“Mantendo fé e boa consciência, porquanto alguns, tendo rejeitado a
boa consciência, vieram a naufragar na fé”.
Introdução:
Wordsworth afirma que “a consciência é a
austera filha da voz de Deus”. De fato ela é fundamental no ser humano. o termo consciência, sem seu sentido moral, é uma habilidade, capacidade, intuição ou julgamento do intelecto que distingue o certo do errado. Juízos morais desse tipo podem refletir valores ou normas sociais (princípios e regras). em termos psicológicos a consciência é descrita como conduzido a sentimentos já de remorso, quando o indivíduo age contras seus valores morais, já de retidão ou integridade, quando a ação corresponde a essas normas . 1
M. Scott Peck, conhecido psiquiatra americano
afirma: “A verdade é que nossos mais refinados momentos acontecem quando nos
sentimos profundamente desconfortáveis, infelizes e não realizados. Porque é
somente em tais momentos, impelidos pelo nosso desconforto, que nos dispomos a
lidar com nossas motivações estragadas e começamos a procurar por diferentes
caminhos ou verdadeiras respostas.
A consciência é este elemento moral que nos
habilita a julgar, a dizer sim ou não, a aceitar ou rejeitar, com bases nos
critérios e valores que anteriormente estabelecemos. Quando nossos critérios
não são bem analisados, a consciência surge como uma sirene, uma luz de alerta,
um sinal amarelo, orientando-nos para tomar cuidado.
Por várias vezes, na carta pastoral que o
apóstolo Paulo escreveu a Timóteo, ele orienta o jovem discípulo a cuidar de
sua consciência.
è 1 Tm 1.19: “Mantendo fé e boa consciência, porquanto
alguns, tendo rejeitado a
boa consciência, vieram a naufragar na fé”.
è 2 Tm 1.3: “Dou graças a Deus, a quem desde os meus
antepassados, sirvo com consciência pura”
A consciência pode ser ferida e traumatizada,
pelo menos, de três formas:
ü Sendo maculada – Quando a pessoa, tem sensibilidade para o mal,
para o erro e para o pecado, e ainda assim, decide fazer. Não porque esteja
segura do que faz, mas porque o prazer ou a compensação que ela espera ter,
torna-se mais tentador do que sua integridade moral. Então a pessoa cede,
negocia, barganha, mesmo sabendo que o que faz, é moralmente errado.
ü Cauterizando-se – Este é um processo no qual, a pessoa que
inicialmente fazia com culpa ou sentimento de estar praticando algo errado,
torna-se tão repetitiva no erro, que isto gera uma calosidade moral.
Cauterização é um processo usado em medicina, para provocar uma ferida calosa,
que vai se tornar terapêutico no final. No caso da consciência, a pessoa deixa
de sentir dor. Como o processo que acontece numa pessoa leprosa que perde a
sensibilidade de seus axônios (sistema nervoso), e aí, mesmo quando ofendida,
não sente dor. A Bíblia fala de pessoas que se tornaram assim. “Ora, o Espírito afirma expressamente, que
nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos
enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e
que tem cauterizado a própria
consciência” (1 Tm 4.1-2).
ü Deformando-se – Neste caso, a pessoa perde sua capacidade
de julgamento moral. Ela não sente dor, nem pesar, nem culpa. Isto é conhecido
em psicologia como psicopatia, típico de pessoas que praticam o mal, mas não
sentem remorso, dor, culpa ou arrependimento. Em sociologia, o nome dado é
sociopatia. Pathos é doença,
enfermidade. O profeta Isaías fala de pessoas que chamam ao mal bem, e ao bem,
mal (Is 5.20). uma gravíssima inversão de valores a deforma.
Como
manter uma boa consciência?
Primeiro,
Checando seus conceitos sob o prisma dos conceitos de Deus.
Muitas pessoas acham que bastam seguir sua
consciência, mas uma consciência cauterizada ou deformada, não sente qualquer
acusação. Mesmo diante de situações escandalosas, a não ser pelo medo do
julgamento ou pela possível perda de privilégios ou punições que venham a
sofrer, elas não sentem que estão fazendo qualquer coisa errada. Então, uma
consciência, sem o crivo da Palavra de Deus, sem os absolutos das Escrituras,
pode pecar e achar que as coisas que anda fazendo são corretas.
Conselheiros cristãos aprendem logo que
existem pessoas com culpa sem sentimento de pecado; e pessoas com sentimento de
culpa, sem culpa. Por isto, a base para saber se você está fazendo algo errado
ou não, não pode ser sua consciência, mas a palavra de Deus.
Jr 17.9 afirma: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente
corrupto; quem o conhecerá?” Nosso coração tem uma propensão para a
corrupção, e nem sequer o conhecemos.
Ele é tendente para o mal. Por isto precisamos nos aproximar da luz, para que
nossas obras possam ser argüidas pelo Espírito Santo e pela Palavra de
Deus. A simples impressão de bem estar,
além de decepcionante é perigosa. “Aos
loucos a sua impressão de bem estar o leva à perdição” (Pv 1.32). A Igreja de
Laodicéia estava segura e confiante: “Estou
rica, abastada, e não preciso de coisa alguma” (Ap 3.17), sem saber que
eram infelizes, pobres, cegos, nus e miseráveis de acordo com a descrição de
Cristo.
Em
segundo lugar, não avançando os limites de sua consciência
Aprenda a respeitar a pureza de sua
consciência. Quando o sinal amarelo disparar, recue. Existe uma placa que lemos
repetidas vezes nas estradas brasileiras: “Na dúvida, não ultrapasse”. O problema é que não respeitamos as sirenes,
as luzes piscando. Orientados por desejos carnais e sucesso imediato,
ultrapassamos os limites, barganhamos coisas sagradas, vendemos nosso direito
de primogenitura, como fez Esaú. Por causa do nosso estranho desejo de sucesso
e aprovação, zombamos de nossa consciência sagrada.
Muitas vezes em nossas vidas, nossa
consciência gesticula, acena, grita desesperada, mas a ignoramos e comemos do
fruto proibido que o diabo nos oferece. Não respeitamos a “boa consciência”,
nos expomos a perigos, ferimos nossos valores, escandalizamos a igreja,
machucamos amigos e familiares e magoamos o coração de Deus. A consciência que
deveria ter sido respeitada, não é, e assim, a maculamos, cauterizamos e nos
tornamos eventualmente insensíveis.
O acadêmico Jean Restand foi o primeiro a perceber
que se colocasse uma rã numa vasilha com água quente, ela reagia violentamente
e pulava para fora, mas se a água fosse aquecida lentamente, a rã ficaria
entorpecida e morreria queimada. As tentações e reflexos morais também tendem
paulatinamente a perder seu bom funcionamento quando nos acostumamos com o mal,
até que a consciência se torna completamente entorpecida.
Terceiro,
Quebrantamento e confissão
Uma forma de manter a consciência pura é, ao
perceber o erro e o mal praticado, voltar-se para Deus. Este exercício de
rendição e contrição traz o equilíbrio que nossa alma precisa. Um servo de Deus
não é conhecido por ausência de pecado, mas pela seriedade com que trata o
pecado. A Bíblia nos afirma que confissão traz cura. Se não trouxer cura física,
pelo menos desmascara nossas defesas e
retira a hipocrisia e tentativa de ocultar o nosso mal. “Jung descreve o mal
humano como a recusa em encontrar as trevas – aspectos de nossa alma – que não
queremos reconhecer e que continuamente tendem a se esconder debaixo do tapete
da consciência”.[1]
Afinal, "os demônios adoram trabalhar em segredo, mas fogem quando são forcados
a se tornar visíveis"[2]
A alma humana enfrenta dois problemas
básicos:
ü Compulsão para o mal
ü Idolatria de si mesmo
em algo fora de mim.
Ambos, opção pelo domínio, poder, controle. O
coroamento disto é o pecado religioso. (Sutilezas de nossos corações, pecados
mais complicados). Há muito pecado travestido de piedade e consagração. A religião
é constantemente retroalimentada pelo pecado original - decidir fora de Deus.
Optamos pelo poder, não pela fraqueza; pela realização, não pelo encontro. Pelo
fazer, não pelo ser.
Por isto a confissão é tão importante, ela me
transforma, rompe o mito de Narciso, não deixa minha consciência se perder na auto-justificação.
Expõe o meu mal, e traz cura. Não é sem razão que as palavras cruz/pecado/arrependimento,
caíram de uso. A linguagem atual é saquear, reinvidicar, decretar, todas estas são
linguagem de poder e não de quebrantamento. No entanto, a cruz revela o estrago
do pecado. Deus precisa mandar seu filho para efetuar a redenção tão cara que
homem nenhum poderia pagar. A confissão preserva minha consciência do auto-
engano e traz cura e restauração pelo sangue do Cordeiro.
Sempre que leio as histórias de Saul e Davi,
fico me interrogando porque Davi foi considerado o homem segundo o coração de Deus,
ao passo que Saul foi rejeitado. Tenho a impressão de que os pecados de Davi foram
mais explícitos que os de Saul... Qual é a diferença?
A única resposta plausível que encontra além dos
mistérios de Deus na sua soberana eleição e vocação, é o fato de que Saul e Davi
tratavam de forma completamente distinta os seus pecados. Quando Saul pecava
contra Deus e era confrontado, ele sempre encontrava desculpas ao invés de
enfrentar seu fracasso e fazer uma confissão aberta. No episódio de 1 Sm 15 ele
flagrantemente desobedece as ordens de Deus e quando Samuel o confronta, ele
usa vários argumentos para justificar seu pecado: “o povo fez...” e “trouxemos
para sacrificar ao Senhor teu Deus” (1 Sm 15.14,15), quando a resposta
deveria ser de quebrantamento: “pequei e não tenho defesa”. Posteriormente,
neste mesmo episódio, vendo que sua justiça própria não convencera a Samuel ele
diz: “Pequei, agora honra-me perante os anciãos”
(1 Sm 15.30,31). Diante da confrontação e do desmascaramento ele quer manter a
honra e preservar sua reputação.
Ao olharmos para Davi, vemos um quadro
diferente. Ao ser desmascarado, e pelo menos em duas vezes vemos isto
acontecendo de forma direta, sua atitude é apenas de rendição: “Pequei!” (2 Sm 12.13 e 24.10). Não procura
justificar-se, mas abre sua alma para ser tratado por Deus. Ele sabe que feriu
sua consciência, transgrediu a lei, enganou os outros e feriu o coração de Deus,
e a não ser que Deus, na sua infinita misericórdia o perdoe, ele está perdido. Sua
confissão é plena, sem defesas.
Em quarto lugar, Reconhecer o poder de Deus para ser restaurado. Uma consciência ferida,
e não tratada, não perdoada, passa a se auto destruir. A auto flagelação,
processo tão comum encontrado na atitude de religiosos e pessoas seculares, tem
a ver com a incapacidade de se sentir perdoado. “A alma carregada de culpa do sangue do outro, descerá até a cova; ninguém
o detenha” (Pv 28.17). Não tem como impedir este processo de auto punição,
a não ser com o outro com a graça restauradora de Deus. Davi, que conheceu bem
o processo da dor do pecado afirma: “Bem
aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto”. (Sl
32.1). Que maravilhosa benção termos uma consciência restaurada de culpa e
condenacao. O sangue de Cristo providencia isto: “Agora, pois, nenhuma condenação há, para aqueles que estão em Cristo Jesus ” (Rm
8.1).
O episódio abaixo, relatado pelo bispo
anglicano Festo Kivengere, de Kigenl, Uganda, nos mostra o que acontece quando
a consciência é tratada:
Meu tio, o chefe de uma tribo, estava em reunião com o
Conselho da comunidade, quando um homem se aproximou do grupo e fez uma mesura
a maneira africana. Possuía muito gado e todos sabiam que ele invocava espíritos
demoníacos, dizendo que era de parentes falecidos. Trouxera consigo oito vacas,
que deixara a uma pequena distância do Conselho.
-"Vim, aqui por um motivo, Sr. chefe" disse ele.
-"Para que trouxe gado?" Perguntou o chefe.
-"Senhor chefe, aquelas vacas são suas."
-"Como minhas? Que quer dizer com isso?"
-"Elas lhe pertencem, quando eu tomava conta do seu
gado, roubei quatro vacas. Elas agora são oito. Vim devolvê-las".
-"Quem o prendeu?" Perguntou o chefe
-"Jesus me prendeu, senhor chefe, ali estão as suas vacas".
Ninguém riu, todos guardaram silêncio. Meu tio podia perceber
que aquele homem estava em paz consigo mesmo e se sentia alegre.
-"Pode me prender ou mandar que eu seja açoitado"
disse o homem, "mas estou liberto. Jesus veio ao meu encontro e agora sou
um homem livre."
-"Bem, se Deus fez isto em sua vida, quem sou eu para
prendê-lo? Vá para casa".
Dias mais tarde, tendo ouvido a respeito do caso, fui
conversar com meu tio.
-"Tio, ouvi dizer que ganhou oito vacas de
presente?"
-"Sim", confirmou ele, "realmente
ganhei"
-"Deve estar satisfeito"
-"Nem fale nisto!
Depois da visita daquele homem, não tenho dormido bem. Para conseguir a
paz que ele alcançou eu teria que devolver cem cabeças de gado!"
Conclusão:
A Bíblia afirma: “...muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno a si mesmo se
ofereceu sem macula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas,
para que sirvamos ao Deus vivo!” (Hb 9.14)
Que Deus nos abençoe!
Mto bom.
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