Introdução:
Na medida que envelheço,
vou criando uma percepção que espero seja equivocada, de que se torna cada vez
mais difícil ser pastor. Existem três classes que são odiadas pelos meios de
comunicação e eventos populares: Políticos, polícia e pastores. Todos começam
com a letra “P”. Em algumas instituições
de crédito, o desprestígio
dos pastores é tão grande que não se concede aos mesmos a possibilidade de uma
linha de crédito. Fala-se muito contra a discriminação de determinados grupos
sociais, e eu estou convencido de que precisamos criar um sindicato para defesa
e lobbies em defesa dos pastores... obviamente estou brincando...
Além das pressões externas, ainda enfrentamos
crises internas. Uma realidade assustadora são as heresias e desvios
teológicos, na verdade nada disto é novo, o apóstolo Paulo já exortava a igreja
neste sentido: "acautelai-vos dos maus obreiros" (Fp 3.1).
Lidamos ainda com a vaidade pastoral: Jesus era tão humano que era difícil
vê-lo como Deus, muitos são tão divinos que é difícil vê-los como
humanos. Muitos pastores se olham no espelho e cantam: "Quão grande és
tu!".
Neste texto, a
Palavra de Deus nos fala do perfil do pastor aprovado. Esta lista é
inconfundível e precisa ser considerada.
Perfil Pastoral Aprovado:
1.
Caracterizado por frutos – "Nossa estada entre vós, nao se tornou infrutífera"(1 Ts 2.1)
O ministério frutífero se caracteriza por duas
coisas: Uma subjetiva, outra objetiva. A primeira se refere à vidas
transformadas, a corações que são tocados, famílias restauradas, conversões.
Muitas vezes os resultados subjetivos são impossíveis de serem mensurados. O
fator objetivo é bem mais fácil de perceber: São os frutos que se evidenciam em
pessoas batizadas, conversões perceptíveis e o crescimento da igreja.
Meu colega de ministério nos Estados Unidos,
Pr. Terry Giger, certo dia encontrou-se com um pastor Luterano em Cambridge,
cuja comunidade ficava a poucos metros de onde estávamos, e ele, com lagrimas,
relatou que estava naquela igreja por 12 anos, sem nunca ver um fruto, sem
nunca batizar alguém. Pensei no meu coração que isto para mim seria algo tão
dolorido que não sei se continuaria no pastorado.
Quando lemos o Novo Testamento, vemos que a Igreja
primitiva não era numerólatra, isto é, não idolatrava números, mas ao mesmo
tempo constatamos que também não era numerófoba, por várias vezes vemos no Atos
dos Apóstolos registros de crescimento da igreja, o número de pessoas que se
reunia e de gente que era batizada. O chamado pastoral implica em frutos (Jo
15.2,8). Precisamos orar para que vidas se convertam, pessoas sejam atraídas ao
evangelho, que a nossa igreja cresça, que o Reino de Deus se expanda. Em 2005,
fiz uma oração bem específica a Deus, pedindo para que nos abençoasse dando-nos
frutos sazonados. Deus tem nos surpreendido de forma maravilhosa com o
crescimento de nossa igreja.
Obviamente resultados não são indicadores
verdadeiros de aprovação de Deus: Jonas foi um fracasso, apesar do seu sucesso.
Jesus, depois de 3 anos de ministério, tinha ainda um grupo muito pequeno,
gente frágil, instável e dúbia, mas apesar do seu fracasso, foi bem sucedido.
Por outro lado, resultados apontam para saúde. Igreja, assim como um organismo
vivo reproduz, nutre e cresce, quando possui saúde. Para Paulo, resultados
revelavam aprovação: Paulo reivindica seus frutos para confirmar sua aprovação
ministerial (1 Ts 2.19); Certa vez foi questionado sobre seu apostolado e
respondeu que suas credenciais eram as vidas que foram transformadas pelo seu
ministério. Neste texto lido, ele faz questão de demonstrar a autenticidade
através dos frutos. Existe aqui um princípio
ambíguo: Resultados não são indicadores verdadeiros de aprovação de Deus,
mas ao mesmo tempo, resultados revelam aprovação do ministério como vimos no
texto.
2.
Foco em agradar a Deus (1 Ts 2.2). "Pois a nossa exortação não procede de engano, nem de impureza, nem se baseia em dolo, pelo contrário, visto que fomos aprovados por deus, a ponto de nos confiar ele o evangelho, assim falamos, não para que agrademos a homens, e sim a Deus, que prova o nosso coração" (1 Ts 2.3-4).
Por causa da necessidade que temos de aceitação e aclamação pública,
podemos correr o risco de nos tornarmos “politicamente corretos”, pregando para
satisfazer o narcisismo e egoísmo da vaidade pessoal dos pecadores. Contudo, o foco de nosso
ministério, não pode ser glória pessoal, promoção humana, nem burocracia
eclesiástica, mas a pregação da mensagem transformadora do Evangelho e a glória
de Deus.
No ministério, existe
sempre o perigo da distração. Paulo cita o termo Evangelho, quatro vezes
aqui nestes versos (2,4,8,9). Quem tem foco na glória de Deus, não deixa de
anunciar a mensagem autêntica, não mercadeja a palavra. Noutro texto afirma que
é grato pelo privilégio de pregar "as insondáveis riquezas de
Cristo". Que honra! Sua função não era entreter as pessoas, mas
anunciar as verdades de Deus.
Pregadores correm
grave risco, de viverem em torno de aprovação e aplausos humanos. Todos
precisamos de apreciação, mas não podemos depender disto. Um dos maiores pecados
pastorais é a bajulação. Quem tem foco em Deus não depende de reconhecimento
humano, Pessoas querem ser bajuladas. Cazuza na sua música Maior Abandonado registra como a carência afetiva nos torna
ridículos: “Migalhas dormidas do teu pão, raspas e restos me
interessam. Pequenas porções de ilusão Mentiras sinceras me interessam”. Quando
pastores dependem da aprovação popular, passam a pregar apenas o que as pessoas
querem ouvir.
Ministros do Evangelho
são aprovados quando servem a Deus e querem agradá-lo, e não se enrosca nas
armadilhas da aprovação humana. Seu foco está em Deus.
3.
Marca da autenticidade - "Pois a nossa exortação não tem origem no erro, nem em motivos impuros, nem temos a intenção de enganá-los; pelo contrário, como homens aprovados por Deus, a ponto de nos ter sido confiado por ele o evangelho, não falamos para agradar a pessoas, mas a Deus, que prova os nossos corações" (1 Ts 2.3). Talvez integridade seja uma palavra que sintetize estes versículos.
Integridade
não é um acessório, mas a essência da vida cristã. Quando ele diz "fomos
aprovados por Deus" (1 Ts 2.4), está sugerindo que já recebemos
a maior distinção possível, nada pode se comparar a ela. Quando desejamos ser
sempre apreciado pelos homens, perdemos nossa integridade. Paulo afirma que não
usava linguagem de bajulação (2.5); não possuía intuitos gananciosos (2.5), e que
sua glória estava na cruz (1 Ts 2.6).
Autenticidade surge
quando estamos certos de que Já fomos aprovados por Deus, ele já nos aceitou. Este
é o princípio da autenticidade: O
que determina não é o que eu faço, mas o que eu sou!
4.
Marca da afetividade – (1 Ts 2.11) Aqui surge uma dialética complexa
na vida pastoral. Precisa ser autêntico, ser firme na Palavra, e precisa ser
afetivo com todos, "Pois vocês sabem que tratamos cada um como um pai trata seus filhos" (1 Ts 2.11) "como uma mãe que cuida dos próprios filhos" (1 Ts 2.7). Precisamos
ser firmes, mas gentis, verdadeiros mas amáveis. A tendência é polarizar: Ou nos
tornamos pastores bajuladores que não dizem a verdade; ou pastores ortodoxos,
que não sabem amar, secos nos seus relacionamentos e desamorosos na comunicação
da verdade. Paulo não era bajulador, mas era afetivo. Afetividade é sua palavra
de ordem. Não é um pastor “mau humorado”, chato. Ele usa uma linguagem paterna:
o
“como
uma mãe que acaricia seus filhos”
o
“Como
pais”(2.11)
Este é o princípio do enternuramento que deve nortear a alma de um
pastor, porque "se
não tiver amor, será como bronze que são , ou como o sino que retine!".
5.
Espírito Sacrificial – “Embora como apóstolos de Cristo, pudéssemos ter sido um peso, tornamo-nos bondosos entre vocês, como uma mãe que cuida dos próprios filhos" (1 Ts 2.7).Paulo afirma que
estava pronto a “oferecer a própria vida” (2 Ts 2.8); que seu ministério era
marcado por “labor e fadiga”. Infelizmente não são raros os exemplos de pastores
desencorajados, desfocados, desanimados e deprimidos. E que se tornam
profissionais em sua abordagem. Paulo afirma que abriu mão do seu salário – (2
Ts 2.7). Será que conseguiríamos agir assim?
Vivemos dias em que,
se todas as condições salariais não forem estabelecidas, se o pacote não estiver
pronto, não faremos ministério, neste caso, sem que as condições financeiras estejam
estabelecidas, não há ministério.
A Igreja Presbiteriana
remunera bem seus pastores, por isto certo colega Paulo Elias ainda no seminário
me disse: “Tenho medo da estabilidade que a igreja dá, isto me faz depender
pouco de Deus".
É certo que muitas
igrejas não querem pastor humilde, mas pastor humilhado. Paulo ao escrever aos
Filipenses disse que nenhuma igreja havia partilhado de seu sustento, exceto os
irmãos de Filipos. Ele fora enviado por outra igreja ao campo missionário. Eu
teria ficado envergonhado, se fosse de uma igreja e outras comunidades tivessem
que sustentar o salário do meu pastor.
Conclusão:
Pastores não são super-heróis, nem
semi-deuses, nem super-humanos. João batista era excêntrico (roupas de pele de
camelo e dieta de mel e gafanhoto silvestre); Paulo pregava longos sermões e a
igreja reclamava (2 Co 10.10), certa vez um rapazinho adormeceu no meio de seu
sermão e tiveram um grave acidente. Ezequiel era propenso a visões e via anjos
na igreja; Tiago era explosivo.
No entanto, Deus nunca chamou os habilitados,
mas sempre habilitou os chamados.
As marcas dos frutos, do foco em agradar a Deus,
do sacrifício, da afetividade e da autenticidade, nos falam de um ministério aprovado.
É para mim uma honra acessar ao seu blog e poder ver e ler o que está a escrever é um blog simpático e aqui aprendemos, feito com carinhos e muito interesse em divulgar as suas ideias, é um blog que nos convida a ficar mais um pouco e que dá gosto vir aqui mais vezes.
ResponderExcluirPosso afirmar que gostei do que vi e li,decerto não deixarei de visitá-lo mais vezes.
Sou António Batalha.
Aproveito para lhe desejar um feliz Natal e um Ano-Novo cheio de felicidades.
PS.Se desejar visite O Peregrino E Servo, e se ainda não segue pode fazê-lo agora, mas só se gostar, eu vou retribuir seguindo também o seu.
Que a Paz de Jesus esteja no seu coração e no seu lar.