quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Nm 11.4 O populacho estava no meio deles


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Introdução:

Quando o povo de Deus sai do Egito, a bíblia registra que eram cerca de seiscentos mil a pé, somente homens, sem contar mulheres e crianças (Ex 12.37), portanto, estima-se cerca de 2 milhões de pessoas. Ao olharmos atentamente o texto, vemos ainda uma informação, quase como nota de rodapé que diz: “subiu também com eles, um misto de gente, ovelhas, gado, muitíssimos animais” (Ex 12.38). No livro de Números, diz ainda: “E o populacho que estava no meio deles, veio a ter grande desejo das comidas dos egípcios” (Nm 11.4).

Quem é este “populacho”, ou “misto de gente”? Podemos pensar em várias categorias.

Provavelmente havia um grupo de egípcios convertido e temente agora ao Deus de Israel, que assumiu a fé judaica e cria nas promessas dadas a Abraão e que decidiu acompanhar o povo de Deus. Outro grupo, certamente era dos aparentados. É de se supor que muitos casamentos mistos tivessem acontecido entre o povo de Israel e os filhos do Egito. A fé judaica ainda não havia sido instituída e muitos judeus, estavam completamente imergidos na cultura egípcia. Podemos imaginar também o contrário, que muitos judeus ficaram para trás por causa de laços familiares. Os judeus já estavam no Egito a mais de 400 anos. É muito tempo para que o sincretismo cultural e religioso, por mais fechado que fosse o grupo, tivesse acontecido.
No meio deste populacho, estavam os curiosos, intrigados com os últimos acontecimentos e os aventureiros que queriam novas oportunidades e decidiram sair de casa e rodar pelo mundo afora com um bando de ciganos e saltimbancos.
O problema, em todos estes casos, é que este misto de gente, tinha valores relativos, com pouco ou nenhum conhecimento do Deus de Israel, sem claras convicções espirituais, mas que, de alguma forma, por alguma conveniência, decidiu andar com o povo de Deus e se imiscuir no processo de saída do Egito.

Qual foi o resultado deste sincretismo?
Em Nm 11.4 lemos: : “E o populacho que estava no meio deles, veio a ter grande desejo das comidas dos egípcios, pelo que, os filhos de Israel tornaram a chorar e também disseram: Quem nos dará carne a comer?
A influência deste “misto de gente” e do “populacho” no meio do povo de Deus, desencadeia uma grave crise. A murmuração contagia, e sua incitação e rebeldia, atinge os judeus em cheio.  

O que podemos aprender disto?
Primeiro, no meio do povo de Deus vamos sempre encontrar o povo sem Deus, que gosta do Egito, tem atração pelo mundo, saiu geograficamente do Egito mas o Egito não saiu deles. O coração, os desejos, as aspirações e disposições ainda são mundanas. Isto pode ser exemplificado pelo jovem da igreja que tem disposições mundanas, seu coração não é convertido e por isto tem atração pelo pecado, faz provisão e nutre sua carne, não anda no Espírito Santo, não possui desejo de santidade, porque não possui um coração regenerado, mas que ainda está frequentando socialmente a igreja. Sua alma não se inclina para as coisas de Deus, como afirmou Paulo: “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura e não pode entende-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2.14).
Jesus afirmou: “O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito, é Espírito”.
Apples and Oranges” é uma comparação na língua inglesa que ocorre quando duas coisas na prática, não possuem qualquer correlação por serem absolutamente incompatíveis. “Maças e laranjas”, portanto, refere-se a aparentes diferenças que são incomparáveis ou inegociáveis.  Assim é a pessoa nascida de novo que é controlada pelo Espírito e aquela que ainda é dominada pela sua carne.
O populacho é o povo sem Deus, andando com o povo de Deus. Caminhando com aqueles que aspiram a terra prometida, a Canaã Celestial, mas que nunca quiseram, de fato, romper com o Egito e sair do domínio de Faraó.

Segundo, o povo sem Deus influencia negativamente o povo de Deus. O texto de números revela de forma clara que “o populacho veio a ter grande desejo das comidas dos Egípcios, pelo que, os filhos de Israel, tornaram a chorar, e também disseram”.
O que vemos aqui?
Uma parte significativa do povo de Deus já tinha certa predisposição de retroceder, e agora, influenciados pelo misto de gente, também desejaram o Egito. O populacho influenciou negativamente o povo. Não é isto mesmo que nos ensina as Escrituras: “Não sabeis que um pouco de fermento levada a massa toda?” (1 Co 5.6). E ainda, “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes” (1 Co 15.33). Sugestões malignas podem fazer um grande estrago na alma do povo de Deus.
Quantas casais enfrentando crises, ouvem conselho deste misto de gente que anda no meio da igreja? Quantas famílias, por darem ouvido, se distanciaram do Senhor e tiveram sua fé contaminada? Sugestões malignas podem vir de pessoas dentro da igreja, incitando-nos a hesitar na caminhada de fé e a desejarmos voltar para o Egito, a terra da servidão.
É a influência do populacho, do misto de gente que sobe do Egito com o povo de Deus.

Terceiro, nem todos que caminham conosco, defendem a mesma fé e aspirações espirituais.
O apóstolo Judas escreveu na sua carta: “O Senhor, tendo libertado um povo, tirando-o do Egito, destruiu, depois, os que não creram” (Jd 1.5). Este texto nos revela que haviam não poucos descrentes no meio do povo, apesar de todos os sinais e maravilhas que viram. Judas continua: “estes são... como rochas submersas em vossas festas de fraternidade, banqueteando-se juntos, sem qualquer recato...os tais são murmuradores, descontentes, andando segundo as suas paixões” (Jd 1.12,16).
Viram o tamanho do problema?
Não creem, mas andam conosco, vão para as festas da igreja, encontro de casais, participam de acampamentos, de cultos, comem churrasco conosco, e, lamentavelmente, até se tornam líderes e...pastores. Estas pessoas estão andando conosco, sem qualquer recato. É o populacho, a força do sincretismo, gente que deveria estar no Egito, assumindo sua identificação com as trevas e com o mundo, mas caminha com o povo de Deus, recebendo status de crente, cacuete de crente e jeito de crente, mas ainda assim, pagão.
Num nível ainda mais trágico, muitos deles se tornam mestres, assumindo posição de liderança, influenciando toda a vida da igreja. “Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos, repentina destruição. E muitos seguirão as suas práticas libertinas e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade” (2 Pe 2.1-2).
O populacho está plenamente identificado com o povo de Deus, veste as mesmas roupas, frequenta os mesmos lugares, ainda que espiritualmente seu coração esteja longe, permeado pela influência do mundo. Por alguma conveniência ele até gosta do ambiente da igreja, mas não é regenerado, não nasceu de novo, não deixou o mundo. As fantasias e obsessões do Egito ainda norteiam seus desejos.

Quarto aspecto a ser considerado, também assustador. Quase nada pode ser feito. Esta é a armadilha do sincretismo.  As aparências confundem e se fundem.

Jesus contou a parábola do joio e do trigo para exemplificar isto.” O campo é o mundo; a boa semente são os filhos do reino, o joio são os filhos do maligno; o inimigo que semeou é o diabo; a ceifa é a consumação do século, os ceifeiros são os anjos” (Mt 13.38-39).

Ele afirma que a semeadura dos filhos das trevas foi feito, à noite, pelo inimigo, e os servos quando viram que algo estava estranho com a lavoura, perguntaram ao seu senhor: “Queres que vamos e arranquemos o joio?”. A pergunta possui um pragmatismo explícito. A impaciência e o desejo de extirpar o joio é um perigo! Por isto Jesus diz: “Não! Para que ao separar o joio, não arranqueis também, com ele, o trigo” (Mt 13.29). comunidades que se acham zelosas demais, correm o risco de, inconscientemente, destruir preciosa colheita do trigo.
O joio é similar, suas folhas são parecidas, por isto ele é tão devastador no meio da colheita, porque despontencializa a terra, levando preciosos nutrientes e enfraquecendo as raízes do trigo, mas quase nada pode ser feito.

Quero destacar duas verdades nesta parábola:

A.     A semeadura do joio é eficiente. Jesus fala de feixes. Não é apenas de uma semente isolada. Há muito joio no meio do trigo, em número suficiente para fazer uma boa fogueira;

B.     O resultado destas duas sementes é absolutamente oposto, por isto, na hora da colheita se torna fácil saber quem é quem. “No tempo da colheita, direi aos ceifeiros”. Quem dará ordem na colheita é o próprio Senhor Jesus. Ele dirá! A ordem e o julgamento virá de Jesus. Portanto, deixe Deus julgar!


O risco do Legalismo

Se é certo analisarmos os perigos que o joio representa para a igreja, precisamos entender que muitas achamos que os problemas estão fora de nós, e que não nos dizem respeito. O resultado disto é a atitude de julgamento, farisaísmo e legalismo. A Bíblia nos convida a olharmos para nós mesmos. "Vê se há em mim algum caminho mal e guia-me pelo caminho da justiça". 
Não é muito difícil encontrar o pecado do outro, mas olhar para dentro de nós mesmos e depararmos com a realidade bruta de nosso pecado nunca é fácil.
Paulo afirma em Romanos 11.17-22 que nós somos o populacho, a "oliveira brava" que foi enxertada na santa semente. Nós somos os gentios, aqueles que não são o Israel de sangue, geneticamente dizendo. Apesar disto, por meio do sangue de Cristo, Deus nos adotou e nos inseriu no Israel de Deus (Gl 6.16). "Pois nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser nova criatura" (Gl 6.15). O que nos diferencia é a regeneração, operada em nós pelo Espírito Santo.
Portanto, nós somos o populacho, o misto de gente. admitido agora com plenos direitos na Nova Aliança. Jesus nos fez participar desta santa oliveira.
"Não te glories contra os ramos" (Rm 11.18), porque os ramos originais foram quebrados pela incredulidade, portanto "Não te ensoberbeças, mas teme. Porque se Deus não poupou os ramos naturais, também não te poupará" (Rm 11.20b;21). Viva com santo temor e gratidão, por ter sido aceito por Deus e acolhido no meio do seu povo.

Conclusão:

O populacho e o “misto de gente”, encontra-se aí, confundindo-se, imiscuindo-se, envolvidos, andando no meio do povo, dando a impressão de que sonham com a Terra prometida, mas o coração deles é do Egito, ainda são controlados pelos desejos de Faraó.

Muita murmuração e contenda surge no meio do povo de Deus, por causa deste emaranhado de gente, que caminha no meio da igreja. Apesar do desejo nosso de fazer a colheita antecipadamente do joio, Deus não nos autoriza.

No dia certo,
na hora certa,

Jesus dirá aos ceifeiros o que deverá ser feito.

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