Introdução:
Esta
é a impressionante história de uma menina sem nome. Waldir Steuernagel faz a
seguinte análise: “A menina aprendeu o que era saudade da pior forma possível,
aprendeu chorando às escondidas nas longas noites insones, aprendeu em meio a
uma situação que exigida dela um sorriso disfarçado de “tudo bem” quando estava
paralisada pelo medo. Aprendeu tendo de se movimentar uma enorme mansão, em
meio a pratos finos que precisavam ser bem servidos, usando roupas estranhas e
manuseando estranhos produtos de beleza. A coisa era, na verdade, bem mais complicada,
pois ela não passava de um joguete insignificante naquela mansão com tantas
outras meninas. Ela era, simplesmente, uma menina sem nome” (Ultimato,
Marco/abril 2016, artigo Uma menina sem nome, pg 32).
O
que sabemos desta menina? Qual era o seu perfil?
Cinco
realidades podem ser mencionadas:
1.
Era escrava, sem
dignidade e sem nome. Ela é uma menina, não sabe sequer o que está acontecendo
no mundo político repleto de interesses e generais. Foi violentamente levada
por homens estranhos e agora tem que conviver num palácio com cheiros e pessoas
diferentes, fazendo movimentos básicos de adaptação. Ela havia sido levada
cativa para ser escrava na casa de Naamã, comandante do exército da Síria.
2.
Era exilada, vivendo
numa terra estranha, sem culto, sem história, sem religião, sem suas tradições e
cultura, sentindo enorme saudade de casa. É difícil entender este jogo de poder
de pessoas que, por caprichos ou necessidade de ampliar seus territórios,
simplesmente ignoram as relações de afeto e humanidade.
3.
Vive no meio de
um povo de língua estrangeira. Para ela, menina, tudo era estranho e incompreensível.
Precisava aprender as coisas básicas de uma nova cultura, entender a língua de
seus opressores. “O poder tem a sua lógica. Nela, sempre se quer ganhar, conquistar
e acumular mais” (Waldir Steuernagel).
4.
Perdeu suas relações
de afetos. Sua infância fora cortada ao meio. Distante das pessoas que amava,
de seus pais, do abraço da mãe, da segurança do pai que provavelmente morrera
na guerra, distanciada de suas amigas da aldeia onde vivia.
5.
Abuso
psicológicos. Roubada de sua identidade e individualidade, privada da infância
e adolescência. Ela era apenas uma “menina sem nome”.
Este
texto impõe questões espirituais e existenciais básicas: como ainda continuar
crendo em Deus diante de tanta atrocidade? Como desenvolver uma consciência
missionária, se o Deus da minha referência não foi capaz de me livrar do jogo
de interesse econômico e militar? Como ser relevante quando já se perdeu todo
valor pessoal? O que fazer da vida se o que me resta é o caos e a humilhação? Como
ser relevante quando já se perdeu todo valor pessoal?
A
resposta pode ser uma só. De fato ela perdeu quase tudo, mas não o que era
essencial: o senso da presença do Deus vivo! O ponto nevrálgico de sua existência
foi mantido. Ela não perdeu o senso real de um Deus real. Ela tinha consciência
do poder do Deus de seus pais, o Deus da aliança com seu povo, e por isto teve
coragem para testemunhar.
Chama-nos
ainda a atenção, a declaração feito pelo próprio Senhor Jesus, quando falava do
ministério aos gentios, àqueles que não eram judeus nos dias destes
acontecimentos descritos no texto: “Havia
também muitos leprosos em Israel nos dias do profeta Eliseu, e nenhum deles foi
purificado, senão Naamã, o siro” (Lc 4.27). Isto demonstra que sua fé não estava
baseada em experiências ou curas que presenciara, mas no caráter do Deus em
quem cria. O conhecimento de Deus, transmitido por seus pais, é o que sustenta
esta menina e fortalece sua fé.
Este
texto nos mostra o poder da convicção na vida dos adoradores.
1.
Pessoas com
claras convicções verbalizam sua fé (2 Rs 5.3) Ao falar do Deus que ela conhecia, criou expectativa
no coração de seu patrão. Ela afirma que a situação de saúde dele seria
diferente se ele estivesse diante do profeta e do Deus de Israel.
Recentemente
estive falando no congresso da Apecom em Águas de Lindoia (18-19 de Junho-2016),
e um dos conferencistas, Pr. Jeremias Pereira, afirmou de forma contundente que
uma das grandes armadilhas do diabo é afirmar que “nossa igreja não está
preparada para evangelizar”. Analisando o Novo Testamento ele afirma que o novo
convertido, tão logo se convertia nos Evangelhos já saia pregando. Assim foi com
o endemoninhado Gadareno, que sem discipulado algum é enviado por Jesus à sua família
e ao seu povo para contar tudo aquilo que Deus lhe havia feito. Quem conhece a
Jesus deve compartilhar sua experiência com outras pessoas.
A convicção
pessoal desta menina, ao verbalizar sua fé, traz esperança, alento, anseio pelo
conhecimento do Deus verdadeiro. Naamã era adorador de Rimon, o falso deus cultuado
na Síria.
2.
Pessoas com
clara convicção são eficientes em contrastar o vazio dos falsos deuses com o Deus
de verdadeiro (2 Rs 5.3).
É
interessante observar que quando ela fala do Deus de Israel, este homem que é
idólatra e pagão, não hesita em sair em busca da resposta ao seu problema, indo
em busca do Deus verdadeiro. Muitas pessoas vivem no paganismo, fazendo
oferendas e preces a falsos deuses, mas os deuses falsos geram frustração e
vazio na alma, porque não trazem resposta. Muitos estão buscando respostas
espirituais, mas não sabem onde encontrá-las, e quando ouvem falar do
verdadeiro Deus não hesitam em mudar a trajetória de vida.
Naamã
se desloca da Síria para Israel, com uma expressiva comitiva. Era viagem de
cerca de 10 dias, a cavalo, mas quando ouve falar de um Deus real, nada lhe
pareceu caro, nem distante.
3.
Pessoas com
clara convicção, podem ser privadas da liberdade de ação, mas não perdem as
convicções interiores – É assim que
esta menina sem nome se comporta. Ela perdeu sua infância e liberdade, mas não da
certeza de sua fé. Este é o poder da convicção. Nada pode nos afastar do amor
de Deus que está em Cristo Jesus, diz o apóstolo Paulo. Nem fome, nem nudez,
nem perigo nem espada, nem coisas do presente ou do porvir.
José
foi vendido como escravo, e na casa de Potifar é capaz de testemunhar e manter
sua integridade. “Como seria capaz de cometer semelhante mal contra meu senhor
e contra o meu Deus”. Estamos precisando de pessoas cheias de convicção, que
sejam sustentadas por verdades profundas da fé. Lamentavelmente, quando
qualquer coisa acontece de errado, ao invés de testemunharmos, blasfemamos e
falamos contra Deus.
4.
Pessoas com convicção,
se esquecem quem são e falam de
quem Deus é – Muitas vezes ficamos inibidos por causa da situação humilde
que temos e estamos diante de pessoas poderosas. No entanto, esta garota não se
inibiu na condição de escrava. Ela estava presa, mas seu coração estava livre. Devemos
parar de olhar para nossa condição humana e olhar a natureza do Deus a quem
servimos.
“Assim
como os outros, ela estava vivendo o silêncio que reinava na mansão. Percebera que
a patroa passava muito tempo em seus aposentos e com os olhos inchados e o palácio
inteiro estava tomado por um murmúrio indisfarçável: “o comandante está com
letra!”. E todos procuravam afastar-se dele e de qualquer coisa que o tocasse”
(Waldir Steuernagel)
Aplicações práticas:
Para
concluir, algumas coisas brotam no meu coração quando reflito sobre esta
menina.
- Nossa identidade como filhos de Deus - Não percamos a identidade. O que fazemos e o que somos.
Porque estamos vivendo nesta cidade e não em outra? Nesta empresa? Morando
nesta casa? Somos designados para sermos benção como intercessores,
proclamadores da graça e amor de Deus. Deus nos move para ser sal e luz de
acordo com seus planos. Já tentou entender sua missão, sua vocação, no seu
trabalho e profissão? Esta menina está ali por um propósito de Deus, a situação
não é boa, mas ela não deixa de ser benção.
Já
imaginou a benção que você pode ser no seu local de trabalho, orando, abençoando
e testemunhando?
Veja
o exemplo de José. Na casa de um pagão, rico Qual foi a percepção de Potifar em relação José ? “Deus era com ele”. José possui algo que
o distingue dos demais, ele transmitia graça por onde passava. Não podemos perder
o conceito de missão. Estamos nas mãos de Deus para executar seu plano, e seja
onde quer que ele nos coloque ou tire, estamos nas suas mãos, para executar seu
plano. Não estamos à mercê de homens, nem somos vítimas das variações fatalista
da história, mas de um Deus soberano, poderoso e bom.
- Nossa necessidade de testemunhar com sabedoria - Crises podem ser movimentos de Deus…esteja atento
às crises… Naamã: homem rico e poderoso, mas condenado e estigmatizado, família
deprimida. “O poder tem a sua lógica. Nela, sempre se quer ganhar,
conquistar e acumular mais. Porém, a realidade da vida insiste em
atrapalhar essa lógica que acaba pregando peças às quais nos achávamos imunes.
Certo dia, o comandante notou manchas em suas mãos...O médico deu o terrível
diagnostico: lepra. O mundo do comandante ruiu... para essa lógica ele não
estava preparado. Com essa lógica ele não sabia lidar. O comandante estava
desarmado” (Waldir Steuernagel). A Bíblia nos exorta a aproveitarmos as
oportunidades. Apontar para o Deus que pode solucionar a crise.
- Precisamos também ter fortes convicções de fé - Esta menina faz algo arrojado, desafiador… Ela
tem convicções claras e profundas do Deus que ela crê… Temos tido muitos
poucos testemunhos ousados, porque poucos crêem ousadamente. Nosso testemunho
traz renovação de vidas. Testemunhar a Deus é anunciar novas
possibilidades de vida; trazer alegria nos lares e para a vida de seres
humanos. Você já imaginou o impacto destes fatos sobre a vida daquela
casa? Sair do estigma de uma
enfermidade tão carregada de sombras?
- Nosso testemunho gera conversões- Depois de ter experiência com o Deus de Israel, Naamã
declara publicamente: “Agora
reconheço” - isto é confissão de fé… Ele afirma que não pode mais
adorar ao Deus pagão, a Rimon (2 Rs 5.18), depois de ter conhecido o Deus
verdadeiro. Nosso testemunho engrandece o nome de Deus, gera conversões dos
deuses falsos para o Deus verdadeiro. O rei vai saber…seus soldados sabem…Deuses
serão destronados. Não dá mais para seguir entidades. Muitas pessoas
adoram deuses falsos porque não conhecerem o Deus verdadeiro.
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