Introdução:
O Natal é subversivo na sua natureza.
A. O cântico de Maria: Lc 1.52-53
Maria
anelava por mudanças. Ao receber o anúncio trazido por Gabriel, ela soube que o
ente gerado em seu ventre era a resposta aos seus anelos. Maria afirma que
Deus havia deposto os poderosos do trono, e elevado os humildes. Ela fala como
alguém que vivia além do seu próprio tempo. Por isto, os fatos não eram
escatológicos, mas já teriam acontecido. Deus já teria enchido de bens os
famintos, e despedido vazios os ricos. Maria não está falando de coisas que
abrangendo a realidade sócio-econômica de seu país. O nascimento de Jesus
anuncia que o tempo fora subvertido, e o futuro invadira o presente. O Alfa e o
Ômega agora vive em nosso meio. A ordem predominante teria que ser colapsada
para dar vazão ao Reino de Deus.
B. O cântico de Simeão: Este piedoso homem,
que esperava a consolação de Israel e aguardava ansiosamente a vinda do
Messias, ao se encontrar com Maria e Jesus no templo, profetizou também: “este
menino está destinado para ruína e para levantamento de muitos em Israel e para
ser alvo de contradição” (Lc 2.34). Natal não era para acomodar o establishment, mas para
ameaçá-lo. José teve que exilar-se com seu filho e Maria para o Egito, um
ambiente que não era seu, numa cultura e língua distintas. A presença do
Messias ameaça. José e sua família viveram na clandestinidade até o momento
designado por Deus.
Os judeus não conseguiram entender esta coisa
de Deus se tornar homem. Por isto Paulo afirma que a cruz era “escândalo para
os judeus” e “loucura para os gentios”. O Deus Todo-Poderoso visitando a
humanidade e partilhando da canseira dos mortais não fazia muito sentido nem
para a mente daqueles dias, nem para nossa mente secularizada de hoje.
C. O cântico de Zacarias – Este velho
sacerdote vai falar da vinda do “sol nascente nas alturas”, que viria para
“alumiar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, e dirigir os nossos pés
pelo caminho da paz” (Lc 1.78-79). A vinda do Messias inquietaria o inferno e
todo o seu séquito, traria esperança e graça para quem vivia no desespero e na
desgraça. A vinda do Messias é subversiva no sentido de que destrói estruturas
e sistemas do mal, e abre perspectiva para um novo tempo e para uma nova
realidade.
“Eis que vos trago boas novas de grande
alegria, é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o
Senhor”. Que grande revolução esta idéia de um Deus andando entre homens. Imaginem
a Presidenta Dilma assentando-se num restaurante de um canteiro de obras de
peões, no calor do meio dia... Não seria notícia? Não seria causa de espanto?
No entanto, não estamos falando de alguém com domínio político de uma região ou
país, estamos falando da realidade dos céus visitando a terra.
Neste texto existem três elementos que
demonstram esta revolução na vida dos pastores:
- O Natal substitui
prepotência por humildade – “Encontrarás
o menino envolto em panos e deitado em manjedoura” (Lc 2.12).
Que coisa mais impotente pode existir que uma
criança? Isto, por si só, já é subversivo. Um bebê só sabe chorar e sujar
fraldas, exige cuidado constante, é dependente e frágil. Algumas jovens mães se
sentem absolutamente amedrontadas quando precisam dar banho num recém nascido,
tamanha fragilidade...
O menino Jesus nasce num curral. Que contraste
com a luxúria e o glamour do palácio... do nascimento de crianças em berços de
pessoas ricas e nobres. O Rei dos reis se esvazia de sua glória, e é colocado
ao lado de animais.
Os magos indagam: “Onde está o recém nascido
rei dos judeus?” Quem poderia imaginar que naquela criança se encontra o Grande
Eu-Sou, o rei do universo?
O nascimento de Jesus ironiza dos pressupostos
que sustentam nossa sociedade capitalista e consumista. “Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes” (Lc
1.52).
- Natal transforma
o medo em alegria – “Os pastores
ficaram assustados, mas o anjo lhes disse: Não tenham medo” (Lc 2.10).
Os fatos presenciados pelos pastores os
deixaram atônitos. Eles estão com medo, mas o anjo diz: “Não temais!”
Um casal de amigos passava por um tempo de
muita dificuldade, os sonhos e a realidade deles fora radicalmente mudada com a
falência da empresa. Num momento eram ricos, noutro; noutro, já não sabiam mais
como manter sua casa. Num destes dias, nas vésperas do natal, angustiados e
perplexos, voltavam para sua casa e o ambiente parecia ser de velório. Então
ele disse a sua esposa: “Coloca um pouco de música de natal pra gente ouvir,
pra ver se o ambiente modifica um pouco” e seguiram a viagem, ouvindo as
antigas letras e canções que agora, no meio do sofrimento, tentavam encontrar
um significado maior no meio da dor e caos.
O natal é um convite à esperança:
“Eis que
vos trago novas de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos
nasceu na cidade de Davi, o Salvador que é Cristo o Senhor” (Lc 2.10,11).
Talvez precisemos dizer: “Senhor, não me deixe
ficar assustado, nem atemorizado com as ameaças. Me ajude a lembrar que o teu
Filho deixou a sua glória para nos trazer fé e esperança. Eu recuso a crer que
estou à mercê das circunstâncias ou dos homens – me ajude a lembrar que estou
em tuas mãos”.
A Bíblia afirma que Jesus é a pedra de
esquina, a rocha sólida, em quem podemos nos apoiar. Se perdermos tudo, e
mantermos nossa integridade e continuarmos firmes em Jesus, poderemos recomeçar
tudo novamente. Precisamos pedir a Deus que transforme o nosso pranto em
alegria, e que nos dê vestes de alegria ao invés de espírito angustiado.
- O anúncio do
natal substitui monotonia por revelação – Como era a vida
dos pastores? Glamourosa ou entediante? Sabemos que tinham que enfrentar perigos
e frio à noite, e um calor insuportável de dia; Lobos e leões vorazes
ameaçando constantemente o rebanho. Certamente não tinham o emprego dos
sonhos. Ficar eventualmente muitos dias longe de casa, conduzindo e vigiando
as ovelhas. Um dos grandes problemas da vida moderna é o tédio. A vida sem
novidades, mera repetição diária: Emprego, escola, buscar meninos no
colégio, receber salário, pagar contas...
Certo motorista de ônibus circular teve um surto
de estresse e foi encontrado a 600
km distante do seu circuito, com todos desesperados
tentando descobrir o que lhe havia acontecido. Quando o pegaram, ele
resignadamente afirmou que só estava tentando fazer alguma coisa diferente...A
empresa, ao invés de puni-lo, resolveu tratar de sua saúde, e centenas de carta
de apoio foram escritas, de pessoas que tinham o mesmo sentimento de tédio nas
suas vidas.
O natal nos lembra que sua história está sendo
dirigida por Deus. Deus tem um propósito e precisamos descobrir, seja qual for
o momento e as condições de nossa vida, onde está o movimento de Deus.
Leslie Newbigin defende a idéia de sermos uma
igreja missional. Uma comunidade que aprende a distinguir o mover de Deus no
dia a dia e segue este impulso do Espírito. Rick Warren traduziu esta idéia
dizendo: “Não somos chamados para fazer ondas, mas surfar nas ondas de Deus”.
O Natal nos aponta para o novo de Deus. Rick
Warren: “Veja a realidade não como ela é, mas como ela pode ser”.
Quer uma vida de aventura? Siga o Senhor. Deus
pode surpreender você. Não fique assustado com os ventos contrários de hoje,
nem com a tempestade que o assusta no momento. Tente descobrir o Senhor nos
movimentos diários de sua vida. É interessante que nos eventos do natal, os
animais e intervenções se sucedem no cotidiano das pessoas, nos eventos do dia
a dia.
Zacarias – Estava na
igreja, fazendo seu trabalho de sacerdote, quando o Senhor o visitou.
Maria – Estava na sua
labuta doméstica como adolescente na casa de seus pais.
Pastores – Estavam no
campo, trabalhando, sustentando sua casa.
E a vida de Deus se manifesta e acontece no
meio destas pessoas simples, Deus surpreende a história humana, invadindo a
história, e fazendo novas todas as coisas.
Conclusão:
No natal, tudo pode acontecer.
O mundo é renovado, tudo é colocado de cabeça
para baixo. Deus resolve visitar a humanidade.
Ele viu nossas contradições e medos, nossa angústia
e solidão, e resolveu estar conosco. Caminhou no meio do pobre nordestino, dos
becos, periferias e favelas de nossa cidade, para nos amar. Viu nossas
Candelárias, Carandirús, Sowetos, Biafras e auschwitz. Viu o grito dos
indefesos sem que ninguém os pudesse socorrer. A exploração indevida de nossas
florestas, os rios poluídos das grandes cidades, a dor dos injustiçados e o
grito dos mártires, o clamor dos inocentes.
Viu o vazio de nossas casas, com tanta fartura
e tanta solidão e insensibilidade, viu a indiferença e dor e resolveu fazer uma
tenda entre nós.
Nosso planeta foi visitado por Deus.
Isto é natal! Celebremos, portanto, a presença
de Deus entre nós!
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