Mt 20.21: Que queres?”
Mt 20.31: “Que quereis que eu
vos faça?”
Introdução:
É comum dizermos no final do ano:
“Que no próximo ano, todos os seus desejos sejam realizados”, ou como diz a
conhecida música: “Adeus Ano Velho, Feliz Ano Novo. Que tudo se realize, no ano
que vai nascer. Muito dinheiro no bolso, saúde prá dar e vender”.
De um tempo para cá fico me
perguntando: O que aconteceria conosco, se todos os nossos desejos fossem de
fato realizados?
Somos uma geração ávida por satisfação
pessoal, ansiamos por sucesso, prosperidade, aprovação popular, satisfação
imediata.
Neste texto, Jesus faz duas
perguntas:
Mt 20.21: Que queres?”
Mt 20.31: “Que quereis que eu vos faça?”
O primeiro diálogo tem a ver com
o pedido da mulher de Zebedeu que queria lhe pedir um favor.
O segundo, com dois cegos de
Jericó, que gritavam: “Senhor, Filho de
Davi, tem compaixão de nós”, e Jesus, então, os chama para perto
perguntando: “Que quereis que eu vos
faça?”
Nos dois diálogos, Jesus está lidando
com pessoas que querem alguma coisa. Os dois pedidos tem motivos diferentes. Um, tem motivo negativo, uma mulher faz um pedido esdrúxulo em
favor dos seus dois filhos, Tiago e João, para que tivessem lugar de destaque
no reino celestial; o outro pedido, tinha motivo saudável. Dois cegos pedindo
para que Jesus os curasse da sua cegueira.
Ambos estavam desejando alguma coisa. Ambos esperavam alguma coisa e criaram certas expectativas. Tanto a mulher quanto os cegos trouxeram seus pedidos a Deus. Se não fosse a misericórdia de Deus, aquela mulher deveria ser exterminada na hora do pedido, tão carregado de vaidade e egoísmo. Por outro lado, não fosse a graça e o poder de Deus, os dois cegos poderiam continuar vivendo suas vidas com suas deficiências.
Isto nos leva a pensar: Quais são
os nossos desejos?
Podemos desejar coisas boas, mas
podemos ter desejos por coisas pecaminosas. Ambos são desejos, um é bem
orientado, mas outro é carregado de vaidade e orgulho.
Quais são os motivos mais
profundos de nossa alma? Para onde apontam nossos desejos? Onde temos colocado
e investido nossa vida? C. S. Lewis afirma que o problema do ser humano não é
que ele deseja, mas que deseja pouco demais.
O que realmente você deseja? Qual
sua aspiração?
Se Jesus lhe perguntasse hoje: O
que você quer que eu te faça? Qual seria sua resposta?
Este texto nos ensina algumas
coisas importantes, afinal de contas, nem todo desejo é legítimo.
Alguma considerações sobre o
desejo.
1.
Os desejos podem ser de duas
naturezas, a pecaminosa e a legítima.
Isto se torna claro nestes dois
episódios lidos.
Aquela mãe faz um pedido que Deus
não poderia e não deveria acolher.
Creio que muitos dos nossos
desejos são assim.
Tiago afirma: “Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais,
e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não
pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos
prazeres” (Tg 4.2,3).
Deus não está interessado em
atender nossos caprichos. Já vi pessoas esperneando por coisas que se Deus
desse, seria a desgraça delas.
Existem desejos, porém, cuja
natureza é legítima. A estes Jesus atende.
É o caso destes dois cegos. Como
Jesus reage a este pedido?
“Condoído, Jesus tocou-lhes os olhos, e imediatamente recuperaram a
vista e o foram seguindo”(Mt 20.34).
O que você tem trazido diante de
Deus como objeto de seu pedido? Qual é o conteúdo de sua oração?
2.
Nem sempre o que você pede é o
que realmente você quer
Terapeutas e psicólogos aprendem
a trabalhar com um conceito simples chamado “cortina de fumaça”. O que vem a
tona, o que é dito, nem sempre é o mais importante numa terapia, mas muitas
vezes o que é suprimido e negado. A ação de cura é profunda, quando vem à tona,
aquilo que se encontra no profundo do ser humano. O que a pessoa não disse, o
que tentou esconder, que realmente era a fonte da angústia reprimida, da ira
e amargura, com a qual a pessoa nunca teve coragem de conversar.
Qual é o maior desejo do homem
natural? Ser feliz. As coisas, pessoas e objetos que ele deseja são apenas
superficiais, um meio para alcançar aquilo que é mais profundo, e que só Deus
conhece.
O nosso maior desejo deveria ser
buscar a glória de Deus. Mas somos seres auto idolatrizados demais para pensar
em Deus, e não no meu "eu", no centro de minha própria vida. Então, na busca
frenética para encontrar a felicidade, nos perdemos e fracassamos, porque no
final de todas as conquistas, o que encontramos é o vazio do coração, como
descobriu Salomão:
“Tudo quanto desejaram meus olhos, não lhes neguei, nem privei o meu
coração de alegria alguma, pois eu me alegrava com as minhas fadigas, e isto
era a recompensa de todas elas” (Ec 2.11).
O resultado de sua desenfreada
busca, atendendo todos os seus desejos, desembocou no desespero e vazio.
A primeira pergunta do Catecismo
Maior de Westminster é: Qual o fim principal do homem. E a resposta é direta: “O
fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”. O problema é
que achamos que o fim principal da vida é a satisfação imediata de desejos. O
problema básico do ser humano é
Nem sempre o que você pede é o que realmente você quer
O que acontece com o desejo de
ser feliz a todo custo?
Passamos a desejar a felicidade,
quando deveríamos buscar a santidade.
Quando a alegria narcisista é
substituída pela obediência à Deus, quando nossas alianças são mantidas diante de deus, o
resultado é sempre benção e alegria. Aquilo que você fazer obediência, mesmo quando o seu corpo, e o seu eu diz não, tornar-se a maior fonte de sua alegria.
A verdadeira alegria é encontrada
em Deus, não em sucesso, conquistas, sexo e dinheiro. Nem em prazeres imediatos
e enganosos.
O que você realmente quer?
Pv 1.18 faz uma grave denúncia
sobre a ganância, este desejo de ter, amontoar, conquistar: “Tal é a sorte de todo ganancioso, e este
espirito de ganância, tira a vida de quem o possui”.
Caim conhecia a Deus. Ele ouviu seus pais falarem de Deus. Ele aparentemente era um homem religioso, porque o
vemos oferecendo sacrifícios a Deus com seu irmão Abel. Entretanto, ele tinha
um problema básico: Ele estava insatisfeito com alguma coisa, e seu
descontentamento é visto por Deus, que resolve conversar e exortar Caim sobre
os perigos de seu próprio coração, infelizmente Caim desprezou o que Deus
falou: “Então, lhe disse o Senhor: Por
que andas irado, e por que descaiu o seu semblante? Se procederes bem, não é
certo que serás aceito? Se todavia procederes mal, eis que o pecado jaz à
porta; O seu desejo será contra ti,
mas a ti cumpre dominá-lo” (Gn 4.6,7).
O que conspirava contra Caim? Seu
desejo.
Os desejos que abrigamos em nosso
coração podem ser a causa de nossa destruição.
O que Caim desejava parecia ser a
coisa certa, mas Deus o alerta para o risco daquilo que ele desejava tanto em
sua alma. Seu desejo ia destruí-lo, como de fato o fez. O que ele tanto
desejava tornou-se a causa de sua morte.
3.
Nem sempre o que você quer lhe
dará satisfação
Nossos desejos são superficiais e
rasos como bem afirmou C. S. Lewis. Eles não expressam os desejos mais
profundos da nossa alma, e nós, avidamente, queremos resolver imediatamente o
desespero silencioso de nossa alma com conquistas. Mas o vazio continua
prevalecendo em nós.
Os ídolos, substitutos de Deus,
parecem resolver nossa sede infinita do ser, mas eles são como água do mar: Se
você beber, vai ter mais sede ainda, e aos poucos, continuará a ter
alucinações. São os efeitos colaterais dos ídolos. Jesus percebia isto.
Por isto, algumas perguntas como
a que Jesus faz aos cegos, parecem não fazer sentido: “que quereis que eu vos faça!”. Ora, parecia óbvio demais que aqueles
cegos na beira da estrada na entrada de Jericó queriam ver. Este era o desejo? Era
por isto que clamavam. Então, porque Jesus faz esta pergunta aparentemente
óbvia demais?
Creio que esta é uma forma de
levar estes homens a refletirem sobre a real necessidade que tinham.
Neste texto, temos o incidente da
mãe de Tiago e João, que se aproxima de Jesus com um pedido, meio constrangedor
e pretencioso demais, e Jesus lhe pergunta: “Que queres?” (Mt 20.21). Eu
fico imaginando o olhar de Jesus, procurando confrontar a falta de sensatez
daquela mãe, que parece não se intimidadar e continua pedindo: “Manda que, no teu reino, estes meus filhos
se assentem, um à tua direita, outro à sua à sua esquerda”.
Seus motivos eram rasos e
pecaminosos: popularidade, reconhecimento, status, aprovação... desejos rasos.
Mas não é nesta direção que
nossos desejos são tão presentes?
E isto nos leva à quarta
consideração:
4.
Nossos desejos geralmente estão
contaminados
É o que acontece neste texto com
a mulher de Zebedeu, buscando o interesse de seus filhos. Despretensiosa, não?
Apenas um pequeno pedido... o texto não parece claro no fato de que havia certa
disputa entre os discípulos, entretanto, o evangelista Marcos registra que os
demais discípulos ficaram indignados com este pedido (Mc 10.41). Podemos fazer
alguma ideia porque reagiram assim? Porque no fundo, eles também tinham as
mesmas aspirações.
Qual era o motivo? Glória
pessoal. Auto promoção. Vaidade. Orgulho.
O que desejamos para nós e nossos
filhos?
Lemos anteriormente: “Cobiçais e nada tendes, porque pedis mal,
para esbanjardes em vossos próprios prazeres” (Tg 4.2).
Podemos desejar coisas que fazem
parte de nossa cobiça, por motivos idolátricos, sem nos preocuparmos se Deus
será glorificado com nosso coração.
Quando os desejos estão
contaminados, eles nos destroem. É uma fonte suja. Motivos se tornam
mesquinhos. O que você deseja tanto pode ser a causa de sua destruição.
A Bíblia registra o desejo
pecaminoso e ávido do povo de Deus no deserto, desejando comer carne. Deus
manda codornizes, milhões de pequenas aves. O povo podia comer quanto quisesse,
mas a sofreguidão foi tamanha, que morreram com as carnes ainda nos dentes. O
Salmista, posteriormente faz uma leitura interessante sobre este episodio do
povo de Deus: “Deu-lhes o que queria, mas
fez definhar-lhes a alma” (Sl 106.15). O desejo do povo era comer carne, e
morreram por causa de sua gula.
Nossa prosperidade financeira
pode nos matar.
Nossa popularidade, desejo de
aceitação, glória pessoal, pode te destruir.
Nossos desejos podem nos
implodir.
Conclusão:
Algumas aplicações:
A. O grande desejo não deve ser auto
promocional, mas a glória de Deus. Isto faz algum sentido para você?
B. O maior desejo de nossa vida deve
ser a capacidade de voltar a normalidade. Milagres nos Evangelhos, são sempre
uma volta à normalidade. O cego que volta a ver. O coxo que volta a andar. O
cadáver que volta a viver. O mudo que volta a falar. O cego de Jericó pediu: “Senhor, que se nos abram os olhos”. Provavelmente, recuperar nossa capacidade de ver
as coisas com discernimento e boas escolhas, deve ser o maior alvo de nossa
vida.
C. Deus não tem compromissos como
desejos, mas com necessidades. “E o meu Deus,
segundo sua riqueza e glória, há de suprir em Cristo Jesus, cada uma de vossas
necessidades” (Fp 4.19). Deus promete suprir nossas necessidades. Muitos
desejam e acham que Deus vai lhes dar tudo que querem.
A verdade é que Deus não dá tudo
que desejamos, mas tudo que precisamos. Ainda que, Deus eventualmente, na sua
abundante graça, possa nos dar alguns caprichos e atender desejos da alma. “Agrada-te do Senhor e ele satisfará aos
desejos do teu coração” (Sl 37.4). Ele o faz, porque é bom, generoso,
gracioso, bondoso.
O grande desejo de Cristo:
Precisamos olhar estas lições na
perspectiva da cruz de Cristo.
Quando Ele desceu de sua glória e
veio para habitar entre nós, havia um plano, um projeto muito claro: Resgatar o
povo caído e distanciado de Deus.
Jesus morreu na cruz pelos nossos
pecados. Seu desejo era nos comprar com o seu sangue para nos apresentar diante
de Pai, justificados, perdoados e regenerados.
Esta é a santa obsessão de Deus.
Nos redimir para si mesmo.
Para criar um povo exclusivo para
sua glória.
Deus fez uma aliança de sangue e
nos redimiu em Cristo.
O grande desejo de nossa vida
deveria ser viver uma vida de santidade e gratidão para glória de Deus.
O que buscamos em Deus, sem o
saber, será a resposta para o mais infinito desejo de nossa alma. Que até mesmo
nós desconhecemos. O homem só é pleno vivendo para Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário