sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Ef 4.7-16 Descobrindo os Dons


Resultado de imagem para imagens dons espirituais

Introdução:

Depois de falar da unidade da igreja (Ef 4.1-6), e descrever os sete elementos que identificam o povo de Deus, a partir do vs 7, Paulo fala da obra de Cristo sobre dois aspectos:
Sua redenção
Seu projeto.

Primeiro, sua redenção.
A obra da plena expiação se consumou na vida, morte, ressurreição e glorificação de Cristo. Tudo foi “consumado”. O sacrifício exigido por Deus foi plenamente satisfeito, e a obra completa de resgate do povo de Deus foi efetuado. Ele quebrou as correntes do cativeiro satânico e passamos a ser seu espólio nesta batalha espiritual. Neste texto, Paulo faz uma citação do Sl 68: “Subiste às alturas, levaste cativo o cativeiro; recebeste homens por dádivas, até mesmo rebeldes” (Sl 68.18).
Este Salmo é eminentemente messiânico e descreve a obra que o Messias haveria de realizar entre o povo de Deus. Ele é descrito como rei libertador. “O nosso Deus é o Deus libertador; com Deus, o Senhor, está o escaparmos da morte” (Sl 68.20). O salmista fala do rei cruzando a estrada rumo ao Monte Sião e entrando na cidade santa, trazendo os prisioneiros de guerra como despojo. Em Efésios Paulo aplica esta palavra a Jesus, mostrando como ele a realizou.
Cristo deixou a glória dos céus, para descer às regiões mais baixas da terra, provavelmente uma menção ao fato de Deus ter deixado sua glória e se tornar humano (Is 44.23). Durante os dias de sua peregrinação, Jesus se depara com a vileza e sordidez humana, com a decadência gerada pelo pecado, com a força dos poderes históricos aliados aos demônios, e caminha no meio da opressão, doença, possessão, inimizade e inveja e morte. Ele conheceu a dor do leproso, vivenciou o sofrimento causado pela morte e separação, contemplou a enfermidade que gera tanta dor e vergonha, e a humilhação de homens, criados à imagem e semelhança de Deus, vivendo agora dominados pela força do diabo.
Este mesmo Jesus, ao completar sua obra da redenção retornando para sua glória, levou cativo o cativeiro. Sua obra foi plena, suficiente e eficiente. A morte, a dor, o pranto, o opressivo poder do diabo são agora relativizados. Ele levou “cativo, o cativeiro”.
Mas este Jesus subiu, não para ficar na sua glória. Paulo afirma que ele subiu “para encher todas as coisas” (Ef 4.10). Ele está “acima de todos os céus” e isto descreve sua majestade, glória e poder, sendo exaltado as mais altas honras e glórias possíveis. Ao subir, glorificado, libertou-nos do cativeiro, mas isto é apenas metade de sua obra.

Segundo, seu projeto
Além de libertar o seu povo, ele tinha em mente outro projeto. Ele se comprometeu em edificar sua igreja (Mt 16.18). Como ele faria isto?
A resposta encontra-se neste texto: Ele capacitaria o seu povo para a obra. ““concedeu dons aos homens”. 
Entre o Sl 68 que mencionamos e Ef 4.7, ocorre uma variação textual interessante e intrigante.
No Salmo 68, o rei é descrito como vitorioso, e recebendo dons entre os homens. “Recebeste homens por dádivas”; contudo, em Ef 4.7 ele afirma que quando Cristo retornou vitorioso para sua glória, ele “concedeu dons aos homens”. Exegetas e comentaristas tentam encontrar a solução para esta variável, e a que tem mais aceitação é o fato de que Paulo, intencionalmente, fez um contraste entre o rei glorioso do Sl 68 e Cristo vitorioso em Ef 4. No primeiro, ele “recebe dádivas dos homens”, no segundo, “ele concede dádivas aos homens”.
Jesus não subiu ao céu para ficar na sua glória, mas para “encher todas as coisas”. Ele continua desenvolvendo seu projeto: Edificar um povo para louvor e glória de Deus, e isto implica em “edificar sua igreja”. Para isto, ele concedeu os dons necessários, capacitando o seu povo.

Entendendo os dons - Ef 4.7
Apesar da forma enfática como a Bíblia fala dos dons, poucos cristãos realmente estudam e entendem a função dos dons e poucos descobrem seus dons dentro da comunidade.   Entretanto, a Palavra de Deus exorta: “irmãos, acerca dos dons espirituais, não queremos que sejais ignorantes". Portanto, não podemos ignorar, nem podemos ser ignorantes (1 Co 14.1).

Algumas observações iniciais:
            a. Dom é uma habilidade especial que Deus dá ao seu povo para a realização do trabalho. “Ele mesmo concedeu” (Ef 4.11). Quando Jesus subiu aos céus, levou cativo o cativeiro e capacitou sua igreja para realizar a obra necessária aqui na terra, concedendo-lhe dons.
            b. Por sua própria origem, dom é diferente de talentos naturais. Dom espiritual pertence aos que creem, mas qualquer ser humano não regenerado possui talentos. Lutero chegou a indagar, ao ver tanta gente sem Deus e talentosa: “Por que o diabo tem de ter todos os bons tons?”
            c. Dom é algo individual, concedido a cada um. Ninguém tem todos os dons, mas todos os membros do corpo receberam alguma tarefa a cumprir. Foram dados, “a cada um” para serem usados em benefício do corpo para a edificação da igreja e glória de Deus.
            d. Todos cristãos possuem um ou mais dons. “Segundo a proporção do dom de Cristo” (Ef 4.7). A palavra “metron”, usada no texto é a mesma usada na língua portuguesa para “metro”. De acordo com o “metron” de Cristo, portanto sua medida e motivos pessoais, diferentes dons foram distribuídos ao seu povo. Ninguém pode ser cristão sem ter um dom, ao mesmo tempo que ninguém pode ter dom, sem ser cristão.
e. Estes dons são resultantes da graça de Deus. “A graça foi concedida” (Ef 4.7). Se é graça não pode ser meritória, assim como é a salvação (Ef 2.8-9). A própria ideia da graça “charis”, nos leva a pensar em algo gratuito e não em algo conquistado.


Os diferentes dons – Neste texto, Paulo descreve os cinco dons estruturais dados ao corpo de Cristo. A lista é bem mais extensa se considerarmos Rm 12, 1 Co 12 e 1 Pe 4 e estudiosos da Bíblia afirmam que esta lista, embora longa, não é exaustiva, isto é, não abarca todos os dons espirituais. Barclay afirma que tais dons são a base e o alicerce da igreja. 

Em primeiro lugar, os apóstolos.
“A palavra apóstolos é usada no Novo Testamento com três diferentes sentidos. Podia significar simplesmente um mensageiro, como é aparentemente o caso em Filipenses 2.25, sentido esse que podemos deixar de lado aqui. Era usada acima de tudo para os doze, que por todo o Novo Testamento ocuparam uma posição especial e preeminente (1 Co 15.5; Ap 21.14). mas lemos a respeito de outros como apóstolos, não apenas o próprio Paulo e Barnabé (At 14.4), mas também Tiago, o irmão do Senhor (Gl 1.19), Silas (1 Ts 2.7) e Júnias e Andrônico, que são mencionados apenas em Rom 16.7, mas que não conhecemos nem de nome” (Francis Foulkes).
No sentido mais estrito, só existem 12 apóstolos, sobre os quais a igreja de Cristo está sendo fundamentada (Ef 2.20). Toda tentativa moderna de ser apóstolo de Cristo, neste sentido, é ridícula e herética. A palavra “apostoleo”, significa “enviado”, que num sentido mais amplo, seriam os atuais missionários, pessoas que plantam igrejas e estabelecem comunidades cristãs numa determinada região.  A função atual seria de estabelecer igrejas e fundar novos trabalhos. Um dom primordial na vida da igreja.

Em segundo lugar, os profetas
Assim como os apóstolos, os profetas, num sentido mais estrito, deixaram de existir, mas eles se destacam claramente no Novo Testamento como homens de fala inspirada, cujo ministério da palavra foi de extrema importância para a igreja. Sua grande obra era proclamar a Palavra de Deus, sob inspiração direta do Espírito Santo, por isto a igreja está fundamentada sobre apóstolos e profetas (Ef 2.20).
Num sentido mais amplo, o ministério profético existe ainda hoje. São aqueles que proclamam as verdades do Evangelho, que anunciam todo propósito de Deus aos pecadores, que exorta a igreja à santidade, que traduz a verdade de Deus ao homem moderno. O anunciador da palavra, num sentido lato, é um profeta. Ele traz a mensagem de Deus aos homens. Não há evidências nem espaços para novas revelações de Deus. A percepção ortodoxa da igreja é que tudo que precisamos para nossa fé e prática já se encontra revelado nas Escrituras, Antigo e Novo Testamentos.

Em terceiro lugar, os evangelistas
Em apenas dois outros textos na Bíblia vemos menção aos evangelistas. Em At 21.8 Filipe, cujas quatro filhas eram profetisas, é chamado de evangelista, em 2 Tm 4.5 Paulo exorta Timóteo a fazer o trabalho de um evangelista e cumprir cabalmente o ministério. Barclay os chama de “a milícia missionária da igreja”, dando a entender que eles exerciam um trabalho de pregador itinerante, indo de lugar a lugar e proclamando as boas novas de salvação. São dons especiais dados a determinadas pessoas para evangelizar e ganhar vidas para o reino de Deus. São anunciadores das boas novas.

Em quarto lugar, pastores e mestres
Foulkes acredita que esta frase descreva os ministros da igreja local, enquanto os três primeiros são pertencentes a projetos de expansão da obra. Apóstolos e evangelistas teriam a tarefa de plantar a igreja e os profetas, de trazer a palavra específica de Deus em uma dada situação. Muitos comentaristas colocam estes dons como sendo complementares, mas particularmente gostaria de fazer uma distinção entre um e outro.

Pastores
São pessoas, cujos dons estão voltados especificamente para nutrir, proteger, amparar, cuidar dos feridos e estimular o rebanho. São conhecidos como “ovelheiros”, já que gostam do cheiro de ovelhas, tiram carrapichos de seus pelos, carregam no braço os feridos. Algumas pessoas na igreja, sem terem o ofício pastoral, possuem, este dom de forma muito presente.
São aqueles que se preocupam com o bem estar da comunidade e cuidam cuidadosamente das ovelhas. Tive o privilégio de ter um sogro que era pastor, visitando o rebanho, em cidades do interior e comunidades carentes, aconselhando, andando lado a lado com os aflitos. Este dom era tão forte em seu ministério que 27 pessoas morreram em seus braços, e isto demonstra como ele era alguém presente no dia a dia do povo. Se você está lendo este texto e é pastor, pergunte a si mesmo: quantas pessoas já acompanhei até a morte? Minha resposta pessoal a esta pergunta é igual a zero.

Mestres
Mestres são aqueles que se debruçam sobre as verdades do Evangelho procurando traduzir o pensamento de Deus para a humanidade. Geralmente apreciam o estudo, gostam de ensinar, discipular e treinar. A Bíblia afirma: “Se ministério, dediquemo-nos ao ministério; ou o que ensina esmere-se no fazê-lo” (Rm 12.7). A primeira observação que fazemos quanto aos mestres é que eles são ensináveis. Não se pode ser mestre sem se tornar um bom aluno. Os mestres da igreja crescem no conhecimento da palavra, estudando as Escrituras, se “afadigam na palavra”.
Mestres são fundamentais para evitar as distorções e heresias. Por isto, o mestre precisa “apresentar-se a Deus, aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15).

Conclusão:
Os dons dados por Cristo à sua igreja, para edificação do seu corpo, traz as seguintes implicações:

A.      Você é importante no projeto do reino de Cristo. Ele te libertou do cativeiro, e lhe deu dons, para que sejam usados para sua glória e para a construção de sua igreja e estabelecimento do seu reino. Sua inoperância ou negligência compromete a obra de Cristo na história;
B.       Você é capacitado para exercer seu dom. Nunca diga “não posso”, “não sei”, “não consigo”. Quando Deus nos chama ele nos habilita. Um dos mais conhecidos princípios sobre missões é o seguinte: “Deus não chama os capacitados, mas capacita os chamados”.
C.      Você precisa conhecer os seus dons. Se você não está servindo a igreja de Cristo, e ainda não encontrou seu lugar no corpo, ainda não está exercendo seus dons. Procure refletir e orar para entender onde Deus deseja usá-lo. Peça direção a Deus, converse com as pessoas, ore sobre o assunto.
D.      Você precisa desenvolver seus dons. No reino de Deus não há lugar para ociosos. Há sempre uma oportunidade de serviço, muitos dependem diretamente de sua disponibilidade, portanto, deixe Deus usá-lo. Não enterre seus dons. A displicência e negligência com os dons trazem grandes prejuízos ao avanço da obra de Cristo. Todos cristãos tem dons, se você não exerce o seu, o corpo será sobrecarregado.


Nenhum comentário:

Postar um comentário