segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

1 Ts 2.1-8 Ministério Aprovado


Introdução:

Na medida que envelheço, vou criando uma percepção que espero seja equivocada, de que se torna cada vez mais difícil ser pastor. Existem três classes que são odiadas pelos meios de comunicação e eventos populares: Políticos, polícia e pastores. Todos começam com a letra “P”.  Em algumas instituições de crédito, o desprestígio dos pastores é tão grande que não se concede aos mesmos a possibilidade de uma linha de crédito. Fala-se muito contra a discriminação de determinados grupos sociais, e eu estou convencido de que precisamos criar um sindicato para defesa e lobbies em defesa dos pastores... obviamente estou brincando...
Além das pressões externas, ainda enfrentamos crises internas. Uma realidade assustadora são as heresias e desvios teológicos, na verdade nada disto é novo, o apóstolo Paulo já exortava a igreja neste sentido: "acautelai-vos dos maus obreiros" (Fp 3.1). Lidamos ainda com a vaidade pastoral: Jesus era tão humano que era difícil vê-lo como Deus, muitos são tão divinos que é difícil vê-los como humanos. Muitos pastores se olham no espelho e cantam: "Quão grande és tu!".

Neste texto, a Palavra de Deus nos fala do perfil do pastor aprovado. Esta lista é inconfundível e precisa ser considerada.

Perfil Pastoral Aprovado:

1.       Caracterizado por frutos – "Nossa estada entre vós, nao se tornou infrutífera"(1 Ts 2.1)

O ministério frutífero se caracteriza por duas coisas: Uma subjetiva, outra objetiva. A primeira se refere à vidas transformadas, a corações que são tocados, famílias restauradas, conversões. Muitas vezes os resultados subjetivos são impossíveis de serem mensurados. O fator objetivo é bem mais fácil de perceber: São os frutos que se evidenciam em pessoas batizadas, conversões perceptíveis e o crescimento da igreja.
Meu colega de ministério nos Estados Unidos, Pr. Terry Giger, certo dia encontrou-se com um pastor Luterano em Cambridge, cuja comunidade ficava a poucos metros de onde estávamos, e ele, com lagrimas, relatou que estava naquela igreja por 12 anos, sem nunca ver um fruto, sem nunca batizar alguém. Pensei no meu coração que isto para mim seria algo tão dolorido que não sei se continuaria no pastorado.
Quando lemos o Novo Testamento, vemos que a Igreja primitiva não era numerólatra, isto é, não idolatrava números, mas ao mesmo tempo constatamos que também não era numerófoba, por várias vezes vemos no Atos dos Apóstolos registros de crescimento da igreja, o número de pessoas que se reunia e de gente que era batizada. O chamado pastoral implica em frutos (Jo 15.2,8). Precisamos orar para que vidas se convertam, pessoas sejam atraídas ao evangelho, que a nossa igreja cresça, que o Reino de Deus se expanda. Em 2005, fiz uma oração bem específica a Deus, pedindo para que nos abençoasse dando-nos frutos sazonados. Deus tem nos surpreendido de forma maravilhosa com o crescimento de nossa igreja.
Obviamente resultados não são indicadores verdadeiros de aprovação de Deus: Jonas foi um fracasso, apesar do seu sucesso. Jesus, depois de 3 anos de ministério, tinha ainda um grupo muito pequeno, gente frágil, instável e dúbia, mas apesar do seu fracasso, foi bem sucedido. Por outro lado, resultados apontam para saúde. Igreja, assim como um organismo vivo reproduz, nutre e cresce, quando possui saúde. Para Paulo, resultados revelavam aprovação: Paulo reivindica seus frutos para confirmar sua aprovação ministerial (1 Ts 2.19); Certa vez foi questionado sobre seu apostolado e respondeu que suas credenciais eram as vidas que foram transformadas pelo seu ministério. Neste texto lido, ele faz questão de demonstrar a autenticidade através dos frutos. Existe aqui um princípio ambíguo: Resultados não são indicadores verdadeiros de aprovação de Deus, mas ao mesmo tempo, resultados revelam aprovação do ministério como vimos no texto.

2.       Foco em agradar a Deus (1 Ts 2.2). "Pois a nossa exortação não procede de engano, nem de impureza, nem se baseia em dolo, pelo contrário, visto que fomos aprovados por deus, a ponto de nos confiar ele o evangelho, assim falamos, não para que agrademos a homens, e sim a Deus, que prova o nosso coração" (1 Ts 2.3-4)
Por causa da necessidade que temos de aceitação e aclamação pública, podemos correr o risco de nos tornarmos “politicamente corretos”, pregando para satisfazer o narcisismo e egoísmo da vaidade pessoal dos pecadores. Contudo, o foco de nosso ministério, não pode ser glória pessoal, promoção humana, nem burocracia eclesiástica, mas a pregação da mensagem transformadora do Evangelho e a glória de Deus.
No ministério, existe sempre o perigo da distração. Paulo cita o termo Evangelho, quatro vezes aqui nestes versos (2,4,8,9). Quem tem foco na glória de Deus, não deixa de anunciar a mensagem autêntica, não mercadeja a palavra. Noutro texto afirma que é grato pelo privilégio de pregar "as insondáveis riquezas de Cristo". Que honra! Sua função não era entreter as pessoas, mas anunciar as verdades de Deus.
Pregadores correm grave risco, de viverem em torno de aprovação e aplausos humanos. Todos precisamos de apreciação, mas não podemos depender disto. Um dos maiores pecados pastorais é a bajulação. Quem tem foco em Deus não depende de reconhecimento humano, Pessoas querem ser bajuladas. Cazuza na sua música Maior Abandonado registra como a carência afetiva nos torna ridículos: “Migalhas dormidas do teu pão, raspas e restos me interessam. Pequenas porções de ilusão Mentiras sinceras me interessam”. Quando pastores dependem da aprovação popular, passam a pregar apenas o que as pessoas querem ouvir.
Ministros do Evangelho são aprovados quando servem a Deus e querem agradá-lo, e não se enrosca nas armadilhas da aprovação humana. Seu foco está em Deus.

3.       Marca da autenticidade - "Pois a nossa exortação não tem origem no erro, nem em motivos impuros, nem temos a intenção de enganá-los; pelo contrário, como homens aprovados por Deus, a ponto de nos ter sido confiado por ele o evangelho, não falamos para agradar a pessoas, mas a Deus, que prova os nossos corações" (1 Ts 2.3). Talvez integridade seja uma palavra que sintetize estes versículos.
Integridade não é um acessório, mas a essência da vida cristã. Quando ele diz "fomos aprovados por Deus" (1 Ts 2.4), está sugerindo que já recebemos a maior distinção possível, nada pode se comparar a ela. Quando desejamos ser sempre apreciado pelos homens, perdemos nossa integridade. Paulo afirma que não usava linguagem de bajulação (2.5); não possuía intuitos gananciosos (2.5), e que sua glória estava na cruz (1 Ts 2.6).
Autenticidade surge quando estamos certos de que Já fomos aprovados por Deus, ele já nos aceitou. Este é o princípio da autenticidade: O que determina não é o que eu faço, mas o que eu sou!

4.       Marca da afetividade – (1 Ts 2.11) Aqui surge uma dialética complexa na vida pastoral. Precisa ser autêntico, ser firme na Palavra, e precisa ser afetivo com todos, "Pois vocês sabem que tratamos cada um como um pai trata seus filhos" (1 Ts 2.11) "como uma mãe que cuida dos próprios filhos" (1 Ts 2.7). Precisamos ser firmes, mas gentis, verdadeiros mas amáveis. A tendência é polarizar: Ou nos tornamos pastores bajuladores que não dizem a verdade; ou pastores ortodoxos, que não sabem amar, secos nos seus relacionamentos e desamorosos na comunicação da verdade. Paulo não era bajulador, mas era afetivo. Afetividade é sua palavra de ordem. Não é um pastor “mau humorado”, chato. Ele usa uma linguagem paterna:
o       “como uma mãe que acaricia seus filhos”
o       “Como pais”(2.11)
Este é o princípio do enternuramento que deve nortear a alma de um pastor, porque "se não tiver amor, será como bronze que são , ou como o sino que retine!".

5.       Espírito Sacrificial – “Embora como apóstolos de Cristo, pudéssemos ter sido um peso, tornamo-nos bondosos entre vocês, como uma mãe que cuida dos próprios filhos" (1 Ts 2.7).Paulo afirma que estava pronto a “oferecer a própria vida” (2 Ts 2.8); que seu ministério era marcado por “labor e fadiga”. Infelizmente não são raros os exemplos de pastores desencorajados, desfocados, desanimados e deprimidos. E que se tornam profissionais em sua abordagem. Paulo afirma que abriu mão do seu salário – (2 Ts 2.7). Será que conseguiríamos agir assim?
Vivemos dias em que, se todas as condições salariais não forem estabelecidas, se o pacote não estiver pronto, não faremos ministério, neste caso, sem que as condições financeiras estejam estabelecidas, não há ministério.
A Igreja Presbiteriana remunera bem seus pastores, por isto certo colega Paulo Elias ainda no seminário me disse: “Tenho medo da estabilidade que a igreja dá, isto me faz depender pouco de Deus".
É certo que muitas igrejas não querem pastor humilde, mas pastor humilhado. Paulo ao escrever aos Filipenses disse que nenhuma igreja havia partilhado de seu sustento, exceto os irmãos de Filipos. Ele fora enviado por outra igreja ao campo missionário. Eu teria ficado envergonhado, se fosse de uma igreja e outras comunidades tivessem que sustentar o salário do meu pastor.

Conclusão:

Pastores não são super-heróis, nem semi-deuses, nem super-humanos. João batista era excêntrico (roupas de pele de camelo e dieta de mel e gafanhoto silvestre); Paulo pregava longos sermões e a igreja reclamava (2 Co 10.10), certa vez um rapazinho adormeceu no meio de seu sermão e tiveram um grave acidente. Ezequiel era propenso a visões e via anjos na igreja; Tiago era explosivo.
No entanto, Deus nunca chamou os habilitados, mas sempre habilitou os chamados.

As marcas dos frutos, do foco em agradar a Deus, do sacrifício, da afetividade e da autenticidade, nos falam de um ministério aprovado.

Um comentário:

  1. É para mim uma honra acessar ao seu blog e poder ver e ler o que está a escrever é um blog simpático e aqui aprendemos, feito com carinhos e muito interesse em divulgar as suas ideias, é um blog que nos convida a ficar mais um pouco e que dá gosto vir aqui mais vezes.
    Posso afirmar que gostei do que vi e li,decerto não deixarei de visitá-lo mais vezes.
    Sou António Batalha.
    Aproveito para lhe desejar um feliz Natal e um Ano-Novo cheio de felicidades.
    PS.Se desejar visite O Peregrino E Servo, e se ainda não segue pode fazê-lo agora, mas só se gostar, eu vou retribuir seguindo também o seu.
    Que a Paz de Jesus esteja no seu coração e no seu lar.

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