segunda-feira, 18 de maio de 2015

Mt 25.24-30 Receoso... Escondi...


“Sabendo que és homem severo, que ceifas onde não semeastes,
e ajuntas onde não espalhastes, receoso,  escondi na terra o teu talento, aqui tens o que é teu".


Introdução:

Existem 39 parábolas de Jesus, registradas nos Evangelhos. A dos talentos encontra-se apenas em Mateus, embora tenhamos a parábola das Minas em Lucas, que possui muitas semelhanças, mas foi contada em uma situação distinta.
Esta parábola está inserida dentro do sermão escatológico de Cristo, que começa em Mateus 24.1. Portanto, devemos ler esta narrativa, na perspectiva do julgamento. Entre as duas vindas de Cristo, Deus entrega aos seus servos, os talentos para que cada um deles o exercite. Ela conta a história de um homem dando a três servos, talentos diferentes, e retornando depois de um determinado tempo para ver o resultado do trabalho com aquilo que lhes fora confiado.
A um foi entregue dez, a outro cinco, e finalmente, um talento. A ênfase da parábola recai sobre o último deles, que recebendo um talento, resolve enterrá-lo.
“Talentos”, são somas de dinheiro, não se trata de uma moeda, mas de uma medida para dinheiro. Kistemaker afirma que não dá, nem é necessário determinar o valor entregue.  Talento também, na parábola, não é um dom natural, mas uma unidade representativa em dinheiro. Não é uma quantidade muito grande, nem muito pequena de recursos.  O senhor lhes entregou estas quantias.

A parábola nos ensina várias lições:

1.     Os dons foram dados, “segundo a capacidade”, de cada um – (Mt 25.15). O Senhor conhecia seus servos. Homens não possuem as mesmas capacidades. Certo colega de ministério foi muito criticado por não ser um grande pregador, embora fosse um grande professor. Certo dia ele ouviu uma frase muito libertadora: “Quando eu seu sei que não sei, não dói”. A partir de então, toda vez que ouvia um comentário depreciativo sobre sua mensagem ele sabia que seu dom era diferente.
A questão não é quanto talentos recebemos, mas o que fazemos com aquilo que recebemos. Deus nunca cobra aquilo que sabe que não temos. Por isto a Bíblia afirma que “a quem muito é dado, muito será exigido”. O ponto importante é que Deus vai usar nosso currículo, aquilo que temos, e vai colocar oportunidades para colocarmos em prática aquilo que temos.

2.     Os dois primeiros servos, colocaram seus talentos em ação, e receberam, cada um deles 4 elogios:
i.               O Senhor apreciou suas atitudes: “Muito bem”
ii.              Foram chamados de bom e fiel.
iii.            Receberam o reconhecimento de que, apesar de não ser uma grande quantia, souberam trabalhar com o que tinham;
iv.             Foram convidados para assentar-se à mesa com ele.

3.     A parábola ensina que Jesus espera que seus discípulos trabalhem diligentemente com os dons confiados, independentemente do que recebem.
Os discípulos de Cristo, ao ouvirem a parábola, podem ter feito associação com o povo judeu, que receberam os oráculos e a Lei de Deus, a guardaram cuidadosamente, mas não a usaram como Deus queria. No entanto, embora esta verdade se aplique aos judeus, a verdade é que ela foi endereçada aos discípulos. Jesus iria embora, mas lhes deixava a mensagem do Evangelho, que deveria ser pregada a todo mundo, e um dia ele voltaria para pedir contas dos talentos que ele deu a cada um, individualmente.

Por que o servo infiel foi repreendido?

1.     Falso conceito de seu Senhor – Senhor, sabendo que és homem severo, que ceifas onde não semeaste, e ajunta onde não espalhaste” (Mt 25.24). Este homem, declara como vê a Deus. Deus é "severo", cujos critérios de justiça não são coerentes: “ceifas onde não semeias, ajuntas onde não espalhastes".
Ele via o seu Senhor como alguém que faz as coisas a seu próprio modo, um homem duro, injusto. Na sua visão, o Senhor lhe dera um talento apenas para exigir dele, e não para capacitá-lo. Era uma forma de mantê-lo sob controle. Isto fez com que o talento, a dádiva oferecida, ao invés de ser graça, se tornasse uma punição. O Senhor era duro e severo.
Nossa mente funciona assim. Uma palavra bonita como "lar", pode relembrar-nos "céu" ou "inferno". Pai pode se tornar uma ideia de proteção ou de abuso. Quando você tem uma visão errônea de Deus introjetada parece que suas concepções viscerais complicam todo o desenrolada da vida. Você mantém um certo nível de suspeita em relação a Deus, como fez Eva na tentação que a serpente colocou em sua mente. “Deus sabe que no dia comeres, sereis conhecedores, como Deus, do bem e do mal”. Na mente de Eva, surgiu uma suspeita luciférica contra Deus, que muitas vezes parece estar presente em nós.
Pastoreei uma família que perdeu drasticamente o seu pequeno filho de seis anos num acidente. Aquela experiência foi um choque para toda família, amigos e a igreja. Numa visita àquele casal, a mulher em estado catatônico me disse: “Eu sabia que Deus tiraria este meu filho". Chocado com sua declaração indaguei como ela sabia disto, e ela me respondeu: "Deus sempre tira as coisas que eu mais amo na vida".
Este texto lido, revela o caráter de um homem que possuía uma concepção semelhante de seu senhor. Na verdade, cada um de nós traz dentro de si, uma ideia de Deus. Karl Barth, no prefácio de sua conhecida obra Introdução à Teologia Evangélica diz: "Ao termo Deus, poderão ser atribuídos os mais variados sentimentos, de forma que necessariamente deve haver uma multiplicidade de teologias. Não existe ser humano que, de forma consciente, inconsciente ou subconsciente, não tenha o seu Deus ou deuses como sendo objeto de sua ambição ou de sua confiança mais sublime, como sendo base de seu comprometimento mais profundo(São Leopoldo, Ed. Sinodal, 1979, pg. 5)

2.     Obsessão por proteção e segurança - "receoso, escondi..." Sua relação com o Senhor não é a de parceiro. Os outros não viram seu trabalho como demasiado exaustivo, não tiveram orientações confusas quanto ao caráter de Deus, nem tiveram ansiedade e   medo. Nada de filosofias derrotistas, nada de culpa no diabo pelo fracasso, não culparam o espírito da época. Aplicaram seus talentos e foram bem sucedidos. O que recebeu cinco talentos, “saiu imediatamente” (Mt 25.16).
Para o servo negligente, no entanto, o próprio medo tornou-se a razão de sua timidez e do fechamento. É sempre assim, há um proverbio japonês que afirma que “o medo de perder não deixa a gente ganhar”. Ele é censurado por não tentar. Seu senhor o questionou por não ter agido com aquilo que lhe fora dado, nem sequer procurou as formas mais simples de colocar em movimento o que lhe fora dado.  Ele tratou seu talento como “coisa morta”, achou que enterrada seria melhor.
O medo sufocou as oportunidades, impossibilitou-o de ver novos caminhos, de se aventurar e exercitar os talentos que lhe foram dados.

Conclusão:
O princípio que encontramos nesta parábola é que, entre a vinda e a volta do Senhor, talentos foram dados. Os discípulos entenderam bem a parábola de Jesus. Ele estava voltando para o pai celestial, mas um dia retornaria para reencontrar com seus servos, e esta seria a hora de ver o que cada um fez, segundo a sua capacidade, com os talentos que lhe foram entregues.
O que você tem feito com aquilo que Deus lhe deu?

Na Bíblia encontramos muitos exemplos de pessoas que souberam utilizar bem o pouco que Deus lhes entregou:
a)- Elias se encontrou com a viúva de Sarepta, que tinha apenas um pouco de farinha e azeite, mas a serviço de Deus, pode alimentar o profeta e experimentar milagre;
b)- Quando Deus pergunta a Moisés o que ele tinha na mão para enfrentar o poderoso exército Egípcio, ele respondeu que tinha apenas uma vara, e Deus usou este instrumento para abrir o mar vermelho.

E você? O que tem feito com aquilo que o Mestre lhe tem dado?
Deus lhe deu talentos, tempo, criatividade, voz, inteligência, formação, dinheiro. Deus quer usar isto que ele colocou em suas mãos para a glória dele mesmo.
A displicência e a negligência serão julgadas.
O Senhor é duro no julgamento daquele que, tendo recebido os talentos, resolve colocá-los debaixo da terra. Aqueles que confiam na colheita, e empregam aquilo que Deus lhes deu, serão recompensados.

O texto encerra com uma frase complicada:
Porque a todo o que tem se lhe dará, e terá em abundância;
mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado” (Mt 25.29).

Não parece estranho tirar de quem não tem e dar ao que já tem?
Na verdade, esta é uma lei universal.
Se um homem possui um talento e o exercita, progressivamente será capaz de fazer mais com aquilo que tem. Mas se não o exercita, o perderá, mesmo quando obsessivamente tenta protegê-lo. Quanto mais trabalhamos e exercitamos, mais teremos. É uma lei de semeadura. “Quem quiser perder sua vida, a achará, quem perder a sua vida, por minha causa, achá-la-á” (Jo 12.24)”. Seja qual for o talento, multiplica os talentos que Cristo lhe tem dado. Não o esconda, nem o coloque na terra. O mestre voltará para ver o que fizemos com aquilo que recebemos.

Conclusão:

Este é o paradoxo da cruz.
Quando jesus falava aos seus desatentos discípulos sobre sua morte, eles não o entendiam, até que Jesus afirmou: “Se o grão de trigo não morrer, fica ele só, mas se morrer, produz muitos frutos” (Jo 12.24).
É assim que funciona o reino de Deus.
Omitir, desligar, separar, agir com displicência, negligencia e preguiça, traz sobre nossas vidas graves consequências.

Portanto – Não deixe seu talento enterrado. Faça-o frutificar. É Isto que o Senhor espera de nós.

Nenhum comentário:

Postar um comentário