Cruz é um tema impopular. Isto surpreendeu o Dr. John Stott quando foi convidado para escrever um tratado sobre a Cruz de Cristo, lançado pela IVP em 1986. Ele afirma: “Nenhum livro sobre este tópico tem sido escrito por um autor evangélico, por quase meio século”. Num corajoso trabalho do Dr. Guillebaud’s citado por John Stott com o tema “Por que a cruz?” o autor faz três perguntas apologéticas importantes:
1. A cruz realmente traduz o pensamento cristão? (Ela é compatível com o ensinamento de Jesus e de seus discípulos?);
2. Ela é moralmente correta? Isto é, ela é compatível com a justiça?
3. Ela tem credibilidade? (Seria realmente compatível com problemas como a transferência da culpa nossa para Jesus?)
Numa recente entrevista com Jô Soares, Rubem Alves fez a seguinte afirmação: “Eu me recuso a crer em um Deus que executa seu filho na cruz”. O pensamento de Rubem Alves reflete bem o conceito que a raça humana faz da obra de Cristo.
Contexto:No texto lido, vemos Pedro repreendendo a Jesus quando este menciona a necessidade de sua morte: “Tem misericórdia de ti, isto de forma alguma te acontecerá”. Desviar-se da cruz, sempre foi a grande tentação de Cristo. Satanás o provoca quanto a isto propondo para uma saída mirabolante fazendo um show acrobático em Jerusalém, insinuando que assim seria mais fácil convencer os judeus de que ele de fato era o Messias. Jesus recusou esta e outras propostas.
Pregadores atualmente se recusam a falar da obra de Cristo na cruz. Fala-se de prosperidade financeira, de barganha com Deus, de ética, de moral, menos daquilo que é central no Evangelho: A cruz de Cristo.
Paulo afirma que não queria anunciar outra coisa, senão a Jesus e este crucificado. Temos a impressão de que pregadores modernos querem anunciar qualquer coisa, menos o Cristo crucificado.
Uma das afirmações mais repetidas nas liturgias católicas é: “Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Lamentavelmente, veremos homilias sobre muitos outros assuntos, menos sobre o significado desta declaração.
Como vemos as narrativas nos Evangelhos sobre este assunto?
Jesus afirmava que “era necessário morrer”.
Por que a cruz é necessária?
1. A cruz é necessária para satisfazer a justiça de Deus – Deus, sendo justo, não poderia deixar impune os pecados da raça humana. Ele afirmou que “A alma que pecar esta morrerá” (Ez 18.2), e ainda que “O salário do pecado é a morte” (Rm 6.23). Para que o homem fosse absolvido desta justiça de Deus, Jesus entrou em seu lugar, pagando o preco de nossa redenção. Foi esta a “proposta” de Deus na cruz (Rm 3.23).
A Trindade fez então, o “Pacto da Redencao", que consistia em que o Filho de Deus, seria o nosso substituto. Deus colocou sobre Jesus toda sua ira contra o pecado e nos considerou absolvido por causa da sua obra. “Aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele fossemos feitos justiça de Deus” (2 Co 6.21).
Os Evangelhos fazem questão de acentuar que a cruz de Cristo era um fato inegociável. Ele precisava morrer. Esta foi a declaração que assustou tanto a Pedro. “É necessário que o Filho do homem sofra...”.
Isto pode parecer estranho aos nossos olhos, afinal, o homem mais perfeito, o melhor filho que a humanidade produziu, termina seus dias sendo julgado num processo altamente questionável, e numa morte desumana. Mas Jesus estava muito consciente de sua missão. Na cruz, depois de ter pago o preço de nossa redenção, ele exclamou: “Tudo está pago!”. Em outras palavras, nada mais precisava ser feito, já que a divida que constava contra nós, havia sido paga pelo Filho de Deus. Jesus se tornou maldito em nosso lugar. O justo pelos injustos. A pena foi paga.
Por isto lemos em Rm 8.1: “Agora, pois, nenhuma condenação há para aqueles que estão em Cristo Jesus”. Rm 5.1 afirma: “Justificados, pois, pela fé, temos paz com Deus”. Justificação é um termo forense, vem da lei. Para que eu fosse declarado justo, Jesus teve que assumir minha culpa e minha condenação. Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. A justiça da lei se cumpre em Cristo. A cruz é uma necessidade (Mt 16.21,23).
Satanás tenta usar Pedro, um dos melhores amigos de Jesus, para desestimulá-lo à cruz (Mt 16.22,23). Jesus afirma que era "necessário". Lucas afirma que "convinha" que o Filho do Homem fosse entregue para morrer na cruz (Lc 24.26,27). João afirma a mesma idéia: (Jo 12.27).
2. Cumprir perfeitamente todas as exigências da lei mosaica -
Todos os sacrifícios eram feitos com sangue, havia exigências de sacrifício (Hb 9.22). Jesus torna-se o Cordeiro Pascal, de uma vez por todas, para que nunca mais houvesse necessidade de qualquer outra forma de sacrifício. Toda a ira de Deus estava em Jesus, na cruz, por esta razão ele sente "o desamparo de Deus” (Mt 27.46). O maior sofrimento não era o físico, mas o espiritual. Na cruz, ele assumiu nossa culpa. Nós deveríamos estar lá.
Com sua morte Jesus assume nosso lugar e manifesta sua justiça, julgando nossos pecados. Na cruz, Jesus "cancela o escrito da dívida que estava contra nós, despojando principados e potestades" (Col 2.14-15). Nenhum homem jamais conseguiu satisfazer o padrão moral da lei. Aquilo que havia sido dado por Deus para orientar o homem, agora se torna acusação. Todos somos culpados. Eu sei o que tenho que fazer, mas não sou capaz de realizá-lo. A lei é bonita, mas inoperante.
Lutero : “A lei de Deus foi satisfeita pela perfeita obediência de Cristo em sua vida, assumindo nossa culpa”.
3. A cruz era necessária para que se cumprisse as profecias -
.As Escrituras falavam de sua morte - Lc 24:25-27,44,45; O Evangelista Mateus afirma: “Tudo isto aconteceu para que se cumprisse as palavras dos profetas” (Mt 26.24,54,56). A cruz fazia parte de um plano de Deus. Jesus foi entregue segundo a presciência de Deus (At 2.23). No seu discurso, Pedro afirma que isto se dava pelo determinado conselho e presciência de Deus. Era "vontade do Pai" (Jo 18.11).
Os discípulos não creram: Nossa fé gosta de ser seletiva. O caminho da cruz não é o melhor nem o mais fácil. Havia uma estrutura de pensamento entre os judeus. O Messias seria político, libertador. Mesmo depois da morte de Cristo ainda continuavam crendo desta forma (At 1.6).
4. A cruz, é uma opção de amor do Pai – Deus não seria injusto se nos condenasse ao inferno. Paulo diz que “Deus prova o seu amor por nós no fato de que Cristo morreu, sendo nós ainda pecadores”. A cruz é veredito da contradição e do paradoxo, por isto toda Bíblia centraliza tanto a idéia do sacrifício expiatório, da morte de animais. O sangue do Antigo Testamento aponta para a idéia central do sangue também no Novo Testamento.
A morte seria destruída, na ressurreição de Jesus. Quando parecia demonstrar seu triunfo, foi destruída de uma vez para sempre. Por isto, "Todo que nele crê será salvo" (Jo 13.32; Jo 3.14,15).
Conclusão:A história de Jesus, nunca termina na cruz. A cruz é veredito de contradição: Morte/vida. A cruz é lugar de sofrimento e dor. Jesus nos convida a ir além. Ir ao túmulo vazio, enxergar a vida plena de Deus.
Mas a cruz e o sangue trazem três implicações profundas:
A. Mexe com o meu orgulho – Não somos salvos por nossa capacidade, mas através de Cristo. Esta assertiva mexe com nossa prepotência e arrogância espiritual, Nenhum mérito pessoal – todos os méritos são de Cristo.
B. Muda minha visão – Não mais desespero ou orgulho, apenas confiança e dependência. Paulo afirma: “Cristo em nós, esperança da glória!” e ainda: “Eu me glorio na cruz de Cristo” (Gl 6.10).
C. Gera gratidão – Toda minha resposta de adoração agora muda o foco. Não adoro a Deus para ser amado, para receber recompensa. Ele já me amou. Minha resposta agora é de gratidão, da atitude da pessoa que diz “Muito obrigado!”. Verdadeiro sacrifício de louvor.
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