segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

2 Pe 3 Eu só queria te lembrar!



Introdução:

Uma das coisas mais desafiadoras da vida é manter lembrança de coisas que não podem ser esquecidas. O problema, é que normalmente guardamos memórias de coisas ruins como mágoas, ressentimentos, ofensas e amarguras e nos esquecemos de outras coisas que poderiam ser libertadoras para nossa existência.

Quando Moisés escreveu o livro de Deuteronômio, ele estava apenas repetindo as leis anteriormente dadas. Por que escrever outro livro falando daquilo que os livros de Êxodo e Levítico já haviam dito? Exatamente para manter acesa na mente das pessoas as leis dadas por Deus. O povo não podia esquecer. Especialistas afirmam que precisamos repetir 11 vezes uma mesma ideia para mudarmos uma cosmovisão ou uma forma de pensar. A repetição nos capacita lembrar.

Os pais judeus eram encorajados a inculcar a Lei na mente dos filhos, e este método consistia na repetição: “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcaras a teus filhos, e delas falaras assentando em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te” (Dt 6.6,7). O método da constante repetição para manter a memória alerta.

Quando Pedro escreve esta sua segunda carta, certamente estava muito preocupado com a questão da memória das coisas de Deus. Veja quantas vezes ele fala disto:

ð      2 Pe 1.12: “Por esta razão, sempre estarei pronto para trazer-vos lembrado acerca destas coisas, embora estejais certos da verdade já presente convosco e nela confirmados”.

ð      2 Pe 1.13: “Também, considero justo, enquanto estou neste tabernáculo, despertar-vos com estas lembranças”.

ð      2 Pe 3.1: “Amados, esta é, agora, a segunda epistola que vos escrevo; em ambas, procuro despertar com lembranças a vossa mente esclarecida”

ð      2 pe 3.2: “para que vos recordeis das palavras que, anteriormente, foram ditas pelos santos profetas”.

ð      2 Pe 3.5: “Porque, deliberadamente, esquecem que, de longo tempo, houve céus, bem como terra, a qual surgiu da água e através da água, pela palavra de Deus”.

ð      2 Pe 3.8: “Há, todavia, uma coisa, que não deveis esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia”.

Todos estes textos nos falam de lembranças, recordações, esquecimento... Quem vive melhor, não é aquele que sabe mais, mas quem se lembra mais.

Em dias de luta, é muito fácil nos esquecermos quem é Deus, quais são suas promessas, quais são seus princípios. Nos esquecemos das suas verdades e nos tornamos presas de sentimentos,  emoções, circunstâncias e pessoas. Invariavelmente somos surpreendidos pelo óbvio.  Não deveríamos nos assustar, nem ficar perplexos, pois sabemos o que Deus tem feito, mas estamos sempre nos esquecendo de seus maravilhosos princípios.

A verdade é:
Eu Sei que você sabe de tudo isto, mas eu só queria te lembrar! 

O que Pedro tenta lembrar aos servos de Cristo? O que gostaria de lembrar a cada um de vocês hoje?

Sempre encontraremos, em todas as culturas e épocas, homens que menosprezarão e ridicularizarão das verdades de Deus – (2 Pe 3.3). Muitas vezes nos surpreendemos com isto. Não deveríamos... São pessoas que escarnecem, zombam, tentam de todas as formas e meios, nos fazer pensar que as verdades e princípios de Deus não devem ser levados a sério.

O Salmista afirma: “Por que enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vã? Os reis da terra se levantam e os príncipes conspiram  contra o Senhor e o seu Messias, dizendo: Rompamos os seus laços e sacudamos as suas algemas” (Sl 2.1-2).  Na carta a Timóteo, Paulo afirma que nos últimos dias os homens seriam “egoístas, avarentos... caluniadores... atrevidos... enfatuados...” (2 Tm 3.2,3).

O apóstolo Pedro dá um motivo para a atitude de tais homens. O escárnio é próprio de pessoas que são orientadas pelas paixões. O motivo deles não é intelectual, nem moral, mas é uma forma de justificar suas atitudes pecaminosas e seus desejos carnais. O Apóstolo Paulo na carta aos romanos vai dizer a s mesma coisa: “A ira de Deus se revela dos céus contra toda impiedade e perversão dos homens que detém a verdade pela injustiça” (Rm 1.18). Verdade é conceito (Filosofia), mas injustiça é prática (Ética). Tais homens negam princípios e verdades para justificar seus atos pecaminosos. Fazem isto orientados pelas suas próprias paixões.

A verdade é que, paixões determinam princípios, ou talvez pudéssemos dizer de outra forma: Convicções determinam ética.

Dois exemplos:

ð      Certa vez fui dar um estudo para rapazes de uma igreja. O tema seria “sexo antes do casamento”, e antes que eu iniciasse o tema, um dos rapazes, que parecia ser o líder do grupo me disse: “Em não acho que exista nada na Bíblia nenhum problema com sexo antes do casamento, desde que a gente tenha compromisso”. Eu tentei me recompor, e respondi: “Muito bem, eu tenho vários textos na Bíblia que falam sobre este assunto, mas se você me der um texto na Bíblia que justifica o seu ponto de vista, eu encerro aqui a minha discussão”. Ele ficou calado e disse: “Eu não sei de nenhum texto”. Eu repliquei: “Eu sabia que você não sabia, porque não tem”. E aí então começamos a exposição do tema que havia sido proposto.

ð      Noutra ocasião, estava preparando líderes para assumirem cargos e ofícios na igreja, quando entramos no tema do dízimo. Um dos candidatos me disse de forma segura que ele não via base na bíblia para ser um dizimista. Antes que eu desse qualquer resposta, outra pessoa perguntou: “Você fala isto porque tem base bíblica ou para justificar sua atitude?” E ele, curiosamente baixou a cabeça e disse: “Acho que para justificar minha atitude”.

Os dois exemplos acima demonstram como habilmente estabelecemos uma forma de pensar para justificar atos pecaminosos. “Nos últimos dias, virão escarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as próprias paixões” ( 2 Pe 3.3). Escarnecem porque são conduzidos por paixões, e para justificar seus atos pecaminosos e carnais.
Eu Sei que você sabe de tudo isto, mas eu só queria te lembrar!

Por causa das paixões e pecados, criam uma memória seletiva. Lembram do que querem lembrar, e esquecem do que querem esquecer. “Porque, deliberadamente esquecem que, de longo tempo, houve céus bem como terra, a qual surgiu da água pela palavra de Deus” (2 Pe 3.5). Sublinhem a palavra deliberadamente. Esta é uma atitude intencional: Esquecer as obras de Deus, aquilo que ele fez.

O que eles esquecem deliberadamente é algo filosófico: deliberadamente esquecem que, de longo tempo, houve céus bem como terra, a qual surgiu da água pela palavra de Deus. Esquecem que existe um criador, detrás da criação. Que o mundo, tal como o conhecemos, foi criado por um agente, por Deus.

Tenho pensado muito no problema do criacionismo. O Dr. Adaulton Lourenço, conhecido professor universitário tem afirmado que se a evolução fosse tirado da pesquisa biológica, isto faria pouquíssima diferença para o mundo cientifico. Afirma ainda ser um “criacionista científico” e não um “criacionista bíblico”. Ele chegou a esta conclusão, quando fazia seu doutorado.  No entanto, ainda hoje enfrenta enorme oposição do que hoje é conhecido como “ditadura do saber”. Se você vai fazer pesquisa de mestrado ou doutorado, em determinados segmentos e nichos marxistas, você tem que defender idéias de pensadores de esquerda, senão sua tese não tem valor... isto é feito no campo da educação, filosofia, sociologia, etc., até mesmo a medicina tem sido muito questionada hoje. Fala-se ainda da ciência como uma prostituta a serviço de grandes laboratórios que fazem pesquisa para incentivar pessoas a consumirem determinados produtos.

O problema do evolucionismo, antes de ter relação sobre a questão se o homem surgiu ou não da evolução da espécie, tem a ver com um teor filosófico. Se tirarmos Deus do processo da criação, seus conceitos, sua moral e absolutos não precisam mais existir, como afirmou certo filósofo: “Sem Deus, tudo é permitido”. A primeira coisa que os homens querem fazer, deliberadamente, é apagar o conceito de um Deus criador.

Eu Sei que você sabe de tudo isto, mas eu só queria te lembrar!

Em seguida, o apóstolo Pedro aponta não mais para a criação (passado), mas para a escatologia (futuro). Ele faz questão de lembrar-lhes de algo muito importante que tem a ver com o que está por vir. A história caminha para um desfecho. Ele tenta lembrar aos cristãos, que não devem esquecer as origens, nem a teleologia. Preste atenção que não estou falando de “teologia”, mas de “teleo-logia”, termo este que vem do grego teleos, que aponta para o objetivo de todas as coisas. Não devemos esquecer o que Deus fez, nem o que Deus fará.

Diante disto ele usa três argumentos:

ð      Deus calcula o tempo de forma diferente – (2 Pe 3.8). Nós temos uma forma cronologia de considerar a historia (kronos), mas Deus vê o tempo dentro de propósito (Kairos). Kronos é o tempo do calendário, medido. Kairós tem a ver com o projeto de Deus para toda a história. “Há, todavia, uma coisa, amados, que não deveis esquecer: que para o Senhor, um dia é como  mil anos, e mil anos, como um dia”. Veja como as coisas são diferentes.

ð      Deus não erra na sua agenda – Nossa agenda é montada em cima dos eventos cotidianos e históricos, Deus vê as coisas dentro do seu propósito. Ele já estabeleceu um dia em que julgará vivos e mortos. A aparente demora é proposital: “Ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2 Pe 3.9). Deus tem uma agenda, Deus tem um propósito e tem um tempo determinado para ele para sua exclusiva autoridade.

ð      A história caminha para um fim divino – quando acontecerá o que Jacques Ellul chama de des-criação, ou seja, a criação às avessas. No Éden, vemos a terra sem forma e vazia (caos, abismo, trevas) e Deus dá ordem e as coisas são estabelecidas pela sua palavra. No final da presente ordem, Deus dará ordem ao sistema presente, “e os elementos se desfarão abrasados”. O que me dá uma ideia de uma bomba atômica, que tem o poder de desfazer as coisas, derretê-las.

Depois deste acontecimento caótico, surgirá uma nova ordem: “novos céus e nova terra, nos quais habita justiça”.
A palavra de Deus tenta nos mostrar a importância do futuro para o tempo presente. Veja o vs. 11: “visto com as coisas serão assim desfeitas, deveis viver, no presente século, em santa piedade e procedimento”. Ele fala aqui de duas coisas que parecem ambíguas: Uma atitude ativa de piedade e procedimento santo; e de uma espera (passiva), que faz acontecer algo: “esperando e apressando”. Não parecem ser duas atitudes distintas? Esperar e apressar?

No primeiro, somos convidados a não nos esquecermos que o dia do Senhor virá como ladrão, a ordem presente será completamente alterada. Viver na expectativa da vinda de Cristo nos ajuda a ter uma atitude de vigilância. Como as noivas que precisavam estar com suas lamparinas acesas assim devemos estar alertas. Como alguém que precisa vigiar para que o ladrão não arrombe sua casa.

Ao mesmo tempo o texto está dizendo: “Esperem... apressando”.  Continuem numa vida de testemunho, pregação das boas novas, praticando boas obras. A ordem é: continuem a agir no presente, com um olhar no futuro. Uma piada evangélica afirma: “o salário para quem trabalha no reino de Deus não é lá estas coisas, mas a aposentadoria é doutro mundo”. Pedro afirma que precisamos construir o presente, apressando a vinda de Cristo, dando sinais do reino, compartilhando a obra de Cristo, ansiosamente aguardando a manifestação de Cristo que se dera no tempo e na historia.

A expectativa escatológica muitas vezes se parece demorada, mas não devemos ficar imobilizados no presente, pelo contrário, agindo como se a vinda de Cristo fosse amanhã.


Eu Sei que você sabe de tudo isto, mas eu só queria te lembrar!

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