Introdução:
Esta foi a declaração que os pastores fizeram,
logo após a revelação angelical que tiveram no deserto da Judéia. “Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos
que se deram entre nós”. O que aconteceu em Belém não é algo que podemos
ouvir e esquecer, mas precisamos considerar a possibilidade de estar ali, e ver
o que aconteceu.
O problema nosso é que queremos ir para o
Shopping, nos distraímos com os panettones, com as bebidas e convidados.
Esquecemos que em Belém é o lugar para onde devemos ir. No Natal não podemos
deixar de ir a Belém, e ver as coisas que entre nós se deram. Naturalmente Belém
é mais que um espaço físico ou uma geografia. Este é o lugar onde podemos
encontrar Jesus.
Por que Belém é tão importante?
- Para esta pequena
cidade de Judá convergem todas as atenções do cosmos. Todo o plano da
redenção cuidadosamente elaborado antes da fundação do mundo pela Trindade
começa a se historicizar em Belém. “Vindo,
porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, Jesus, nascido de
mulher” (Gl 4.4). O Deus inteiramente outro, se torna inteiramente
nosso irmão. O Transcendente se torna imanente. O Eterno se faz história.
O Nascimento de Jesus não é algo
circunstancial, mas faz parte de uma estratégia de Deus. A idéia é tão
revolucionaria que surpreende os judeus (que aguardam a vinda do Messias);
surpreende os próprios profetas que indagavam, inquiriam e investigavam,
atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias indicadas pelo Espírito
de Cristo, que neles estava, sobre os sofrimentos referentes à Cristo e sobre
as glórias que os seguiriam (1 Pe 1.10-11).
Por fim, surpreende os demônios, que reagem: “Vieste perder-nos antes do tempo? Bem sei quem és, o Santo de Israel”. O
dragão, a antiga serpente, montou toda uma estratégia de oposição para destruir
a criança conforme a descrição de Apocalipse 12, lançando mão dos poderes
políticos representados por Herodes. A luta do dragão caminha na direção do
extermínio da criança que vai nascer. Ele deseja devorá-la logo após o parto.
Satanás vai fazer de tudo para destruir a criança que um dia há de destruí-lo.
A antiga serpente precisa impedir completamente a encarnação, o nascimento
desta criança.
Por o Reino de Satanás
demonstra tanta oposição ao nascimento desta criança?
A encarnação de Cristo, sua historicidade e
humanidade, ocupam um lugar central no plano da redenção estabelecido por Deus.
Todas as Escrituras apontam para este grande evento. O nascimento deste menino
tem espaço central na expectativa judaica. Seu nascimento é um turning point
na história da humanidade e nos propósitos eternos de Deus. Por esta razão,
o projeto de Deus é mantido em secreto. Paulo fala de Jesus como o mistério de
Deus “desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas” (Ef 3.8-9).
Assim como existe uma santa expectativa entre
o povo de Deus e entre os anjos (I Pd.1:10-11) Existe também grande apreensão e
temor no inferno. Tão logo este projeto se é anunciado, Satanás persegue
violentamente o menino. Ele sabe que esta criança é sua grande ameaça. A grande
oposição do diabo à criança demonstra como a encarnação é um fato dramático
para o inferno, por isto seu nascimento é cercado de um “segredo”, ou de “grande
mistério” não revelado inteiramente aos profetas: Deus haveria de vir ao mundo,
não apenas através de seus mensageiros (os anjos), nem daqueles que falavam
suas verdades (os profetas), mas através dele mesmo tornando-se gente e
habitando entre nós.
A teologia cristã começa em Belém. Dali surge toda
uma nova concepção e reflexão sobre o interesse e amor de Deus, não apenas por
uma nação, mas por todo o mundo. Cristo não veio nos dar um evangelho para ser
pregado, mas veio para que houvesse um evangelho para ser pregado. E em Belém
começam as boas novas. “Eis que vos trago
boas novas de grande alegria, que será para todo povo: é Que hoje vos nasceu,
na cidade de Davi, o Salvador que é Cristo,
o Senhor”.
.
- Para Belém se
move a história humana – O Calendário gregoriano nos diz que
estamos no ano 2012. O Ano zero acontece com o nascimento de Jesus. Para o
mundo ocidental, o nascimento do Filho de Deus desencadeia um novo
cronograma na história. Embora saibamos que a cristandade nem sempre
traduziu a mensagem de Cristo, distanciando-se tantas vezes de seu
projeto.
Na perspectiva da Trindade todo o projeto de
Deus toma corpo e se manifesta em Belém. Paulo fala que no nascimento de Cristo, se
dá “a plenitude do tempo”. A vinda de Jesus está dentro de um tempo de Deus: “Vindo a plenitude do tempo” (Kairos). No
grego existem duas palavras para tempo: Kronos,
um tempo cronológico e Kairos, um tempo especial. O texto de Gálatas nos
fala da soberania de Deus sobre os eventos da história. Todo o cosmo e todos os
poderes históricos constituídos, sejam impérios, soberanias e grandes nações
estão debaixo de uma orientação divina, e Deus faz convergir a história toda,
para o nascimento de Cristo. Dentro dos planos de Deus, a plenitude dos tempos
se cumpre no nascimento de Cristo.
A vinda de Jesus faz parte de um projeto
universal de Deus (pleroma) que se inicia neste evento de Belém, no singelo e
ordinário nascimento de uma criança pobre.
Por isto, para Belém afluem os magos trazendo
seus ricos presentes. Os escribas de Jerusalém não ignoram as profecias, embora
desprezem os sinais que lhes são dados. Belém também atrai oposição e ira,
reveladas em Herodes na matança dos inocentes. Naquela criança reside toda
plenitude de Deus. Belém é o epicentro da revelação, das profecias e da
história de Deus.
- Em Belém, nossa
alma encontra esperança – “Voltaram
os pastores glorificando e louvando a Deus, por tudo o que tinham ouvido e
visto, como lhes fora anunciado” (Lc 2.20).
Por Deus ter enviado seu Filho, nascido de
mulher entendemos que algo muito especial acontece em Cristo. Deus está
anunciando esperança e sonhos, através de sua encarnação. “Agora, Senhor, despede em paz o teu servo, porque os meus olhos já
viram a salvação”. Esta é a oração do piedoso Simeão. Ana, outra piedosa
mulher, olha com encanto para este menino, que será alvo de contradição, mas
também salvação de muitos.
Belém nos aponta para um projeto universal de
Deus, de uma promessa... Se existe esperança para nossa história, ela se inicia
em Belém. “Vamos até Belém ver os
acontecimentos que entre nós se deram”. Belém é este ponto inicial, de onde
flui a graça.
Os magos vão até Belém: “Vimos sua estrela no
oriente e viemos para adorá-lo”. “Entrando
na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se o adoraram; e abrindo
os seus tesouros, entregaram suas ofertas: Ouro, incenso e mirra” (Mt
2.12). Todos os que vão a Belém e entendem o que aconteceu ali, naquele dia
especial, voltam renovados, cheios de esperança e alegria.
Para lá não vai Herodes... Ele envia sua tropa
de choque para exterminar e matar...
Para lá não seguem os escribas... que sabem
tanto das profecias, mas ligam tão pouco para sua transformadora e renovadora
experiência.
Para lá se dirigem aqueles que são chamados
por Deus para um encontro com ele mesmo. Nenhum de nós, por mais estranha que
seja nossa cosmovisão e teologia, como
era a dos místicos magos; por mais monótona que seja nossa existência, como a
dos pastores no campo; por mais idosos que sejamos, como Ana e Simeão, vai
deixar de experimentar a alegria e esperança que este menino traz àqueles que
dEle se aproximam.
Conclusão:
É para Belém que devemos ir: Ali devemos
começar toda nossa reflexão sobre a vinda do Menino-Deus.
É para Belém que devemos ir: Ali, prostrados e
maravilhados, entregamos nossas oferendas e presentes e glorificamos a Deus.
Para Belém convergem o anjo que anuncia as
grandes novas e o coral de anjos que anuncia: “Glória a Deus nas maiores alturas e paz na terra aos homens, a quem ele
quer bem”.
Para Belém convergem as profecias
minuciosamente entregues por Isaías “Um
menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o seu nome será: Maravilhoso
conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is 9.6). O Brado de Miquéias também se
concretiza naquela manjedoura: “E tu,
Belém Efrata, pequena demais para figurar como grupo entre milhares de Judá, de
ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos
antigos, desde os dias da eternidade”. (Mq 5.2).
É para lá que convergem os magos do Oriente,
trazendo ouro, incenso e mirra. Ali, diante da manjedoura se ajoelharam e
entregaram suas vidas e dádivas. É para Belém que devemos ir.
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