segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Gn 28.10-22 Eu não sabia!




Introdução:

Um dos graves problemas da nossa vida é a ignorância e desconhecimento dos fatos, falta de compreensão de verdades e princípios. Jesus disse: “Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt 22.29). Oséias afirma: “O meu povo está sendo destruído porque lhe falta o conhecimento” (Os 4.6). Mesmo quando “sabemos”, ou temos determinadas informações sobre a vida ou sobre Deus, ainda assim podemos ser incapazes de trazer tais informações e aplicá-las à vida. Parece ter sido este o problema de Jacó ao declarar: “O Senhor está neste lugar, e eu não o sabia!” (Gn 28.16).
Jacó sai de sua casa numa complexa situação. As coisas não estavam bem. Depois dos incidentes envolvendo Esaú, a situação se torna tensa, incluindo ameaças de morte. Seus relacionamentos estavam estremecidos. Esaú jurando vingança. Tanto Rebeca quanto Isaque se mostram preocupados (Gn 27.42-47). Ele sai de casa furtivamente, sabendo que provavelmente nunca mais veria seus pais. O texto parece sugerir esta improvisação já que não há registros de pessoas acompanhando-o, mesmo sabendo que tal viagem era sempre arriscada.
Segue para o deserto em direção a Mesopotâmia e no deserto, ao chegar à noite, para num ermo para dormir, e usa uma pedra como travesseiro. Isto aponta para esta idéia de improvisação. Ali Jacó tem um sonho, no qual o Senhor estava perto dele e havia uma escada cujo topo atingia o céu; e os anjos de Deus subiam e desciam sobre ela. Deus reafirma seu chamado para seu Pai Isaque e avô Abraão e que estaria com ele e o guardaria por onde andassem e que aquela terra, seria dada á sua geração.
Ao acordar, Jacó faz uma maravilhosa afirmação: “Na verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia” (Gn 28.16). Deus estava perto, sua presença era real, mas Jacó ignorava esta realidade. A visão de Jacó mostra o interesse de Deus por ele. “a condescendência da graça divina. Jacó não estava de coração voltado para Deus, e sim Deus para Jacó” (Shedd). Aquele rapaz, vindo de um lar cristão, com uma ética leniente e superficial, que sai corrido de casa por ter se envolvido em atitudes pouco recomendáveis, agora faz uma descoberta maravilhosa. O Senhor estava com ele. É o triunfo da graça! Deus o alcança de forma inesperada.
Quão facilmente Deus pode estar perto sem que tenhamos consciência de sua realidade. Deus estava perto de Abraão quando ele levantou o cutelo para sacrificar seu filho: “Não estendas a mão sobre o rapaz, e nada lhe faças” (Gn 22.12). Deus estava tão perto, embora provavelmente Abraão não tenha sido capaz de percebê-lo... Deus estava por perto quando Hagar enfrenta o abandono, a rejeição e a exclusão e sai desatinada para o deserto, sem rumo certo, tendo que enfrentar a solidão terrível: “Que tens Hagar? Não temas, porque Deus ouviu a voz do menino daí onde está” (Gn 21.17) e Hagar percebe que Deus “estava com o rapaz” (Gn 21.20). Quantas vezes ignoramos a presença de Deus entre nós, ou não a percebemos.
Num dos filmes da série Nárnia, Lucia pergunta: “Vou vê-lo novamente?” e Aslam responde: “Eu sempre estarei por perto, basta estarem atentos, vocês me perceberão”.
Quando Jacó diz: “O Senhor está neste lugar, e eu não o sabia” (Gn 28.16), ele usa no hebraico o termo Iadá,  que significa penetrar. Esta frase, então, poderia ser traduzida da seguinte forma: “na verdade o Senhor está neste lugar e eu não o penetrava” (Chouraqui). Não era que Deus estava ausente, mas a percepção falha de Jacó o impedia de se conectar e se aprofundar nos mistérios de Deus ao seu redor.
Esta é a nossa angustiante realidade – Estamos desconectados do Eterno, e não o “penetramos”, nem o percebemos. Falta-nos a capacidade de aprofundar na sacralidade de um Deus que sempre está presente. “Invoca-me e te responderei, anunciar-te-ei coisas grandes e ocultas, que não sabes” (Jr 33.3). Este é um dos grandes problemas, a dificuldade de perceber Deus na história, no dia a dia. Você tem percebido Deus em sua história?
A experiência de Jacó traz temor e gera adoração (Gn 28.17). Ele constrói uma coluna e sobre ela derrama azeite.
Apesar desta grandiosa experiência, a contraproposta de Jacó e os votos que passa a fazer revelam suas limitações. O que ele propõe a Deus são grandes equívocos, marcados por condicionantes na relação que ele julgava que deveria ter com o Senhor.

  1. Condiciona sua fidelidade à benção – “Então Jacó fez um voto, dizendo: Se Deus estiver comigo, cuidar de mim nesta viagem que estou fazendo, prover-me de comida e roupa, e levar-me de volta em segurança à casa de meu pai, então o Senhor será o meu Deus” (Gn 28.20-21). Sua atitude é completamente distinta da resposta de Abraão que “partiu sem saber aonde ia” (Hb 11.8).
O Senhor será meu Deus se me abençoar. Muitos agem assim em relação a Deus. Julgam-se no direito de estabelecer as condições do discipulado, e estabelecem condicionantes. “Se Deus fizer isto, então agirei assim...” ou “se isto acontecer, agirei desta forma”. Este relacionamento com base contratual não compreende a graça de Deus e se torna um relacionamento no qual o Senhor torna-se servo. As ofertas deixam de ser uma forma de adoração e louvor e tornam-se barganha para conseguir de Deus bençãos e favores. No entanto, a graça de Deus não é meritória, nem funciona à base de troca. O convite da fé é para a rendição e confiança irrestrita no seu caráter.

  1. Relaciona Deus com um local sagrado – Jacó afirma “Quão temível é este lugar! É  a casa de Deus, a porta dos céus" (Gn 28.17). Cerca de 30 anos depois, Jacó repete este voto solene no mesmo lugar (Gn 35.14), mas Deus deixa claro que ele queria que Jacó entendesse que ele seria o Deus por todos os lugares que ele fosse. “Te guardarei onde quer que fores” (Gn 28.15). Com isto Deus queria desvincular sua fé de um lugar sagrado. Idéia bem diferente das divindades pagãs que sempre se associaram a certas localidades.
Por causa de pensamentos que limitam Deus a determinados símbolos, objetos e locais, existe uma tradição de que a pedra de Jacó foi depois trazida para Jerusalém, mais tarde para a Espanha, depois para a Irlanda e finalmente para a Escócia. Os reis da Escócia costumavam se assentar nesta pedra. Eduardo I a levou para Londres, e a colocou em Westminster sob o trono no qual os reis da Inglaterra eram coroados (Bíblia anotada de Dake).
Posteriormente Deus se comunica com Jacó, e se apresenta como “o Deus da casa de Deus” (Gn 31.13). Não o Deus de um lugar, mas Deus.

  1. Condiciona sua liberalidade no dízimo à prosperidade pessoal – Se Deus for comigo, e me guardar nesta jornada que empreendo e me der pão para comer e roupa que me vista (...) de tudo quanto me concederes, certamente eu te darei o dízimo” (Gn 28.20,22). Sua oferta e liberalidade estavam condicionadas. “Se Deus...me der pão para comer e roupa...darei o dízimo”.
Ingenuamente pressupomos que podemos agora ter o controle de Deus. “Seremos... se”. A verdade, porém, é que Deus não se submete a estes tipos de relacionamentos nos quais acreditamos que somos credores e determinamos como ele fará. Muitos acreditam que possuem credenciais para exigir de Deus. Seu dízimo torna-se moeda de troca e garantia de que Deus agora não vai poder falhar.
Mas na Bíblia, Deus não falha. Ele é fiel, bondoso, generoso, abundante nas suas graças porque isto faz parte de sua natureza graciosa. Muitos “seqüestram” o texto de Malaquias 3.10 que fala do dízimo crendo que, fazendo assim, Deus não vai poder “furar nem falhar” com eles. Na verdade Deus é fiel a ele mesmo, antes de ser fiel a nós. “Se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo” (2 Tm 2.13).
Relacionamentos meritórios, ou de pessoas que julgam ter “credenciais” para exigir de Deus, são sempre falsos e anti-bíblicos, porque Deus “não lançamos as nossas suplicas perante a tua face fiados em nossas justiças, mas em tuas muitas misericórdias” (Dn 9.18).  Tais atitudes revelam profunda desconfiança sobre quem Deus é, e nos dão uma falsa idéia de que podemos construir um portfólio de saldos espirituais e performance religiosa. Esta é a idéia de religiões que se fundamentam na bondade do homem e não na graça abundante e livre de um Deus misericordioso.

Conclusão:

Na verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia” (Gn 28.16). A presença de Deus era real, mas Jacó ignorava sua realidade.

Precisamos reconhecer que Deus está aqui!

Nem sempre estamos conscientes de sua presença. Muitas vezes ele nos parece um Deus frio, silencioso e distante. Jacó se surpreendeu quando percebeu quão próximo dele estava o Senhor. “Este lugar é temível!”. A presença de Deus lhe causa assombro e perplexidade, e o motiva a adorar, a construir altares, a derramar óleo sobre a pedra.

Talvez nossa atitude diária deveria ser: “Na verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não sei” Ter consciência da presença de Deus é uma das descobertas mais fascinantes que o ser humano pode fazer.

9 comentários:

  1. Parabéns! Maravilhosa inspiração, que o Senhor lhe use ainda mais!

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  2. post de 2013 que me foi útil em 2016, que coisa maravilhosa não?!!

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  3. Já li outras mensagens,mas,não com essa intensidade e tão bem explanada.
    Não digo isso,para que se sinta esplêndido,mas para que saiba que o SR é na sua vida.
    Me apaixonei por tão poucas letras e sábias palavras.
    JESUS abençoe .

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  4. EU AMO A PALAVRA DE DEUS. ESSE FOI UMA GRANDE LIÇÃO PARA ME.

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