“Sabendo que és
homem severo, que ceifas onde não semeastes,
e ajuntas onde não
espalhastes, receoso, escondi na terra o teu talento, aqui tens o que é
teu".
Introdução:
Existem 39 parábolas de Jesus,
registradas nos Evangelhos. A dos talentos encontra-se apenas em Mateus, embora
tenhamos a parábola das Minas em Lucas, que possui muitas semelhanças, mas foi
contada em uma situação distinta.
Esta parábola está inserida dentro do
sermão escatológico de Cristo, que começa em Mateus 24.1. Portanto, devemos ler
esta narrativa, na perspectiva do julgamento. Entre as duas vindas de Cristo,
Deus entrega aos seus servos, os talentos para que cada um deles o exercite.
Ela conta a história de um homem dando a três servos, talentos diferentes, e
retornando depois de um determinado tempo para ver o resultado do trabalho com
aquilo que lhes fora confiado.
A um foi entregue dez, a outro cinco,
e finalmente, um talento. A ênfase da parábola recai sobre o último deles, que
recebendo um talento, resolve enterrá-lo.
“Talentos”, são somas de dinheiro,
não se trata de uma moeda, mas de uma medida para dinheiro. Kistemaker afirma
que não dá, nem é necessário determinar o valor entregue. Talento também,
na parábola, não é um dom natural, mas uma unidade representativa em dinheiro.
Não é uma quantidade muito grande, nem muito pequena de recursos. O
senhor lhes entregou estas quantias.
A parábola nos ensina várias lições:
1.
Os dons foram dados, “segundo a
capacidade”, de cada um – (Mt 25.15). O Senhor conhecia seus
servos. Homens não possuem as mesmas capacidades. Certo colega de ministério
foi muito criticado por não ser um grande pregador, embora fosse um grande
professor. Certo dia ele ouviu uma frase muito libertadora: “Quando eu seu sei
que não sei, não dói”. A partir de então, toda vez que ouvia um comentário
depreciativo sobre sua mensagem ele sabia que seu dom era diferente.
A questão não é quanto talentos
recebemos, mas o que fazemos com aquilo que recebemos. Deus nunca cobra aquilo
que sabe que não temos. Por isto a Bíblia afirma que “a quem muito é dado,
muito será exigido”. O ponto importante é que Deus vai usar nosso currículo,
aquilo que temos, e vai colocar oportunidades para colocarmos em prática aquilo
que temos.
2.
Os dois primeiros servos, colocaram seus talentos
em ação, e receberam, cada um deles 4 elogios:
i. O Senhor apreciou
suas atitudes: “Muito bem”
ii. Foram chamados de
bom e fiel.
iii. Receberam o
reconhecimento de que, apesar de não ser uma grande quantia, souberam trabalhar
com o que tinham;
iv. Foram convidados
para assentar-se à mesa com ele.
3.
A parábola ensina que Jesus espera que seus
discípulos trabalhem diligentemente com os dons confiados, independentemente do
que recebem.
Os discípulos de Cristo, ao ouvirem a
parábola, podem ter feito associação com o povo judeu, que receberam os
oráculos e a Lei de Deus, a guardaram cuidadosamente, mas não a usaram como
Deus queria. No entanto, embora esta verdade se aplique aos judeus, a verdade é
que ela foi endereçada aos discípulos. Jesus iria embora, mas lhes deixava a
mensagem do Evangelho, que deveria ser pregada a todo mundo, e um dia ele
voltaria para pedir contas dos talentos que ele deu a cada um, individualmente.
Por que o servo infiel foi
repreendido?
1.
Falso conceito de seu Senhor – “Senhor, sabendo
que és homem severo, que ceifas onde não semeaste, e ajunta onde não espalhaste” (Mt
25.24). Este homem, declara como vê a Deus. Deus é
"severo", cujos critérios de justiça não são coerentes: “ceifas
onde não semeias, ajuntas onde não espalhastes".
Ele via o seu Senhor como alguém que
faz as coisas a seu próprio modo, um homem duro, injusto. Na sua visão, o
Senhor lhe dera um talento apenas para exigir dele, e não para capacitá-lo. Era
uma forma de mantê-lo sob controle. Isto fez com que o talento, a dádiva
oferecida, ao invés de ser graça, se tornasse uma punição. O Senhor era duro e
severo.
Nossa mente funciona assim. Uma
palavra bonita como "lar", pode relembrar-nos "céu" ou
"inferno". Pai pode se tornar uma ideia de proteção ou de abuso.
Quando você tem uma visão errônea de Deus introjetada parece que suas concepções
viscerais complicam todo o desenrolada da vida. Você mantém um certo nível de
suspeita em relação a Deus, como fez Eva na tentação que a serpente colocou em
sua mente. “Deus sabe que no dia comeres, sereis conhecedores, como Deus, do
bem e do mal”. Na mente de Eva, surgiu uma suspeita luciférica contra
Deus, que muitas vezes parece estar presente em nós.
Pastoreei uma família que perdeu
drasticamente o seu pequeno filho de seis anos num acidente. Aquela experiência
foi um choque para toda família, amigos e a igreja. Numa visita àquele casal, a
mulher em estado catatônico me disse: “Eu sabia que Deus tiraria este
meu filho". Chocado com sua declaração indaguei como ela sabia
disto, e ela me respondeu: "Deus sempre tira as coisas que eu mais
amo na vida".
Este texto lido, revela o caráter de
um homem que possuía uma concepção semelhante de seu senhor. Na verdade, cada
um de nós traz dentro de si, uma ideia de Deus. Karl Barth, no prefácio de sua
conhecida obra Introdução à Teologia Evangélica diz: "Ao
termo Deus, poderão ser atribuídos os mais variados sentimentos, de forma que
necessariamente deve haver uma multiplicidade de teologias. Não existe ser
humano que, de forma consciente, inconsciente ou subconsciente, não tenha o seu
Deus ou deuses como sendo objeto de sua ambição ou de sua confiança mais
sublime, como sendo base de seu comprometimento mais profundo" (São
Leopoldo, Ed. Sinodal, 1979, pg. 5)
2.
Obsessão por proteção e segurança - "receoso,
escondi..." Sua relação com o Senhor não é a de parceiro. Os outros não
viram seu trabalho como demasiado exaustivo, não tiveram orientações
confusas quanto ao caráter de Deus, nem tiveram ansiedade e medo.
Nada de filosofias derrotistas, nada de culpa no diabo pelo fracasso, não
culparam o espírito da época. Aplicaram seus talentos e foram bem sucedidos. O
que recebeu cinco talentos, “saiu
imediatamente” (Mt 25.16).
Para o servo negligente, no entanto,
o próprio medo tornou-se a razão de sua timidez e do fechamento. É sempre
assim, há um proverbio japonês que afirma que “o medo de perder não deixa a
gente ganhar”. Ele é censurado por não tentar. Seu senhor o questionou por não
ter agido com aquilo que lhe fora dado, nem sequer procurou as formas mais
simples de colocar em movimento o que lhe fora dado. Ele
tratou seu talento como “coisa morta”, achou que enterrada seria melhor.
O medo sufocou as oportunidades,
impossibilitou-o de ver novos caminhos, de se aventurar e exercitar os talentos
que lhe foram dados.
Conclusão:
O princípio que encontramos nesta
parábola é que, entre a vinda e a volta do Senhor, talentos foram dados. Os
discípulos entenderam bem a parábola de Jesus. Ele estava voltando para o
pai celestial, mas um dia retornaria para reencontrar com seus servos, e esta
seria a hora de ver o que cada um fez, segundo a sua capacidade, com os
talentos que lhe foram entregues.
O que você tem feito com aquilo que
Deus lhe deu?
Na Bíblia encontramos muitos exemplos
de pessoas que souberam utilizar bem o pouco que Deus lhes entregou:
a)- Elias se encontrou com a viúva de
Sarepta, que tinha apenas um pouco de farinha e azeite, mas a serviço de Deus,
pode alimentar o profeta e experimentar milagre;
b)- Quando Deus pergunta a Moisés o
que ele tinha na mão para enfrentar o poderoso exército Egípcio, ele respondeu
que tinha apenas uma vara, e Deus usou este instrumento para abrir o mar
vermelho.
E você? O que tem feito com aquilo
que o Mestre lhe tem dado?
Deus lhe deu talentos, tempo,
criatividade, voz, inteligência, formação, dinheiro. Deus quer usar isto que
ele colocou em suas mãos para a glória dele mesmo.
A displicência e a negligência serão
julgadas.
O Senhor é duro no julgamento daquele
que, tendo recebido os talentos, resolve colocá-los debaixo da terra. Aqueles
que confiam na colheita, e empregam aquilo que Deus lhes deu, serão
recompensados.
O texto encerra com uma frase
complicada:
“Porque a todo o que tem se lhe
dará, e terá em abundância;
mas ao que não tem,
até o que tem lhe será tirado” (Mt 25.29).
Não parece estranho tirar de quem não
tem e dar ao que já tem?
Na verdade, esta é uma lei universal.
Se um homem possui um talento e o
exercita, progressivamente será capaz de fazer mais com aquilo que tem. Mas se
não o exercita, o perderá, mesmo quando obsessivamente tenta protegê-lo. Quanto
mais trabalhamos e exercitamos, mais teremos. É uma lei de semeadura. “Quem
quiser perder sua vida, a achará, quem perder a sua vida, por minha causa, achá-la-á”
(Jo 12.24)”. Seja qual for o talento, multiplica os talentos que Cristo lhe tem
dado. Não o esconda, nem o coloque na terra. O mestre voltará para ver o que
fizemos com aquilo que recebemos.
Conclusão:
Este é o paradoxo da cruz.
Quando jesus falava aos seus
desatentos discípulos sobre sua morte, eles não o entendiam, até que Jesus
afirmou: “Se o grão de trigo não morrer,
fica ele só, mas se morrer, produz muitos frutos” (Jo 12.24).
É assim que funciona o reino de Deus.
Omitir, desligar, separar, agir com displicência,
negligencia e preguiça, traz sobre nossas vidas graves consequências.
Portanto – Não deixe seu talento
enterrado. Faça-o frutificar. É Isto que o Senhor espera de nós.
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