quinta-feira, 1 de março de 2012

Mc 9.2-8 A Transfiguração

Introdução:
Este é um texto que se identifica muito com nossa geração pós-moderna, ainda que os cristãos estejam cada vez mais se distanciando de suas verdades e promessas.
Este texto também se constituiu num enorme desafio pratico ao meu coração. Este “monte” ao qual precisamos eventualmente subir e experimentar as glorias celestiais.
Este texto é atual porque atinge esta dimensão zen e mística, que esta geração busca encontrar.
Livros que fazem sucesso em nossos dias e vendem milhões estão identificados com este tema:
O monge e o Executivo, James Hunter, Ed. Sextante
Comer, rezar e amar (Elizabeth Gilbert)

Recentemente a capa da Isto É (Jan, 2012) trouxe estampada a fotografia de João de Deus, um místico aqui de Abadiânia que tem atraído pessoas de muitos lugares do mundo em busca de cura e respostas espirituais.

Cidades inteiras crescem em torno deste boom e turismo esotérico. Alto Paraíso-GO tem recebido uma enorme quantidade de pessoas que acreditam que ela será a única cidade protegida na catástrofe prevista pelos Maias para 2012. Um número grande de pessoas saem de grandes cidades para morar em Abadiânia-GO, alguns com nível superior, e até mesmo estrangeiros, para morar nesta cidade. Pirenópolis-GO (em nível menor), é uma destas cidades que vivem em torno do turismo ecológico. O mundo anseia pelo Sagrado, pelo Sobrenatural e místico, ainda que tantas vezes por caminhos tão contrários ao Evangelho.

Ao mesmo tempo, os cristãos oram cada vez menos. Estatísticas mostram que pastores americanos gastam, em media, 3 minutos por dia em oração. Temos uma espiritualidade com face pública, denominacional e religiosa, que trata muito deste adensamento da alma na presença de Deus. Temos uma tradição muito forte na apologética e no sectarismo, mas pequeno na área meditativa.

Jesus convida neste texto, seus discípulos, a deixarem a correria do dia e irem ao monte, em direção ao sobrenatural. Lamento muito quando as pessoas tratam deste monte de forma literal, já que o monte em si, não é a dimensão sagrada, mas este precioso tempo com Deus.
Um antigo hino diz assim:
Preciosas são as horas, na presença de Jesus,
Comunhão deliciosa, de minha alma com a luz
Os cuidados deste mundo, não me podem abalar,
Pois é Ele o meu auxilio, quando o tentador chegar.

O que aprendemos deste texto?

1. Jesus convida seus discípulos a uma dimensão de solitude e encontro com Deus – “Seis dias depois, tomou Jesus, consigo a Pedro, Tiago e João e levou-os sós, à parte a um alto monte”. Jesus percebe a necessidade da alma de seus discípulos e os leva a uma experiência noutra dimensão espiritual. A experiência do monte se dá, neste tempo no qual saímos da urgência da agenda e das obrigatoriedades ordinárias da vida.
Infelizmente encontramos cada vez mais espiritualidade do barulho, e não da solitude. Poucos querem penetrar esta dimensão da presença de Deus. Oramos cada vez mais no contexto do barulho, mas não somos capazes de descansar nos braços do amado mestre.
Este é a mesma experiência que vemos Jacó passando, quando no Vale de Jaboque, em Gn 32, se vê confrontado e ameaçado, diante da presença de Deus.
Jesus ensinou este segredo particular aos discípulos: “Tu, quando orarás, entra no teu quarto, fecha a porta do teu quarto, e em secreto falarás ao teu Pai, que re recompensará”. Existe um lugar do silencio da alma, do encontro com o Senhor, do qual facilmente nos distanciamos.
Ezequiel, o profeta, é convidado por Deus a adentrar simbolicamente estas águas que nascem do trono, e na medida em que ele caminha, vai sendo envolvido por estas águas, que inicialmente batiam nos artelhos, e no final estava absorvendo toda sua vida. Estas maravilhosas águas, que apontam para a comunhão com Deus, trazem cura e refrigério: “Onde chegam estas águas, tornarão saudáveis as do mar, e tudo viverá por onde passe este rio” (Ez 47.9).

2. No Monte recebemos ministração de amor – “Ao entrarem na nuvem”, ou “A seguir, veio uma nuvem que os envolveu” (Mc 9.7). Ali os discípulos ouvem a declaração de amor que o Pai faz ao Seu Filho. “Este é o meu filho amado; a ele ouvi” (Mc 9.7). O texto correlato diz: “Em quem me comprazo”.
Ouvir de Deus a declaração de que somos amados é algo extremamente terapêutico e transformador. Em geral nos sentimos como órfãos, que possuem duas reações clássicas: Vítima ou Tirano. Precisamos ouvir a voz de Deus de que somos amados. “Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim, porque o vosso nome está arrolado nos céus”. (Lc 10.20).
Não é difícil encontrarmos cristãos sem consciência de identidade. Não sabem se realmente são filhos de Deus, experimentam frio, abandono e solidão, porque ainda não ouvirem a doce voz do Pai lhes dizendo que são amados. Sofrem crises de relacionamentos significativos. São órfãos.

3. A experiência no monte aproxima céus e terra – “Apareceu-lhes Elias, com Moisés, e estavam falando com Jesus” (Mc 9.4). Vemos aqui, pessoas históricas se identificam com a Eternidade. Espiritualidade, humanidade e sobrenaturalidade fazem parte de um mesmo pacote. De repente, temos a sensação de Jacó em Berseba: “Quão temível é este lugar! É a casa de Deus, a porta dos céus”. (Gn 28.17).
Em geral separamos os céus e terra. Jesus procurava demonstrar que a eternidade e historicidade estão se mesclando em todo tempo. A Bíblia nos mostra anjos caminhando entre os homens, comendo com os homens, entrando na prisão com os mesmos, e assim por diante. O céu não parece uma realidade tão distinta como em geral imaginamos.

4. O Monte nos capacita a enfrentar o diabo – É interessante perceber no texto bíblico, que a primeira experiência que os discípulos terão depois deste arrebatamento será um encontro com uma pessoa sendo atacada pelo diabo.
Precisamos subir ao monte, porque no vale encontraremos:
A. Disputas teológicas – quando os discípulos descem do vale com Jesus, encontram seus colegas discutindo com os religiosos. O que eles estariam falando?
B. Famílias Fragmentadas – Vemos aqui um lar sendo destruído pela ação do diabo, e os discípulos incapazes de resolver o problema. Crianças e adolescentes sendo atingidos em cheio pelo mal, pais desesperados e impotentes.
C. Manifestações demoníacas – encontraremos não apenas os rastros de destruição que ele provoca, mas teremos que confrontá-lo pessoalmente.
O monte nos capacita a lidar com esta dura e cruel realidade: Da glória para a confrontação. No monte somos ministrados para ministrarmos àqueles que sofrem nos vales.
As vezes, lidar com a dor humana é tão desesperador que temos a mesma tentação que estes três apóstolos de Jesus tiveram, de fazer tendas e não sair mais do monte. Historicamente isto já aconteceu diversas vezes. No entanto, é bom entender que Deus não chamou seus discípulos para fazer tendas no monte, mas ir ao monte e depois descer. Há o grande risco de rompimentos históricos e de uma encarnação com a historicidade quando temos que lidar com a dor de forma nua.

Conclusão:Vivemos dias de solidão existencial e espiritual, falta-nos um caminhar até o monte, onde Deus mesmo será experimentado. Nossa orfandade e dor está relacionada à perda da referência divina em nossa história. Temos sido duros, inflexíveis, perfeccionistas (tiranos) ou nos sentimos rejeitados, abandonados e desconectados (vitimas).
Nestas horas Jesus nos convida a subir ao monte, irmos de encontro com Deus.
Como está sua busca? Seu encontro com Deus?

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