sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Mt 20.21,31 - Qual é o seu desejo?


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Mt 20.21: Que queres?”
Mt 20.31: “Que quereis que eu vos faça?”

Introdução:

É comum dizermos no final do ano: “Que no próximo ano, todos os seus desejos sejam realizados”, ou como diz a conhecida música: “Adeus Ano Velho, Feliz Ano Novo. Que tudo se realize, no ano que vai nascer. Muito dinheiro no bolso, saúde prá dar e vender”.

De um tempo para cá fico me perguntando: O que aconteceria conosco, se todos os nossos desejos fossem de fato realizados?

Somos uma geração ávida por satisfação pessoal, ansiamos por sucesso, prosperidade, aprovação popular, satisfação imediata.

Neste texto, Jesus faz duas perguntas:
Mt 20.21: Que queres?”
Mt 20.31: “Que quereis que eu vos faça?”

O primeiro diálogo tem a ver com o pedido da mulher de Zebedeu que queria lhe pedir um favor.
O segundo, com dois cegos de Jericó, que gritavam: “Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de nós”, e Jesus, então, os chama para perto perguntando: “Que quereis que eu vos faça?”

Nos dois diálogos, Jesus está lidando com pessoas que querem alguma coisa. Os dois pedidos tem motivos diferentes. Um, tem motivo negativo, uma mulher faz um pedido esdrúxulo em favor dos seus dois filhos, Tiago e João, para que tivessem lugar de destaque no reino celestial; o outro pedido, tinha motivo saudável. Dois cegos pedindo para que Jesus os curasse da sua cegueira.

Ambos estavam desejando alguma coisa. Ambos esperavam alguma coisa e criaram certas expectativas. Tanto a mulher quanto os cegos trouxeram seus pedidos a Deus. Se não fosse a misericórdia de Deus, aquela mulher deveria ser exterminada na hora do pedido, tão carregado de vaidade e egoísmo. Por outro lado, não fosse a graça e o poder de Deus, os dois cegos poderiam continuar vivendo suas vidas com suas deficiências.

Isto nos leva a pensar: Quais são os nossos desejos?

Podemos desejar coisas boas, mas podemos ter desejos por coisas pecaminosas. Ambos são desejos, um é bem orientado, mas outro é carregado de vaidade e orgulho.

Quais são os motivos mais profundos de nossa alma? Para onde apontam nossos desejos? Onde temos colocado e investido nossa vida? C. S. Lewis afirma que o problema do ser humano não é que ele deseja, mas que deseja pouco demais.

O que realmente você deseja? Qual sua aspiração?
Se Jesus lhe perguntasse hoje: O que você quer que eu te faça? Qual seria sua resposta?

Este texto nos ensina algumas coisas importantes, afinal de contas, nem todo desejo é legítimo.

Alguma considerações sobre o desejo.

1.     Os desejos podem ser de duas naturezas, a pecaminosa e a legítima.

Isto se torna claro nestes dois episódios lidos.
Aquela mãe faz um pedido que Deus não poderia e não deveria acolher.

Creio que muitos dos nossos desejos são assim.
Tiago afirma: “Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres” (Tg 4.2,3).

Deus não está interessado em atender nossos caprichos. Já vi pessoas esperneando por coisas que se Deus desse, seria a desgraça delas.

Existem desejos, porém, cuja natureza é legítima. A estes Jesus atende.
É o caso destes dois cegos. Como Jesus reage a este pedido?

Condoído, Jesus tocou-lhes os olhos, e imediatamente recuperaram a vista e o foram seguindo”(Mt 20.34).

O que você tem trazido diante de Deus como objeto de seu pedido? Qual é o conteúdo de sua oração?

2.     Nem sempre o que você pede é o que realmente você quer

 Terapeutas e psicólogos aprendem a trabalhar com um conceito simples chamado “cortina de fumaça”. O que vem a tona, o que é dito, nem sempre é o mais importante numa terapia, mas muitas vezes o que é suprimido e negado. A ação de cura é profunda, quando vem à tona, aquilo que se encontra no profundo do ser humano. O que a pessoa não disse, o que tentou esconder, que realmente era a fonte da angústia reprimida, da ira e amargura, com a qual a pessoa nunca teve coragem de conversar.

Qual é o maior desejo do homem natural? Ser feliz. As coisas, pessoas e objetos que ele deseja são apenas superficiais, um meio para alcançar aquilo que é mais profundo, e que só Deus conhece.

O nosso maior desejo deveria ser buscar a glória de Deus. Mas somos seres auto idolatrizados demais para pensar em Deus, e não no meu "eu", no centro de minha própria vida. Então, na busca frenética para encontrar a felicidade, nos perdemos e fracassamos, porque no final de todas as conquistas, o que encontramos é o vazio do coração, como descobriu Salomão:

Tudo quanto desejaram meus olhos, não lhes neguei, nem privei o meu coração de alegria alguma, pois eu me alegrava com as minhas fadigas, e isto era a recompensa de todas elas” (Ec 2.11).

O resultado de sua desenfreada busca, atendendo todos os seus desejos, desembocou no desespero e vazio.

A primeira pergunta do Catecismo Maior de Westminster é: Qual o fim principal do homem. E a resposta é direta: “O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”. O problema é que achamos que o fim principal da vida é a satisfação imediata de desejos. O problema básico do ser humano é

Nem sempre o que você pede é o que realmente você quer

O que acontece com o desejo de ser feliz a todo custo?
Passamos a desejar a felicidade, quando deveríamos buscar a santidade.
Quando a alegria narcisista é substituída pela obediência à Deus, quando nossas alianças são mantidas diante de deus, o resultado é sempre benção e alegria. Aquilo que você fazer obediência, mesmo quando o seu corpo, e o seu eu diz não, tornar-se a maior fonte de sua alegria. 

A verdadeira alegria é encontrada em Deus, não em sucesso, conquistas, sexo e dinheiro. Nem em prazeres imediatos e enganosos.

O que você realmente quer?
Pv 1.18 faz uma grave denúncia sobre a ganância, este desejo de ter, amontoar, conquistar: “Tal é a sorte de todo ganancioso, e este espirito de ganância, tira a vida de quem o possui”.

Caim conhecia a Deus. Ele ouviu seus pais falarem de Deus. Ele aparentemente era um homem religioso, porque o vemos oferecendo sacrifícios a Deus com seu irmão Abel. Entretanto, ele tinha um problema básico: Ele estava insatisfeito com alguma coisa, e seu descontentamento é visto por Deus, que resolve conversar e exortar Caim sobre os perigos de seu próprio coração, infelizmente Caim desprezou o que Deus falou: “Então, lhe disse o Senhor: Por que andas irado, e por que descaiu o seu semblante? Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se todavia procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; O seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo” (Gn 4.6,7).

O que conspirava contra Caim? Seu desejo.
Os desejos que abrigamos em nosso coração podem ser a causa de nossa destruição.

O que Caim desejava parecia ser a coisa certa, mas Deus o alerta para o risco daquilo que ele desejava tanto em sua alma. Seu desejo ia destruí-lo, como de fato o fez. O que ele tanto desejava tornou-se a causa de sua morte.

3.     Nem sempre o que você quer lhe dará satisfação

Nossos desejos são superficiais e rasos como bem afirmou C. S. Lewis. Eles não expressam os desejos mais profundos da nossa alma, e nós, avidamente, queremos resolver imediatamente o desespero silencioso de nossa alma com conquistas. Mas o vazio continua prevalecendo em nós.

Os ídolos, substitutos de Deus, parecem resolver nossa sede infinita do ser, mas eles são como água do mar: Se você beber, vai ter mais sede ainda, e aos poucos, continuará a ter alucinações. São os efeitos colaterais dos ídolos. Jesus percebia isto.

Por isto, algumas perguntas como a que Jesus faz aos cegos, parecem não fazer sentido: “que quereis que eu vos faça!”. Ora, parecia óbvio demais que aqueles cegos na beira da estrada na entrada de Jericó queriam ver. Este era o desejo? Era por isto que clamavam. Então, porque Jesus faz esta pergunta aparentemente óbvia demais?

Creio que esta é uma forma de levar estes homens a refletirem sobre a real necessidade que tinham.

Neste texto, temos o incidente da mãe de Tiago e João, que se aproxima de Jesus com um pedido, meio constrangedor e pretencioso demais, e Jesus lhe pergunta: “Que queres?”  (Mt 20.21). Eu fico imaginando o olhar de Jesus, procurando confrontar a falta de sensatez daquela mãe, que parece não se intimidadar e continua pedindo: “Manda que, no teu reino, estes meus filhos se assentem, um à tua direita, outro à sua à sua esquerda”.

Seus motivos eram rasos e pecaminosos: popularidade, reconhecimento, status, aprovação... desejos rasos.

Mas não é nesta direção que nossos desejos são tão presentes?

E isto nos leva à quarta consideração:

4.     Nossos desejos geralmente estão contaminados

É o que acontece neste texto com a mulher de Zebedeu, buscando o interesse de seus filhos. Despretensiosa, não? Apenas um pequeno pedido... o texto não parece claro no fato de que havia certa disputa entre os discípulos, entretanto, o evangelista Marcos registra que os demais discípulos ficaram indignados com este pedido (Mc 10.41). Podemos fazer alguma ideia porque reagiram assim? Porque no fundo, eles também tinham as mesmas aspirações.

Qual era o motivo? Glória pessoal. Auto promoção. Vaidade. Orgulho.
O que desejamos para nós e nossos filhos?

Lemos anteriormente: “Cobiçais e nada tendes, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos próprios prazeres” (Tg 4.2).

Podemos desejar coisas que fazem parte de nossa cobiça, por motivos idolátricos, sem nos preocuparmos se Deus será glorificado com nosso coração.  

Quando os desejos estão contaminados, eles nos destroem. É uma fonte suja. Motivos se tornam mesquinhos. O que você deseja tanto pode ser a causa de sua destruição.

A Bíblia registra o desejo pecaminoso e ávido do povo de Deus no deserto, desejando comer carne. Deus manda codornizes, milhões de pequenas aves. O povo podia comer quanto quisesse, mas a sofreguidão foi tamanha, que morreram com as carnes ainda nos dentes. O Salmista, posteriormente faz uma leitura interessante sobre este episodio do povo de Deus: “Deu-lhes o que queria, mas fez definhar-lhes a alma” (Sl 106.15). O desejo do povo era comer carne, e morreram por causa de sua gula.

Nossa prosperidade financeira pode nos matar.
Nossa popularidade, desejo de aceitação, glória pessoal, pode te destruir.
Nossos desejos podem nos implodir.

Conclusão:
Algumas aplicações:
A.   O grande desejo não deve ser auto promocional, mas a glória de Deus. Isto faz algum sentido para você?

B.    O maior desejo de nossa vida deve ser a capacidade de voltar a normalidade. Milagres nos Evangelhos, são sempre uma volta à normalidade. O cego que volta a ver. O coxo que volta a andar. O cadáver que volta a viver. O mudo que volta a falar. O cego de Jericó pediu: “Senhor, que se nos abram os olhos”.  Provavelmente, recuperar nossa capacidade de ver as coisas com discernimento e boas escolhas, deve ser o maior alvo de nossa vida.

C.    Deus não tem compromissos como desejos, mas com necessidades. “E o meu Deus, segundo sua riqueza e glória, há de suprir em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades” (Fp 4.19). Deus promete suprir nossas necessidades. Muitos desejam e acham que Deus vai lhes dar tudo que querem.

A verdade é que Deus não dá tudo que desejamos, mas tudo que precisamos. Ainda que, Deus eventualmente, na sua abundante graça, possa nos dar alguns caprichos e atender desejos da alma. “Agrada-te do Senhor e ele satisfará aos desejos do teu coração” (Sl 37.4). Ele o faz, porque é bom, generoso, gracioso, bondoso.

O grande desejo de Cristo:

Precisamos olhar estas lições na perspectiva da cruz de Cristo.
Quando Ele desceu de sua glória e veio para habitar entre nós, havia um plano, um projeto muito claro: Resgatar o povo caído e distanciado de Deus.

Jesus morreu na cruz pelos nossos pecados. Seu desejo era nos comprar com o seu sangue para nos apresentar diante de Pai, justificados, perdoados e regenerados.

Esta é a santa obsessão de Deus. Nos redimir para si mesmo.
Para criar um povo exclusivo para sua glória.

Deus fez uma aliança de sangue e nos redimiu em Cristo.
O grande desejo de nossa vida deveria ser viver uma vida de santidade e gratidão para glória de Deus.

O que buscamos em Deus, sem o saber, será a resposta para o mais infinito desejo de nossa alma. Que até mesmo nós desconhecemos. O homem só é pleno vivendo para Deus.

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