Introdução:
Uma das coisas mais
desafiadoras da vida é manter lembrança de coisas que não podem ser esquecidas.
O problema, é que normalmente guardamos memórias de coisas ruins como mágoas,
ressentimentos, ofensas e amarguras e nos esquecemos de outras coisas que poderiam
ser libertadoras para nossa existência.
Quando Moisés escreveu o
livro de Deuteronômio, ele estava apenas repetindo as leis anteriormente dadas.
Por que escrever outro livro falando daquilo que os livros de Êxodo e Levítico
já haviam dito? Exatamente para manter acesa na mente das pessoas as leis dadas
por Deus. O povo não podia esquecer. Especialistas afirmam que precisamos
repetir 11 vezes uma mesma ideia para mudarmos uma cosmovisão ou uma forma de
pensar. A repetição nos capacita lembrar.
Os pais judeus eram
encorajados a inculcar a Lei na mente dos filhos, e este método consistia na
repetição: “Estas palavras que, hoje, te
ordeno estarão no teu coração; tu as inculcaras a teus filhos, e delas falaras
assentando em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te”
(Dt 6.6,7). O método da constante repetição para manter a memória alerta.
Quando Pedro escreve esta sua
segunda carta, certamente estava muito preocupado com a questão da memória das
coisas de Deus. Veja quantas vezes ele fala disto:
ð 2 Pe
1.12: “Por esta razão, sempre estarei
pronto para trazer-vos lembrado acerca destas coisas, embora estejais certos da
verdade já presente convosco e nela confirmados”.
ð 2 Pe 1.13: “Também, considero justo,
enquanto estou neste tabernáculo, despertar-vos com estas lembranças”.
ð 2 Pe
3.1: “Amados, esta é, agora, a segunda
epistola que vos escrevo; em ambas, procuro despertar com lembranças a vossa
mente esclarecida”
ð 2 pe
3.2: “para que vos recordeis das palavras
que, anteriormente, foram ditas pelos santos profetas”.
ð 2 Pe 3.5: “Porque, deliberadamente,
esquecem que, de longo tempo, houve céus, bem como terra, a qual surgiu da água
e através da água, pela palavra de Deus”.
ð 2 Pe
3.8: “Há, todavia, uma coisa, que não
deveis esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como
um dia”.
Todos estes textos nos falam
de lembranças, recordações, esquecimento... Quem vive melhor, não é aquele que
sabe mais, mas quem se lembra mais.
Em dias de luta, é muito
fácil nos esquecermos quem é Deus, quais são suas promessas, quais são seus
princípios. Nos esquecemos das suas verdades e nos tornamos presas de sentimentos,
emoções, circunstâncias e pessoas.
Invariavelmente somos surpreendidos pelo óbvio.
Não deveríamos nos assustar, nem ficar perplexos, pois sabemos o que Deus
tem feito, mas estamos sempre nos esquecendo de seus maravilhosos princípios.
A verdade é:
Eu Sei que você sabe de tudo
isto, mas eu só queria te lembrar!
O que Pedro tenta lembrar aos servos de Cristo?
O que gostaria de lembrar a cada um de vocês hoje?
Sempre
encontraremos, em todas as culturas e épocas, homens que menosprezarão e
ridicularizarão das verdades de Deus – (2 Pe 3.3). Muitas vezes
nos surpreendemos com isto. Não deveríamos... São pessoas que escarnecem,
zombam, tentam de todas as formas e meios, nos fazer pensar que as verdades e
princípios de Deus não devem ser levados a sério.
O Salmista afirma: “Por que enfurecem os gentios e os povos
imaginam coisas vã? Os reis da terra se levantam e os príncipes conspiram contra o Senhor e o seu Messias, dizendo:
Rompamos os seus laços e sacudamos as suas algemas” (Sl 2.1-2). Na carta a Timóteo, Paulo afirma que nos
últimos dias os homens seriam “egoístas, avarentos... caluniadores... atrevidos... enfatuados...” (2 Tm 3.2,3).
O apóstolo Pedro dá um motivo
para a atitude de tais homens. O escárnio é próprio de pessoas que são
orientadas pelas paixões. O motivo deles não é intelectual, nem moral, mas é
uma forma de justificar suas atitudes pecaminosas e seus desejos carnais. O Apóstolo
Paulo na carta aos romanos vai dizer a s mesma coisa: “A ira de Deus se revela dos céus contra toda impiedade e perversão dos
homens que detém a verdade pela injustiça” (Rm 1.18). Verdade é conceito
(Filosofia), mas injustiça é prática (Ética). Tais homens negam princípios e
verdades para justificar seus atos pecaminosos. Fazem isto orientados pelas suas próprias paixões.
A verdade é que, paixões determinam princípios, ou talvez
pudéssemos dizer de outra forma: Convicções
determinam ética.
Dois exemplos:
ð Certa
vez fui dar um estudo para rapazes de uma igreja. O tema seria “sexo antes do casamento”, e antes que eu
iniciasse o tema, um dos rapazes, que parecia ser o líder do grupo me disse:
“Em não acho que exista nada na Bíblia nenhum problema com sexo antes do
casamento, desde que a gente tenha compromisso”. Eu tentei me recompor, e
respondi: “Muito bem, eu tenho vários textos na Bíblia que falam sobre este
assunto, mas se você me der um texto na Bíblia que justifica o seu ponto de
vista, eu encerro aqui a minha discussão”. Ele ficou calado e disse: “Eu não
sei de nenhum texto”. Eu repliquei: “Eu sabia que você não sabia, porque não
tem”. E aí então começamos a exposição do tema que havia sido proposto.
ð Noutra
ocasião, estava preparando líderes para assumirem cargos e ofícios na igreja,
quando entramos no tema do dízimo. Um dos candidatos me disse de forma segura
que ele não via base na bíblia para ser um dizimista. Antes que eu desse
qualquer resposta, outra pessoa perguntou: “Você fala isto porque tem base
bíblica ou para justificar sua atitude?” E ele, curiosamente baixou a cabeça e
disse: “Acho que para justificar minha atitude”.
Os dois exemplos acima
demonstram como habilmente estabelecemos uma forma de pensar para justificar
atos pecaminosos. “Nos últimos dias,
virão escarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as próprias
paixões” ( 2 Pe 3.3). Escarnecem porque são conduzidos por paixões, e para
justificar seus atos pecaminosos e carnais.
Eu Sei que você sabe de tudo
isto, mas eu só queria te lembrar!
Por causa das paixões e
pecados, criam uma memória seletiva. Lembram do que querem lembrar, e esquecem
do que querem esquecer. “Porque, deliberadamente esquecem que, de longo
tempo, houve céus bem como terra, a qual surgiu da água pela palavra de Deus” (2
Pe 3.5). Sublinhem a palavra deliberadamente. Esta é uma atitude
intencional: Esquecer as obras de Deus, aquilo que ele fez.
O que eles esquecem
deliberadamente é algo filosófico: deliberadamente
esquecem que, de longo tempo, houve céus bem como terra, a qual surgiu da
água pela palavra de Deus. Esquecem
que existe um criador, detrás da
criação. Que o mundo, tal como o conhecemos, foi criado por um agente, por Deus.
Tenho pensado muito no
problema do criacionismo. O Dr. Adaulton Lourenço, conhecido professor
universitário tem afirmado que se a evolução fosse tirado da pesquisa
biológica, isto faria pouquíssima diferença para o mundo cientifico. Afirma
ainda ser um “criacionista científico” e não um “criacionista bíblico”. Ele chegou
a esta conclusão, quando fazia seu doutorado. No entanto, ainda hoje enfrenta enorme oposição
do que hoje é conhecido como “ditadura do saber”. Se você vai fazer pesquisa de
mestrado ou doutorado, em determinados segmentos e nichos marxistas, você tem
que defender idéias de pensadores de esquerda, senão sua tese não tem valor... isto
é feito no campo da educação, filosofia, sociologia, etc., até mesmo a medicina
tem sido muito questionada hoje. Fala-se ainda da ciência como uma prostituta a
serviço de grandes laboratórios que fazem pesquisa para incentivar pessoas a
consumirem determinados produtos.
O problema do evolucionismo,
antes de ter relação sobre a questão se o homem surgiu ou não da evolução da
espécie, tem a ver com um teor filosófico. Se tirarmos Deus do processo da
criação, seus conceitos, sua moral e absolutos não precisam mais existir, como afirmou
certo filósofo: “Sem Deus, tudo é permitido”. A primeira coisa que os homens
querem fazer, deliberadamente, é apagar o conceito de um Deus criador.
Eu Sei que você sabe de tudo
isto, mas eu só queria te lembrar!
Em seguida, o apóstolo Pedro
aponta não mais para a criação (passado), mas para a escatologia (futuro). Ele
faz questão de lembrar-lhes de algo muito importante que tem a ver com o que
está por vir. A história caminha para um
desfecho. Ele tenta lembrar aos cristãos, que não devem esquecer as origens, nem a teleologia. Preste atenção que não estou falando de “teologia”, mas
de “teleo-logia”, termo este que vem do grego teleos, que aponta para o objetivo de todas as coisas. Não devemos
esquecer o que Deus fez, nem o que Deus fará.
Diante disto ele usa três
argumentos:
ð Deus
calcula o tempo de forma diferente – (2 Pe 3.8). Nós temos uma
forma cronologia de considerar a historia (kronos),
mas Deus vê o tempo dentro de propósito (Kairos).
Kronos é o tempo do calendário, medido. Kairós tem a ver com o projeto de Deus
para toda a história. “Há, todavia, uma
coisa, amados, que não deveis esquecer: que para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia”. Veja
como as coisas são diferentes.
ð Deus
não erra na sua agenda – Nossa agenda é montada em cima dos
eventos cotidianos e históricos, Deus vê as coisas dentro do seu propósito. Ele
já estabeleceu um dia em que julgará vivos e mortos. A aparente demora é
proposital: “Ele é longânimo para
convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao
arrependimento” (2 Pe 3.9). Deus tem uma agenda, Deus tem um propósito e
tem um tempo determinado para ele para sua exclusiva autoridade.
ð A
história caminha para um fim divino – quando acontecerá o que Jacques Ellul
chama de des-criação, ou seja, a
criação às avessas. No Éden, vemos a terra sem forma e vazia (caos, abismo,
trevas) e Deus dá ordem e as coisas são estabelecidas pela sua palavra. No
final da presente ordem, Deus dará ordem ao sistema presente, “e os elementos
se desfarão abrasados”. O que me dá uma ideia de uma bomba atômica, que tem o
poder de desfazer as coisas, derretê-las.
Depois deste acontecimento
caótico, surgirá uma nova ordem: “novos
céus e nova terra, nos quais habita justiça”.
A palavra de Deus tenta nos
mostrar a importância do futuro para o tempo presente. Veja o vs. 11: “visto com as coisas serão assim desfeitas,
deveis viver, no presente século, em santa piedade e procedimento”. Ele
fala aqui de duas coisas que parecem ambíguas: Uma atitude ativa de piedade e
procedimento santo; e de uma espera (passiva), que faz acontecer algo: “esperando e apressando”. Não parecem ser
duas atitudes distintas? Esperar e apressar?
No primeiro, somos convidados
a não nos esquecermos que o dia do Senhor virá como ladrão, a ordem presente
será completamente alterada. Viver na expectativa da vinda de Cristo nos ajuda
a ter uma atitude de vigilância. Como as noivas que precisavam estar com suas
lamparinas acesas assim devemos estar alertas. Como alguém que precisa vigiar
para que o ladrão não arrombe sua casa.
Ao mesmo tempo o texto está
dizendo: “Esperem... apressando”. Continuem
numa vida de testemunho, pregação das boas novas, praticando boas obras. A ordem é: continuem a agir no presente,
com um olhar no futuro. Uma piada evangélica afirma: “o salário para quem
trabalha no reino de Deus não é lá estas coisas, mas a aposentadoria é doutro
mundo”. Pedro afirma que precisamos construir o presente, apressando a vinda de Cristo, dando sinais do reino, compartilhando
a obra de Cristo, ansiosamente aguardando a manifestação de Cristo que se dera
no tempo e na historia.
A expectativa escatológica
muitas vezes se parece demorada, mas não devemos ficar imobilizados no
presente, pelo contrário, agindo como se a vinda de Cristo fosse amanhã.
Eu Sei que você sabe de tudo
isto, mas eu só queria te lembrar!
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