sábado, 21 de maio de 2016

Ef 2.1-10 Sob Nova Direção



Introdução:

Um conhecido programa humorístico da TV Brasileira foi o “Sob nova direção”. Todos temos ideia do que isto significa: trata-se da condição de um estabelecimento, que agora passa a ser dirigido por um novo proprietário, eventualmente com mudanças de conceitos e paradigmas, e que os antigos donos não lideram mais .
É disto que a Bíblia está falando neste texto de Ef. 2.1-12. O texto está repleto de contrastes, mostrando a forma de viver longe de Deus e debaixo da orientação de Deus, a situação da humanidade sem Jesus e com Jesus, o que antes dirigia nossa vida e o que agora dirige a vida da pessoa que se encontra debaixo da orientação de Jesus.
Três são as forças  que dominam o ser humano antes de seu encontro com Cristo. Alguns a chamam de tríade maligna: O mundo, o Diabo e  a carne.

O primeiro parágrafo assim se divide: Nossa situação de pagãos, antes de Cristo e nosso privilégio em Deus, com a vida arraigada em Jesus.

Este texto descreve a realidade de todas as pessoas, não apenas de uma tribo particularmente decadente ou de um segmento degradado da sociedade. Este é o diagnóstico do homem caído numa sociedade caída. É um quadro da condição humana universal. Mostra também, como Deus está criando uma sociedade redimida, por meio da ressurreição espiritual dos crentes.
Paulo inicia este paragrafo mostrando a situação espiritual dos seres humanos, antes de conhecerem a Cristo. “três terríveis acusações lhes foram feitas: estavam mortos (v.1); eram escravos do pecado (vv 2,3a); foram objeto da ira de Deus”(Curtis Vaughan, p. 52).

Exposição : Deus faz diferença !

Neste texto, o apóstolo mostra três verdades terríveis sobre o homem:

1. Estávamos mortos – Quando olhamos as pessoas ao nosso redor, esta frase não parece fazer sentido nem estar de acordo com os fatos da realidade cotidiana. Não temos a mesma impressão dos “mortos vivos” do “The Walking dead”. As pessoas se parecem bem vivas:
Uma tem o corpo vigoroso do atleta,
            Outra , a mente lúcida de um intelectual
                        Outro ainda, a personalidade brilhante de um ator.
Devemos dizer que, se Cristo não as salvou, estão mortas ?
Sim. Na esfera de suprema importância: Não é o corpo, nem a mente, nem a personalidade,
mas a ALMA.  É uma alma sem vida...Não tem ouvidos para o Espírito de Deus.

O que nos revela a figura do morto?
Primeiramente, o morto é incapaz de reagir, de corresponder, de comunicar, de movimentar-se, de aproximar. Deus fala ao homem e ele não ouve, não responde, não reage. É morte espiritual. O homem sem o toque do Espirito está inteiramente incapaz de responder ao chamado de Deus, por isto é que a regeneração, o ato do Espirito nos tornar nova criatura, é um dos passos iniciais no processo da salvação. Sem a obra do Espirito não respondemos a Deus. A condição do homem é a falta de vida e qualquer movimento em direção à Deus.
Em segundo lugar, ele começa a se decompor. Não no sentido de mau-cheiro, mas da desintegração de sua personalidade. O homem se decompõe quando se separa de Deus. A evidência disto se revela no desatino filosófico, existencial e moral. A Bíblia fala do homem como estando espiritualmente morto, devido ao pecado, e necessitando de nada mesmo que uma vida da parte de Deus.
Portanto, esta é uma declaração geral e real da condição espiritual de todas as pessoas fora de Cristo: mortos em delitos (paratôma) e pecados ((hamartia). Estas duas palavras são sinônimas e expressam ideias similares. “Provavelmente não ha diferença essencial entre os dois substantivos; a raiz do primeiro significa “errar o alvo” e do segundo, “errar, sair do caminho”, de modo que ambos exprimem a falha do homem em viver como poderia e deveria”(Francis Foulkes, pg 58). O homem errou o alvo, como dois caçadores que ao invés de mataram a caça que procuram, atiram no companheiro. O homem perdeu a perspectiva e o propósito que Deus lhe estabeleceu, e encontra-se morto em seu delito.

2. Éramos escravos - O apóstolo Paulo afirma que existem três forças escravizantes agindo e dirigindo a vida do homem sem Deus. São forças que nos obrigam a uma ação que nem sempre é positiva. A característica mais triste do escravo é que ele não tem vontade própria, pois mesmo que a tivesse, não seria capaz de agir com liberdade.
Os termos "segundo" que surgem apontam para as forças, uma espécie de "triunidade satânica", que impulsionam a nossa humanidade a ser como é:

2.1. O curso deste mundo – Segundo o curso deste mundo”. “Mundo” muitas vezes na Bíblia é definido como sistema, e esta é uma das vezes que deve ser traduzida assim. Paulo fala aqui do pensamento e da cultura que controlam o ser humano. São sistemas filosóficos e éticos, que agem como a força brutal da correnteza do rio e que arrasta tudo que está ao seu redor.
Vivemos no meio de uma realidade cultural pagã e demoníaca. A sociedade não é neutra, antes é oposta a Deus.
Nos tempos bíblicos, a igreja teve que enfrentar toda uma forte cultura helênica, pagã, sensual; teve que lidar com a ética romana de dominação, opressão e violência. A vida humana pouco valia na mão do Império. O homossexualismo era instituído, as meninas escravas se tornavam meros objetos nas mãos de senhores inescrupulosos, adolescentes eram seviciados e iam com os generais para servirem de escravos sexuais na guerra.
"Este mundo" é inimigo de Deus, possui um sistema de valores sociais que nada traz de Deus, um sistema opressor e subjugador, uma influência dominante que gera uma escravidão espiritual. Uma tradução contemporânea da Bíblia traduzido esta frase como "éreis arrastados ao longo das correntes de ideias" (CIN).
Tal é o curso desta época e da cultura dominante. Antes de Jesus, somos dominados e escravizados completamente por esta cosmovisão. Jesus muda perspectivas, valores e percepções. Nos capacita a sermos contra culturais e a não nos conformamos com a forma de pensar e agir desta geração. Não podemos mais sermos controlados pelo pensamento social e humano, nem por valores humanistas e secularizados.
Estamos sob nova direção!

2.2. Forças satânicas - "segundo o príncipe da potestade do ar". Esta é a segunda força que domina o homem sem Deus. O termo "ar"  pode ser traduzido por "atmosfera nebulosa", indicando "trevas". Não se refere a ideia mágica de que o ar (atmosfera) seja dominada pelo diabo.
Suas estratégias são sutis e bem organizadas. Ele induz certo pensamento de independência e rebelião contra Deus.
O diabo é descrito na Bíblia como um ser pessoal e existem inteligências demoníacas que agem na vida das pessoas e das estruturas sociais. Não há nenhuma razão para pensar que a retomada deste tema seja "uma moda eclesiástica". Jesus e seus apóstolos ensinavam a existência do demônio e confrontavam suas manifestações.
É curioso que enquanto  negamos a realidade do diabo, o satanismo viceja fora da Igreja. Estima-se que cerca de 60.000 declarados existam atualmente nos EUA (1994) e no Brasil fala-se num número de 5.000.  Magias negras alcançam popularidade e dimensões assustadoras.
Há um "espírito que atua nos filhos da desobediência. "Potestade do ar" descreve sua visibilidade. Em Ef 6.11 lemos: “Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo”. A velha vida, sem a atuação de Deus que nos dá poder está sujeita à orientação e direção dos poderes do mal (grego energountos).
Estes espíritos malignos atuam nos filhos da desobediência. Isto descreve seu campo de ação. Ele dá a direção daqueles que não estão debaixo da orientação divina.
Apenas quando o homem se encontra sob nova direção, ele vai discernir a Deus.

            2.3. Inclinações da carne- “entre os quais também todos nós andamos outrora segundo as inclinações da carne, fazendo a vontade da carne e do pensamento, e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais ”(Ef 1.3). Este é terceira força que conspira contra Deus.
Carne (sarx), não são os tecidos vivos que cobrem o esqueleto ósseo, mas sim as inclinações internas, impulsos de uma natureza caída e egocêntrica. As inclinações da carne e do pensamento, não são forças externas, nem o diabo, nem o mundo, embora sejam parceiros destes.
Isto mostra que não precisamos de elementos externos para nos afastarmos de Deus. Bastam apenas nossos motivos pecaminosos. O homem sem Deus obedece os impulsos de sua natureza auto enamorada, está entregue a si mesmo, e como acontece na terceira lei da termodinâmica de Einstein, que diz que uma matéria entregue a si mesma nunca tende a organizar, e sim a deteriorar-se, tal se dá conosco.
A carne tem poder nefasto sobre nós. Ela nos torna escravos de desejos, lascívia e paixões. Nos arrasta para pensamentos pecaminosos e destruidores. Por isto a Bíblia nos convida a “negar-se a si mesmo”, a “fazer morrer a natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e à avareza, que é idolatria”(1 Ts 4.5). Ainda somos exortados a não alimentarmos a carne, no tocante às suas concupiscências, que são desejos estragados que ela produz (Rm 13.14).
Por outro lado, a Bíblia afirma que a única forma de obter vitória sobre a carne é a busca por santificação, gerada em nós pelo seu Espirito Santo. Quando o homem insiste em viver uma vida fora de sua direção, traz sobre si a ira de Deus, que é algo interessante: Deus abandona o homem a si mesmo, às suas próprias vontades e paixões. Por causa de suas inclinações, ele se auto destruirá.
Em Rm 1.24,26,28 vemos que Deus entregou os homens ímpios à si mesmo, e às suas concupiscências para desonrarem o seu corpo entre si, entregou-os a paixões infames para que mudassem o modo natural de suas relações intimas e os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes. A ira de Deus, portanto, é Deus deixou o homem natural seguir seus instintos. Isto vai atingir suas emoções e paixões, seus corpos e desejos e seu intelecto.
As inclinações da carne  incluem a soberba, a ambição, a rejeição à verdade de Deus, a autonomia e desejo de viver sem a direção de Deus. Sempre que o "eu" se levanta contra Deus eis aí a carne.
Para nos livrar deste auto enamoramento, Deus faz algo radical: Ele crucifica o nosso velho homem com Cristo, para que o corpo do pecado seja destruído e assim não sirvamos mais a este corpo tirano (Rm 6.6), ele nos pede que ofereçamos a Ele, os membros deste corpo, para que não mais sirvam como instrumentos de iniquidade, mas que sejam ofertas a Deus, como instrumentos de justiça (Rm 6.13). Este oferecimento é uma oferta de nós mesmos a Deus.
Como é possível termos uma nova direção, uma vez que estamos escravizados ao pecado? Como é possível se livrar desta tríade maligna: mundo, diabo e carne?
Em Ef 2.1 lemos: “Ele vos deu vida, estando vós mortos em vossos delitos e pecados”.
Quando alguém pensa na salvação em termos de justiça própria, e não baseado na graça de Deus, é bom refletir: Como alguém morto, sem habilidade moral, dominado por forças externas e internas que conspiram contra Deus pode encontrar a vida e a liberdade, a não ser que Deus o ressuscite dentre os mortos?
Algum tempo atrás li uma frase marcante: “Só existem duas coisas que podem transformar o homem, o seu pecado ou a graça de Deus”.
Os vs.4 e 5  deste texto dizem o seguinte: “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, - pela graça sois salvos”. Preste atenção na conjunção adversativa, mas. O surgimento desta pequena conjunção muda completamente o sentido da nossa história. Estávamos mortos, mas ele nos deu vida; éramos escravos, mas ele nos libertou; éramos dominados pelo mundo, mas ele nos tirou deste sistema; éramos totalmente subordinados à orientação do príncipe da potestade do ar, e ele nos trouxe para o reino do Filho do seu amor. Tudo foi Deus que fez. Ele nos deu novo status, de condenação por estarmos debaixo da sua ira, para uma relação de afeto e de amor. Mas isto só foi possível porque Deus assumiu a direção.
Estamos agora, sob nova direção.
Não mais do mundo, do diabo e da carne, mas de Deus.
O vs 4 fala da misericórdia de Deus, e o vs 5 de sua graça. Você sabe a diferença entre uma e outra? Já ouviram falar que a misericórdia é Deus deixar de dar o que merecemos. O que merecemos? Sua ira e condenação. Mas ele resolveu ser misericordioso conosco. Graça, porém, embora parecida com a misericórdia, pode ser vista como o ato de “Deus nos dar o que não merecemos.
A ênfase de todo este texto esta na misericórdia e graça de Deus.
Deus é quem faz. Ele viu a nossa condição, e por nos ter amado, nos deu vida, nos ressuscitou com Cristo e nos fez assentar nos lugares celestiais. A misericórdia e a graça excluem qualquer pressuposto da justiça própria. 

Conclusão:
As forças opressoras são internas e externas.
Por fora agem o mundo (cultura secular) e o diabo (força espiritual), o espírito maligno que escraviza o homem.
Dentro age a carne, a natureza caída, profundamente egocêntrica.
Esta situação nos condena aos olhos de Deus. "Éramos por natureza, filhos da ira".
A ira de Deus não é como a do homem. Não é mau-humor, como se ele pudesse perder as estribeiras diante de um determinado fato ou provocação. Não é despeito, malícia ou vingança. Nunca é intempestiva, nem surge por um processo inevitável de causa e efeito. Não é uma reação impulsiva, nem impessoal.

A ira de Deus é sua hostilidade pessoal e direta frente a qualquer pecado. Por isto, sua ira não é incompatível com seu amor. Por isto, neste texto saímos da “ira” (vs. 3), para a "misericórdia" (vs. 4), sem qualquer embaraço ou dificuldade. A obra de Deus e sua intervenção interrompem o caos e  tira-nos da escravidão. Deus irrompe o caos para dar vida. Deus nos deu vida,  nos ressuscitou e nos assentou em lugares celestiais, com Cristo.


Por isto podemos afirmar que estamos sob nova direção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário