Introdução:
Um dos grandes problemas da humanidade é o descontentamento. Este sentimento é quase universal. Não há limites para a cobiça e para a insatisfação. Em Provérbios 1.19 lemos: “Tal é o espírito de todo ganancioso, e o espírito de ganância tira a vida de quem o possui”.
Psicólogos reunidos alegaram que o apóstolo Paulo foi o homem mais feliz da vida, pela seguinte declaração: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação”.
Os mais pobres acham que ganhando dinheiro, resolveriam o problema da felicidade, os mais ricos percebem que o dinheiro não trouxe o sentimento de plenificação que queriam, e percebem que a alma ainda continua vazia. Os altos, se sentem complexados em relação à altura, os baixinhos gostaria de ser um pouco maiores. A gordinha sente-se frustrada por ver que o regime não funciona e o magro, se acha palito de fósforo.
Tenho refletido ultimamente sobre o nível de descontentamento entre amigos e pessoas de minha comunidade. Tenho a sensação de que somos uma geração descontente. São crianças e jovens descontentes com seu corpo, com a vida e com Deus. Vivem na rua da amargura lamentando, lamuriando. Tornam-se auto-centrados, obcecados consigo mesmos e descontentes. Nunca tivemos tanto conforto, tanto acesso a bens, viagens, compras, mas isto não resolveu o problema da humanidade: vivemos descontentes com a vida! E isto, num nível muito profundo é percebido no aumento considerável de suicídios nesta geração. Apenas na década de 1980-1990, cerca de 400 mil adolescentes suicidaram. E a sociedade americana não é a que possui as mais altas taxas de suicídio no mundo.
Reclamamos do calor quando vem, do frio quando chega, da neve quando cai, da chuva e do sol. Parece que não há limite para nossa insatisfação, e isto tem a ver com algo mais profundo: Nossa alma está insatisfeita, nosso coração está inquieto. Falta alguma coisa...
A questão essencial, não é o que você tem, nem o que você faz, nem como você é visto pelos outros. O problema essencial nosso não é a tempestade do mar, mas a tempestade do coração.
O nosso eu mais profundo é o que dá sustentação à nossa alma. Paulo quando disse: “Aprendi a viver contente”, não estava em viagens de férias no Caribe, mas preso por sua fé. Pouca gente se preocupa com a questão da espiritualidade, apesar de reconhecer a necessidade de resgatar uma dimensão sobrenatural de sua existência. Os filósofos que refletiram mais profundamente sobre a angústia e a alma humana, não surgiram em países de terceiro mundo, nem em Biafra ou Haiti, mas o desespero maior se tornou evidente numa sociedade moderna e rica, nos bares parisienses.
O homem tem quebrado sua relação com seu criador (rebeldia, pecado), isto esvazia sua alma, e ele passa a buscar soluções em várias fontes para resolver o problema do vazio de sua alma: drogas, sexo, mecanismos de fuga: vazio!
Falta alegria! Algo genuíno, profundo.
Parece que Jesus detectou este mesmo sentimento nos seus discípulos ao lhes perguntar: ‘‘Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso de sua vida?’’ Côvado é uma medida. Estaria Jesus se referindo a alguns discípulos que tinham problema com estatura? Será que alguns deles enfrentavam problemas relacionados ao tamanho que tinham?
Neemias afirma: ‘‘A alegria do Senhor é a vossa força’’ (Ne 8.10). O que isto quer dizer? Aplique isto à primeira pessoa do singular: “A alegria do Senhor é a minha força”. Será que tenho experimentado esta preciosa dádiva em minha vida? Precisamos ser ‘‘contaminados’’ com este poder sobrenatural que nos dá alegria em tempos normais e nos dias calamitosos e de perplexidade.
A palavra de Deus nos ensina:
‘‘Grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento’’. É possível termos piedade (vida com Deus) e ainda assim sermos descontentes? Talvez sejamos pessoas religiosas, com práticas espirituais e piedosas, mas de alguma forma estarmos perdendo o vigor e a alegria. Tereza D'Avila afirmou: "Fujo dos santos de cara amarrada". Alguns dos homens mais ranzinzas que conheci na minha vida eram religiosos, mau humorados, legalistas e moralistas.
Vendo de outro prisma, seria possível ter contentamento sem vida com Deus? Um homem sem Deus pode experimentar certa sensação de alegria, fundamentada em prazeres e luxos, certa dose de adrenalina, mas podemos dizer que isto é realmente uma forma de contentamento?
Quando dissociamos piedade e contentamento, criamos duas situações anacrônicas:
Primeiro, a piedade sem contentamento gera grandes distorções na alma.
Já viram como vivem pessoas supostamente ortodoxas, mas que se tornam frias e desamorosas? Tome como exemplo a parábola do Filho pródigo. Como era sua vida? O irmão mais velho não sente prazer na aproximação do irmão mais novo - Ele é indiferente ao irmão. Sua religião era ortodoxamente correta, mas era fria, e ele peca pela rejeição e a rejeição é crime teológico.
Quando as coisas não andam como ele acha que deveria andar, fica infeliz e irado. Ele pode até dizer que é salvo pela graça e não pelas obras, mas seu coração não acredita isto. Acha que Deus não cumpriu sua parte. O irmão mais velho ainda desenvolve uma obediência mecânica e sem alegria – “tenho servido como escravo” (Lc 15.29). Ele via sua obediência ao pai como um trabalho escravo. Obedecia mas não tinha alegria.
Ele tem uma visão equivocada do Pai - Pai é punitivo, repressor. “Nunca me deste um cabrito”. Não consegue entender a linguagem da graça e do perdão, rejeita a dança, a alegria, a música e o churrasco. Estranha a nova liturgia da casa porque é “muito alegre”.
O irmão mais velho tem sempre muita razão. Este rapaz é tristemente salvo. Vive sem gozo. É tão rico e tão pobre. Tem até medalhas de integridade: “Nunca falhei”. Usa duas coisas para justificar sua bondade: tempo (moço trabalhador) e conduta (irrepreensível). Ele não entende a linguagem da graça, trabalha com o Pai e pelo Pai, mas não sabe o que é ser gracioso e por causa disto vive aquém daquilo que pode viver. Vive uma vida miserável na casa de um Pai generoso e abundante. Tem piedade sem contentamento. Assim é o “justo amargurado”.
Já viram pessoas assim? São conservadores, guardiões da lei, mas vivem uma vida amargurada, sem alegria e contentamento. São chatos, mau humorados, ninguém os suporta na igreja e tem péssimo relacionamento com filhos e irmãos.
Segundo, temos contentamento sem piedade.
Pessoas desesperadas por significado e alegria, e que buscam tresloucadamente uma dose de adrenalina para continuar vivendo. Vão para o carnaval, buscam sofregamente alguma dose de prazer e alegria, vivem deprimidos buscando novas experiências que lhes tragam sentido, mas o coração está vazio.
Salomão experimentou isto quando se afastou de Deus. Ele tenta buscar sentido e alegria, mas não encontra, então vai atrás de prazeres, enriquecimento, reconhecimento, fama, mulheres, vinho, mas confessa o seu fracasso: “Tudo quanto desejaram meu coração, não lhes neguei; nem lhe privei de alegria alguma, mas tudo era correr atrás do vento e eu me alegrava com minhas fadigas” (Ec 2.1-10). Sua insaciável busca por contentamento e satisfação redundaram num vazio cada vez maior.
Muitos estão dizendo: “Eu quero ser feliz, eu preciso ser feliz, eu tenho direito a ser feliz...” Mas continuam loucos atrás da alegria e do descontentamento, descobrindo no final que tudo é vaidade e correr atrás do vento.
Paulo e Silas
Em Atos 16 temos o relato destes dois servos numa prisão. A situação deles deles era desesperadora. Eles foram espancados por sua fé, e jogados feridos numa cela fria. Na medida em que a noite passava, a dor pelo espancamento, a solidão e o frio se tornavam mais cruéis, contudo, eles começaram a louvar a Deus. Eles buscam uma nova forma de contentamento.
Paulo e Silas não estavam em uma ilha paradisíaca, mas seu coração tinha a alegria do Senhor. Sua piedade gerava contentamento. Nossa vida, ao contrário, nos leva a uma estranha vivência de insatisfação. Somos descontentes em Guarujuba, Caldas Novas, Maragogi, Disney World ou nas luxuosas e caras viagens à Europa.
Princípios:
Este texto sugere três caminhos para uma experiência restauradora:
Primeiro, aprenda a lei essencial da vida: “Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele” (1 Tm 6.7). Você chegou nu, você vai voltar nu. Os faraós do antigo Egito fizeram túmulos caríssimos para sustentar suas vidas depois da morte. Nada daquilo era necessário. O dinheiro deles beneficiou muitos violadores de túmulos e exploradores muitos séculos depois, mas eles nada levaram consigo depois da morte.
Perguntaram certa vez ao advogado de Rockefeller, que foi considerado o homem mais rico da história, quanto de dinheiro ele havia deixado ao morrer, e ele ironicamente respondeu: “Tudo!”. Conta-se que Alexandre, o Grande, perto de sua morte precoce, aos 33 anos de idade, teria pedido aos que o acompanhavam que quando fossem enterrá-lo, colocassem seus braços para o lado de fora para que todos soubessem que ele não estava levando nada deste mundo. Jó declarou exatamente isto: “Nu sai do ventre de minha mãe, e nu voltarei” (Jó 1.21). Ninguém se satisfaz com dinheiro depois da morte e ninguém tem apólice para a vida eterna.
Segundo, aprenda simplicidade – “Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1 Tm 6.8). Naturalmente um estilo de vida simples hoje exige um pouco mais que comer e vestir, mas esta é a forma simples de ver a vida. Simplifique.
Muitos estudos tem sido feitos para demonstrar o que gera felicidade, e uma das fórmulas mais conhecidas é: Expectativa - Realidade. Todos nós temos expectativas que, se realizadas, nos trazem muita felicidade. Mas nem sempre nossas expectativas cabem em nossa realidade.A felicidade é composta por expectativas que caibam em sua realidade. “Excesso de expectativa é o caminho mais curto para a frustração.” (Martha Medeiros).
A felicidade de 18.000 pessoas foi medida por uma equação desenvolvida pelos pesquisadores da University College London, no Reino Unido, com resultados que apontam que a felicidade depende não apenas de quão bem vão as coisas, mas principalmente se estão melhor do que o esperando. Os pesquisadores da UCL descobriram que recompensas como dinheiro não são um elemento fundamental para prever a felicidade. Em lugar disso, a chamada felicidade momento-a-momento depende mais das nossas expectativas em relação a alguma coisa.... -
Veja mais em
https://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/redacao/2014/08/06/a-chave-da-felicidade-se-as-coisas-vao-melhor-do-que-esperado-diz-estudo.htm?cmpid=copiaecola
Temos nos tornado sofisticados demais. Hotéis luxuosos, comidas caras, carros confortáveis, casas cada vez maiores, mas esta sofisticação está transformando nossa vida em algo pesado. A grande verdade é que “A natureza ama a simplicidade e a unidade” (Johannes Kepler). Recentemente vi a declaração de uma atriz que dizia que “simplicidade gera leveza”.
Veja o curioso e zombeteiro texto que li alguns dias atrás:
10 VANTAGENS EM SER POBRE
1 - É simples! Você não perde o seu precioso tempo com grandes sonhos. Se contenta com um sonho da padaria, um sonho de valsa...
2 - É Valorizado! Em um mundo de mulheres tão interesseiras e oportunistas, só as sinceras e verdadeiras dão bola pra você!
3 - É Saudável! Você tem uma vida de atleta: correndo pra alcançar o ônibus, malhando pra conseguir um lugar pra sentar e se alongando pra passar pela catraca.
4 - É Anti-Estressante! Nenhum vendedor te liga pra empurrar alguma bugiganga.
5 - É Aliviante - Com a sua fama de pé-rapado, nenhum amigo te pede dinheiro emprestado e, dependendo do seu grau de pobreza, eles nem serão mais seus amigos.
6 - É Emocionante! Você nunca sabe se o dinheiro vai chegar até o final do mês e, assim, tem uma rotina muito menos previsível!
7 - É Invejável! Enquanto os seus vizinhos viajam, pegam trânsito no feriado e sofrem com as praias lotadas, você descansa na comodidade do seu barraco.
8 - É Útil - Você tem de trabalhar aos domingos pra fazer hora-extra e, assim, não precisa assistir aos programas que são campeões de audiência. (Faustão,Gugu etc.)
9 - É Seguro! Você não precisa levar a carteira para todos lugares que for, pois ela está sempre vazia. Assim, os trombadinhas vão passar longe de você!
10 - É Gratificante! Sem dinheiro pra acessar a Internet, você nunca vai ler textos inúteis como este que seus amigos malas insistem em lhe enviar.
Excluindo todos os “besteiróis” do texto acima, gostaria de insistir em uma vida de simplicidade. Existem hoje muitos homens buscando o que tem sido chamado de “cultura minimalista”, onde “menos é mais!”. Você vai se surpreender ao notar que a vida é bem mais simples do que nossa cultura sofisticada nos tem tentado fazer crer.
Terceiro, Busque contentamento em Deus – “Grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento” (1 Tm 6.6). Vida com Deus gera contentamento. De forma curiosa lemos que a piedade e o contentamento são “grande fonte de lucro”. Maior que riqueza, bens, propriedades. Os dividendos desta experiência são duradouros e exponenciais.
Depois de todas as tentativas para encontrar alegria e felicidade (Ec 2.1-2), e sua frustrante busca (Ec 2.10), Salomão declara: “Pois separado de Deus, quem pode comer ou alegrar-se?” (Ec 2.25). Tome cuidado com o velho argumento do “eu tenho direito a ser feliz”, quebrando princípios e valores de Deus para encontrar significado. A vida sem Deus traz frustração, cansaço, desanimo e angústia. "Não viole os princípios de Deus se você deseja ganhar ou manter as bençãos de Deus" (Charles Stanley).
Que a alegria do Senhor seja a nossa força. Só Dele pode vir o contentamento.
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