domingo, 30 de dezembro de 2012

Gn 8.1-12 Corvo ou pomba?


Introdução:

Numa das últimas leituras de toda a Bíblia ao ler novamente este texto de Gênesis deparei com a experiência de Noé precisando sair da arca e enviando os pássaros. Uma coisa muito interessante veio à minha mente: Por que Noé, depois de soltar o corvo, precisou soltar a pomba?
Creio que, Noé, que já sabia bastante de zoologia, homem de vida agro-pastoril, percebeu que não foi uma feliz idéia soltar o corvo. Corvo é animal de rapina, se alimenta de resto de alimentos, de coisas podres, de carcaça. Qualquer ambiente, com o mínimo de condição, digamos, ambiental, seria capaz de dar-lhe a sobrevivência.
Pomba é o oposto de corvo. É animal limpo, se alimenta de grãos, frutas e sementes. O texto diz “A pomba não achou onde repousar o pé” (Gn 8.9). Não viu segurança e condições ideais em nenhum lugar por onde passou. O texto diz, porém, que o corvo “ia e voltava” (Gn 8.7).

A figura da arca:
A arca é comparada na Bíblia a lugar de salvação, lugar da presença de Deus e da vida. Arca é meio de salvação, assim como é lugar de salvação a Igreja onde Jesus nos tem colocado. Arca também é lugar de vida. Fora da arca só existe a morte, assim como fora da verdadeira igreja de Cristo só existe a morte. Embora não seja a igreja que salva, nunca vi um homem cheio do Espírito que estivesse fora de uma comunidade onde seus dons e seu serviço pudessem ser colocados a serviço do Reino de Deus. A arca é comparada à Igreja. Pedro diz que ela é figura do “batismo” (1 Pe 3.21. Passagem para a vida!
Agora atenção: Arca nem sempre é o lugar mais cheiroso e agradável para se viver. Tem animal de tudo quanto é jeito! Elefante, girafa, cabrito, porco (e espírito de porco!), tartaruga. Assim parece-se com a Igreja. Muitas vezes nos cansamos de Igreja, mas sabemos que o pior lugar do mundo é fora dela, porque lá fora ronda a morte. Igreja é agência da pregação da salvação. Milhares de pessoas são salvas pelo fato de que a igreja existe. Por esta razão, o movimento de plantação de igrejas é tão urgente. A Igreja de Cristo é lugar da celebração do Nome de Deus, acolhimento aos que são salvos, espaço para a pregação do Evangelho. É a família de Deus. Ela é agência missionária a serviço do Reino de Deus. Seu propósito de existir é proclamar o nome de Jesus, e tornar conhecida entre as nações o seu nome. E Jesus disse que ela é tão importante que “as portas do inferno não prevaleceriam contra ela” (Mt 16.18).
Igreja é a única estrutura organizacional disposta por Deus para dinamitar as fortalezas do inferno. Nenhuma agência humana conspira de forma intencional contra o inferno e suas estratégias que a igreja de Cristo. Ela é uma verdadeira conspiração contra as trevas.
Isto, contudo, não impede que a igreja tenha problemas. Já na Igreja primitiva vemos pessoas com profundos conflitos espirituais como Ananias e Safira. A Igreja subsistiu aos ataques do diabo e sua própria infidelidade. A Igreja da Idade Média revela mais que nunca as fraquezas do povo de Deus, suas contradições e incoerências, seus pecados e fraquezas.
Parafraseando isto que estou dizendo, minha esposa disse certa vez que a Igreja é um hospital, mas que de vez em quando surge um enfermeiro louco querendo praticar a eutanásia. Contudo, é ainda, o único lugar de vida. É nela que você encontra homens e mulheres salvos pelo sangue do Cordeiro, revestidos do poder do Espírito Santo e que buscam formas cada vez mais intrépidas de proclamar o nome de Jesus.

Pombo e corvo revelam facetas de caráter, falam da alma humana, são metáforas dos distintos habitantes da arca, falam de realidades que facilmente são identificadas na Igreja, onde há pombo e corvo…Assim como na arca. Como está a sua vida?
Corvo se ajusta a qualquer ambiente de podridão e carniça. Muitos saem da arca e vivem assim. O texto diz que o “corvo ia e voltava” (Gn 8.7). Corvo, mesmo se adaptando fácil ao contexto de restos, não consegue viver totalmente lá: “vai e volta”, tenta conviver com os dois ambientes, de vez em quando tem algumas crises aqui e acolá, volta, dá uma passeada na arca, revê os amigos que lá deixou, mas se adapta facilmente, a qualquer contexto. Ele não tem a crise do pombo. Pombo vai, vê que o ambiente não é propício e volta. Noé percebe isto por isto manda a pomba!
Corvo se satisfaz com coisas ruins, com os restos, com a carniça. A pomba, o contrário, sempre procura ambiente limpo. O corvo vai e volta, vai e volta. A pomba só fica quando a terra está firme (Gn 8.12). Mesmo quando ela encontra broto de oliveira (sinal de vida), aquilo ainda não é suficiente para ela. Volta para a arca pois ainda não encontrou terra firme! Se as circunstâncias são dúbias, duvidosas, se o ambiente é movediço, arenoso, ela não fica. Precisa de ambiente limpo, foge da lama, do cheiro de morte. Pomba busca vida, não carniça.
Suspeite de sua natureza pecaminosa, ela pode te conduzir à morte – Noé percebe que o corvo não pode ser sua referência.
A pomba é a referência de saúde, de vida. Oposto a isto, existem pessoas que vivem na arca, mas são capazes de enganar quem pensa que pode sair com ele. Pomba é  um animal limpo. Só fica se o ambiente estiver bom. Corvo não se importa tanto - tá tudo ok! Ajusta-se facilmente, relativiza tudo. São pessoas que se escamoteiam de acordo com o ambiente, por isto se enlameiam com facilidade, tem a ver com sua natureza intrínseca. O seu caráter, seu instinto. Seu jeito de ser é assim, tem a ver com a natureza intrínseca. Na verdade, mesmo quando voa, quando dá vôos ornamentais e está nas nuvens, tem seu faro, seu olfato, seus olhos e sua atenção voltados para coisas podres. Olhos fitos em cadáveres. Fareja e se ajunta aos cadáveres. Corvo vive assim!

Aplicação
Vejo pessoas assim: adaptam-se facilmente. O ambiente pode ser pesado, a situação é constrangedora, mas facilmente se ajeita no meio de lama. Jovens que se adaptam em ambientes podres! Por outro lado, vejo pessoas que até tentam, mas dizem: pastor, ali não é meu lugar. Fui e não gostei. Fui mas não achei firmeza! Retornam logo, vê que não dá prá ficar. Questão de caráter, de natureza. No entanto, existem outros que piam como corvos, andam como corvos, se alimentam das comidas dos corvos.
Uma ilustração pode explicar isto. Conta-se que certo dia, depois de uma grande chuva, o rio estava cheio e o escorpião queria atravessar o rio mas sabia que seria impossível. O sapo, seu velho conhecido, porém estava ali por perto, e era exímio nadador. Então o escorpião lhe pediu que lhe desse uma carona e o levasse para o outro lado. O sapo reagiu dizendo que não, afinal, conhecia a natureza agressiva do escorpião e não queria correr riscos. O escorpião, com seu jeito malandro, porém, o convenceu. E quando estavam no meio do rio, o escorpião olhou para as costas do sapo, e não resistiu dando-lhe uma ferroada. O sapo, amortecido pelo veneno, começou a afundar, mas ainda disse. “Agora vamos morrer os dois”. E o escorpião, resignado afirmou já arrependido: “Eu sei, eu sei; mas não pude resistir, faz parte de minha natureza”.

Conclusão:
1.     Deus nos tem chamado para sermos pombas, não corvos - Deus nos deu nova natureza, nova genética. Ele mudou nosso caráter. Paulo pergunta: “Como viveremos no pecado, nós os que para ele morremos?”
Þ   “Irmãos, reparai na vossa vocação”. Pedro afirma: “Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância” (1 Pe 1.14).
Þ   José, sendo tentado. “Como poderia pecar contra o meu Senhor e meu Deus?”
Natureza determina conduta – “Questão de natureza”. Corvo se alimenta de coisas odes, é ave de rapina. Pomba, pelo contrário se alimenta de grãos, de sementes, não sobrevive sobre carniças e carcaças. Não sou pecador porque peco, mas peco porque sou pecador. Ficamos preocupados com ética, Deus se preocupa com algo bem mais profundo, a natureza intrínseca, o caráter. Nosso problema não é assentimento intelectual, certamente concordamos com a mensagem do Evangelho, o nosso problema é que não temos força para fazer o que Deus deseja de nós, a menos que o seu Evangelho, em si mesmo, nos capacite.

2.     Tome cuidado com a atitude de corvo - “ia e voltava” (Gn 8.7).  Esta instabilidade é destrutiva.
Þ   Gordo que emagrece e engorda… efeito sanfona. Pé no inferno e outro na igreja.
Þ   Elias: “Até quando coxeareis entre dois pensamentos?” Claudicante, dividido, esquizofrenizado.
Þ   Laodicéia: “Quisera fosses frio ou quente…”
Þ   A Bíblia diz: “Fugi da impureza!” I Co. 6:19 e “fugi das paixões carnais…”
Somente a vida renovada, pode ser referência segura – 8.11 O grande sinal para Noé será um “broto”(renovo de vida), que a pomba traz no bico. Noé não se sente seguro apenas com as pistas que o corvo lhe dá. O fato dele voltar não significa que as coisas estão bem (infelizmente sua natureza se adapta sobre a morte, sobre aquilo que é podre). O que ele sinaliza não é definitivo. Quais são as nossas referências? “As más conversações corrompem os bons costumes”. (1 Co 15.33)

3.     Não se alimente de podridão - Corvo está feliz com a carcaça. Você está feliz com o pecado? Tive uma ovelha recém convertida, que um dia me procurou para conversar sua situação. Ela estava vivendo uma vida de dubiedade, indo à igreja sem se afastar do mundo que me disse aos prantos: Não estou feliz! 
Creio que é exatamente assim que uma pessoa que já teve sua natureza transformada pelo Espírito de Deus deve viver. Ela não pode ficar contente com o pecado. Gente lavada pelo sangue do Cordeiro, e cujo corpo é o templo do Espírito Santo, não consegue conviver com a podridão. Um antropólogo decidiu viver alguns dias como mendigo, e depois, ao relator suas impressões declarou que o maior problema encontrado nos primeiros dias não fora a fome, nem o frio ou a violência, mas o cheiro. Ele tinha que passar muito tempo ao lado de um esgoto, mas como o passar do tempo, foi também se acostumando com a realidade.

4.     Espere a terra ficar secar - Não saia sem segurança! Noé soltou a pomba 3 vezes. Só na terceira vez ela não volta a ele. Não atropele processos históricos da sua vida. Quem tem pressa come cru. Não antecipe o tempo de Deus. Não busque atalhos para a benção, como fizeram Sara e Abraão resolvendo a questão da promessa de Deus que não se cumpria através da serva Hagar.
A Bíblia nos ensina que “para todo propósito há tempo e modo”. Nem o broto da oliveira, ou qualquer outro broto pode nos impedir de voltar para o local de segurança criado por Deus.  Existem muitos que se perdem por causa de um brotinho que aparece na frente!. É necessário encontrar alimento, segurança, lugar para acasalar, fazer ninho. Muitos se aventuram sem qualquer estrutura, e passam miséria e sofrimento desnecessário.
Só saia da arca com plena segurança, foi isto que fez a pomba (Gn 8.12. Quando encontrou segurança e vida, saiu para não voltar. Nem mesmo um “broto” no seu bico lhe dá segurança para sair de forma definitiva. Quanto a Noé, só sairá de forma definitiva 7 dias depois, quer ter certeza de que não vai cometer equívocos.
Suspeite de sua natureza pecaminosa, ela pode te conduzir à morte – Noé percebe que o corvo não pode ser sua referência.
O maior perigo é viver vida de corvo, assumir sua natureza, criar penas, piar como corvo.

5.     Nunca se esqueça: Sem a ação do Espírito Santo, sua natureza é de corvo. Pecado, nas Escrituras, não é algo acidental na sua vida. Faz parte da sua essência. Por isto você precisa estar sempre apresentando sua vida a Deus e pedindo a sua misericórdia. Queremos fazer as coisas santas, mas sem a mudança de nossa natureza, sem regeneração, nada vai mudar. Você vai continuar vivendo no seu pecado.
Por isto a Bíblia nos diz: “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”. Precisamos de outra natureza. “Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. Você não precisa de melhor ética, você precisa de outra natureza, que só Deus lhe pode conceder. Então, peça a Deus que lhe dê uma nova natureza, transformada. Um caráter parecido com o caráter de seu Filho. O homem entregue à sua natureza vai de mal a pior.

Reações ao texto:
1.       Quais os perigos mais comuns que enfrentamos ao viver estilo de vida de corvo?
2.       E se minha natureza ainda é de ave de rapina? Se eu “gosto, aprecio” carcaças, carniça, existe ainda possibilidade de mudança, como seria possível?
O que fazer quando pombas agem como aves de rapina?
Corvo está feliz com a carcaça. Você está feliz com o pecado?

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