segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

2 Tm 4.6-18 Retrospectiva



Introdução:

O grande atrativo dos programas midiáticos do final de ano é a “retrospectiva”. Revistas, jornais e programas de televisão se concentram em relembrar os episódios mais marcantes do ano. É hora de olhar para trás e considerar aquilo que foi de mais relevante, seja isto dolorido ou não, negativo ou positivo.
Parece que no final desta segunda carta que o apóstolo Paulo escreve a Timóteo, ele está fazendo análise de sua própria existência e relatando suas experiências àquele que foi o seu colega mais próximo, Timóteo. Paulo estava no final de sua carreira e tem consciência disto: “Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo de minha partida é chegada” (2 Tm 4.6-18). Ao completar 50 anos, John Maxwell pregou o seguinte sermão: “I’m 50, reflecting!” (estou cinquentão, pensando...). Em tempos de transições, em horas de crises, passagens de ano, é muito importante fazer uma retrospectiva.
Na análise de Paulo, ele faz 4 constatações e estrutura sua vida sobre 3 convicções. Constatações são aquelas coisas percebidas por nós, que dependendo das experiências e do temperamento das pessoas podem ser mais graves, depressivas ou mais leves; convicções são os fundamentos e alicerces. Aconteça o que acontecer, nossa vida precisa estar pautada em convicções, e não em sentimentos, pessoas ou circunstâncias, caso contrário, perdemos a própria fé.

Constatações:

1.      Os amigos nem sempre ficam por perto – Principalmente em dias de tribulação. Lutero afirmou: “O momento mais difícil da vida de um homem é a hora de sua morte, porque nenhum amigo poderá atravessar com ele”.

Paulo demonstra isto claramente, ao escrever esta carta de uma prisão. Ele desejava a presença de Timóteo com ele, talvez para conversar, desabafar, orar junto. Por isto diz: “Procura vir ter comigo depressa”(2 Tm 4.9). Já se sentiu assim, com vontade de ter alguém por perto? Caminhando contigo? Você se sente solitário?

No texto ele cita algumas pessoas. Parece que está desapontado com Demas: “Demas, tendo amado o presente século, me abandonou e foi para Tessalônica”(2 Tm 4.10). Por outras razões mais pessoais ou históricas Crescente foi para a Galácia e Tito para a Dalmácia ”(2 Tm 4.10). Pessoas passam por nossas vidas, entram e saem dela. Alguns por motivos corretos, outros por motivos questionáveis, mas o fato é que nem sempre nossos amigos ficam por perto.

Paulo constata ainda que eventualmente somos literalmente desamparados. “Estás ciente de que todos os da Ásia me abandonaram, dentre eles cito Fígelo e Hermógenes” (2 Tm 1.15). Percebemos como ele estava precisando de gente do seu lado quando vemos sua alegria no encontro que teve com Onesíforo, “Porque, muitas vezes, me deu ânimo (...) e tendo chegado a Roma, me procurou solicitamente até me encontrar” (2 Tm 1.16-17).
2.       
Nosso corpo precisa de cuidados  – Paulo pede a Timóteo: “quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo” (2 Tm 4.13). A estação fria estava chegando e ele precisava encontrar meios para que não sofresse com o desconforto que o inverno poderia trazer.

Muitas vezes sentimos que é hora de cuidar de nosso corpo. A maioria das pessoas anda no automático, mas chega um momento em que o corpo parece exigir determinada atenção especial e cuidado. Paulo percebe que precisa se cuidar. Ele demonstra preocupação com a condição física também de Timóteo quando diz: “tem cuidado de ti mesmo e da doutrina” (1 Tm 4.16). Doutrina se refere ao que ele cria, mas cuidar de si mesmo tem a ver com o bem estar geral do corpo, da mente, das emoções. Faz uma recomendação aparentemente esdrúxula “Não continues a beber somente água; usa um pouco de vinho, por causa do teu estomago e das tuas frequentes enfermidades” (1 Tm 5.23). Tudo isto demonstra como é necessário cuidar do corpo, afinal, um corpo enfermo perde a eficiência e a capacidade de realizar suas tarefas diárias.  


3.       Nossa mente precisa ser exercitada 
Quando vieres, traze a capa (...) bem como os livros, especialmente os pergaminhos” (2 Tm 4.13). Com o passar dos anos vamos constatando a necessidade de manter a mente ocupada, pensando em coisas boas, pensando nas verdades dos céus, nos princípios de Deus.

Quando a mente fica desocupada, passa a imaginar coisas, ser consumida por ansiedades e preocupações tolas. Paulo recomenda ao próprio Timóteo que se aplique ao estudo. “Até a minha chegada, aplica-te à leitura”(1 Tm 4.13).  Muita depressão e desânimo é um movimento de retroalimentação de pensamentos e ideias errôneas que podem ser corrigidas na medida em que lemos a Palavra, refletimos sobre um bom livro devocional, um bom romance. Nossa mente não pode ficar desocupada, vazia, para não dar espaços às setas que Satanás sempre tem lançado nela para gerar dúvidas, confundir e enganar.


4.       Não consuma sua vida com opositores
 Deixe isto com Deus. Paulo relata que um homem chamado Alexandre, cuja profissão era a de latoeiro, havia lhe causado grandes males. Em geral, situações assim consomem muito vigor e alegria. Qual a resposta que Paulo dá a atitude deste homem? Ele o entrega a Deus. “O Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras”(2 Tm 4.14).

Se pararmos cada vez que encontrarmos problemas e ficarmos remoendo o mal que nos fizeram, não vamos avançar. Recentemente li um comentário de uma menina que foi abusada pelo famoso cineasta Polanski, quando ela tinha 14 anos de idade. Sua declaração me impactou: “Eu o perdoei, não por causa dele, mas para que eu pudesse continuar vivendo”.

Não fique pensando em vingança ou retribuição. Isto não é sua tarefa. Deixe as coisas nas mãos de Deus. “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas daí lugar à ira de Deus, porque está escrito, A mim me pertence a vingança, eu é que retribuirei, diz o Senhor” (Rm 12.19). Vingança é um prato que se come cru. Portanto, não fique se lamentando com o esquecimento, incompreensão, traição, abandono, maldade dos outros. Paulo é realista. “Na minha primeira defesa, ninguém foi a meu favor; antes, todos me abandonaram. Que isto não lhe seja posto em conta!” (2 Tm 4.16). Ele advoga em favor daqueles que o abandonaram, ao invés de se remoer em amargura e ressentimento.


Após estas quatro constatações, ele fala de três convicções que o sustentavam:

Primeiro, Ele se Fortalecia no Senhor!

Paulo sustenta sua vida em Deus. “O Senhor me assistiu e me revestiu de forças”(2 Tm 4.17). Estava preso, sendo acusado, sentindo-se abandonado, faltando amigos, o frio chegando, mas ele sabe onde buscar forças e assim é tratado pelo próprio Deus. Muitas vezes os desafios são enormes, a vida se torna complexa e pesada. Onde encontrar forças? Como não sucumbir às provocações e perdas? Encontra sua força no próprio Deus.

Não sei se sabemos exatamente disto na prática, porque todas as vezes em que nos sentimos sós, buscamos outros caminhos e quase nunca o Senhor. A Bíblia nos fala que quando Davi viu sua casa saqueada por inimigos, e seus filhos sendo levados como reféns, e os próprios amigos o responsabilizando e o acusando pela situação que enfrentavam, ele buscou o Senhor. O texto afirma que “Davi se reanimou no Senhor”(1 Sm 29.6).

Existe um texto na Bíblia que ensina: “A alegria do Senhor é a nossa força”(Ne 8.10). O que significa isto? Deus tem uma alegria capaz de nos fortalecer em tempos de angústias e solidão. Esta alegria é encorajadora e renovadora. E nela, e não em entretenimentos, pessoas ou viagem que encontraremos a graça necessária para viver.

 

Segundo, Ele não perdia seu foco 

Não é muito difícil nos esquecermos do chamado de Deus para nossas vidas. Paulo recupera seu senso de missão e vocação: “O Senhor me assistiu e me revestiu de forças, para que, por meu intermédio, a pregação fosse plenamente cumprida”(2 Tm 4.17). Sublinhei propositalmente o “para que”. Paulo sabia que sua vida era um instrumento de Deus para abençoar outros. Quando esquecemos a natureza de nosso chamado e a razão da própria existência, perdemos o senso de propósito, sentido, missão e vocação.

De vez em quando temos que nos perguntar porque existimos. É comum pessoas mais idosas serem acometidas com o sentimento de que não servem para mais nada, principalmente aquelas que lideraram e labutaram tanto na obra do Senhor. É comum dizerem: “Não sirvo para mais nada, minha saúde anda ruim, não tenho mais disposição”. Nesta hora precisamos recordar que se estamos aqui nesta terra é por uma razão. Quão poderosas são as orações daqueles que estão numa cama e enfermos, mas não param de orar pelas novas gerações, pela liderança de sua igreja, pelo Reino de Deus. Quanto a obra de Deus tem avançado por causa destas pessoas “sem possibilidades”, que estão orando em favor de tantas outras e abençoando tão poderosamente o reino com suas incessantes orações.

 

Terceiro, Ele contava com a proteção de Deus

 O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém!” (2 Tm 4.18). Inúmeras vezes aplico este texto a pessoas acuadas pelo inimigo, ameaçadas na sua integridade espiritual e física pelas obras do diabo. Com este texto ainda cito 1 Jo 4.4: “Filhinhos, vós sois de Deus e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que está em vós que aquele que está no mundo”. Muitas vezes nos sentimos ameaçados, encurralados, nestas horas precisamos nos lembrar que “Aquele que nasceu de Deus, Deus o guarda e o maligno não lhe toca” (1 Jo 5.19). Eu não me encontro nas mãos das circunstâncias cegas, de um mundo mal, de pessoas malignas, mas nas mãos de um Deus providente e bom, que me ama. Minha esperança está no Senhor. Minha vida está sendo conduzida por Ele.

 Conclusão:

Podemos ter uma retrospectiva de gratidão e celebração, ou de desistência e amargura. A primeira nos leva a louvar a Deus, a segunda nos leva ao desencorajamento, desânimo e morte. Ouvi certa vez uma declaração que expressava o cansaço de um servo do Senhor. Ele dizia que “com o passar dos anos, estava se tornando mais cínico, cético e grosso”. Este é um perigo muito grande que corremos, de nos tornarmos amargos na nossa velhice.


O Sl 23.8 afirma: “Bondade e misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida”. Deus não vai caminhar comigo até a metade. Ele vai continuar me guiando e me abençoando. Crer na soberania de Deus é um das coisas mais confortantes e que trazem grande descanso para as nossas almas, desde que eu não tenhamos a idéia subjacente de um Deus mal. Deus é bom em todo o tempo. Ele dirige a história. “O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial”.

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