sábado, 28 de maio de 2016

2 Rs 5.1-19 As coisas de Deus são simples



Introdução:

A geração pós moderna tem uma característica bem conhecida por ser mística e esotérica, encantada com coisas sobrenaturais como: gnomos, duendes, bruxos, fadas, ET’s. Por esta razão artistas e políticos conhecidos são tão atraídos por “este outro lado do mundo”. Políticos famosos estão constantemente visitando João de Deus em Abadiânia, envolvidos em rituais de macumba e bruxaria, fazendo ritos e práticas bizarras e assustadoras para atrair o favor dos deuses e das entidades. Geração animista que crê no poder da natureza, das luas cheias, e das cachoeiras. Recentemente vi uma reportagem de um grupo de artistas consultando um famoso guru em São Paulo que fazia o seu mapa astral pela singela bagatela de 11 mil reais. Você está interessado?

Este texto pode ser analisado por dois ângulos: Pela perspectiva de uma menina sem nome, escrava da guerra, e sua relação com a vida, patrões e sua visão de Deus. Uma menina anônima, sem rosto, sem identidade é imortalizada aqui neste texto. E pela perspectiva de Naamã, homem poderoso, herói de guerra, com uma imensa folha de serviços militares e conquistas, comandante, que faz parte da cúpula politica de seu país. Homem cheio de glória, mas com a alma despedaçada. Tantas posses, títulos, reconhecimento público, mas com uma sentença de morte sobre si. Gente de Brasília: Grande prestígio público mas sofrendo na alma. Glória humana e fracasso enquanto ser. Sucesso exterior e fracasso interno.

Ele era leproso, doença esta que era quase um veredito de morte, sem tratamento naquele tempo, que além do mais, isolava a pessoa de seu circulo familiar, porque era contagiosa, obrigando a pessoa a viver no ostracismo. Naamã tinha lepra, um decreto antecipado da morte, que tirava o seu sono e o prazer de viver.

Todo o seu sofrimento o torna espiritualizado. Ele é místico, crédulo, crente no pior sentido do termo, acendendo uma vela para Deus e outra para o diabo. Orando para todos os deuses e os santos. Gente do tipo desesperançada que vai ao pai de santo na sexta feira, reza uma vela na madrugada para uma entidade e visita uma profetisa no domingo. Naamã é seguidor de Rimon, o Deus da Síria (2 Rs 5.18), mas quando houve falar de outro Deus em Israel, corre atrás de quem ele mesmo não conhece. Felizmente, neste caso, encontra-se com o Deus verdadeiro. Poderia não ter sido. Normalmente pessoas que vivem correndo atrás de benção, da cura imediata, pode se encontrar e se curvar diante das piores potestades possíveis.

Toda sua peregrinação espiritual o torna espiritualizado. Isto o leva a percepções equivocadas de sua relação com Deus. Para ele, a benção vem como resultado de troca. Deus é mercantilizado. Dou por isto serei abençoado, se eu der terei garantia de solução espiritual!  Afinal, não é assim se pagam aos deuses, as entidades, aos gurus? É com esta pressuposição que ele procura Eliseu, afinal, porque ele seria diferente?

Sempre que leio este texto, me surge na mente uma questão: Por que Elizeu não aceitou a oferta? Não há nenhum problema em relação a isto, as pessoas do Antigo Testamento sempre traziam suas ofertas a Deus, isto faz parte do culto e da liturgia judaica. Aquele profeta era pobre, como vimos no texto anterior que não tinham dinheiro para comida. Certa vez precisavam fazer uma choupana e não podiam comprar um machado, tendo que tomá-lo emprestado. Isto foi uma dor de cabeça pois o machado caiu na água e não conseguiam encontrá-lo, sendo necessário uma intervenção sobrenatural de Deus (2 Rs 6.1-7). Então, por que o profeta não aceitou a oferta?

Pessoalmente creio que Deus queria ensinar algo para Naamã.

Ele precisava entender que o Deus de Israel não barganha bençãos, com ele as negociatas e oferendas não funciona, não se paga benção, não se compra nem se paga benefícios. Estas coisas são próprias de entidades e religiões pagãs e deuses falsos. Os  deuses falsos de todas as religiões, em todo o tempo, possuem sistema de trocas, e exigem oferendas para ficarem satisfeitos. Outros deuses aplacam seu mau humor e ira com sacrifícios e holocaustos.

Não é assim o Deus da Bíblia. O Deus de Israel e de nosso Senhor Jesus. O Deus verdadeiro rejeita este mecanismo frágil de troca, de mercantilização. A rejeição do profeta é rejeição de Deus. Deus trata as pessoas numa relação de gratuidade. Deus não é uma entidade pagã, que aceita oferendas para pacificar sua ira.
A percepção falsa de Naamã o leva a avaliar de forma equivocada o Deus de Israel. Veja a expressão verbal dele no texto: “Pensava eu…” (2 Rs 5.11). Não raramente nossos pressupostos tornam-se grandes rivais do Evangelho. Muitos afirmam: “basta ser sincero!” mas isto não é verdade. Podemos ser sinceros, mas errados.

Quais são suas falsas percepções:

1.  Ele tinha certas pressuposições concernentes aos rituais e orações – (2 Rs 5.11)  quando Eliseu diz que ele deveria mergulhar no Rio Jordão 7 vezes, ele não quer fazer, por causa da sua forma de enxergar as coisas de Deus.

Não raramente estabelecemos determinados estereótipos da atuação de Deus. Como isto é complicado para seres religiosos como somos. Naamã começa a pensar que Deus age da forma como ele crê que Deus tem que agir.

Certa vez encontrei  uma pessoa que estava agindo de forma contrária ao que preceitua as Escrituras. Quando mostrei na Bíblia, ela se defendeu de forma tranquila. Eu me disse que sabia que a Bíblia ensinava assim, mas que ela “sentia” de tudo estava bem com ela.

Lembrei-me de uma discussão do conhecido pregador Jacó Silva, pai do Rev. Oziander Schaff, foi  um ardoroso defensor dos princípios dos dízimos e estudou profundamente este tem nas Escrituras, e dava palestras no Brasil inteiro sobre o assunto. Certa vez, no seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas, onde eu estudei, na hora do debate sobre sua palestra, um aluno levantou-se e disse: “Rev Jacó, se eu “sentir” no meu coração que não devo trazer meu dízimo para a igreja, mas dar para as pessoas, o que o senhor acha?”. E ele respondeu direto e ríspido como sempre fazia: “Bacharel, o que nos ensina a Palavra do Senhor?” e citou o texto de Malaquias 3.10: “Trazei todos os dízimos à casa do Senhor”. Então respondeu: “Se Deus afirma que você tem que trazer seus dízimos para a casa dele e você ‘sente’ que deveria fazer outra coisa com o seu dízimo, você sentiu errado. Pode sentar bacharel”. 

É isto que fazemos em relação a Deus. Criamos alguns pressupostos e achamos que Deus vai agir assim, e nos esquecemos o que Deus quer dizer e a forma como ele espera que façamos. Assim agiu Naamã.

2.  Ele se torna um adorador cheio de exigências  - (2 Rs 5.12)  Por ter algumas ideias sobre Deus e sua forma de agir, Naamã se recusa a fazer aquilo que o profeta lhe pediu para fazer. Ele deveria mergulhar sete vezes no rio Jordao, mas se recusava a fazer isto afirmando que na Síria existiam rios melhores e mais limpos, e cita inclusive dois belos rios da Síria, Farfar e Abana, mas no Jordão ele não queria ir.

Percebem o risco que corremos?

Buscamos uma dose de conforto, de comodismo, uma forma, um ritual. O texto afirma que ele ficou irado e bravo com o profeta: “Naamã, porém, muito se indignou e se foi dizendo: pensava eu que ele sairia a ter comigo, pôr-se-ia de pé, invocaria o nome do Senhor, seu Deus, moveria a mão sobre o lugar da lepra e restauraria o leproso” (2 Rs 5.11) . Ele não gostou do método de Eliseu, e ficou chateado por não ter as deferências que costumava ter como homem importante e rico.

Rick Warren, no seu livro, A Igreja com Propósitos afirma que: “Novos membros, especialmente vindos de outras igrejas, geralmente tem interesses pessoais e pressuposições sobre a Igreja”. Não raramente vemos pessoas irritadas por causa da posição que assumimos como igreja, as vezes concordam que agimos de forma coerente, com caráter, mas acham que deveriam receber tratamento diferente. São adoradores que se tornam exigentes quanto ao culto e o que querem da igreja. Eventualmente sequer contribuem com a igreja. Pessoas que geralmente procuram ser servidas, na maioria das vezes, não tem servido à igreja.

Igreja passa a ser uma espécie de supermercado, onde buscam mercadorias que desejam. Religião torna-se descompromissada, que não exija muito, que ofereçam promoção de dízimo a 8% e bebedouro de Coca-Cola. Até são capazes de pagar para não ter que fazer as coisas que não gostariam. Se aproximam da igreja com guardanapo e se assentam à mesa para serem servidas, quando deveriam se aproximar da comunidade com avental, dispostos a servir. Precisamos nos apresentar diante de Deus como servos e não como senhores.

3.  Sua relação com Deus se torna complexa - (2 Rs 5.13)  É necessário que seus oficiais argumentem com ele, que lhe façam ver que a ordem do profeta não era difícil, pelo contrário, era simples até demais. Não custava tentar…

Ele mergulha como Deus manda e volta limpo. “ Então, desceu e mergulhou no Jordão, sete vezes, consoante a palavra do homem de Deus; e sua carne se tornou como a carne de uma criança, e ficou limpo” (2 Rs 5.14). Nada complicado. 

Infelizmente estamos sempre complicando nossa relação com Deus. Quando Adão se vê nu, diante da desobediência, o caminho deveria ser o do arrependimento e retorno a Deus, no entanto, ele fugiu, se escondeu, costurou folhas de figueira, trabalhou artesanalmente sua tola e insuficiente vestimenta, mas aquela roupa dele não servia para Deus. Deus precisou matar um animal e vesti-lo.

Assim fazemos com a obra de Cristo. Tentamos demonstrar o que Deus fez: ele colocou Jesus em nosso lugar. Nos dias de Jesus, havia pessoas sinceras querendo fazer a vontade de Deus de forma errada, com sacrifícios e oferendas complicadas. “Dirigiram-se, pois, a ele, perguntando: Que faremos para realizar as obras de Deus? Respondeu-lhe Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado” (Jo 6.28,29).

Que resposta simples e direta. Na verdade tenho aprendido que a verdade do velho pregador inglês Olliver. “Sermões simples salvam vidas!”. O maior pregador do evangelho no Século XX, Billy Graham, atraia milhões de pessoas às convenções que faziam, levou para o maracanã cerca de 180 mil pessoas em 1974. O que ele pregava: Salvação através da obra suficiente e plena da cruz de Cristo. Afinal não é isto que nos diz o Evangelho: “Quem crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no unigênito Filho de Deus” (Jo 3.18). Simples assim. Precisamos parar de confiar na nossa suficiência, e depositar a confiança na obra plena e completa do Filho de Deus.

Precisamos resgatar a espiritualidade simples e descomplicada do Evangelho. Temos nos tornado sofisticados, complicados, exigentes, lógicos, pragmáticos, cheio de manias e temos perdido a singeleza do Evagelho.

Aplicações práticas:

1.  Gente aflita tende a se tornar espiritualizada - Tome cuidado para que sua espiritualização não o leve a morte. As pessoas de hoje não são ateias, o grande desafio não é o ateísmo, mas o espiritualismo. Não a falta de fé, mas a fé colocada em coisas erradas, falsa esperança. Gente sofisticada, intelectualizada, se torna espiritualizada, mas não no sentido bíblico. Existe uma grande ameaça hoje que é a espiritualidade pagã. Harvard está cheia de videntes, bruxos, adoradores de cristais, orientando-se por videntes, misticismo oriental, cartomantes e bruxarias. O problema de hoje não é a negação de poderes sobrenaturais, mas o excesso de deuses. Como só existe um Deus vivo e verdadeiro, existe muita possibilidade de que pessoas sem esperança e aflitas se tornem presas de “ensinos de demônios e a espíritos enganadores” (1 Tm 4.1).

2.  Gente espiritualizada complica sua relação com Deus: Torna-se  cheia de pressupostos, convenções, rituais. Vida com Deus é simples. Veja esta afirmação de Eclesiastes 7.29: “Eis o que tão somente achei, Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias”.  O Evangelho é simples. Veja as declarações de Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim”(Jo 14.6). Isto é difícil de entender? Ou seu convite: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei, tomai sobre vós meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas” (Mt 11.28). Será que isto é difícil para alguma pessoa simples ou sofisticada entender?

3.  Gente espiritualizada precisa entender que benção de Deus é benção, por isto não pode ser manipulada por sacrifícios nem mercantilismo - Não há nenhuma evidência textual para que eu afirme isto, mas para mim, a rejeição da oferta de Elizeu foi deliberada para ensinar Naamã a ter uma nova relação com Deus, para desintoxicá-lo de sua relação de troca com o Deus falso que ele conhecia. Mudar a forma de se relacionar com Deus é complicado. Tenho visto muito isto em pessoas na Igreja, que não conseguem compreender Deus de forma diferente daquele que viram na sua infância.
Infelizmente Geazi, o ambicioso auxiliar de Eliseu, ao correr atrás deste homem rico para pedir desonestamente dinheiro, preserva a falsa visão de Naamã que queria pagar para Deus lhe dar ou por Deus lhe ter dado. Geazi manda uma mensagem para ele reforçando seu pensamento de que era realmente preciso dar algo a Deus em troca de sua bondade e graça! (2 Rs 5.20-27).

4.  Gente espiritualizada precisa romper conceitualmente com toda conexão de que outros deuses. Esta é primeira conversão: Do Deus falso para o Deus verdadeiro! Submissão ao primeiro mandamento: “Não terás outros deuses diante de mim” (Ex 20.3).
Esta foi a atitude dos primeiros cristãos convertidos em Éfeso. “Muitos dos que creram vieram confessando e denunciando publicamente as suas próprias obras” (At 19.18). Por rejeitarem suas falsas concepções, queimaram publicamente seus livros mentirosos e abandonaram sua prática de magia.

5.  Gente espiritualizada podem ser marcadas sensivelmente com a experiência profunda do Deus real- Quando Naamã experimenta o poder do Deus verdadeiro em sua vida, ele renuncia seu antigo deus. Ele adorava o deus Rimon, da Síria, mas agora faz uma declaração de fé ousada e diante de todos: “Voltou ao homem de Deus, ele e toda a sua comitiva; veio, pôs-se diante dele e disse: Eis que, agora, reconheço que em toda a terra não há Deus, senão em Israel; agora, pois, te peço aceites um presente de teu servo” (2 Rs 5.15). Ele faz isto na frente de todos. Não foi uma declaração medrosa e furtiva, mas pública. “Agora reconheço”. Ele encontra a verdade e é convencido pelo poder de Deus.
Gente espiritualizada não precisa continuar no discurso filosófico das religiões, nesta linguagem pagã e mística, e pode experimentar uma nova forma de viver e adorar. É isto que acontece com Naamã. Diante da recusa peremptória de Eliseu em aceitar os ricos presentes que oferecia, ele pediu algo simbólico. “Levar uma carga de terra de dois mulos”, para reafirmar que “nunca mais oferecerá este teu servo, holocausto nem sacrifício a outros deuses, senão ao Senhor” (2 Rs 2.17). Ele leva terra de Israel, para oferecer holocausto ao verdadeiro Deus.

Conclusão
Nada é mais simples que o Evangelho. 
A mensagem de Deus é esta: 
Que Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal”.
Em Mc 16.15 lemos: “Quem crer e for batizado, será salvo”.
Em At 16.31 vemos: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa”.
A vida cristã tem inicio no momento que compreendo que estou perdido sem Jesus, quando eu desisto de construir meus próprios caminhos e passo a confiar plenamente na obra de Cristo.
O problema é que queremos criar outro evangelho, ou como Juan Carlos Ortiz afirmou: “O Evangelho dos santos evangélicos”. Subtrair ou acrescentar algo ao evangelho é catastrófico e o torna complexo. Quando entendemos que Cristo gratuitamente assumiu nosso lugar na cruz, ritos estranhos não fazem qualquer sentido. A vida com Deus começa quando nos rendemos de coração a Jesus, sem reservas, sem condições, sem rituais, sem complexidade.

Tiberíades, (Israel) 5.12.98
Renovado em Anapolis em 28 Maio 2016.

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