quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

1 Tm 1.18-20: Boa Consciência





Mantendo fé e boa consciência, porquanto alguns, tendo rejeitado a
 boa consciência, vieram a naufragar na fé”.


Introdução:

Wordsworth afirma que “a consciência é a austera filha da voz de Deus”. De fato ela é fundamental no ser humano. o termo consciência, sem seu sentido moral, é uma habilidade, capacidade, intuição ou julgamento do intelecto que distingue o certo do errado. Juízos morais desse tipo podem refletir valores ou normas sociais (princípios e regras). em termos psicológicos a consciência é descrita como conduzido a sentimentos já de remorso, quando o indivíduo age contras seus valores morais, já de retidão ou integridade, quando a ação corresponde a essas normas . 1 
M. Scott Peck, conhecido psiquiatra americano afirma: “A verdade é que nossos mais refinados momentos acontecem quando nos sentimos profundamente desconfortáveis, infelizes e não realizados. Porque é somente em tais momentos, impelidos pelo nosso desconforto, que nos dispomos a lidar com nossas motivações estragadas e começamos a procurar por diferentes caminhos ou verdadeiras respostas.
A consciência é este elemento moral que nos habilita a julgar, a dizer sim ou não, a aceitar ou rejeitar, com bases nos critérios e valores que anteriormente estabelecemos. Quando nossos critérios não são bem analisados, a consciência surge como uma sirene, uma luz de alerta, um sinal amarelo, orientando-nos para tomar cuidado.

Por várias vezes, na carta pastoral que o apóstolo Paulo escreveu a Timóteo, ele orienta o jovem discípulo a cuidar de sua consciência.

è 1 Tm 1.19: “Mantendo fé e boa consciência, porquanto alguns, tendo rejeitado a
 boa consciência, vieram a naufragar na fé”.
è 2 Tm 1.3: “Dou graças a Deus, a quem desde os meus antepassados, sirvo com consciência pura”


A consciência pode ser ferida e traumatizada, pelo menos, de três formas:

ü       Sendo maculada – Quando a pessoa, tem sensibilidade para o mal, para o erro e para o pecado, e ainda assim, decide fazer. Não porque esteja segura do que faz, mas porque o prazer ou a compensação que ela espera ter, torna-se mais tentador do que sua integridade moral. Então a pessoa cede, negocia, barganha, mesmo sabendo que o que faz, é moralmente errado.

ü       Cauterizando-se – Este é um processo no qual, a pessoa que inicialmente fazia com culpa ou sentimento de estar praticando algo errado, torna-se tão repetitiva no erro, que isto gera uma calosidade moral. Cauterização é um processo usado em medicina, para provocar uma ferida calosa, que vai se tornar terapêutico no final. No caso da consciência, a pessoa deixa de sentir dor. Como o processo que acontece numa pessoa leprosa que perde a sensibilidade de seus axônios (sistema nervoso), e aí, mesmo quando ofendida, não sente dor. A Bíblia fala de pessoas que se tornaram assim. “Ora, o Espírito afirma expressamente, que nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que tem cauterizado a própria consciência(1 Tm 4.1-2).


ü       Deformando-se – Neste caso, a pessoa perde sua capacidade de julgamento moral. Ela não sente dor, nem pesar, nem culpa. Isto é conhecido em psicologia como psicopatia, típico de pessoas que praticam o mal, mas não sentem remorso, dor, culpa ou arrependimento. Em sociologia, o nome dado é sociopatia. Pathos é doença, enfermidade. O profeta Isaías fala de pessoas que chamam ao mal bem, e ao bem, mal (Is 5.20). uma gravíssima inversão de valores a deforma.

Como manter uma boa consciência?

Primeiro, Checando seus conceitos sob o prisma dos conceitos de Deus.

Muitas pessoas acham que bastam seguir sua consciência, mas uma consciência cauterizada ou deformada, não sente qualquer acusação. Mesmo diante de situações escandalosas, a não ser pelo medo do julgamento ou pela possível perda de privilégios ou punições que venham a sofrer, elas não sentem que estão fazendo qualquer coisa errada. Então, uma consciência, sem o crivo da Palavra de Deus, sem os absolutos das Escrituras, pode pecar e achar que as coisas que anda fazendo são corretas.
Conselheiros cristãos aprendem logo que existem pessoas com culpa sem sentimento de pecado; e pessoas com sentimento de culpa, sem culpa. Por isto, a base para saber se você está fazendo algo errado ou não, não pode ser sua consciência, mas a palavra de Deus.
Jr 17.9 afirma: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” Nosso coração tem uma propensão para a corrupção,  e nem sequer o conhecemos. Ele é tendente para o mal. Por isto precisamos nos aproximar da luz, para que nossas obras possam ser argüidas pelo Espírito Santo e pela Palavra de Deus.  A simples impressão de bem estar, além de decepcionante é perigosa. “Aos loucos a sua impressão de bem estar o leva à perdição” (Pv 1.32). A Igreja de Laodicéia estava segura e confiante: “Estou rica, abastada, e não preciso de coisa alguma” (Ap 3.17), sem saber que eram infelizes, pobres, cegos, nus e miseráveis de acordo com a descrição de Cristo.

Em segundo lugar, não avançando os limites de sua consciência

Aprenda a respeitar a pureza de sua consciência. Quando o sinal amarelo disparar, recue. Existe uma placa que lemos repetidas vezes nas estradas brasileiras: “Na dúvida, não ultrapasse”.  O problema é que não respeitamos as sirenes, as luzes piscando. Orientados por desejos carnais e sucesso imediato, ultrapassamos os limites, barganhamos coisas sagradas, vendemos nosso direito de primogenitura, como fez Esaú. Por causa do nosso estranho desejo de sucesso e aprovação, zombamos de nossa consciência sagrada.
Muitas vezes em nossas vidas, nossa consciência gesticula, acena, grita desesperada, mas a ignoramos e comemos do fruto proibido que o diabo nos oferece. Não respeitamos a “boa consciência”, nos expomos a perigos, ferimos nossos valores, escandalizamos a igreja, machucamos amigos e familiares e magoamos o coração de Deus. A consciência que deveria ter sido respeitada, não é, e assim, a maculamos, cauterizamos e nos tornamos eventualmente insensíveis.
O acadêmico Jean Restand foi o primeiro a perceber que se colocasse uma rã numa vasilha com água quente, ela reagia violentamente e pulava para fora, mas se a água fosse aquecida lentamente, a rã ficaria entorpecida e morreria queimada. As tentações e reflexos morais também tendem paulatinamente a perder seu bom funcionamento quando nos acostumamos com o mal, até que a consciência se torna completamente entorpecida.

Terceiro, Quebrantamento e confissão

Uma forma de manter a consciência pura é, ao perceber o erro e o mal praticado, voltar-se para Deus. Este exercício de rendição e contrição traz o equilíbrio que nossa alma precisa. Um servo de Deus não é conhecido por ausência de pecado, mas pela seriedade com que trata o pecado. A Bíblia nos afirma que confissão traz cura. Se não trouxer cura física, pelo menos  desmascara nossas defesas e retira a hipocrisia e tentativa de ocultar o nosso mal. “Jung descreve o mal humano como a recusa em encontrar as trevas – aspectos de nossa alma – que não queremos reconhecer e que continuamente tendem a se esconder debaixo do tapete da consciência”.[1] Afinal, "os demônios adoram trabalhar em segredo, mas fogem quando são forcados a se tornar visíveis"[2]
A alma humana enfrenta dois problemas básicos: 
ü       Compulsão para o mal  
ü       Idolatria de si mesmo em algo fora de mim.
Ambos, opção pelo domínio, poder, controle. O coroamento disto é o pecado religioso. (Sutilezas de nossos corações, pecados mais complicados). Há muito pecado travestido de piedade e consagração. A religião é constantemente retroalimentada pelo pecado original - decidir fora de Deus. Optamos pelo poder, não pela fraqueza; pela realização, não pelo encontro. Pelo fazer, não pelo ser.
Por isto a confissão é tão importante, ela me transforma, rompe o mito de Narciso, não deixa minha consciência se perder na auto-justificação. Expõe o meu mal, e traz cura. Não é sem razão que as palavras cruz/pecado/arrependimento, caíram de uso. A linguagem atual é saquear, reinvidicar, decretar, todas estas são linguagem de poder e não de quebrantamento. No entanto, a cruz revela o estrago do pecado. Deus precisa mandar seu filho para efetuar a redenção tão cara que homem nenhum poderia pagar. A confissão preserva minha consciência do auto- engano e traz cura e restauração pelo sangue do Cordeiro.
Sempre que leio as histórias de Saul e Davi, fico me interrogando porque Davi foi considerado o homem segundo o coração de Deus, ao passo que Saul foi rejeitado. Tenho a impressão de que os pecados de Davi foram mais explícitos que os de Saul... Qual é a diferença?
A única resposta plausível que encontra além dos mistérios de Deus na sua soberana eleição e vocação, é o fato de que Saul e Davi tratavam de forma completamente distinta os seus pecados. Quando Saul pecava contra Deus e era confrontado, ele sempre encontrava desculpas ao invés de enfrentar seu fracasso e fazer uma confissão aberta. No episódio de 1 Sm 15 ele flagrantemente desobedece as ordens de Deus e quando Samuel o confronta, ele usa vários argumentos para justificar seu pecado: “o povo fez...” e “trouxemos para sacrificar ao Senhor teu Deus” (1 Sm 15.14,15), quando a resposta deveria ser de quebrantamento: “pequei e não tenho defesa”. Posteriormente, neste mesmo episódio, vendo que sua justiça própria não convencera a Samuel ele diz: “Pequei, agora honra-me perante os anciãos” (1 Sm 15.30,31). Diante da confrontação e do desmascaramento ele quer manter a honra e preservar sua reputação.
Ao olharmos para Davi, vemos um quadro diferente. Ao ser desmascarado, e pelo menos em duas vezes vemos isto acontecendo de forma direta, sua atitude é apenas de rendição: “Pequei!” (2 Sm 12.13 e 24.10). Não procura justificar-se, mas abre sua alma para ser tratado por Deus. Ele sabe que feriu sua consciência, transgrediu a lei, enganou os outros e feriu o coração de Deus, e a não ser que Deus, na sua infinita misericórdia o perdoe, ele está perdido. Sua confissão é plena, sem defesas.

Em quarto lugar, Reconhecer o poder de Deus para ser restaurado. Uma consciência ferida, e não tratada, não perdoada, passa a se auto destruir. A auto flagelação, processo tão comum encontrado na atitude de religiosos e pessoas seculares, tem a ver com a incapacidade de se sentir perdoado. “A alma carregada de culpa do sangue do outro, descerá até a cova; ninguém o detenha” (Pv 28.17). Não tem como impedir este processo de auto punição, a não ser com o outro com a graça restauradora de Deus. Davi, que conheceu bem o processo da dor do pecado afirma: “Bem aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto”. (Sl 32.1). Que maravilhosa benção termos uma consciência restaurada de culpa e condenacao. O sangue de Cristo providencia isto: “Agora, pois, nenhuma condenação há, para aqueles que estão em Cristo Jesus(Rm 8.1).
O episódio abaixo, relatado pelo bispo anglicano Festo Kivengere, de Kigenl, Uganda, nos mostra o que acontece quando a consciência é tratada:

Meu tio, o chefe de uma tribo, estava em reunião com o Conselho da comunidade, quando um homem se aproximou do grupo e fez uma mesura a maneira africana. Possuía muito gado e todos sabiam que ele invocava espíritos demoníacos, dizendo que era de parentes falecidos. Trouxera consigo oito vacas, que deixara a uma pequena distância do Conselho.
-"Vim, aqui por um motivo, Sr. chefe" disse ele.
-"Para que trouxe gado?" Perguntou o chefe.
-"Senhor chefe, aquelas vacas são suas."
-"Como minhas? Que quer dizer com isso?"
-"Elas lhe pertencem, quando eu tomava conta do seu gado, roubei quatro vacas. Elas agora são oito. Vim devolvê-las".
-"Quem o prendeu?" Perguntou o chefe
-"Jesus me prendeu, senhor chefe, ali estão as suas vacas".
Ninguém riu, todos guardaram silêncio. Meu tio podia perceber que aquele homem estava em paz consigo mesmo e se sentia alegre.
-"Pode me prender ou mandar que eu seja açoitado" disse o homem, "mas estou liberto. Jesus veio ao meu encontro e agora sou um homem livre."
-"Bem, se Deus fez isto em sua vida, quem sou eu para prendê-lo? Vá para casa".
Dias mais tarde, tendo ouvido a respeito do caso, fui conversar com meu tio.
-"Tio, ouvi dizer que ganhou oito vacas de presente?"
-"Sim", confirmou ele, "realmente ganhei"
-"Deve estar satisfeito"
-"Nem fale nisto!  Depois da visita daquele homem, não tenho dormido bem. Para conseguir a paz que ele alcançou eu teria que devolver cem cabeças de gado!"

Conclusão:
A Bíblia afirma: “...muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno a si mesmo se ofereceu sem macula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para que sirvamos ao Deus vivo!” (Hb 9.14)
Que Deus nos abençoe!




[1] Peck, M. Scott, The Different Drum, New York, Simon and Schuster, 1988, pg 227
[2] Baker, Mark W. Jesus, o Maior psicólogo que já existiu , São Paulo, Ed Sextante, 6a edição, 2005, pg 133

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