terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Lc 2.8-20 A Subversão do Natal






Introdução:

O Natal é subversivo na sua natureza.

A. O cântico de Maria: Lc 1.52-53
Maria anelava por mudanças. Ao receber o anúncio trazido por Gabriel, ela soube que o ente gerado em seu ventre era a resposta aos seus anelos. Maria afirma que Deus havia deposto os poderosos do trono, e elevado os humildes. Ela fala como alguém que vivia além do seu próprio tempo. Por isto, os fatos não eram escatológicos, mas já teriam acontecido. Deus já teria enchido de bens os famintos, e despedido vazios os ricos. Maria não está falando de coisas que abrangendo a realidade sócio-econômica de seu país. O nascimento de Jesus anuncia que o tempo fora subvertido, e o futuro invadira o presente. O Alfa e o Ômega agora vive em nosso meio. A ordem predominante teria que ser colapsada para dar vazão ao Reino de Deus.

B. O cântico de Simeão: Este piedoso homem, que esperava a consolação de Israel e aguardava ansiosamente a vinda do Messias, ao se encontrar com Maria e Jesus no templo, profetizou também: “este menino está destinado para ruína e para levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de contradição” (Lc 2.34). Natal não era para acomodar o establishment, mas para ameaçá-lo. José teve que exilar-se com seu filho e Maria para o Egito, um ambiente que não era seu, numa cultura e língua distintas. A presença do Messias ameaça. José e sua família viveram na clandestinidade até o momento designado por Deus.

Os judeus não conseguiram entender esta coisa de Deus se tornar homem. Por isto Paulo afirma que a cruz era “escândalo para os judeus” e “loucura para os gentios”. O Deus Todo-Poderoso visitando a humanidade e partilhando da canseira dos mortais não fazia muito sentido nem para a mente daqueles dias, nem para nossa mente secularizada de hoje.

C. O cântico de Zacarias – Este velho sacerdote vai falar da vinda do “sol nascente nas alturas”, que viria para “alumiar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, e dirigir os nossos pés pelo caminho da paz” (Lc 1.78-79). A vinda do Messias inquietaria o inferno e todo o seu séquito, traria esperança e graça para quem vivia no desespero e na desgraça. A vinda do Messias é subversiva no sentido de que destrói estruturas e sistemas do mal, e abre perspectiva para um novo tempo e para uma nova realidade.

“Eis que vos trago boas novas de grande alegria, é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor”. Que grande revolução esta idéia de um Deus andando entre homens. Imaginem a Presidenta Dilma assentando-se num restaurante de um canteiro de obras de peões, no calor do meio dia... Não seria notícia? Não seria causa de espanto? No entanto, não estamos falando de alguém com domínio político de uma região ou país, estamos falando da realidade dos céus visitando a terra.

Neste texto existem três elementos que demonstram esta revolução na vida dos pastores:

  1. O Natal substitui prepotência por humildade – “Encontrarás o menino envolto em panos e deitado em manjedoura” (Lc 2.12).
Que coisa mais impotente pode existir que uma criança? Isto, por si só, já é subversivo. Um bebê só sabe chorar e sujar fraldas, exige cuidado constante, é dependente e frágil. Algumas jovens mães se sentem absolutamente amedrontadas quando precisam dar banho num recém nascido, tamanha fragilidade...
O menino Jesus nasce num curral. Que contraste com a luxúria e o glamour do palácio... do nascimento de crianças em berços de pessoas ricas e nobres. O Rei dos reis se esvazia de sua glória, e é colocado ao lado de animais.
Os magos indagam: “Onde está o recém nascido rei dos judeus?” Quem poderia imaginar que naquela criança se encontra o Grande Eu-Sou, o rei do universo?
O nascimento de Jesus ironiza dos pressupostos que sustentam nossa sociedade capitalista e consumista. “Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes” (Lc 1.52).

  1. Natal transforma o medo em alegria – Os pastores ficaram assustados, mas o anjo lhes disse: Não tenham medo” (Lc 2.10).
Os fatos presenciados pelos pastores os deixaram atônitos. Eles estão com medo, mas o anjo diz: “Não temais!”
Um casal de amigos passava por um tempo de muita dificuldade, os sonhos e a realidade deles fora radicalmente mudada com a falência da empresa. Num momento eram ricos, noutro; noutro, já não sabiam mais como manter sua casa. Num destes dias, nas vésperas do natal, angustiados e perplexos, voltavam para sua casa e o ambiente parecia ser de velório. Então ele disse a sua esposa: “Coloca um pouco de música de natal pra gente ouvir, pra ver se o ambiente modifica um pouco” e seguiram a viagem, ouvindo as antigas letras e canções que agora, no meio do sofrimento, tentavam encontrar um significado maior no meio da dor e caos.

O natal é um convite à esperança:
Eis que vos trago novas de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador que é Cristo o Senhor” (Lc 2.10,11).
Talvez precisemos dizer: “Senhor, não me deixe ficar assustado, nem atemorizado com as ameaças. Me ajude a lembrar que o teu Filho deixou a sua glória para nos trazer fé e esperança. Eu recuso a crer que estou à mercê das circunstâncias ou dos homens – me ajude a lembrar que estou em tuas mãos”.
A Bíblia afirma que Jesus é a pedra de esquina, a rocha sólida, em quem podemos nos apoiar. Se perdermos tudo, e mantermos nossa integridade e continuarmos firmes em Jesus, poderemos recomeçar tudo novamente. Precisamos pedir a Deus que transforme o nosso pranto em alegria, e que nos dê vestes de alegria ao invés de espírito angustiado.

  1. O anúncio do natal substitui monotonia por revelação – Como era a vida dos pastores? Glamourosa ou entediante? Sabemos que tinham que enfrentar perigos e frio à noite, e um calor insuportável de dia; Lobos e leões vorazes ameaçando constantemente o rebanho. Certamente não tinham o emprego dos sonhos. Ficar eventualmente muitos dias longe de casa, conduzindo e vigiando as ovelhas. Um dos grandes problemas da vida moderna é o tédio. A vida sem novidades, mera repetição diária: Emprego, escola, buscar meninos no colégio, receber salário, pagar contas...
Certo motorista de ônibus circular teve um surto de estresse e foi encontrado a 600 km distante do seu circuito, com todos desesperados tentando descobrir o que lhe havia acontecido. Quando o pegaram, ele resignadamente afirmou que só estava tentando fazer alguma coisa diferente...A empresa, ao invés de puni-lo, resolveu tratar de sua saúde, e centenas de carta de apoio foram escritas, de pessoas que tinham o mesmo sentimento de tédio nas suas vidas.
O natal nos lembra que sua história está sendo dirigida por Deus. Deus tem um propósito e precisamos descobrir, seja qual for o momento e as condições de nossa vida, onde está o movimento de Deus.
Leslie Newbigin defende a idéia de sermos uma igreja missional. Uma comunidade que aprende a distinguir o mover de Deus no dia a dia e segue este impulso do Espírito. Rick Warren traduziu esta idéia dizendo: “Não somos chamados para fazer ondas, mas surfar nas ondas de Deus”.
O Natal nos aponta para o novo de Deus. Rick Warren: “Veja a realidade não como ela é, mas como ela pode ser”.
Quer uma vida de aventura? Siga o Senhor. Deus pode surpreender você. Não fique assustado com os ventos contrários de hoje, nem com a tempestade que o assusta no momento. Tente descobrir o Senhor nos movimentos diários de sua vida. É interessante que nos eventos do natal, os animais e intervenções se sucedem no cotidiano das pessoas, nos eventos do dia a dia.
Zacarias – Estava na igreja, fazendo seu trabalho de sacerdote, quando o Senhor o visitou.
Maria – Estava na sua labuta doméstica como adolescente na casa de seus pais.
Pastores – Estavam no campo, trabalhando, sustentando sua casa.
E a vida de Deus se manifesta e acontece no meio destas pessoas simples, Deus surpreende a história humana, invadindo a história, e fazendo novas todas as coisas.

Conclusão:
No natal, tudo pode acontecer.
O mundo é renovado, tudo é colocado de cabeça para baixo. Deus resolve visitar a humanidade.
Ele viu nossas contradições e medos, nossa angústia e solidão, e resolveu estar conosco. Caminhou no meio do pobre nordestino, dos becos, periferias e favelas de nossa cidade, para nos amar. Viu nossas Candelárias, Carandirús, Sowetos, Biafras e auschwitz. Viu o grito dos indefesos sem que ninguém os pudesse socorrer. A exploração indevida de nossas florestas, os rios poluídos das grandes cidades, a dor dos injustiçados e o grito dos mártires, o clamor dos inocentes.
Viu o vazio de nossas casas, com tanta fartura e tanta solidão e insensibilidade, viu a indiferença e dor e resolveu fazer uma tenda entre nós.
Nosso planeta foi visitado por Deus.
Isto é natal! Celebremos, portanto, a presença de Deus entre nós!

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