"Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me
roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição
sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda?” (Mal 3.8-9)
Introdução:
O livro de Malaquias é repleto de interpelações de
Deus ao seu povo e do povo a Deus. Na verdade, Deus está sendo inquirido,
porque as coisas que ele diz parecem não fazer sentido. Neste texto, vemos a 6ª
confrontação. Deus fazendo um apelo ao seu povo para que retorne seu coração ao
ele.
O texto começa com uma queixa sobre a desobediência
constante: “Desde os dias de vossos pais,
vos desviastes dos meus estatutos e não o guardastes” (Ml 3.7). Deus está
afirmando que o povo “sempre” lhe
desobedeceu, assim como seus pais:
ü No deserto:
Queixas, reclamações, deuses pagãos, infidelidade;
ü Nos dias dos
juízes: perda das referencias sagradas
ü Na época dos
reis: infidelidade, descaso, cultos esvaziados.
“Sempre”.
Apesar disto Deus não
perdeu a esperança numa mudança de atitude e chama seu povo ao arrependimento:
ü
“Tornai-vos”
ü
“Voltem”
ü
“Arrependam-se”
Deus está lembrando ao
seu povo os termos da aliança:
Obediência – Benção
Desobediência – Maldição,
castigo.
Deus oferece
oportunidade.
O povo parece não
entender: “Voltar como?” ou “em que te roubamos?” Retrucam de forma
cínica. Deus responde com outra pergunta: “Roubará
o homem a Deus?”
Roubar é um termo
forte: “tirar pela força, apropriação indébita”. Não é apenas um furto, é um
ato violento, de mão armada.
Em que roubavam? Quais
eram os termos da aliança?
A lei dizia que deviam
dar 10% de suas colheitas, de seus ganhos, propriedades e animais. Deviam
trazer isto ao templo para sustento dos levitas e sacerdotes. Deus reivindica
aquilo que ele julga ser seu. “Também
todas as dízimas da terra, tanto dos cereais do campo como dos frutos das
árvores, são do Senhor; santas são
ao Senhor” (Lv 27.30). o dízimo fazia parte constitutiva do ato de
adoração. Nenhum judeu se atrevia a vir diante de Deus sem ofertas, mesmo que
fosse a mais simples, porque esta era uma exigência divina e legal. O povo
estava retendo suas ofertas, deixando de entregá-las ao Senhor.
Isto acontece até
hoje. Em horas de aperto e dificuldade, retemos nossas ofertas. Fazemos com a
história do menino que recebeu de seus pais 2 moedas: Uma para entregar na
igreja e outra para comprar um sorvete. No caminho tropeçou e uma das moedas
caiu no bueiro, e ele conformou-se dizendo: “Perdi a moeda que iria levar para
Deus!”.
Deus afirma que a
nação estava sendo amaldiçoada porque quebrava um princípio do pacto e da
aliança feita com ele. Os dízimos faziam parte da aliança e do culto. Por
quebrarem a aliança, não prosperavam. Por isto dizia: “Trazei todos os dízimos”, mas a tradução mais correta seria: “trazei o dízimo todo” e não “todos os dízimos”. Este dinheiro deveria
ser colocado na “casa do tesouro”, um
local no templo em que se guardava os alimentos para sacrifício, sustento dos
sacerdotes e levitas e auxilio para os pobres e viúvas.
“Fazei prova” não é um ato de negociata e
magia. Por quebrarem a aliança feita com Deus estavam se distanciando. Seus
corações estavam longe.
A pergunta que sempre
nos vem à mente é se este princípio do dízimo se aplica ainda a nós.
O Novo Testamento fala sobre isto?
Na verdade, não
encontramos mandamentos específicos, mas princípios que nos levam a pensar
sobre o fato de que Jesus nunca aboliu esta prática. Ele mesmo fazia isto como
parte do cumprimento da lei. Certa vez afirmou: “Ai de vós, escribas e fariseus, que dais o dízimo do endro, hortelã e
cominho, e tendes desprezado os princípios mais importantes da Lei: a justiça,
a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas sem omitir aquelas!”
(Mt 23.23). Este mandamento não foi questionado por Jesus, pelo contrário, ele
o recomendou, mas o Novo Testamento, embora não fale do dízimo em forma de
mandamento.
O que encontramos no
Novo Testamento é a recomendação de que todos deveriam cooperar com a obra do
Senhor.
Eis alguns princípios:
1.
Todos deveriam dar – As pessoas que
participavam de comunidades locais deveriam cooperar com suas igrejas. Isto é
explicado de forma clara em 2 Co 16.2: “No
primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua
prosperidade, e vá juntando, para que não se façam coletas quando eu for”. Quem entende a obra de Deus e o projeto que Deus
tem para sua comunidade e para o reino, não encontra qualquer resistência ou
dificuldade em praticar estas coisas. Todos devem dar porque amam a Deus.
2.
Todos deveriam dar proporcionalmente
– “No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha
de parte, em casa, conforme a sua
prosperidade (2 Co 16.2). Existem pessoas ganhando muito e dando
pouco. Este não é um princípio bíblico, nem no Antigo nem no Novo Testamento.
Certo homem afirmou que o dízimo dele era igual o do Kaká (Jogador do Milan,
famoso por ser crente e fiel no seu dízimo). Quando todos olharam espantados
para ele, julgando que fosse muito rico, ele afirmou: “Eu dou 10% do que ganho
para a obra do Senhor”.
- Todos
deveriam dar regularmente – Não trazer o dízimo hoje, a oferta no dia em que
achar melhor. Você ganha com regularidade, então aprenda contribuir com
regularidade. “No primeiro dia da
semana, cada um de vós ponha de parte...” (1 Co 16.2). Você vai
retornar seus recursos a Deus, de forma sistemática e constante, como Ele tem
dado de forma também sistemática. Vamos imaginar que sua benção sobre nós
fosse esporádica, inconstante. Como viveríamos?
4.
Todos deveriam dar com
alegria e generosidade – Dízimos e ofertas são meios de cultuarmos a Deus,
portanto assim deveria ser. “Cada um
contribua segundo tiver proposto no coração, não por tristeza ou por
necessidade; por Deus ama ao que dá com alegria!” (2 Co 8.7)
5.
Devemos dar por
entendermos a importância deste ato de adoração - Ao darmos não estamos
pagando, mas devolvendo aquilo que ele reivindica ser seu. Esta idéia está no
coração da lei: Nós somos apenas mordomos das coisas de Deus, um mordomo é
aquele que tem a responsabilidade de cuidar de coisas que não lhe pertencem. As
coisas que você tem, não apenas não lhe pertencem, mas Deus vai exigir contas
dela. Os recursos que você possui são um teste de sua fidelidade. Como você tem
lidado com isto?
Quando falamos em
dízimo, quase sempre pensamos em dinheiro. Deus , porém, pensa em valores mais
profundos. Dinheiro na Bíblia é um tema espiritual, não é algo neutro e
destituído de um sentido maior. Nossa relação com o dinheiro aponta para algo
mais profundo do nosso coração.
Entregar o dízimo é
apenas um referencial do Antigo Testamento, aprovado por Deus. Eventualmente
crentes deveriam dar mais de 10%. Já pensou em fazer isto?
Um presbítero de nossa
igreja em Brasília doava nos dias em que pastoreei aquela igreja, 27% do que
ganhava. Ele estava aumentando sua contribuição ano a ano. Começou com 10%,
depois, 11% e agora estava em 27%. Outro empresário em Brasilia, diácono de
nossa igreja, resolveu tomar uma posição radical: Doava 5% do que entrava na
sua empresa a Deus. Não sobre seus lucros, mas sobre sua entrada. É muito
dinheiro... Ou falar que o dono da Colgate, chegou a doar 90% do seu lucro,
para a obra do Senhor.
Aplicações:
1. Dinheiro não é uma questão de bolso, mas de coração – A preocupação
de Deus nunca foi com o dinheiro em si, mas com nossa fidelidade. Bolso é
último a converter e o primeiro a esfriar. Deus não precisa de nosso dinheiro,
mas do coração. Quando não damos, estamos mostrando que não confiamos na
provisão de Deus para nossas vidas, e por isto devo me garantir. Deus faz uma
pergunta crucial: “com tais ofertas, aceitaria eu a vossa pessoa?” (Ml 1.9).
2. Deus não precisa de nosso dinheiro - Ele não
precisa de nosso dinheiro, mas requer nossa fidelidade e observa a atitude de
nosso coração. Tudo pertence a Deus, tudo é dele. “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e os que nele habitam” (Sl.24.1)
Ele é dono de todo ouro do mundo, de todo petróleo do mundo. O dízimo nao deve
ser administrado individualmente, mas deve ser entregue àqueles que o
administram na Igreja de Cristo.
3. Deus não quer nosso dinheiro – Deus quer nossa
fidelidade, Ele quer saber onde estão nossos desejos mais ocultos. Dinheiro
revela coração. “Onde estiver seu
tesouro, ali estará seu coração”. Este é o princípio da adoração – “trazei
todos os dízimos à casa do tesouro” (Ml
3.10). Outra tradução diz: à casa do Senhor,
“para que haja mantimento na minha casa” Dízimo é ato litúrgico, faz parte
do meu culto a Deus.
4. Dinheiro está relacionado à nossa confiança no caráter
provedor de Deus. Quando a pessoa dá liberalmente, afirma que Deus é
sua provisão, e quem tem a responsabilidade de cuidar de suas necessidades.
Reafirma a confiança não no seu braço, mas no Deus que é Jeová-Jiré, aquele que provê. Normalmente não damos
porque não confiamos na provisão de Deus. Temos insegurança quanto ao seu caráter
e achamos que vai fazer falta.
Apesar de suas
promessas, nunca devemos dar, baseados no quanto proveito vamos tirar de Deus,
mas numa atitude de gratidão, reconhecendo sua bondade e generosidade para
conosco, caso contrário, transformamos nossa relação com Deus em uma
experiência instrumentalizada e manipulativa. O que este texto sugere não é uma
barganha, do tipo, vamos dar para que ele nos abençoe. Antes, é uma declaração
da fidelidade de Deus.
Deus promete abençoar
seu povo: “Todas as nações vos chamarão
felizes, porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos Exércitos!” (Ml
3.10).
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