domingo, 9 de fevereiro de 2014

Ml 3.6-11 Trazei todos os dízimos


"Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda?” (Mal 3.8-9)


Introdução:
O livro de Malaquias é repleto de interpelações de Deus ao seu povo e do povo a Deus. Na verdade, Deus está sendo inquirido, porque as coisas que ele diz parecem não fazer sentido. Neste texto, vemos a 6ª confrontação. Deus fazendo um apelo ao seu povo para que retorne seu coração ao ele.
O texto começa com uma queixa sobre a desobediência constante: “Desde os dias de vossos pais, vos desviastes dos meus estatutos e não o guardastes” (Ml 3.7). Deus está afirmando que o povo “sempre” lhe desobedeceu, assim como seus pais:
ü       No deserto: Queixas, reclamações, deuses pagãos, infidelidade;
ü       Nos dias dos juízes: perda das referencias sagradas
ü       Na época dos reis: infidelidade, descaso, cultos esvaziados.

“Sempre”.
Apesar disto Deus não perdeu a esperança numa mudança de atitude e chama seu povo ao arrependimento:
ü       “Tornai-vos”
ü       “Voltem”
ü       “Arrependam-se”
Deus está lembrando ao seu povo os termos da aliança:
                Obediência – Benção
                Desobediência – Maldição, castigo.

Deus oferece oportunidade.
O povo parece não entender: “Voltar como?” ou “em que te roubamos?” Retrucam de forma cínica. Deus responde com outra pergunta: “Roubará o homem a Deus?”
Roubar é um termo forte: “tirar pela força, apropriação indébita”. Não é apenas um furto, é um ato violento, de mão armada.

Em que roubavam? Quais eram os termos da aliança?
A lei dizia que deviam dar 10% de suas colheitas, de seus ganhos, propriedades e animais. Deviam trazer isto ao templo para sustento dos levitas e sacerdotes. Deus reivindica aquilo que ele julga ser seu. “Também todas as dízimas da terra, tanto dos cereais do campo como dos frutos das árvores, são do Senhor; santas são ao Senhor” (Lv 27.30). o dízimo fazia parte constitutiva do ato de adoração. Nenhum judeu se atrevia a vir diante de Deus sem ofertas, mesmo que fosse a mais simples, porque esta era uma exigência divina e legal. O povo estava retendo suas ofertas, deixando de entregá-las ao Senhor.
Isto acontece até hoje. Em horas de aperto e dificuldade, retemos nossas ofertas. Fazemos com a história do menino que recebeu de seus pais 2 moedas: Uma para entregar na igreja e outra para comprar um sorvete. No caminho tropeçou e uma das moedas caiu no bueiro, e ele conformou-se dizendo: “Perdi a moeda que iria levar para Deus!”.
Deus afirma que a nação estava sendo amaldiçoada porque quebrava um princípio do pacto e da aliança feita com ele. Os dízimos faziam parte da aliança e do culto. Por quebrarem a aliança, não prosperavam. Por isto dizia: “Trazei todos os dízimos”, mas a tradução mais correta seria: “trazei o dízimo todo” e não “todos os dízimos”. Este dinheiro deveria ser colocado na “casa do tesouro”, um local no templo em que se guardava os alimentos para sacrifício, sustento dos sacerdotes e levitas e auxilio para os pobres e viúvas.
Fazei prova” não é um ato de negociata e magia. Por quebrarem a aliança feita com Deus estavam se distanciando. Seus corações estavam longe.
A pergunta que sempre nos vem à mente é se este princípio do dízimo se aplica ainda a nós.

O Novo Testamento fala sobre isto?
Na verdade, não encontramos mandamentos específicos, mas princípios que nos levam a pensar sobre o fato de que Jesus nunca aboliu esta prática. Ele mesmo fazia isto como parte do cumprimento da lei. Certa vez afirmou: “Ai de vós, escribas e fariseus, que dais o dízimo do endro, hortelã e cominho, e tendes desprezado os princípios mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas sem omitir aquelas!” (Mt 23.23). Este mandamento não foi questionado por Jesus, pelo contrário, ele o recomendou, mas o Novo Testamento, embora não fale do dízimo em forma de mandamento.
O que encontramos no Novo Testamento é a recomendação de que todos deveriam cooperar com a obra do Senhor.

Eis alguns princípios:

1.       Todos deveriam dar – As pessoas que participavam de comunidades locais deveriam cooperar com suas igrejas. Isto é explicado de forma clara em 2 Co 16.2: “No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que não se façam coletas quando eu for”.  Quem entende a obra de Deus e o projeto que Deus tem para sua comunidade e para o reino, não encontra qualquer resistência ou dificuldade em praticar estas coisas. Todos devem dar porque amam a Deus.

2.       Todos deveriam dar proporcionalmente –No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade (2 Co 16.2). Existem pessoas ganhando muito e dando pouco. Este não é um princípio bíblico, nem no Antigo nem no Novo Testamento. Certo homem afirmou que o dízimo dele era igual o do Kaká (Jogador do Milan, famoso por ser crente e fiel no seu dízimo). Quando todos olharam espantados para ele, julgando que fosse muito rico, ele afirmou: “Eu dou 10% do que ganho para a obra do Senhor”.

  1. Todos deveriam dar regularmente – Não trazer o dízimo hoje, a oferta no dia em que achar melhor. Você ganha com regularidade, então aprenda contribuir com regularidade. “No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte...” (1 Co 16.2). Você vai retornar seus recursos a Deus, de forma sistemática e constante, como Ele tem dado de forma também sistemática. Vamos imaginar que sua benção sobre nós fosse esporádica, inconstante. Como viveríamos?

4.       Todos deveriam dar com alegria e generosidade – Dízimos e ofertas são meios de cultuarmos a Deus, portanto assim deveria ser. “Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não por tristeza ou por necessidade; por Deus ama ao que dá com alegria!” (2 Co 8.7)

5.       Devemos dar por entendermos a importância deste ato de adoração - Ao darmos não estamos pagando, mas devolvendo aquilo que ele reivindica ser seu. Esta idéia está no coração da lei: Nós somos apenas mordomos das coisas de Deus, um mordomo é aquele que tem a responsabilidade de cuidar de coisas que não lhe pertencem. As coisas que você tem, não apenas não lhe pertencem, mas Deus vai exigir contas dela. Os recursos que você possui são um teste de sua fidelidade. Como você tem lidado com isto?

Quando falamos em dízimo, quase sempre pensamos em dinheiro. Deus, porém, pensa em valores mais profundos. Dinheiro na Bíblia é um tema espiritual, não é algo neutro e destituído de um sentido maior. Nossa relação com o dinheiro aponta para algo mais profundo do nosso coração.
Entregar o dízimo é apenas um referencial do Antigo Testamento, aprovado por Deus. Eventualmente crentes deveriam dar mais de 10%. Já pensou em fazer isto?
Um presbítero de nossa igreja em Brasília doava nos dias em que pastoreei aquela igreja, 27% do que ganhava. Ele estava aumentando sua contribuição ano a ano. Começou com 10%, depois, 11% e agora estava em 27%. Outro empresário em Brasilia, diácono de nossa igreja, resolveu tomar uma posição radical: Doava 5% do que entrava na sua empresa a Deus. Não sobre seus lucros, mas sobre sua entrada. É muito dinheiro... Ou falar que o dono da Colgate, chegou a doar 90% do seu lucro, para a obra do Senhor.

Aplicações:

1.       Dinheiro não é uma questão de bolso, mas de coração – A preocupação de Deus nunca foi com o dinheiro em si, mas com nossa fidelidade. Bolso é último a converter e o primeiro a esfriar. Deus não precisa de nosso dinheiro, mas do coração. Quando não damos, estamos mostrando que não confiamos na provisão de Deus para nossas vidas, e por isto devo me garantir. Deus faz uma pergunta crucial: “com tais ofertas, aceitaria eu a vossa pessoa?” (Ml 1.9).

2.       Deus não precisa de nosso dinheiro - Ele não precisa de nosso dinheiro, mas requer nossa fidelidade e observa a atitude de nosso coração. Tudo pertence a Deus, tudo é dele. “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e os que nele habitam” (Sl.24.1) Ele é dono de todo ouro do mundo, de todo petróleo do mundo. O dízimo nao deve ser administrado individualmente, mas deve ser entregue àqueles que o administram na Igreja de Cristo.

3.       Deus não quer nosso dinheiro – Deus quer nossa fidelidade, Ele quer saber onde estão nossos desejos mais ocultos. Dinheiro revela coração. “Onde estiver seu tesouro, ali estará seu coração”. Este é o princípio da adoração“trazei todos os dízimos à casa do tesouro(Ml 3.10). Outra tradução diz: à casa do Senhor, “para que haja mantimento na minha casa” Dízimo é ato litúrgico, faz parte do meu culto a Deus.

4.       Dinheiro está relacionado à nossa confiança no caráter provedor de Deus. Quando a pessoa dá liberalmente, afirma que Deus é sua provisão, e quem tem a responsabilidade de cuidar de suas necessidades. Reafirma a confiança não no seu braço, mas no Deus que é Jeová-Jiré, aquele que provê. Normalmente não damos porque não confiamos na provisão de Deus. Temos insegurança quanto ao seu caráter e achamos que vai fazer falta.

Apesar de suas promessas, nunca devemos dar, baseados no quanto proveito vamos tirar de Deus, mas numa atitude de gratidão, reconhecendo sua bondade e generosidade para conosco, caso contrário, transformamos nossa relação com Deus em uma experiência instrumentalizada e manipulativa. O que este texto sugere não é uma barganha, do tipo, vamos dar para que ele nos abençoe. Antes, é uma declaração da fidelidade de Deus.

Deus promete abençoar seu povo: “Todas as nações vos chamarão felizes, porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos Exércitos!” (Ml 3.10).

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