Introdução:
Família
é um lugar de ambigüidades. É na família que experimentamos as maiores
alegrias, mas também é na família que os maiores traumas e dores são
construídos, indo desde a agressão, a negação, a desvalorização, até a
violência e abusos verbais e até mesmo sexuais. Família é palco de batalha
espiritual, e famílias cristãs não estão isentas desta luta. É necessário que
estejamos atentos para discernir movimentos espirituais dentro de casa. A mulher
Siro fenícia que busca a Jesus porque sua filha estava horrivelmente endemoninhada. Neste caso, Satanás tinha feito um
“ninho” dentro de seu lar, e estava afetando e matando toda a alegria da
família (isto só se cura com enfrentamento, oração, jejum, confrontação
espiritual), e trazendo doenças emocionais (Mt 15).
Algumas
famílias trazem patologias genealógicas que só a cruz de Cristo pode romper.
Por isto Pedro afirma que Jesus nos comprou com seu sangue, e um dos objetivos
dele era nos livrar do “fútil
procedimento que nossos pais nos legaram” (1 Pd 1.19). Nossos pais nos
amaram, mas isto não os isentou de pecarem contra nós e trazerem conflitos e
dilemas que são tão presentes nas biografias familiares. Estas lutas são
vencidas com confissão, arrependimento, vulnerabilidade e quebrantamento.
Nelson
Rodrigues, dramaturgo brasileiro, com seu cinismo implacável afirmou que
“família, na melhor das hipóteses, só serve para enriquecer a indústria
farmacêutica e dar emprego a psiquiatras”.
Famílias
abrigam contradições.
Este
texto nos mostra isto de forma muito clara. Veja como numa única família existe
tanto espaço para acusação, e manipulações.
1. Família
pode se transformar em lugar de barganha e manipulação
No
lar de Jacó vemos relacionamentos construídos na relação compra/venda:
ü
Labão
negocia Raquel quando Jacó lhe pede em casamento, e depois de ter “pago” o
preço do dote, ele lhe entrega Lia, a filha mais velha (Gn 29.21-30)
ü
Raquel
entrega Bila, sua serva, a Jacó, para ser possuída por ele (Gn 30.3-8). Bila,
uma serva, é instrumentalizada. Não tem voz nem vez. Participa da família como
objeto de troca.
ü
Lia
entrega Zilpa (Gn 30.9-13). instrumentalizando também sua serva. Evidentemente
não tinha qualquer preocupação com ela, mas deixou que seu narcisismo
patológico e desejo de dominação usasse a outra para seus propósitos
mesquinhos.
ü
Lia
“aluga” Jacó: “Esta noite me possuirás,
pois eu te aluguei” (30.3,16) Obviamente era um lar poligâmico, e podemos
nos justificar dizendo que estas coisas não acontecem em nossas casas. Recentemente
uma mãe foi presa por vender sua filha de apenas nove anos para ser escrava
sexual.
Na
Bíblia vemos vários exemplos de lares onde outros foram instrumentalizados por
causa da vaidade, capricho ou ambição.
ü
Adão
instrumentaliza Eva. Quando Deus criou a raça humana, a Bíblia diz que Deus os
chamou de Adão (Gn 5.2). Ambos tinham o mesmo nome, isto significa que ambos
tinham atividades comum: “Crescei,
multiplicai-vos, enchei a terra”, esta dimensão política da raça humana, era também uma tarefa da mulher que
dela participava. O nome Adão, dado à raça, vem de Adamã (terra), mostrando uma profunda identificação do homem com a
natureza. Mas ai o homem pecou, começou a criar mecanismo de acusação e defesa
diante de Deus. E logo em seguida, uma das primeiras atitudes de Adão foi dar
outro nome a Eva (Gn 3.20). Por que ele fez isto? Por que mudou o seu nome
afirmando que ela era a mãe de todos os
seres, e que por isto precisava ter outro nome?
A
razão é simples. Na cultura semita, quem dá o nome tem o controle do outro. Por
isto que Deus recusou a dar seu nome a Moisés quando este quis saber. Era como
se Deus dissesse que Moisés não iria dominá-lo e controlá-lo.
ü
Saul
também instrumentaliza sua filha Mical. Como ele estava com muito medo da
popularidade de Davi, resolveu dar sua filha a ele, desde que ele matasse 200
filisteus. Mical é envolvida nesta trama familiar, sem direito a voto. Ele não
quis saber sua posição, e anos mais tarde veremos que as relações entre os dois
nunca mais foram amigáveis, se é que em algum dia havia sido.
Ainda
hoje, podemos ter a mesma tendência de instrumentalizar os outros. Como?
¨
Mulheres
que manipulam seu corpo para gerar desejo, sem satisfazer o outro. “Usam o sexo
como arma” – provocam mas não se entregam…
¨
Cônjuges
que não dão dinheiro para obrigar o outro a ser mais afetiva, ou que negociam
benesses se o outro fizer o que querem.
¨
Filhos
podem instrumentalizar pais, e pais podem instrumentalizar filhos. Casais em
suas brigas colocam os filhos no meio de um fogo cruzado, transformando o outro
em vilão, jogando os filhos contra o cônjuge, sem pensar nas conseqüências
emocionais que podem gerar. Filhos podem fazer ameaças aos pais porque alguma
coisa não lhes foi dada, causando muitas dores dentro de casa.
¨
Mães
podem fazer de conta que estão morrendo quando alguma coisa acontece dentro de
casa, simplesmente para manipular filhos. Filhos podem ter “acessos” e perder o
fôlego (e olha que fazem isto desde bebês), para controlar a família.
¨
O
caso mais estranho do qual participei, se deu com uma jovem de minha comunidade:
Ela perversamente acusou o marido de ameaçá-la, de ser um farsante, um
mentiroso (na verdade ele era), de a ter estuprado (na verdade ela forçou a
barra para ter sexo uma vez com ele). Tudo isto para encobrir um envolvimento
afetivo que ela estava tendo com um rapaz, e para se justificar num futuro
divórcio que ela planejava pedir criou um drama familiar para que amigos,
pastores e a igreja a apoiassem na sua decisão.
¨
Pessoas
instrumentalizam amigos para conquistar seu objeto amado.
¨
Em
processos de divórcio, os cônjuges usam o outro para serem aceitos, para isto
jogam o filho contra o cônjuge. Traz amigos como aliados, pastor, parentes,
tudo para mostrar que o outro era o problema. Juntam provas de acusação.
2. Família
eventualmente se torna lugar de desprezo e descaso nas relações. Jacó despreza Lia (Gn 29.31), que era
um joguete no meio de uma família disfuncional. Jacó a considera, e a coisa
mais dura de um relacionamento é a indiferença, o desprezo. Deus adverte que os
homens amem suas mulheres. Normalmente cremos que o oposto do amor é o ódio,
mas na verdade, a expressão mais dura do ódio é a indiferença.
¨
A
Bíblia fala de como Deus julgou Mical, porque esta “desprezou Davi em seu coração” (2
Sm.6.16).
¨
Muitas
vezes este desprezo é manifesto na forma como o outro se relaciona com o corpo;
¨
Outras,
na superioridade intelectual;
3. Família
tem grande potencial de competição e luta – Facilmente transformamos nossos relacionamentos que deveriam
ser de aceitação e encorajamento, em alguma coisa competitiva e brutal. O outro
passa a ser visto como adversário, e achamos que precisamos derrotá-lo!
Raquel
e Lia competem por causa de Jacó, mas muitas vezes a disputa se dá em torno de
um homem, uma mulher, ou em torno de bens, heranças, privilégios, primazias.
Briga-se por direitos.
A
linguagem de Raquel é de uma mulher que sai para brigar com Lia: “Disse
Raquel: com grandes lutas tenho competido com minha irmã e logrei prevalecer;
chamou-lhe, pois, Naftali” (Gn 30.8). O nome do filho é usado como forma de
desabafo. Obviamente, o problema de competição está sempre presente nos
relacionamentos. Raquel inclusive usa este termo: “com grandes lutas tenho competido” (Gn 30.8).
As
disputas podem se tornar sutis: Quem ganha mais?
Numa
cultura mercantilista de vale quanto pesa...
Maridos competem com esposa.
Quem
é mais agradável, serviçal, crente, etc;
Quem
é mais competente? Quem tem mais poder: Poder para saber quem tem mais razão!
Quem
manda mais...
Neste
ambiente, Mamom facilmente é entronizado, e filhos se tornam competitivos.
Quando surge alguma pequena herança, isto se torna um inferno. Briga-se por
centavos (ou por muito). A benção se torna maldição, as acusações explodem. Já
vi pessoas sugerindo que preferiam dar seus bens ao estado que aos filhos,
irmãos que pararam de conversar por causa da competição financeira. O ódio
floresce. Na família de Jacó, todos os filhos vão nascendo por razões e
interesses pessoais da luta que existia entre Lia e Raquel. A convivência tensa
as leva a altercações e barganhas baratas (Gn 30.15), e este negócio vai
continuar de forma maligna nas próximas gerações.
Raquel
se torna enciumada e Lia provocativa. Esta a suborna com as mandrágoras (Gn
30.14-18) e Jacó frauda e usa meios possíveis para ter lucros pessoais. Ele
acusa Labão de ter mudado seu salário por dez vezes (Gn 31.7).
Quais
são as características de lares competitivos e manipulativos?
- Relação
de suspeita e oportunismo – Não um lugar de aceitação, acolhimento e
cuidado. Labao trapaceia Jacó (Gn 30.31-36); Jacó trapaceia Labao (Gn
30.37-43). Posteriormente os filhos de Jacó venderão seu próprio irmão,
José, porque Jacó instigou a competitividade e disputa entre eles, num
ambiente já favorável por ser polígamo.
- Inimizade
entre os irmãos – José e seus irmãos nascem e crescem neste ambiente de
disputa. Ninguém confia em ninguém! José é esnobe, arrogante na sua
atitude; seus irmãos irritados e ofendidos por opções preferenciais de um
pai que permitiu que sua casa se transformasse num ambiente insuportável.
Ele, que já vinha de um lar marcado por competição, pois era assim seu
relacionamento com Esaú, de certa forma provocada pela indiscrição de seus
pais ao fazerem predileção por um filho ou outro.
- Até
as coisas mais sagradas (espiritualidade), são envolvidas. Raquel consegue
roubar os ídolos do lar da casa de seu pai, e escondê-los debaixo de sua
sela. Os deuses se transformam em vitimas...
- Perda
da confiança – Jacó sai fugido (Gn 31.20-21). Labão acusa Jacó: “Por que fugiste ocultamente?” (Gn
31.27). Na verdade nem as filhas se importaram com o pai, já que, de comum
acordo, elas que não concordavam em nada, decidiram sair de casa sem dar
satisfação à família. Percebe-se assim, um nítido distanciamento afetivo,
e Labão, sem razão, reclama. Ele tinha uma grande dose de culpa quando
colocou lucros acima de pessoas, e manipula suas filhas entregando-as a
uma relação difícil.
4. Família
pode se transformar em um lugar de projeção e deslocamentos – Raquel vê Jacó como a causa de seu
fracasso e de sua impotência (30:1-2)
Raquel transfere sua frustração ao marido.
Raquel
não conseguia se engravidar por causa de sua própria dificuldade, e logo
encontrou na figura de Jacó, a causa de estar naquela situação.
Esta
ira inconsciente vem nas seguintes formas:
¨
Não
sou bem sucedido, por sua causa...
¨
Minha
família é desordenada por que você...
¨
Vivo
uma vida medíocre por causa de você.... Se ao menos minha vida fosse
diferente... ou tivesse casado com outro (a).
Há
uma tendência muito comum de atribuirmos ao outro a nossa frustração e
fracassos. Isto, porém, não nos ajuda a crescer emocionalmente. Trata-se de um
deslocamento.
Todos
temos medos e fantasmas: O medo de envelhecer, de ficar pobre, de não ter
recurso para manter a casa, da morte, da doença, etc.
Pais
podem culpar a família:
Mães: “Gastei tanto tempo na vida cuidando
de vocês que esqueci de mim” – Ora, você se esqueceu de você porque não soube
equilibrar sua história. Ninguém é culpado por seu auto-esquecimento.
Pais: “Minha vida foi trabalhar como um
jumento, para ter melhores condições” – Será que esta atitude de ser viciado em
trabalho foi algo positivo de fato para seus filhos e esposa, ou isto tinha a
ver com sua ambição e cobiça desmesurada, que tirou a sua vida de você?
Além
de não crescermos, desenvolvemos um relacionamento de amargura e ira contra o
outro, projetamos nossos fracassos. Muitas vezes, porém, o nosso fracasso é
resultado:
¨
De
uma deficiência, pela qual ninguém é responsável. Raquel não era culpada por
ter um útero estéril, isto não era uma questão moral em si. Não é por não querer
que ela tem, mas por problemas de saúde.
¨
Eventualmente
o problema é nosso, mas ainda assim culpamos o cônjuge. Raquel tem um problema
no seu corpo, mas transfere sua dor e culpa Jacó pelo seu fracasso. Quando não
vemos bem nossos problemas ou os interpretamos mal, podemos deslocar nossa
frustração para outros.
Não
culpe o outro para não se tornar vitima de você mesmo (vitimismo), e não
transformar o outro em
culpado. O outro certamente vai errar, mas não dá para culpar
o outro pelo meu fracasso. Eu sou responsável por minha vida.
Filhos
podem projetar seu fracasso nos pais: Limitações financeiras, etc...
5. Família
é o lugar no qual podemos achar que nosso valor está no outro, no que fazemos,
e não no que somos – (Gn
30.19-20) Erroneamente passamos a acreditar
que as pessoas vão nos amar por algo que nós lhe damos, e não pelo que somos. É
o caso de Lia, que acredita que Jacó vai ser dela se ela lhe der filhos, que
ela vai ser amada se determinados fatores surgirem, mas o problema é que o
coração de Jacó está preso pelo amor ao coração de Raquel, e Lia é vítima de um
sistema que retira desta mulher a alegria da vida. “Desta vez permanecerá comigo meu marido, porque lhe dei seis filhos”
(Gn 29.32,34).
De
forma diferenciada, fazemos tentativas de comprar o amor do outro:
¨
“Vou
dar um carro, e ela vai me amar…” Isto é relação de prostituição. Prostituta
aceita este jogo, não o coração de quem é sincero.
¨
“Vou
me engravidar, por assim ele casa comigo”.
¨
Vou
ter um filho, porque assim ele vai dar mais atenção à nossa casa.
São
formas neuróticas de amar e ser amado. Lia sabia que não era amada e para
compensar o buraco na alma, tentava conquistar a atenção arrumando filhos. A história
prova que Jacó nunca conseguiu amar a Lia, apesar de seu esforço neurótico. Lia
era para Jacó, um apêndice familiar, subproduto cultural, aliado à esperteza do
sogro. Lia era resultado de forças históricas maiores que ela mesma e tinha que
se superar neste jogo de interesses não sabendo como. Lia tem um buraco na alma
por ser a segunda, que não poderia ser satisfeito ainda que Jacó fosse o homem
mais afetivo do mundo.
Lia
acredita que os filhos lhe darão o amor que ela espera. Usa terceiros para se
sentir amado. Filhos são usados para entrar no jogo da competição familiar (Gn 30.14-15).
Toma o presente recebido do filho, as mandrágoras, que segundo as crenças
antigas eram afrodisíacas e tornavam as mulheres férteis, e usa como moeda para
ter o amor de Jacó.
Esta
idéia de encontrar valor no que o outro nos dá é angustiante. Pessoas assim não
descobriram ainda seu valor próprio e dependem da apreciação de outros para
encontrar sentido e significado. Todos gostamos de ser apreciados, mas não
podemos permitir que nosso valor esteja fora de nós. Não podemos viver
mendigando atenção do outro para encontrar sentido para nossa vida. Fazendo
assim, não temos vida própria, nos transformarmos em satélites e nunca
refletimos nossa própria luminosidade.
Conclusão:
Gostaria
de fechar esta reflexão, falando de dois elementos importantes: Primeiro, o que
podemos fazer para diminuir estes conflitos familiares. É a nossa
responsabilidade. Segundo, o que Deus faz no meio de uma família disfuncional.
Isto veremos na família de Jacó.
Nossa tarefa: Como criar
ambiente acolhedor e saudável?
- Não use filhos como moeda de
troca e barganha – Tome
cuidado com as sutis manipulações que podemos fazer com os filhos,
adoecendo-os e neles projetando nossas crises pessoais. Lia e Raquel
fizeram isto e o resultado não foi nada positivo. Labão fez isto e no
final as duas filhas resolveram abandoná-lo sem despedir-se dele. Isto
demonstra como isto gerou feridas em seus corações.
Um
outro homem da Bíblia, Saul, fez a mesma coisa com sua filha Milca, que se tornou
uma das mulheres de Davi.
¨
Sentindo-se
fragilizado com a presença de Davi, deu-lhe sua filha, instrumentalizando-a;
¨
Posteriormente,
quando Davi tem que sair correndo para proteger sua pele, tomou-a e lhe
entregou a outro homem. Isto causou um dos episódios mais emocionantes e
doloridos da saga familiar de Davi e de Israel .
Filhos
podem se tornar indefesos diante de pais inescrupulosos ou insensatos, que não
percebem o prejuízo que estão trazendo aos seus filhos. São pais empurrando
filhos para casamentos oportunistas, não percebendo que o efeito disto é
devastador: Os filhos hão de instrumentalizá-los na velhice.
Filhos
não são moedas de troca. Não foram dados por Deus para serem objetos de manobra
e joguetes em nossas mãos. São jóias e presentes valiosos de Deus.
- Construa relacionamentos de
confiança – As
filhas de Labao saem fugidas de casa. Elas, que por sua própria biografia
tornaram-se desunidas, conseguem se unir contra o pai, consideradas por
ambas, alguém a ser desprezado.
Malandragens
e manipulações dos pais nos dias de hoje, se tornarão caros no futuro.
Filhos
precisam contar com o envolvimento dos pais, e saber que eles sairão em sua
defesa, que estarão ao seu lado, cuidando deles e apoiando-se. A Bíblia afirma
que “O que perturba a sua casa herda o vento” (Pv 11.29). Afirma também, em
contrapartida, que “o homem de bem deixa herança aos filhos de seus filhos” (Pv
13.22). Hoje estamos construindo um legado para a vida e para as próximas
gerações. Padrões de atitudes e comportamentos que semeamos em casa, tornam-se
referência para nossos filhos e suas famílias, no futuro.
- Relacionamentos seguros são
construções históricas, passam
de geração para geração.
Hoje
estamos deixando um legado, que se constrói de geração a geração. Investimento
em família são duradouros, mas leva-se uma vida inteira para construir. Quais
são os fundamentos que estamos deixando hoje? Tais fundamentos serão o
parâmetro para os filhos dos filhos.
- Ore e fique atento, para não
continuar reproduzindo comportamentos inadequados –
Podemos
notar nitidamente como atitudes familiares vão se repetindo nas famílias.
ü
Abraão
mente contra Sara por duas vezes, entregando-a a outros homens – Isaque faz o
mesmo com Rebeca.
ü
Jacó
sofre numa família cujos pais expressam abertamente suas predileções pelos
filhos. Isaque amava a Esaú e Rebeca amava a Jacó. Isto gerou enorme
competitividade e luta. Jacó repete esta mesma atitude tola, ao dar a José
privilégios maiores que aos outros filhos.
ü
O
ambiente ambicioso de Labão vai se refletir nas suas filhas, que vivem
competindo entre si. No final, até seus ídolos são roubados por Rebeca, que
quer levar vantagem em tudo, até em ter as divindades ao seu lado.
Segundo, a Obra de Deus –
O que Ele, na sua graça, faz no meio de uma família disfuncional.
No
meio de tantas dimensões conflitantes, na medida em que lemos este texto
percebemos que família também é um lugar de Deus. Algumas afirmações do texto
nos levam a pensar sobre o assunto:
- Deus
ouve suas ambigüidades, lutas, dores e competições. O texto afirma por duas vezes
que “Deus ouviu Lia” que sofria
o desprezo de ser a outra. De ter
caído de paraquedas num contexto familiar complexo. Deus a ouve (Gn 30.17).
Deus sabe da sua dor e abandono e cuida dela.
O
texto afirma também que Deus ouviu Raquel porque via sua angústia e frustração
com a vida (Gn 30.22).
Isto
nos revela que Deus sabe o que acontece dentro de casa. Ele conhece os desvios,
as lutas internas, medos e dores. Ele sabe das lágrimas silenciosas derramadas
dentro dos banheiros ou na cozinha, nas solidões existenciais de camas
separadas ou conflitadas. Raquel tem uma crise teológica e acusa Jacó (Gn
30.1-2), e este lhe responde: “Acaso
estou em lugar de Deus que ao teu ventre impediu frutificar?” (Gn 30.2). Ao
conceder graça a Raquel, Deus está respondendo suas orações.
- Deus realiza milagres em suas
vidas – Nossos
lares são palcos da manifestação da bondade e cuidado do Senhor para com
nossas vidas. Raquel era estéril, mas Deus a fez fecunda trazendo alegria
real para sua vida (Gn 30.23). Lares são palcos maravilhosos nos quais
Deus revela sua misericórdia e bondade. Acho maravilhosa a frase: “Lembrou-se Deus de Raquel” (Gn
30.22) Deus não havia se esquecido dela. Saber desta verdade é tocante.
Podemos viver no anonimato, despersonalizados como pessoas num mundo
pós-moderno, mas apesar de sermos um número na multidão, não somos visto
por Deus como seres seriados. Temos coração, identidade e relação com o
Pai celestial que sabe onde moramos, conhece nosso endereço, sabe de
nossas lutas.
Nesta
semana, depois da reunião do Conselho tivemos um pequeno incidente na porta da
igreja e enquanto tentávamos solucionar o problema, o Rev Potenciano ligou para
um dos diáconos, e seu telefone caiu lá em Goiânia. Quando
ele se identificou como pastor, uma pessoa aflita disse: “Pastor, só pode ser
Deus mesmo, nós estamos aqui debaixo de uma enorme angústia, e Deus mandou o
Senhor ligar para orar por nós”. Depois da oração ela ainda falou: “O Senhor
poderia também orar por minha irmã?” Deus permitiu um erro do Zé Carlos para
atender a angústia de uma família cristã que precisava de uma oração pastoral.
- Nesta família adoecida, Deus
revela sua bondade, e outros vêem um Deus pessoal que se move entre eles – Não é estranho, e quase improvável,
imaginar que alguém possa ainda vislumbrar a graça de Deus no meio de uma família
tão confusa? No entanto, o sogro pagão, idólatra, vê Deus fazendo estas
coisas e se impressiona, se rendendo às evidências. Labão é um homem rico,
negociante e fazendeiro, que só pensava em ter lucros, e de repente começa
a perceber que existe algo acontecendo ao seu redor que vai muito além dos
recursos estratégicos, da capacidade de fazer negócios, por isto diz: “O Senhor me abençoou por amor de ti”
(Gn 30.27).
Que
bom saber que no meio de todas estas confusões e fraquezas familiares, ainda
assim existe espaço para a misericórdia e a graça de Deus se revelarem, a ponto
de outros perceberem a presença abençoadora de Deus sobre esta família.
Família
é lugar onde a benção de Deus pode ser percebida.
Esta
família revela a graça maravilhosa de Deus. Apesar da competição, manipulação,
equívocos e ambigüidades, a benção de Deus está presente a ponto de que outros
percebam de forma inequívoca que Deus está ali.
É
graça porque não há muita virtude naquela família.
Isto
nos aponta para a cruz:
Nós
seres ambíguos, desencontrados, contraditórios, ambiciosos, somos muitas vezes
interpenetrados por esta maravilhosa presença de Deus na nossa história, que
faz toda diferença.
É
desta família que Deus realiza um grande milagre e vai levantar um homem que
será um governador num país estranho, que era a maior potência militar e
política daqueles dias.
Ainda
mais, é desta família que Deus vai suscitar aquele que morreria numa cruz para
nos redimir dos pecados e nos demonstrar que “não há pecado ou culpa que Deus
não possa perdoar”, e que se alguma chance de sermos alguém ainda existe, ela
se encontra com a presença de Deus entre nós.
Samuel Vieira
Anápolis
Nov 2009
Refeito em Janeiro 2014
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