Introdução:
Um conhecido programa humorístico da TV Brasileira
foi o “Sob nova direção”. Todos temos ideia do que isto significa: trata-se da
condição de um estabelecimento, que agora passa a ser dirigido por um novo
proprietário, eventualmente com mudanças de conceitos e paradigmas, e que os
antigos donos não lideram mais .
É disto que a Bíblia está falando neste texto de
Ef. 2.1-12. O texto está repleto de contrastes, mostrando a forma de viver
longe de Deus e debaixo da orientação de Deus, a situação da humanidade sem
Jesus e com Jesus, o que antes dirigia nossa vida e o que agora dirige a vida
da pessoa que se encontra debaixo da orientação de Jesus.
Três são as forças
que dominam o ser humano antes de seu encontro com Cristo. Alguns a
chamam de tríade maligna: O mundo, o Diabo e
a carne.
O primeiro parágrafo assim se divide: Nossa
situação de pagãos, antes de Cristo e nosso privilégio em Deus, com a vida
arraigada em Jesus.
Este texto descreve a realidade de todas as pessoas,
não apenas de uma tribo particularmente decadente ou de um segmento degradado
da sociedade. Este é o diagnóstico do homem caído numa sociedade caída. É um
quadro da condição humana universal. Mostra também, como Deus está criando uma
sociedade redimida, por meio da ressurreição espiritual dos crentes.
Paulo inicia este paragrafo mostrando a situação
espiritual dos seres humanos, antes de conhecerem a Cristo. “três terríveis
acusações lhes foram feitas: estavam mortos (v.1); eram escravos do pecado (vv
2,3a); foram objeto da ira de Deus”(Curtis Vaughan, p. 52).
Exposição
: Deus faz diferença !
Neste texto, o apóstolo mostra três verdades
terríveis sobre o homem:
1.
Estávamos mortos – Quando olhamos
as pessoas ao nosso redor, esta frase não parece fazer sentido nem estar de acordo com os fatos da realidade
cotidiana. Não temos a mesma impressão dos “mortos vivos” do “The Walking
dead”. As pessoas se parecem bem vivas:
Uma tem o corpo vigoroso do atleta,
Outra
, a mente lúcida de um intelectual
Outro
ainda, a personalidade brilhante de um ator.
Devemos dizer que, se Cristo não as salvou, estão
mortas ?
Sim. Na esfera de suprema importância: Não é o
corpo, nem a mente, nem a personalidade,
mas a ALMA.
É uma alma sem vida...Não tem ouvidos para o Espírito de Deus.
O que
nos revela a figura do morto?
Primeiramente, o morto é incapaz de reagir, de
corresponder, de comunicar, de movimentar-se, de aproximar. Deus fala ao homem
e ele não ouve, não responde, não reage. É morte espiritual. O homem sem o toque
do Espirito está inteiramente incapaz de responder ao chamado de Deus, por isto
é que a regeneração, o ato do Espirito nos tornar nova criatura, é um dos
passos iniciais no processo da salvação. Sem a obra do Espirito não respondemos
a Deus. A condição do homem é a falta de vida e qualquer movimento em direção à
Deus.
Em segundo lugar, ele começa a se decompor. Não no sentido de mau-cheiro, mas da desintegração
de sua personalidade. O homem se decompõe quando se separa de Deus. A evidência
disto se revela no desatino filosófico, existencial e moral. A Bíblia fala do
homem como estando espiritualmente morto, devido ao pecado, e necessitando de
nada mesmo que uma vida da parte de Deus.
Portanto, esta é uma declaração geral e real da
condição espiritual de todas as pessoas fora de Cristo: mortos em delitos (paratôma)
e pecados ((hamartia). Estas duas
palavras são sinônimas e expressam ideias similares. “Provavelmente não ha
diferença essencial entre os dois substantivos; a raiz do primeiro significa
“errar o alvo” e do segundo, “errar, sair do caminho”, de modo que ambos
exprimem a falha do homem em viver como poderia e deveria”(Francis Foulkes, pg
58). O homem errou o alvo, como dois caçadores que ao invés de mataram a caça
que procuram, atiram no companheiro. O homem perdeu a perspectiva e o propósito
que Deus lhe estabeleceu, e encontra-se morto em seu delito.
2. Éramos escravos - O apóstolo Paulo afirma que existem três forças
escravizantes agindo e dirigindo a vida do homem sem Deus. São forças que nos obrigam
a uma ação que nem sempre é positiva. A característica mais triste do escravo é
que ele não tem vontade própria, pois mesmo que a tivesse, não seria capaz de
agir com liberdade.
Os termos "segundo" que surgem apontam
para as forças, uma espécie de "triunidade satânica", que impulsionam
a nossa humanidade a ser como é:
2.1. O curso
deste mundo – “Segundo o curso deste mundo”. “Mundo”
muitas vezes na Bíblia é definido como sistema, e esta é uma das vezes que deve
ser traduzida assim. Paulo fala aqui do pensamento e da cultura que controlam o
ser humano. São sistemas filosóficos e éticos, que agem como a força brutal da
correnteza do rio e que arrasta tudo que está ao seu redor.
Vivemos no meio de uma realidade cultural pagã e
demoníaca. A sociedade não é neutra, antes é oposta a Deus.
Nos tempos bíblicos, a igreja teve que enfrentar
toda uma forte cultura helênica, pagã, sensual; teve que lidar com a ética
romana de dominação, opressão e violência. A vida humana pouco valia na mão do
Império. O homossexualismo era instituído, as meninas escravas se tornavam
meros objetos nas mãos de senhores inescrupulosos, adolescentes eram seviciados
e iam com os generais para servirem de escravos sexuais na guerra.
"Este mundo" é inimigo de Deus, possui
um sistema de valores sociais que nada traz de Deus, um sistema opressor e
subjugador, uma influência dominante que gera uma escravidão espiritual. Uma
tradução contemporânea da Bíblia traduzido esta frase como "éreis arrastados
ao longo das correntes de ideias" (CIN).
Tal é o curso desta época e da cultura dominante.
Antes de Jesus, somos dominados e escravizados completamente por esta
cosmovisão. Jesus muda perspectivas, valores e percepções. Nos capacita a
sermos contra culturais e a não nos conformamos com a forma de pensar e agir
desta geração. Não podemos mais sermos controlados pelo pensamento social e
humano, nem por valores humanistas e secularizados.
Estamos sob nova direção!
2.2. Forças
satânicas - "segundo o príncipe da potestade do ar".
Esta é a segunda força que domina
o homem sem Deus. O termo "ar"
pode ser traduzido por "atmosfera nebulosa", indicando
"trevas". Não se refere a ideia mágica de que o ar (atmosfera) seja
dominada pelo diabo.
Suas estratégias são sutis e bem organizadas. Ele
induz certo pensamento de independência e rebelião contra Deus.
O diabo é descrito na Bíblia como um ser pessoal e
existem inteligências demoníacas que agem na vida das pessoas e das estruturas
sociais. Não há nenhuma razão para pensar que a retomada deste tema seja
"uma moda eclesiástica". Jesus e seus apóstolos ensinavam a
existência do demônio e confrontavam suas manifestações.
É curioso que enquanto negamos a realidade do diabo, o satanismo
viceja fora da Igreja. Estima-se que cerca de 60.000 declarados existam atualmente
nos EUA (1994) e no Brasil fala-se num número de 5.000. Magias negras alcançam popularidade e
dimensões assustadoras.
Há um "espírito que atua nos filhos da
desobediência. "Potestade do ar" descreve sua visibilidade. Em Ef
6.11 lemos: “Revesti-vos de toda a
armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo”. A
velha vida, sem a atuação de Deus que nos dá poder está sujeita à orientação e
direção dos poderes do mal (grego energountos).
Estes espíritos malignos atuam nos filhos da
desobediência. Isto descreve seu campo de ação. Ele dá a direção daqueles que
não estão debaixo da orientação divina.
Apenas quando o homem se encontra sob nova
direção, ele vai discernir a Deus.
2.3. Inclinações da carne- “entre os quais também todos nós andamos
outrora segundo as inclinações da carne, fazendo a vontade da carne e do
pensamento, e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais ”(Ef
1.3). Este é terceira força que conspira contra Deus.
Carne (sarx), não são os tecidos vivos que cobrem
o esqueleto ósseo, mas sim as inclinações internas, impulsos de uma natureza caída
e egocêntrica. As inclinações da carne e do pensamento, não são forças
externas, nem o diabo, nem o mundo, embora sejam parceiros destes.
Isto mostra que não precisamos de elementos
externos para nos afastarmos de Deus. Bastam apenas nossos motivos pecaminosos.
O homem sem Deus obedece os impulsos de sua natureza auto enamorada, está
entregue a si mesmo, e como acontece na terceira lei da termodinâmica de
Einstein, que diz que uma matéria entregue a si mesma nunca tende a organizar,
e sim a deteriorar-se, tal se dá conosco.
A carne tem poder nefasto sobre nós. Ela nos torna
escravos de desejos, lascívia e paixões. Nos arrasta para pensamentos
pecaminosos e destruidores. Por isto a Bíblia nos convida a “negar-se a si
mesmo”, a “fazer morrer a natureza terrena: prostituição, impureza, paixão
lasciva, desejo maligno e à avareza, que é idolatria”(1 Ts 4.5). Ainda somos
exortados a não alimentarmos a carne, no tocante às suas concupiscências, que
são desejos estragados que ela produz (Rm 13.14).
Por outro lado, a Bíblia afirma que a única forma
de obter vitória sobre a carne é a busca por santificação, gerada em nós pelo
seu Espirito Santo. Quando o homem insiste em viver uma vida fora de sua
direção, traz sobre si a ira de Deus, que é algo interessante: Deus abandona o
homem a si mesmo, às suas próprias vontades e paixões. Por causa de suas
inclinações, ele se auto destruirá.
Em Rm 1.24,26,28 vemos que Deus entregou os homens
ímpios à si mesmo, e às suas concupiscências para desonrarem o seu corpo entre
si, entregou-os a paixões infames para que mudassem o modo natural de suas
relações intimas e os entregou a uma disposição mental reprovável, para
praticarem coisas inconvenientes. A ira de Deus, portanto, é Deus deixou o
homem natural seguir seus instintos. Isto vai atingir suas emoções e paixões,
seus corpos e desejos e seu intelecto.
As inclinações da carne incluem a soberba,
a ambição, a rejeição à verdade de Deus, a autonomia e desejo de viver sem a
direção de Deus. Sempre que o "eu" se levanta contra Deus eis aí a
carne.
Para nos livrar deste auto enamoramento, Deus faz
algo radical: Ele crucifica o nosso velho homem com Cristo, para que o corpo do
pecado seja destruído e assim não sirvamos mais a este corpo tirano (Rm 6.6),
ele nos pede que ofereçamos a Ele, os membros deste corpo, para que não mais
sirvam como instrumentos de iniquidade, mas que sejam ofertas a Deus, como
instrumentos de justiça (Rm 6.13). Este oferecimento é uma oferta de nós mesmos
a Deus.
Como é possível termos uma nova direção, uma vez
que estamos escravizados ao pecado? Como é possível se livrar desta tríade
maligna: mundo, diabo e carne?
Em Ef 2.1 lemos: “Ele vos deu vida, estando vós mortos em vossos delitos e pecados”.
Quando alguém pensa na salvação em termos de
justiça própria, e não baseado na graça de Deus, é bom refletir: Como alguém
morto, sem habilidade moral, dominado por forças externas e internas que
conspiram contra Deus pode encontrar a vida e a liberdade, a não ser que Deus o
ressuscite dentre os mortos?
Algum tempo atrás li uma frase marcante: “Só
existem duas coisas que podem transformar o homem, o seu pecado ou a graça de
Deus”.
Os vs.4 e 5
deste texto dizem o seguinte: “Mas
Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e
estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, -
pela graça sois salvos”. Preste atenção na conjunção adversativa, mas. O
surgimento desta pequena conjunção muda completamente o sentido da nossa
história. Estávamos mortos, mas ele
nos deu vida; éramos escravos, mas ele
nos libertou; éramos dominados pelo mundo, mas ele nos tirou deste sistema;
éramos totalmente subordinados à orientação do príncipe da potestade do ar, e
ele nos trouxe para o reino do Filho do seu amor. Tudo foi Deus que fez. Ele
nos deu novo status, de condenação por estarmos debaixo da sua ira, para uma
relação de afeto e de amor. Mas isto só foi possível porque Deus assumiu a
direção.
Estamos agora, sob nova direção.
Não mais do mundo, do diabo e da carne, mas de
Deus.
O vs 4 fala da misericórdia de Deus, e o vs 5 de
sua graça. Você sabe a diferença entre uma e outra? Já ouviram falar que a
misericórdia é Deus deixar de dar o que merecemos. O que merecemos? Sua ira e
condenação. Mas ele resolveu ser misericordioso conosco. Graça, porém, embora
parecida com a misericórdia, pode ser vista como o ato de “Deus nos dar o que
não merecemos.
A ênfase de todo este texto esta na misericórdia e
graça de Deus.
Deus é quem faz. Ele viu a nossa condição, e por
nos ter amado, nos deu vida, nos ressuscitou com Cristo e nos fez assentar nos
lugares celestiais. A misericórdia e a graça excluem qualquer pressuposto da
justiça própria.
Conclusão:
As forças opressoras são internas e externas.
Por fora agem o mundo (cultura secular) e o diabo
(força espiritual), o espírito maligno que escraviza o homem.
Dentro age a carne, a natureza caída,
profundamente egocêntrica.
Esta situação nos condena aos olhos de Deus. "Éramos por natureza, filhos da ira".
A ira de Deus não é como a do homem. Não é
mau-humor, como se ele pudesse perder as estribeiras diante de um determinado
fato ou provocação. Não é despeito, malícia ou vingança. Nunca é intempestiva, nem
surge por um processo inevitável de causa e efeito. Não é uma reação impulsiva,
nem impessoal.
A ira de Deus é sua hostilidade pessoal e direta frente
a qualquer pecado. Por isto, sua ira não é incompatível com seu amor. Por isto,
neste texto saímos da “ira” (vs. 3), para a "misericórdia" (vs. 4),
sem qualquer embaraço ou dificuldade. A obra de Deus e sua intervenção interrompem
o caos e tira-nos da escravidão. Deus
irrompe o caos para dar vida. Deus nos
deu vida, nos ressuscitou e nos assentou
em lugares celestiais, com Cristo.
Por isto podemos afirmar que estamos sob nova direção.
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