quarta-feira, 12 de maio de 2021

LIderança: Mobilização: Como levar as pessoas a cooperarem?



 

 

Introdução

 

Acho muito interessante a definição de liderança dada por Dwight E. Eisenhover:

“Liderança é a capacidade de fazer com que a pessoa faça aquilo que você quer

            quando você quer

                        do jeito que você quer

                                    porque ela quer fazer”.

 

Por que muitas vezes vemos pessoas se envolvendo e seguindo determinados lideres, às vezes de forma leal, compromissada, sacrificial e eventualmente até com obediência cega, enquanto nós não conseguimos mobilizar as pessoas em direção a projetos e na visão que você considera tão salutar para sua instituição? Por que as pessoas seguem determinados líderes enquanto outros encontram tanta dificuldade em mobilizar pessoas para determinados projetos?

 

Como atrair pessoas à visão que você propõe? Como mobilizar de forma efetiva as pessoas?

 

Creio que cinco passos podem ajudar:

 

1. Entenda a cultura das pessoas – Determinadas pessoas possuem o feeling da comunidade e os liderados se identificam com elas porque passam segurança. É comum vermos líderes impostos tentando fazer com que as pessoas se movam em direção ao que eles desejam, mas os resultados não acontecem, mas quando surge um líder natural, as pessoas aderem ao plano, trazendo resultados imediatos, e o envolvimento se dá de forma efetiva.

 

Quando você não entende a cosmovisão das pessoas, hábitos, atitudes, e não sabe porque elas reagem a determinados estímulos e rejeitam outros, torna-se difícil criar empatia.

 

Muitas vezes não se trata apenas de identificar a cultura das pessoas, mas é necessário também entender a cultura de uma organização. Cultura organizacional, cultura empresarial ou cultura corporativa são os termos que definem o conjunto de hábitos e crenças firmados por meio de normas, valores, expectativas e atitudes compartilhados por todos os integrantes de uma empresa.

 

Bill Hybels afirma que quando ele precisa contratar alguém para fazer parte de sua equipe, ele considera quatro aspectos:

Caráter

Competência

Cultura,

Química (em inglês: Chemistry).

Estes dois últimos aspectos tem a ver com a compreensão e a capacidade de fazer leituras apropriadas. Ao pensar na cultura, ele considera se a pessoa está identificada com a forma de ser da instituição. Muitas vezes pastores sofrem em seus ministérios, não porque sejam líderes incapazes, mas porque não foram capazes de entender o ambiente no qual se encontram. Na questão da “química”, Hybels acentua a identificação pessoal da pessoa que está sendo contratado, com toda equipe. Eventualmente o novo membro do staff não é simpático ao grupo, ou não encontra identificação emocional.

 

2. Carisma é essencial – Muitas vezes ficamos surpresos com a rapidez com que as pessoas aderem a determinados líderes, enquanto nos esforçamos para realizar determinadas tarefas tentando levar as pessoas a um engajamento numa determinada visão e não conseguimos.

 

O que estes líderes possuem que levam as pessoas a se mobilizarem de forma tão espontânea e voluntária? A palavra chave para isto é “carisma”. Este poder de atração tão presente em determinadas personalidades. As pessoas se sentem atraídas a elas, e gostam de andar ao seu lado, tem interesse em se aliar a elas.

 

Não confundamos carisma com caráter. Muitos líderes com grande poder de mobilização não possuem integridade, mas mesmo assim, as pessoas o seguem. Portanto, caráter, infelizmente, nem sempre é o fator mais decisivo para que as pessoas se mobilizem. Trata-se de uma inteligência emocional presente em algumas pessoas, que levam os outros a se aproximarem delas por causa do seu poder de atração. Às vezes é sua personalidade charmosa, ou forte, mas que inspira confiança aos liderados.

 

3. Consistência nos projetos – As pessoas seguem líderes consistentes. Um líder com carisma, mas sem caráter, pode até atrair pessoas num primeiro momento, mas se seus projetos não forem exequíveis, facilmente mudarão sua abordagem.

 

Existem três inimigos presentes:

A.   Insegurança – Pessoas não seguirão um líder, se eles não estiverem convencidos de que o lugar que pisam é firme. Elas podem até estar equivocadas na sua avaliação e serem enganadas, mas é fundamental que se sintam, inicialmente, seguras para caminhar nesta direção.

 

B.    Incerteza – Líderes com ambiguidade, não comunicam confiança. As pessoas precisam se convencer de que estão colocando seu tempo, energia, talentos e recursos em projetos viáveis. As pessoas podem ser simples, mas isto não quer dizer que são tolas. Precisamos transmitir com firmeza a visão, estando certos do que falamos.

 

C.    Inconstância – Outro fator de risco é a inconstância ou inconsistência nos projetos. Ninguém está interessado em entrar num projeto que vai durar apenas dias, ou em projetos que estão sempre mudando de direção. Um dos fatores a que se atribui o sucesso da Amazon, criado por George Bezos é que na sua famosa carta anual para todos os acionistas e empregados, as pessoas não se sentem pisando em areia movediça.

 

4. O investimento vale a pena? Outro aspecto essencial para mobilizar as pessoas é que todos liderados tem uma pergunta em mente, pode ser inconsciente ou subliminar, mas encontra-se implícita: O que vou ganhar ao aderir a este projeto?

 

O ganho não é necessariamente financeiro, na verdade dinheiro não é o grande fator motivacional. Existem muitas outras coisas mais relevantes e importantes. Ser capaz de fazer algo bom para os outros e fazer a diferença é considerado um dos grandes fatores de motivação para funcionários e liderados. Veja como este gráfico nos ensina sobre isto. Neste gráfico, o fator dinheiro & benefícios foi apontado como o mais importante apenas para 4% dos entrevistados.

 

Description: asted image 0 2198

 

É certo que muitas pessoas consideram o dinheiro um aspecto importante para o engajamento, mas numa instituição filantrópica o trabalho é voluntário, então devemos descobrir outros fatores motivacionais que possam ser relevantes e possam motivar o envolvimento, mesmo sem qualquer ganho monetário, mas que, eventualmente pode ser mais poderoso que o dinheiro em si. Considere como muitas pessoas ao se envolver numa ONG, ou numa igreja, não apenas disponibilizam seus tempos talentos, recursos e tempo, mas ainda contribuem financeiramente. Por que as pessoas fazem isto? Quais são estes ganhos? Que fatores intrínsecos num projeto que leva as pessoas a se interessarem, se envolverem, se mobilizarem, gastarem seu tempo e seu conhecimento?

 

No caso do voluntariado, o ganho não é financeiro, mas imaterial, e talvez por isto, seja algo tão grandioso. Muitas pessoas buscam aceitação, reconhecimento, aprovação, que são recompensas poderosas em si mesmas, mas talvez o maior ganho seja de sentido e significado. Os seres humanos são, na sua maioria, generosos e buscam significado em gestos de solidariedade e doação. Isto traz sentido profundo. Acredita-se que muitas pessoas seriam curadas de sua depressão se elas, ao menos, tivessem uma causa para lutar, uma razão para viver e para morrer. Portanto, as pessoas são motivadas e mobilizadas, porque há um ganho emocional e espiritual no ato de sua doação.

 

Embora a maioria das pessoas não reflita sobre isto, o que elas buscam é algo que possa lhes acrescentar sentido. Victor Frankl, fundador da Logoterapia, uma corrente da psicologia moderna, afirma que: “Quem tem porque viver pode suportar qualquer como”[1].  As pessoas encontram sentido em cooperar, se envolver, participar, doar.

 

Eu era ainda um jovem pastor na Igreja Presbiteriana de Brasília, cujo prédio fica ao lado de um bloco construído para acolher os senadores da república. Um dia, numa escola dominical, estava falando sobre o valor e a importância do trabalho, não apenas como remuneração, mas como forma de cooperar para a construção do mundo, e abençoar as pessoas. Estava ali, uma ilustre visitante, esposa de um senador, embora ninguém a conhecesse. Ao terminar a palestra, ela veio em minha direção, dizendo que estava passando por um período de muita depressão e veio à igreja para receber uma orientação, e ela havia descoberto naquele dia, que ela precisava servir, que sua vida estava muito centrada em torno de seus problemas pessoais. Espero que sua vida tenha encontrado sentido pessoal na compreensão e engajamento em alguma atividade que possa orientar sua história.

 

5. Liderança inspiradora. John Maxwell afirma que “tudo se levanta e cai em liderança”. Nenhum projeto é executado sem a presença e força de um líder, seja ele espiritual, organizacional, carismático.

 

Pessoas são capazes de morrer quando se identificam com um líder forte e com a inspiração que ele traz. A história da humanidade está repleta de bons e maus exemplos neste sentido. No verão de 2002 em Cape Cod, (EUA), cerca de 20 baleias se encalharam ao mesmo tempo nas praias. Como é que todas elas se desorientaram assim? A resposta está em que elas seguem cegamente seu líder, as vezes ele está perseguindo uma presa e vai para águas rasas, e todas as demais seguem a mesma direção.

 

O mesmo acontece com os seres humanos. Quando inspirados, são capazes de grande doação e sacrifício. Somos uma cultura muito voltada para a questão financeira, mas existe um valor muito maior, presente nos seres humanos: algo que as inspire, lhes dê razão para viver. Por isto o líder é capaz de inflamar, encorajar, conduzir as pessoas a grandes sacrifícios porque inspiram seus liderados.

 

O verdadeiro líder é capaz de mobilizar as pessoas, porque inspira crescimento, evolução, desenvolvimento e ações positivas em seus liderados. Líder é agente de mudanças nas suas instituições porque são capazes de levar as pessoas a sonharem e a doarem o melhor que possuem por causa de uma causa.

 

 

 

 

 

 

 



[1] Frankl, Victor – Em busca de sentido. São Leopoldo, Ed. Sinodal, 2020, pg. 7 

Nenhum comentário:

Postar um comentário