segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Ef 4.17-24 O Novo Estilo de vida




Introdução:

Allen Thompson, meu coordenador e mentor na Mission to the North America (Presbyterian Church in America), adotava um princípio simples e questionável na seleção e recrutamento de plantadores de igrejas. Ele procurava pastores experientes, ao invés de seminaristas e jovens pastores, baseando-se no princípio de que já haviam sido testados e demonstrado que eram capazes de realizar a tarefa. Ele afirmava que “A melhor forma de saber como as pessoas serão, é observando quem elas foram”. Naturalmente se referia aos dons, padrões de comportamentos, estratégias, áreas de fraqueza e talentos, etc. seguia o princípio de um antigo ditado inglês: “Old habits die hard” (Hábitos arraigados são duros de morrerem). Pessoas possuem padrões de comportamentos nada fáceis de serem quebrados.

Na carta de Paulo aos Efésios, o apóstolo está descrevendo a nova sociedade que Cristo estava criando em si mesmo. Nos primeiros 4 capítulos ele demonstra o que Deus fez pela igreja. Sua escolha livre e soberana em predestinar e escolher um povo para sua exclusiva autoridade, e que o Espírito Santo estava operando na vida deste rebanho para colocar o imprimatur divino

No capítulo 2 ele descreve a trágica situação da raça humana e como Deus na sua misericórdia  e graça, sem qualquer mérito humano, nos deu vida e nos fez assentar em lugares celestiais. No capítulo 3 descreve o plano cósmico da igreja, colocando a sua igreja, como centro do cosmos, e no capítulo 4 afirma que esta nova sociedade, criada segundo Deus, só é capaz de realizar tal obra, porque o Espírito Santo concede os dons para o exercício da tarefa. Em seguida, fala das implicações práticas de estar em Cristo e como a ação do Espírito Santo tira o homem de um estilo de vida para outro, saindo de uma vida de corrupção e decadência para uma vida de santidade e identificação com a natureza do próprio Deus.

Em Ef 4.17, o texto que ora lemos, ele afirma: “Isto, portanto, digo”. Em termos práticos é como se ele estivesse dizendo: “Considerando o que Deus fez por vocês, eis o que vocês devem fazer e como devem viver”. Ele fala do andar do homem criado em Cristo, e contrasta sua situação com a do homem sem Deus, cuja natureza não foi regenerada pelo Espírito de Deus.

A primeira exortação do vs 17 é “não mais andeis como andam os gentios”. Particularmente não gosto do uso do termo gentio, porque não é algo que em geral as pessoas entendem. Gentio era uma referência às pessoas que não eram judias, e viviam longe das profecias bíblicas e nada sabiam das coisas de Deus. Numa linguagem mais moderna diríamos se tratar dos pagãos,  cujo estilo de vida secular é completamente diferente da vida de um cristão.

O pagão é alguém que desconhece as verdades e não tem identificação com Deus. Não sente atração pelas coisas espirituais e por isto temas como oração, quebrantamento, busca do Senhor, adoração, não fazem qualquer sentido para sua vida.

Os versículos seguintes descrevem como vive um homem sem Deus:

  1. Na vaidade de seus próprios pensamentos – ((Ef 4.17)
O termo vaidade deve ser traduzido como algo vazio. Futilidade talvez seja a palavra adequada. O estilo de vida de um homem afastado de Deus é fútil, vazio, sem consistência.

O homem sem Deus é fútil em seu pensamento porque não o considera em seus caminhos. Sua lógica é frívola. Paulo roga aos cristãos que não vivam mais assim. Isto nos leva a pensar que mesmo depois de convertidos, podemos viver neste estilo de vida vazio, e termos uma mente frívola. A igreja corre o risco de viver assim, voltando aos velhos padrões de futilidade de uma sociedade pagã, numa vida inconsistente na forma de pensar.

É importante considerar isto na quantidade de depressão e ansiedade no meio cristão. Será que isto não tem a ver com nosso estilo fútil de viver? Fazemos viagens cada vez mais caras, compramos perfumes cada vez mais sofisticados, roupas mais estravagantes, vamos a restaurantes luxuosos, temos carros maravilhosos, mas apesar disto continuamos vivendo com o coração vazio. Este é um estilo de vida próprio do homem sem Deus.

  1. Obscurecidos de entendimentos – (4.18)
A segunda característica tem a ver também com a forma de pensar e considerar as coisas. No que concerne às coisas espirituais, o entendimento do homem pagão é obnubilado.  Tenho visto homens intelectualmente bem formados, cuja visão de Deus é um fracasso.

Na carta aos Romanos, Paulo descreve este homem confuso na sua espiritualidade:

Porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram, nem lhe deram graças, antes se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos” (Rm 1.21-22).

O livro de Provérbios afirma que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria. O homem sem Deus torna-se nebuloso na sua forma de raciocinar porque exclui o fundamento que é o próprio Deus, que se encontra por detrás de todas as coisas. Toda a filosofia contemporânea exclui Deus do sistema, toda ciência moderna tende a ignorar o criador. Torna-se assim obscurecida de entendimento.

  1. Alheios à vida de Deus – (Ef 4.18)
Para o homem pagão, as coisas espirituais não fazem parte do seu estilo de vida e comportamento. Deus é alguém distante de sua realidade e não faz sentido profundo, de fato. Por isto, caminhar com Deus, orar, ler a Palavra, cultuar a Deus não se torna importante. Sua vida está distanciada de Deus.

O texto bíblico afirma que isto acontece por causa da “ignorância em que vivem” (Ef 4.17). Paulo descreve a vida antes do encontro com Jesus. Estávamos separados de Deus, estranhos à aliança da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo (Ef 2.12-13).

  1. Corações endurecidos (Ef 4.18).
O resultado disto é trágico. Os afetos são profundamente tocados, e as emoções se tornam rígidas e endurecidas. As coisas de Deus não apelam mais aos sentidos e não provocam reações nos corações. O pecado embrutece o homem. Talvez tenha sido esta a razão de Davi ter orado a Deus, depois de ter tomado decisões precipitadas e pecaminosas. “Cria em mim, oh Deus, um coração puro, e renova dentro em mim, um espírito inabalável” (Sl 51.10). Ele percebe o risco de seu próprio coração, e desesperado volta-se para Deus para recuperar a sensibilidade. Um coração puro contrasta com um coração endurecido no erro e no engano.

Dentre as promessas que Deus faz ao seu povo, uma das mais encantadoras encontra-se no Antigo Testamento: “Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós, espírito novo. Tirarei de vós o coração de pêra e vos darei coração de carne” (Ez 36.26). coração para os antigos era o Sistema Nervoso central. Ele promete dar carne e tendões ao povo cujo coração estava seco e sem vida. Deus promete dar sensibilidade àqueles  que se encontram amortecidos e sem esperança. Deus põe tendões, e faz o corpo amortecido reagir. Carne é hedonismo, prazer, gosto, poesia, vida, relacionamentos.  Nervos são sentimentos, emulações de amor.

Qual a conseqüência deste endurecimento?
O texto bíblico vai descrevendo que se trata de um processo. Afastamento de Deus afeta a cosmovisão, a forma de pensar e os sentimentos. O resultado se torna sensível:

  1. Perda de sensibilidade – Tendo-se tornado insensíveis” (Ef 4.19) Corações endurecidos perdem a capacidade de sentir, tornam-se embrutecidos e animalizados. Deus quer nos dar um coração novo, para que não se perca a sensibilidade. A Bíblia fala de pessoas que tiveram suas consciências cauterizadas pelo erro e pelo engano (1 Tm 4.2). O resultado é apatia, indiferença e depravação moral.
Muitas vezes temos que dizer sinceramente a Deus: “Cria em mim, oh Deus, um coração puro, e renova dentro em mim, um espírito inabalável”. Davi não estava orando por sua salvação, mas por algo muito sério: Por sensibilidade. Quando afirma “restitui-me a alegria da tua salvação, para exultem os ossos que esmagaste” ele está clamando para que a normalidade divina se torne novamente uma realidade em sua vida. Pecado gera endurecimento e perda de sensibilidade espiritual.

  1. Dissolução – Tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução (Ef 4.19). Aqui temos um encadeamento de idéias. A mente distanciada de Deus torna-se embrutecida e seu resultado imediato é a depravação moral. Sem Deus, o homem se envolve numa vida de pecado e perde o senso de santidade. O termo “impureza” vem de porneia (pornografia), termo que abrange todas as áreas do desequilíbrio e da disfuncionalidade na área sexual, atingindo a ética, os negócios, a família e o dinheiro.
O texto afirma que, com o endurecimento, o homem se torna ávido e obcecado pelo pecado. Sua mente o leva à impureza e à devassidão. Equivocadamente pensamos que a decadência moral é um problema da nossa geração, mas a Bíblia demonstra que é o resultado do homem sem Deus. O apóstolo Pedro afirma que naqueles dias, muitos pagãos difamava os cristãos e estranhavam que não concorressem com eles, no mesmo excesso de devassidão (1 Pe 4.4). Na sua segunda carta fala daqueles que: “Seguindo a carne, andam com imundas paixões e menosprezam qualquer governo” (2 Pe 2.10).

A partir do vs. 20, O apóstolo Paulo busca um novo paradigma para esta situação. Este novo estilo de vida se encontra disponível em Cristo: “não foi assim que aprendestes a Cristo”. A partir de então, fala do novo homem, e de um estilo de vida gerado em Cristo. A proposta de Deus para o seu povo tem outras características:

i.                     Despojamento do velho homem – (Ef 4.22) O termo “despojar” é um termo militar. Quando os soldados iam para a guerra, assim que obtinham vitória sobre os inimigos, tiravam deles toda a indumentária,  armas, poder e bens. O texto nos ensina que a obra de Jesus inclui na retirada do poder do pecado. Estas armas precisam ser retiradas porque este velho homem se corrompe “segundo as concupiscências do engano”.

Concupiscência” é outro termo que precisa ser explicado. Trata-se de um desejo pervertido., estragado. A verdade é que todas as maças do diabo são bonitas, mas todas elas tem bicho. Satanás nos seduz e perverte a beleza da criação de Deus. A beleza do corpo feminino se torna uma provocação, o prazer de comer se torna glutonaria, degustar um vinho é porta aberta para a bebedice, um filme pode se tornar uma obra de arte ou se transformar em pornografia. O bem se torna mal. Há na alma humana uma tendência e à perversão e para estragar as coisas mais belas. Concupiscência é este desejo estragado.

Para que a concupiscência não domine nossos olhos, precisamos lutar contra um monstro que reside dentro de nós. Esta velha natureza caída, que precisa ser restaurada em Cristo. O princípio mais eficaz contra esta velha natureza é não alimentá-la, mas enfraquecê-la pela inanição. Por isto há uma exortação clara na carta aos Romanos: “Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências” (Rm 13.14). Uma outra tradução fala para não fazermos provisões para a carne. Não podemos alimentar nem dar força à velha natureza. É necessário “despojar” e retirar suas armas. Isto consiste num processo diário de arrependimento e conversão.

Ilustração
Certo fazendeiro era conhecido pela sua virulência e arrogância, mas um dia foi alcançado pela graça de Cristo. O velho homem com sua arrogância e orgulho agora havia sido confrontado pela serenidade e pelo mistério de Cristo na cruz. Ele se rendeu a Cristo, de forma profunda e se abriu para a transformação que o Espírito Santo precisava fazer em sua vida. Sua história pregressa, porém, havia deixado  muitas pessoas feridas, e certo homem, que antes não ousava confrontá-lo, achou que esta era a oportunidade. Um dia, o desafiou abertamente, disse muita bobagem, mas o fazendeiro convertido manteve-se calmo e brando. Mas as afrontas foram se tornando cada vez maiores, e o fazendeiro foi deixando a antiga ira e agressividade retornar ao coração. Percebendo que aos poucos a serenidade de Cristo estava se perdendo, orou em voz alta: “Senhor, não deixe este velho homem retornar, porque o Senhor sabe o que ele é capaz de fazer com este homem que me afronta”. Ao terminar de orar, abriu os olhos e aquele homem já estava longe dele, amedrontado, porque sabia o que poderia lhe acontecer se o velho homem, a velha natureza, retornasse ao coração daquele fazendeiro.

ii.                  Renovação do entendimento – (Ef 4.23). As velhas categorias da lógica e do pecado não servem mais e nem a antiga forma de pensar e de agir, a mesma ética, o mesmo comportamento. Quando somos alcançados por Cristo, não podemos continuar com o mesmo estilo de vida.

Vida cristã implica num novo pensar. “Vos renoveis no vosso entendimento”. Se a mente não mudar, nossas atitudes não mudam. Cristianismo não é behaviorista, mas aponta para uma obra interna e profunda do Espírito Santo. Muitas vezes achamos que com controles externos se revolve o problema dos impulsos internos. Biblicamente isto é impossível. Não se pode ensinar elefante a dançar balé, assim como não é possível adestrar girafas para andar de skate. São coisas impossíveis, como é impossível uma natureza humana, afastada do Criador, ter uma ética cristã.

Paulo demonstra o que ocorre no ser humano, quando o poder do Evangelho de Cristo lhe alcança: “Assim que nós, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne, e se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já não o conhecemos deste modo. E assim, se alguém está em Cristo é nova criatura; as coisas antigas já passaram, eis que se fizeram novas” (2 Co 5.16,17).

iii.                Revestimento do novo homem (Ef 4.24) Tome cuidado com sua antiga natureza. Ela precisa ser despojada. Não a alimente, não lhe entregue as armas de outrora. A obra do Espírito Santo em nós é nos fazer um novo homem e nos dar um novo estilo de vida. Encher-se do Espírito significa em movimentos contínuos, simultâneos e sincrônicos: fazer morrer a velha natureza, revestir-se do novo homem criado em Cristo Jesus.

Rejeite o pecado,. Achegue-se a Deus. Despojem o velho homem, revistam-se do novo homem. Este novo homem tem duas características:

ü       Criado segundo Deus – Não mais amoldado às paixões da carne, não mais alheios à vida de Deus, mas sendo diariamente transformados por Deus, para se parecerem com este Deus.

ü       Criado em justiça e retidão procedentes da verdade – Antes vivendo na vaidade dos pensamentos, se entregado à dissolução e à impureza, agora sendo revestidos do Espírito Santo. Os substantivos aqui revelam a natureza do que Deus quer formar em nós:
§         Justiça
§         Retidão
§         Verdade

Por isto, precisamos nos revestir deste novo homem. Adotar uma nova roupagem, retirar as roupas e armas do antigo homem. Não alimentá-lo com as paixões, concupiscências, promiscuidade e impureza, mas deixar-se transformar pela maravilhosa obra de Deus em nós, neste maravilhoso processo de nos fazer um novo homem, uma nova criatura.

Conclusão:
Conta-se que o Rei Luiz XIV da França, quando pequeno foi tirado do palácio por forças rebeldes e levado para viver entre pessoas bárbaras e desregradas moralmente. Ali recebeu muitas provocações, e os homens querendo imprimir nele um estilo de vida de depravação questionavam porque ele não participava das orgias e bebedices comuns entre eles. Sua resposta dele foi segura e objetiva: “Não posso fazer isto, porque ainda serei o rei da França”.

Quando entendemos o que Deus está fazendo em nossa história, e o propósito de amor que ele tem para nossa vida, não mais podemos viver como vivem os pagãos. Deus, em Cristo, nos deu vida, e nos fez assentar nos lugares celestiais. Como podemos ainda continuar vivendo neste antigo estilo de vida, depois que entendemos tudo o que Deus já nos deu? “Por isto vos digo, não mais andeis como andam os gentios, na vaidade de seus próprios pensamentos”.

5 comentários:

  1. Que maravilha de comentário!Toda Glória ao Senhor!

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  2. Excelente e esclarecedor estudo louvado seja o nosso DEUS para sempre!

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  3. Excelente e esclarecedor estudo louvado seja o nosso DEUS para sempre!

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  4. Excelente e esclarecedor estudo louvado seja o nosso DEUS para sempre!

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