Introdução:
Allen Thompson, meu coordenador e mentor na
Mission to the North America (Presbyterian Church in America), adotava um
princípio simples e questionável na seleção e recrutamento de plantadores de
igrejas. Ele procurava pastores experientes, ao invés de seminaristas e jovens
pastores, baseando-se no princípio de que já haviam sido testados e demonstrado
que eram capazes de realizar a tarefa. Ele afirmava que “A melhor forma de
saber como as pessoas serão, é observando quem elas foram”. Naturalmente se
referia aos dons, padrões de comportamentos, estratégias, áreas de fraqueza e
talentos, etc. seguia o princípio de um antigo ditado inglês: “Old habits die hard” (Hábitos arraigados
são duros de morrerem). Pessoas possuem padrões de comportamentos nada fáceis
de serem quebrados.
Na carta de Paulo aos Efésios, o apóstolo está
descrevendo a nova sociedade que Cristo estava criando em si mesmo. Nos
primeiros 4 capítulos ele demonstra o que Deus fez pela igreja. Sua escolha
livre e soberana em predestinar e escolher um povo para sua exclusiva
autoridade, e que o Espírito Santo estava operando na vida deste rebanho para
colocar o imprimatur divino
No capítulo 2 ele descreve a trágica situação
da raça humana e como Deus na sua misericórdia
e graça, sem qualquer mérito humano, nos deu vida e nos fez assentar em
lugares celestiais. No capítulo 3 descreve o plano cósmico da igreja, colocando
a sua igreja, como centro do cosmos, e no capítulo 4 afirma que esta nova
sociedade, criada segundo Deus, só é capaz de realizar tal obra, porque o
Espírito Santo concede os dons para o exercício da tarefa. Em seguida, fala das
implicações práticas de estar em Cristo e como a ação do Espírito Santo tira o
homem de um estilo de vida para outro, saindo de uma vida de corrupção e
decadência para uma vida de santidade e identificação com a natureza do próprio
Deus.
Em Ef 4.17, o texto que ora lemos, ele afirma:
“Isto, portanto, digo”. Em termos
práticos é como se ele estivesse dizendo: “Considerando o que Deus fez por
vocês, eis o que vocês devem fazer e como devem viver”. Ele fala do andar do
homem criado em Cristo, e contrasta sua situação com a do homem sem Deus, cuja
natureza não foi regenerada pelo Espírito de Deus.
A primeira exortação do vs 17 é “não mais andeis como andam os gentios”.
Particularmente não gosto do uso do termo gentio,
porque não é algo que em geral as pessoas entendem. Gentio era uma
referência às pessoas que não eram judias, e viviam longe das profecias
bíblicas e nada sabiam das coisas de Deus. Numa linguagem mais moderna diríamos
se tratar dos pagãos, cujo estilo de
vida secular é completamente diferente da vida de um cristão.
O pagão é alguém que desconhece as verdades e
não tem identificação com Deus. Não sente atração pelas coisas espirituais e
por isto temas como oração, quebrantamento, busca do Senhor, adoração, não fazem
qualquer sentido para sua vida.
Os versículos seguintes descrevem como vive um
homem sem Deus:
- Na vaidade de
seus próprios pensamentos – ((Ef 4.17)
O termo vaidade deve
ser traduzido como algo vazio. Futilidade talvez seja a palavra adequada. O estilo
de vida de um homem afastado de Deus é fútil, vazio, sem consistência.
O homem sem Deus é fútil em seu pensamento
porque não o considera em seus caminhos. Sua lógica é frívola. Paulo roga aos
cristãos que não vivam mais assim. Isto nos leva a pensar que mesmo depois de
convertidos, podemos viver neste estilo de vida vazio, e termos uma mente frívola.
A igreja corre o risco de viver assim, voltando aos velhos padrões de
futilidade de uma sociedade pagã, numa vida inconsistente na forma de pensar.
É importante considerar isto na quantidade de depressão
e ansiedade no meio cristão. Será que isto não tem a ver com nosso estilo fútil
de viver? Fazemos viagens cada vez mais caras, compramos perfumes cada vez mais
sofisticados, roupas mais estravagantes, vamos a restaurantes luxuosos, temos carros
maravilhosos, mas apesar disto continuamos vivendo com o coração vazio. Este é
um estilo de vida próprio do homem sem Deus.
- Obscurecidos de
entendimentos – (4.18)
A segunda
característica tem a ver também com a forma de pensar e considerar as coisas. No
que concerne às coisas espirituais, o entendimento do homem pagão é
obnubilado. Tenho visto homens
intelectualmente bem formados, cuja visão de Deus é um fracasso.
Na carta aos Romanos, Paulo descreve este
homem confuso na sua espiritualidade:
“Porquanto,
tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram, nem lhe deram graças, antes se
tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração
insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos” (Rm 1.21-22).
O livro de Provérbios afirma que o temor do
Senhor é o princípio da sabedoria. O homem sem Deus torna-se nebuloso na sua
forma de raciocinar porque exclui o fundamento que é o próprio Deus, que se
encontra por detrás de todas as coisas. Toda a filosofia contemporânea exclui
Deus do sistema, toda ciência moderna tende a ignorar o criador. Torna-se assim
obscurecida de entendimento.
- Alheios à vida de
Deus – (Ef
4.18)
Para o homem pagão, as coisas espirituais não
fazem parte do seu estilo de vida e comportamento. Deus é alguém distante de
sua realidade e não faz sentido profundo, de fato. Por isto, caminhar com Deus,
orar, ler a Palavra, cultuar a Deus não se torna importante. Sua vida está
distanciada de Deus.
O texto bíblico afirma que isto acontece por
causa da “ignorância em que vivem”
(Ef 4.17). Paulo descreve a vida antes do encontro com Jesus. Estávamos
separados de Deus, estranhos à aliança da promessa, não tendo esperança e sem
Deus no mundo (Ef 2.12-13).
- Corações
endurecidos (Ef
4.18).
O resultado disto é trágico. Os afetos são
profundamente tocados, e as emoções se tornam rígidas e endurecidas. As coisas
de Deus não apelam mais aos sentidos e não provocam reações nos corações. O
pecado embrutece o homem. Talvez tenha sido esta a razão de Davi ter orado a
Deus, depois de ter tomado decisões precipitadas e pecaminosas. “Cria em mim, oh Deus, um coração puro, e
renova dentro em mim, um espírito inabalável” (Sl 51.10). Ele percebe o
risco de seu próprio coração, e desesperado volta-se para Deus para recuperar a
sensibilidade. Um coração puro contrasta com um coração endurecido no erro e no
engano.
Dentre as promessas que Deus faz ao seu povo,
uma das mais encantadoras encontra-se no Antigo Testamento: “Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de
vós, espírito novo. Tirarei de vós o coração de pêra e vos darei coração de
carne” (Ez 36.26). coração para os antigos era o Sistema Nervoso central. Ele
promete dar carne e tendões ao povo cujo coração estava seco e sem vida. Deus
promete dar sensibilidade àqueles que se
encontram amortecidos e sem esperança. Deus põe tendões, e faz o corpo
amortecido reagir. Carne é hedonismo, prazer, gosto, poesia, vida,
relacionamentos. Nervos são sentimentos,
emulações de amor.
Qual a conseqüência
deste endurecimento?
O texto bíblico vai descrevendo que se trata
de um processo. Afastamento de Deus afeta a cosmovisão, a forma de pensar e os
sentimentos. O resultado se torna sensível:
- Perda de
sensibilidade – “Tendo-se tornado insensíveis” (Ef 4.19) Corações endurecidos
perdem a capacidade de sentir, tornam-se embrutecidos e animalizados. Deus
quer nos dar um coração novo, para que não se perca a sensibilidade. A Bíblia
fala de pessoas que tiveram suas consciências cauterizadas pelo erro e
pelo engano (1 Tm 4.2). O resultado é apatia, indiferença e depravação
moral.
Muitas vezes temos que dizer sinceramente a
Deus: “Cria em mim, oh Deus, um coração
puro, e renova dentro em mim, um espírito inabalável”. Davi não estava
orando por sua salvação, mas por algo muito sério: Por sensibilidade. Quando
afirma “restitui-me a alegria da tua
salvação, para exultem os ossos que esmagaste” ele está clamando para que a
normalidade divina se torne novamente uma realidade em sua vida. Pecado gera
endurecimento e perda de sensibilidade espiritual.
- Dissolução – “Tendo-se tornado insensíveis, se
entregaram à dissolução (Ef
4.19). Aqui temos um encadeamento de idéias. A mente distanciada de Deus
torna-se embrutecida e seu resultado imediato é a depravação moral. Sem
Deus, o homem se envolve numa vida de pecado e perde o senso de santidade.
O termo “impureza” vem de porneia (pornografia), termo que abrange todas
as áreas do desequilíbrio e da disfuncionalidade na área sexual, atingindo
a ética, os negócios, a família e o dinheiro.
O texto afirma que, com o endurecimento, o
homem se torna ávido e obcecado pelo pecado. Sua mente o leva à impureza e à
devassidão. Equivocadamente pensamos que a decadência moral é um problema da
nossa geração, mas a Bíblia demonstra que é o resultado do homem sem Deus. O apóstolo
Pedro afirma que naqueles dias, muitos pagãos difamava os cristãos e estranhavam
que não concorressem com eles, no mesmo excesso de devassidão (1 Pe 4.4). Na sua segunda carta fala
daqueles que: “Seguindo a carne, andam
com imundas paixões e menosprezam qualquer governo” (2 Pe 2.10).
A partir do vs. 20, O apóstolo Paulo busca um
novo paradigma para esta situação. Este novo estilo de vida se encontra
disponível em Cristo: “não foi assim que
aprendestes a Cristo”. A partir de então, fala do novo homem, e de um
estilo de vida gerado em
Cristo. A proposta de Deus para o seu povo tem outras
características:
i.
Despojamento do velho homem – (Ef 4.22) O termo
“despojar” é um termo militar. Quando os soldados iam para a guerra, assim que
obtinham vitória sobre os inimigos, tiravam deles toda a indumentária, armas, poder e bens. O texto nos ensina que a
obra de Jesus inclui na retirada do poder do pecado. Estas armas precisam ser
retiradas porque este velho homem se corrompe “segundo as concupiscências do engano”.
“Concupiscência”
é outro termo que precisa ser explicado. Trata-se de um desejo pervertido.,
estragado. A verdade é que todas as maças do diabo são bonitas, mas todas elas
tem bicho. Satanás nos seduz e perverte a beleza da criação de Deus. A beleza
do corpo feminino se torna uma provocação, o prazer de comer se torna
glutonaria, degustar um vinho é porta aberta para a bebedice, um filme pode se
tornar uma obra de arte ou se transformar em pornografia. O bem
se torna mal. Há na alma humana uma tendência e à perversão e para estragar as
coisas mais belas. Concupiscência é este desejo estragado.
Para que a concupiscência não domine nossos olhos,
precisamos lutar contra um monstro que reside dentro de nós. Esta velha
natureza caída, que precisa ser restaurada em Cristo. O princípio mais
eficaz contra esta velha natureza é não alimentá-la, mas enfraquecê-la pela
inanição. Por isto há uma exortação clara na carta aos Romanos: “Revesti-vos do
Senhor Jesus Cristo, e nada disponhais para a carne no tocante às suas
concupiscências” (Rm 13.14). Uma outra tradução fala para não fazermos
provisões para a carne. Não podemos alimentar nem dar força à velha natureza. É
necessário “despojar” e retirar suas armas. Isto consiste num processo diário
de arrependimento e conversão.
Ilustração
Ilustração
Certo fazendeiro era conhecido pela sua
virulência e arrogância, mas um dia foi alcançado pela graça de Cristo. O velho
homem com sua arrogância e orgulho agora havia sido confrontado pela serenidade
e pelo mistério de Cristo na cruz. Ele se rendeu a Cristo, de forma profunda e
se abriu para a transformação que o Espírito Santo precisava fazer em sua vida.
Sua história pregressa, porém, havia deixado
muitas pessoas feridas, e certo homem, que antes não ousava
confrontá-lo, achou que esta era a oportunidade. Um dia, o desafiou
abertamente, disse muita bobagem, mas o fazendeiro convertido manteve-se calmo
e brando. Mas as afrontas foram se tornando cada vez maiores, e o fazendeiro
foi deixando a antiga ira e agressividade retornar ao coração. Percebendo que
aos poucos a serenidade de Cristo estava se perdendo, orou em voz alta:
“Senhor, não deixe este velho homem retornar, porque o Senhor sabe o que ele é
capaz de fazer com este homem que me afronta”. Ao terminar de orar, abriu os
olhos e aquele homem já estava longe dele, amedrontado, porque sabia o que
poderia lhe acontecer se o velho homem, a velha natureza, retornasse ao coração
daquele fazendeiro.
ii.
Renovação do entendimento – (Ef 4.23). As velhas
categorias da lógica e do pecado não servem mais e nem a antiga forma de pensar
e de agir, a mesma ética, o mesmo comportamento. Quando somos alcançados por Cristo,
não podemos continuar com o mesmo estilo de vida.
Vida cristã implica num novo pensar. “Vos renoveis no vosso entendimento”. Se a mente não mudar, nossas atitudes não mudam. Cristianismo não é behaviorista, mas aponta para uma obra interna e profunda do Espírito Santo. Muitas vezes achamos que com controles externos se revolve o problema dos impulsos internos. Biblicamente isto é impossível. Não se pode ensinar elefante a dançar balé, assim como não é possível adestrar girafas para andar de skate. São coisas impossíveis, como é impossível uma natureza humana, afastada do Criador, ter uma ética cristã.
Paulo demonstra o que ocorre no ser humano, quando o poder do Evangelho de Cristo lhe alcança: “Assim que nós, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne, e se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já não o conhecemos deste modo. E assim, se alguém está em Cristo é nova criatura; as coisas antigas já passaram, eis que se fizeram novas” (2 Co 5.16,17).
iii.
Revestimento do novo homem – (Ef 4.24) Tome
cuidado com sua antiga natureza. Ela precisa ser despojada. Não a alimente, não
lhe entregue as armas de outrora. A obra do Espírito Santo em nós é nos fazer
um novo homem e nos dar um novo estilo de vida. Encher-se do Espírito significa
em movimentos contínuos, simultâneos e sincrônicos: fazer morrer a velha natureza,
revestir-se do novo homem criado em Cristo Jesus.
Rejeite o pecado,. Achegue-se a Deus. Despojem o velho homem, revistam-se do novo homem. Este novo homem tem duas características:
ü Criado segundo Deus – Não
mais amoldado às paixões da carne, não mais alheios à vida de Deus, mas sendo
diariamente transformados por Deus, para se parecerem com este Deus.
ü Criado em justiça e retidão
procedentes da verdade – Antes vivendo na vaidade dos pensamentos, se entregado
à dissolução e à impureza, agora sendo revestidos do Espírito Santo. Os
substantivos aqui revelam a natureza do que Deus quer formar em nós:
§
Justiça
§
Retidão
§
Verdade
Por isto, precisamos nos revestir deste novo homem. Adotar uma nova roupagem, retirar as roupas e armas do antigo homem. Não alimentá-lo com as paixões, concupiscências, promiscuidade e impureza, mas deixar-se transformar pela maravilhosa obra de Deus em nós, neste maravilhoso processo de nos fazer um novo homem, uma nova criatura.
Conclusão:
Conta-se que o Rei Luiz XIV da França, quando
pequeno foi tirado do palácio por forças rebeldes e levado para viver entre
pessoas bárbaras e desregradas moralmente. Ali recebeu muitas provocações, e os
homens querendo imprimir nele um estilo de vida de depravação questionavam
porque ele não participava das orgias e bebedices comuns entre eles. Sua
resposta dele foi segura e objetiva: “Não posso fazer isto, porque ainda serei
o rei da França”.
Quando entendemos o que Deus está fazendo em
nossa história, e o propósito de amor que ele tem para nossa vida, não mais
podemos viver como vivem os pagãos. Deus, em Cristo, nos deu vida, e nos fez assentar
nos lugares celestiais. Como podemos ainda continuar vivendo neste antigo estilo
de vida, depois que entendemos tudo o que Deus já nos deu? “Por isto vos digo, não
mais andeis como andam os gentios, na vaidade de seus próprios pensamentos”.
Que maravilha de comentário!Toda Glória ao Senhor!
ResponderExcluirMaravilhoso estudo,Deus abençoe
ResponderExcluirExcelente e esclarecedor estudo louvado seja o nosso DEUS para sempre!
ResponderExcluirExcelente e esclarecedor estudo louvado seja o nosso DEUS para sempre!
ResponderExcluirExcelente e esclarecedor estudo louvado seja o nosso DEUS para sempre!
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