Introdução:
A
maioria dos livros possui notas de rodapé que servem para orientar o leitor
mais atento e desejoso de aprofundar seu conhecimento sobre determinado assunto,
fazer pesquisas posteriores, recomendar textos correlatos e autores que podem
ajudar na pesquisa. Ultimamente os livros tem colocado as notas no final, o que
certamente não aprecio, porque quando queremos vê-las precisamos de um marcador,
ou pachorrentamente, ir atrás das citações.
Ao
escrever suas cartas pastorais (Timóteo e Tito), o objetivo do apóstolo Paulo
era orientar os jovens pastores naqueles temas que não deviam ser
negligenciados, e na medida em que a carta vai se encerrando, temos a impressão
de que ele deseja frisar os mesmos para não serem esquecidos.
Neste
texto ele dá várias sugestões a Timóteo:
1.
Mantenha-se firme na
doutrina – O termo “doutrina” causa reação alérgica em muitas pessoas. Não é
raro ouvirmos pessoas dizendo que não gostam destas coisas de doutrinas. No
entanto, doutrina é um termo bíblico, e se refere ao conjunto de ensinamentos
sobre determinados assuntos, e especialmente aqueles relacionados às coisas de Deus.
Por exemplo, uma das características positivas da Igreja Primitiva é o
fato de que ela “perseverava na doutrina dos apóstolos e na comunhão” (At
2.42). Várias vezes Paulo exorta Timóteo a se firmar na “boa doutrina”(1 Tm
4.6); no “firme fundamento” (2 Tm 2.19), na “doutrina”(1 Tm 4.16) e na “sã
doutrina” (2 Tm 4.3). Se existe a doutrina que é sã, entendemos que existe
outra que é doente. Ele faz isto, entre outras razões:
A.
Porque existem “outras doutrinas” (1Tm 6.3)- Paulo
afirma na carta aos Gálatas que alguns estavam pregando “outro evangelho”(Gl 1.8). Doutrinas falsas e ensinamentos de demônios
surgiam nos dias apostólicos. A quantidade de falsos ensinos e mestres podem
ser obervados na advertência que Jesus faz aos “falsos Cristos e falsos
profetas”, que Paulo sobre “falsos obreiros” (Fp 3.1-3). Judas e Pedro advertem
as igrejas várias vezes. Suas cartas praticamente falam destes homens que
sorrateiramente entravam na igreja primitiva ensinando aquilo que não era
verdadeiro.
B.
Logo após os dias dos apóstolos, centenas de
textos falsos e mentirosos foram espalhados no meio da igreja nascente. Eram textos
gnósticos, com mensagens espúrias, que traziam grandes crises teológicas para a
igreja. Durante
toda história, as heresias se espalharam como uma fogueira. Nos tempos dos pais
do deserto surgiram heresias como docetismo, gnosticismo, arianismo, etc., nos
dias da Reforma era popular a venda de indulgências (perdão de pecados),
sinomia (cargos religiosos que eram dados em troca de benefícios políticos) e
adoração de relíquias. Os Reformadores do Século XVI tiveram grande dificuldade
em estabelecer os sólidos fundamentos da fé baseados apenas na Bíblia;
C.
Nos
dias atuais, são inúmeras as quantidades de heresias. Recentemente Ricardo
Gondim afirmou com todas as letras que não cria na vinda literal de Cristo, da
forma como Paulo afirma, e sim na sua volta como um “horizonte utópico”, que a
igreja de Cristo mirava e se dirigia nesta direção, como um arco-íris, que a
gente vê mas não pode ser encontrado. A vinda de Cristo seria uma forma poética
de falar da esperança. Ele mencionou em seu
vídeo a teologia da esperança, do filósofo alemão Jurgen Möltmann, que vê a
volta de Cristo “como um ânimo, uma força motivadora, para que sejamos os
agentes transformadores da história” e que a volta de Cristo é utopia. http://portugues.christianpost.com/news/ricardo-gondim-e-fabrica-de-hereges-vinda-de-jesus-e-utopia-2077/
Outro
conhecido pastor, Caio Fábio, em seu web programa Papo
de Graça, afirma que há incoerências na Bíblia, que foram criadas a partir do
Evangelho, com a conduta e ensinamentos de Jesus, que ao morrer na cruz e
estabelecer o tempo da graça, tornou diversos ditos da Bíblia em desuso. Para ele, “Não
dá para ser de Jesus e obedecer a Bíblia toda. Quem quiser ser só de Jesus vai
ter que esquecer um monte de coisas da Bíblia, que morreram na cruz, pelas
quais Jesus morreu. Quem entender, entendeu”. http://noticias.gospelmais.com.br/caio-fabio-nao-jesus-obedecer-biblia-toda-assista-61111.html.
Ed
René Kivitz faz também afirmações estranhos dizendo que antes acreditava que apenas os cristãos
seriam salvos, mas que agora acredita que o Espírito de Deus está em toda a
humanidade, que os seres humanos anseiam por Deus e que isso efetivamente
vem de Jesus, e que ficaremos surpresos ao chegarmos ao céu e percebermos lá
toda a humanidade, isto é, crentes, incrédulos, pessoas que nunca acreditavam
em Cristo, juntas louvando ao Senhor. Segundo o pastor batista as pessoas
perguntarão as outras como chegaram ali? E todos dirão, foi Jesus. http://www.cacp.org.br/pr-kivitz-defende-a-heresia-do-universalismo/
Neste
texto lido Paulo afirma “Se alguém ensina
outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo
e com o ensino segundo a piedade, é enfatuado, nada entende, mas tem manias por
questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações,
suspeitas malignas”. (1 Tm 6.3-4). Portanto, firme-se na doutrina, na boa
doutrina, na sã doutrina, e tenha cuidado com “outras doutrinas”.
2. Aprenda
a viver com contentamento
O texto
afirma: “De fato, grande fonte de lucro é
a piedade com o contentamento” (1 Tm 6.6). Curiosamente, o texto anterior
fala de “homens cuja mente é pervertida
e, privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro”. Isto é,
são homens que acreditam que podem tirar vantagem financeira por serem
seguidores de Cristo. Ele diz, que a grande e genuína fonte de lucro que temos
com o Evangelho é encontrar prazer em viver um estilo de vida simples,
descomplicando nosso jeito louco de viver em nossos dias.
Estamos
perdendo nosso contentamento.
Nunca
tivemos tanto conforto, privilégio, acesso a bens de consumo, e ao mesmo tempo
uma geração tão infeliz. Estamos cada vez mais sofisticados, comemos em
restaurantes cada vez mais luxuosos, fazemos viagens maravilhosas e estamos
cansados, frustrados, exaustos e descontentes. São mulheres jovens que não
conseguem encontrar prazer em coisas simples, em serem mães, em cuidar de sua
casa e de seu marido; são maridos que não conseguem mais desfrutar da alegria
da casa, da vida comum do lar, ganham salários estratosféricos mas estão vazios
no coração, solitários, sem amigos, morrendo no trabalho, sem conseguir
desfrutar com prazer suas conquistas. Usando uma linguagem de Wayne Cordeiro, “estão
mortos, porém correndo!”
Perdemos
a alegria de viver.
Precisamos
reencontrar a dimensão do prazer nas coisas simples, numa comida simples, num
tempo de conversa ao redor da mesa, em amizades descomplicadas, em
relacionamentos não exigentes. Precisamos aprender a voltar a viver. Encontrar
alegria em coisas simples, na adoração simples, no serviço simples na casa do
Senhor. Que diferença o vazio deste estilo de vida com a recomendação direta do
texto que lemos: “Porque nada temos
trazido para o mundo, nem cousa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com
que nos vestir, estejamos contentes”(1 Tm 6.7-8).
3.
Coloque o dinheiro no lugar certo
O que o texto bíblico nos ensina é claro: “Ora, os que querem ficar ricos caem em
tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as
quais afogam os homens na ruína e na perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz
de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se
atormentaram com muitas dores” (1 Tm 6-9-10). Bob Marley fez esta citação: “Deus
fez as pessoas para serem amadas e as coisas para serem usadas. Por que usamos
as pessoas e amamos as coisas?”. Confúcio afirmou: “Os homens perdem a
saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para recuperá-la. Por
pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal forma que acabam
por nem viver no presente nem no futuro...
Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido”. Este é um exemplo claro de inversão de valores.
Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido”. Este é um exemplo claro de inversão de valores.
Veja o que texto afirma: “Os que querem ficar ricos caem em muitas
tentações”. Esta obsessão por ter cada vez mais e acumular, vai abrindo
enormes brechas na alma. “O amor do
dinheiro é raiz de todos os males”. Não diz que o dinheiro em si, mas o
amor, o apego às posses e ao dinheiro é ponto de partida para todos os males. O
amor ao dinheiro é cobiça, e leva muitas pessoas “a se desviarem da fé”, e “se
atormentarem com muitas dores”.
Quando a Bíblia sugere que adoremos a
Deus com nossos bens e dinheiro, penso que Deus está nos dando uma oportunidade
de romper com estes vínculos, e fazer a ruptura com a idolatria do dinheiro.
Richard Foster afirma que dinheiro na Bíblia é uma entidade, e que Jesus o
chamou de “mamom”, de um Deus, e que por isto “a avareza é idolatria”, e que a
única forma que temos para não deixar que este Deus nos domine é aprender a
doar. Rompe-se com esta idolatria, aprendendo a ironizar deste Deus que tanto
nos oprime e exige que lhe construamos altares.
Charles
Stanley firmou alguns princípios de administração do dinheiro encontrados na
Bíblia:
Ganhe honestamente- Isto implica em
não sacrificarmos nossa consciência mantendo um relacionamento com o dinheiro
que possa nos afastar do Deus que amamos. Precisamos sim do trabalho, e dos
recursos que ganhamos, mas precisamos acima de tudo de Deus. Vive-se sem
dinheiro e sem bens, mas não se vive sem Deus. Ganhe honestamente (Ef 4.28).
Aplique sabiamente – Muitas vezes usamos mal os nossos
recursos ou não temos critério algum para empregá-lo. O resultado é que quando
os dias difíceis chegam, não sabemos o que fazer porque não soubemos
administrar corretamente o que tivemos. Gastamos nossos bens sem ponderarmos
sobre o nosso futuro.
Dê generosamente – Sendo dinheiro um ídolo, uma
entidade, exige de nós adoração. Muitos de nós temos nos curvado diante dele
sem percebermos os riscos nossa alma. Dar de nossos bens é uma forma de usarmos
nossos recursos para promover a obra de Deus, minimizar o sofrimento dos
necessitados, glorificar a Deus e dar um sentido mais profundo ao que temos.
Dar é um exercício espiritual, muitas vezes complicado. Temos facilidade de
gastar nossos bens com coisas que nem sabemos o que fazer com elas, que vão
entulhar ainda mais nossos guardas roupas, mas não temos a mesma facilidade de
consumir nossos bens para suprir necessidade da nossa igreja e dos
necessitados.
Desfrute profundamente – Não desenvolva uma relação de afeto
com teu dinheiro. Ele existe para ser usado! Tolo é o homem que acumula sempre,
mas nunca desfruta daquilo que Deus tem colocado em suas mãos. Use-o para seu
deleite, para alegria de seu lar, para celebrar a vida que Deus lhe tem dado.
4. Apodere-se da “verdadeira vida” –
Esta frase, curiosamente se encontra no
texto adiante, em 1 Tm 6.19: “Acumulem
para si mesmos tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim de se
apoderarem da verdadeira vida”. Existe uma vida no presente tempo que quer
nos dar a impressão de ser a verdadeira vida, mas não é. Ela é falsa, enganosa,
traiçoeira. Existe uma verdadeira vida que pode ser encontrada. Talvez seja
sobre isto que Jesus queria afirmar: “Eu vim para que tenham vida e vida em
abundância”. Ele fala de outra vida, de outra realidade que talvez você não
esteja experimentando. Existe uma vida para além desta vida que tentamos viver.
Por isto vem a exortação: “Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas
cousas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé o amor, a constância, a
mansidão. Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna, para a qual
também foste chamado e de que fizeste a boa confissão perante muitas
testemunhas” (1 Tm 6.11-12).
Veja o que Thomas R. Kelly escreveu
em 1941, no texto Simplificação da Vida. (De Thomas R. Kelly – A Testament of
Devotion – Nova Iorque: Harper and Brother, 1941): “Nós ocidentais
tendemos a pensar que nossos problemas são externos, ambientais. Não somos
experimentados na vida interior, onde estão as verdadeiras raízes do nosso
problema. Quero sugerir que a real explicação para a complexidade do nosso
programa seja interior e não exterior. As distrações exteriores dos nossos
interesses refletem a falta interior de integração das nossas vidas. Queremos
ser vários egos ao mesmo tempo, sem que todos esses egos estejam organizados
por uma única e soberana Vida dentro de nós. Todos nós temos a tendência de
ser, não um único ego, mas todo um comitê de egos. Há o ego cívico, o ego
paterno, o ego financeiro, o ego religioso, o ego profissional, e ego literário. E cada um
desses egos, por sua vez é um franco individualista, não cooperando, mas
votando aos berros em si mesmo quando chega a hora da votação. Muitas vezes
seguimos o método eleitoral para chegar a uma rápida decisão entre as nossas
vozes interiores conflitantes. É como se tivéssemos um presidente do comitê,
que não integra os muitos egos, mas apenas conta os votos e deixa minorias
descontentes. As reclamações de cada ego deixam de ser feitas. Se aceitamos servir
na comissão de uma obra social, continuamos sentir remorso por não podermos
também ensinar na Igreja. Não somos integrados: somos angustiados. Sentimos o
clamor de muitas obrigações e tentamos cumpri-las todas. E, no entanto, somos
infelizes, receosos, tensos e oprimidos, com medo de sermos superficiais”.
Estamos
perdendo nossa vida, num frenesi incontrolável para viver. Precisamos resgatar
a verdadeira vida que facilmente escapa de nós, num mundo de competitividade,
metas para atingir, agendas, etc.
Conclusão:
Notas de rodapé são lembretes, formas
de manter vivo em nossa memória coisas que não devem ser esquecidas.
Certo autor existencialista afirmou:
“Onde está a vida que perdi tentando encontrá-la?”. Talvez seja esta a atitude
de pessoas que estão se realizando no mercado de trabalho, vivendo estilo de
vida glamouroso, mas que estão se perdendo no meio de tudo isto.
Não perca sua alma, seu coração, sua
família, seu Deus, no meio das propostas e presentes cantos de sereia. É
fundamental manter a verdadeira vida no foco, e celebrar Deus e a vida no meio
desta geração perdida e cansada.
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