Colocamos a confiança em coisas e objetos que idolatramos, porém estas coisas são frágeis e não conseguem dar proteção. Elas se quebram, são artificiais e virtuais. O Salmo 115 é o mais enfático em relação aos ídolos, vale a pena sua leitura: “Tornem-se semelhantes a eles os que o fazem e quantos neles confiam” (Sl 115.8). Adoradores de ídolos tornam-se iguais aos seus deuses e o resultado é confusão e abandono.

  1. Ídolos provocam disputas nas famílias – Raquel cresceu pensando que aquelas imagens poderiam lhe trazer segurança e abençoá-la. Naturalmente era uma falsa visão. Elas não tinham poder algum. O resultado foi disputa e altercação entre Labão e Jacó.

Compreendendo o Deus verdadeiro:
Diante da disputa pelos ídolos, disputa esta aguçada pela competição e desonestidade entre aquela família, expressa na afirmação de Jacó, “dez vezes me mudaste o salário” (Gn 31.41), Jacó faz uma declaração de fé, revelando a fraqueza dos ídolos e o cuidado de Deus.

(a)     Jacó afirma que apenas Deus pode nos defender quando somos injustiçados e explorados“Se não fora o Deus de meu Pai...”(Gn 31.42) Facilmente nos firmamos em coisas e ídolos para nossa proteção. Mas, “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam” (Sl 128.1).  Onde temos colocado nossa confiança? Nas riquezas, bens, dinheiro, saúde, família? Onde está a fonte de nossa confiança? Se você quiser saber quanto você confia em Deus e em seus bens, pergunte a você mesmo porque você tem tanta dificuldade de colocar seus bens a serviço do Reino, a contribuir com sua igreja local, a abençoar projetos missionários, etc. Na verdade não damos nossos recursos para edificar outros, porque inconscientemente acreditamos que a segurança vem daquilo que possuímos e não de Deus. Acreditamos que os ídolos nos darão o que precisamos.

(b)     Jacó reconhece que Deus não nos deixa de mãos vazias – Não são os ídolos que nos satisfazem, mas Deus. “Se não fora o Deus de meu Pai... por certo me despedirias agora de mãos vazias” (Gn 31.42). Quem enche suas mãos, abençoa seu coração e sua vida é Deus. Ele enche sua vida. Quando minha filha foi aprovada para Harvard, fiquei entre a euforia e a preocupação, até que disse a mim mesmo: “Deus é quem tem responsabilidade pela minha filha, se ele deu o que era mais difícil, isto é, sua aprovação, porque não daria o que é secundário, isto é, seu sustento?” Se Deus cuida dos passarinhos, e das flores dos campos, ele também vai cuidar dos outros detalhes de nossa vida. Deus não nos deixa de mãos vazias, ele supre as necessidades.

(c)      Jacó aprende, no meio destas experiências que Deus se torna mais concreto e visível em nossos caminhos,quando declaramos abertamente nossa fé - “Também Jacó seguiu o seu caminho, e anjos de Deus lhe saíram a encontrá-lo” (Gn 32.1)– O que Jacó diz a Labão, seu sogro, que era idólatra é: “Pouco estou ligando para seus ídolos, se não fosse o meu Deus para me dar e tomar cuidado de mim, não sei onde estaria”. Jacó afirma sua fé, confronta a idolatria, e dá oportunidade para que aquelas pessoas possam repensar suas convicções falsas acerca de deuses falsos e do Deus verdadeiro. O resultado desta afirmação de fé, é a benção de Deus sobre sua vida, a companhia divina que se revela aqui nos anjos de Deus que saem par se encontrar com ele pelo caminho.

Conclusão:
Ø       Desmascarando os ídolos - Quando Moisés desceu do monte e viu o povo adorando o bezerro de ouro, sua primeira atitude foi a de quebrar o ídolo. Ele demonstrou que aquela imagem era falsa e fragil, obra de homens, apenas um bezerro de ouro. O ídolo foi ali denunciado e desmascarado. Precisamos começar a desmascarar, a perceber que não dependemos de tais ídolos, e só dependemos de Deus. Ídolos criam um campo de ilusão acerca deles, dão-nos a impressão que não podemos viver sem eles, quando na verdade só precisamos de Deus, e de Deus apenas.

Ø       Regozijando na graça e na obra de Jesus – Precisamos admitir que temos buscado segurança em esquemas, e na justiça própria, mas a grande mensagem do Evangelho é que nós somos aceitos em Cristo. Todos os nossos problemas surgem porque nos esquecemos quão amados somos por meio de Jesus, quão honrados, quão bonitos, quão seguros, quão ricos, quão respeitados e livres em Jesus. Todas as outras formas de encontrar sentido e prestígio são vãs. Precisamos confiar somente em Jesus, de tal forma que outro amor não nos controle.

Ø       “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” - I Jo 5.21.  Quando João está terminando sua epístola, após ter escrito 105 versículos que falam da vitalidade do relacionamento com Jesus, ele conclui com esta afirmação curta e direta: “Guardai-vos dos ídolos”. Por que será que João dá tanta ênfase a isto? Que sentido isto faz quando se escreve a cristãos? Por que ele fala deste assunto, aparentemente fora da ênfase dada anteriormente, e o deixa para o final como se quisesse reforçar e não deixar sua comunidade esquecer dos ricos dos ídolos.

João sabe o quão nocivo e fascinante é a construção de ídolos. Por esta razão, antes de encerrar a carta, deixa esta nota de rodapé, ou um post scriptum (P.S), dizendo: “Antes de encerrar. Tomem cuidado com os perigos da idolatria nas vossas vidas, corações e lares”.



[1] . Oden, Thomas C., Two worlds: Notes on the death of modernity in America and Russia, chap. 6

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