Introdução:
Este é o primeiro
milagre que Jesus faz através da sua igreja. Antes disto, seus discípulos o
viram realizando muitos milagres e prodígios, mas este é o primeiro milagre
feito pela autoridade de Cristo através de seu povo. O primeiro milagre
realizado pela fé em seu nome.
Certamente foi um
milagre estrondoso. Aquele homem era conhecido de todos. “...e se encheram de admiração e assombro, por
isso que lhe acontecera” (At 3.10). Um coxo, incapaz de andar, vê seus pés
e tornozelos se firmarem e de um salto se põe em pé, entra com eles no templo,
saltando e louvando a Deus (At 3.7-9).
A Bíblia afirma que
aquele homem “se apegou” a Pedro e João. Literalmente ele pegou nos braços
destes homens com firmeza. As pessoas estavam cheias de comoção, há um senso de
sacralidade presente, “eles se encheram
de admiração e assombro” (At 3.10). Gosto muito desta palavra, que também é
traduzida por espanto. A Igreja primitiva tinha este senso da
sobrenaturalidade. “Em cada alma havia
temor” (At 2.43). Uma tradução mais antiga afirma que “em cada alma havia espanto.” Quando perdemos este senso de “algo
mais”, de uma presença real de Deus, uma dimensão muito importante de nossa fé
está se esvaindo. Quando o milagre aconteceu, as pessoas entenderam que algo especial
estava acontecendo, e isto os deixou assombrados, no bom sentido da Palavra.
Pedro, então, se
dirige ao povo carregado de admiração (At 3.12).
No seu sermão, ele faz
duas considerações:
Primeira, Por que vocês
estão admirados? “Por que vos maravilhais disto?” (At 3.12). Ele está simplesmente
afirmando, que não entendia porque o povo de Deus age de forma miraculosa entre
eles. Se existe um Deus real, milagres reais não podem nos deixar surpresos.
Afinal, Deus é Deus.
Então, Pedro tenta
mostrar-lhes que eles deveriam saber que tipo de Deus é o Deus a quem adoravam.
Ele já havia agido tantas vezes na história, de forma sobrenatural que eles deveriam
estar conscientes disto.
Este é um dos aspectos
que mais me desafia, mesmo depois de tantos anos anunciando o evangelho. Por
que nos admiramos quando Deus age de forma tremenda? O sobrenatural deveria ser
algo que esperamos sempre. Por que, de alguma forma tão incrédula, nos
admiramos tanto quando Deus faz? Acaso o seu braço se encurtou? Deus deixou de
ser Deus? Existe alguma coisa demasiadamente difícil para Ele? Nós deveríamos
estar conscientes de que o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, é o Deus que age, intervém
e é Senhor da história?
Lamentavelmente somos
um povo que temos dificuldade de crer em um Deus que age na história. Por isto
também temos dificuldade em crer que algo sobrenatural aconteça, que Deus se
manifeste na nossa vida. Esta atitude é chamada em teologia de “secularismo”. Ele
afirma sutilmente que Deus agiu mas não age mais, que Deus se aposentou. Fez
mas não faz mais.
Segunda, Por que vocês
tiram os olhos de Deus e colocam em nós? “Por que fitais os
olhos em nós como se pelo nosso próprio poder ou piedade o tivéssemos feito
andar?” (At 3.12)
Pedro questiona aqueles
homens que como em nossos dias, tem a mania de se esquecerem de Deus e darem
glória aos homens, tirando o olhar de Deus e colocando-o nas pessoas. Pedro observa que eles estavam criando um
senso de reverência não a Deus, mas àqueles a quem atribuíam poderes
miraculosos, como se tivessem mágicos poderes.
Pedro então prega uma
mensagem para os judeus que, como nós, conhecem teologia, tinha acesso ao Antigo
Testamento e viram como Deus agiu, sabiam muitas coisas sobre a ação de Deus na
história, mas não conseguiam aplicar e vivenciar este Deus em suas vidas, por
isto fala-se muito hoje da necessidade de evangelizar novamente a igreja, porque
muitos no meio dela, parecem ter perdido a fé viva em um Deus vivo.
Pedro, então, baseado
no conhecimento do seu público, prega um sermão memorável. Ele organiza seu
sermão em três verdades sobre Deus e os homens:
1. O pecado precisa ser denunciado - Pedro começa demonstrando a culpa do
povo – “Mas vós negastes o Santo e o Justo, e
pedistes que se vos desse um homem homicida”. (At 3.14).
Psicólogos modernos afirmam que a pior
coisa que podemos fazer quando tentamos ajudar alguém é que se sentam culpados.
Temos uma geração
enfrentando um grave problema: Não há culpa, não há responsabilidade. Tudo se
explica com uma nova doença, um novo diagnóstico, e as terapias mais
mirabolantes tentam tirar a responsabilidade do homem naquilo que ele faz.
Existe todo um catálogo de novas doenças, e ninguém mais é responsável por
nada.
O que rouba é
cleptomaníaco.
O desequilibrado, é
borderline,
O mau humorado e
grosso é “bipolar?”
A pessoa desatenta e
negligente tem déficit de atenção
A preguiça virou
depressão.
O depravado sexual é obsessivo-compulsivo
vício é doença
O depravado sexual é obsessivo-compulsivo
vício é doença
A regra é: Ninguém
pode ter culpa.
Eu tenho pavor desta
mania moderna de “nomear”. Esta “nomeação”, justifica, explica, mas não
transforma o ser humano porque não o confronta nem o chama à responsabilidade.
A realidade, porém, é
que temos culpa real e precisamos de arrependimento e perdão real. Ninguém
cresce se justificando e se explicando, crescemos quando reconhecemos a
necessidade de mudança, confessamos e nos arrependemos. Crescemos quando entramos em contato direto com o nosso mal e o admitimos.
Pedro afirma sem hesitação que eles eram
culpados pelas coisas que aconteceram. “O Deus de Abraão, de Isaque e
de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu filho Jesus, a quem vós
entregastes e perante a face de Pilatos negastes, tendo ele determinado que
fosse solto. Mas vós negastes o Santo e o
Justo, e pedistes que se vos desse um homem homicida. E matastes o Príncipe da vida, ao qual Deus
ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas”(At
3.13-15).
Pedro coloca os fatos na mesa. O cristianismo
sempre se sustenta sobre fatos. Observe os contrastes entre os atos de Deus e
os atos dos homens:
a.
Deus
glorificou seu servo Jesus, mas vocês o entregaram para ser crucificado;
b.
Vocês
que conhecem a Deus, entregaram Jesus nas mãos de um governador pagão, Pilatos,
que apesar de nada conhecer de Deus, o inocentou, e ainda assim, vocês que
conhecem as profecias e as promessas feitas por Deus através dos profetas, o
negaram;
c.
Vocês
negaram o Santo e Justo, e preferiram soltar um homicida. Mataram o “Autor da
vida”, mas Deus o ressuscitou dentre os mortos.
Todos
estes fatos, diz Pedro, são atestados por testemunhas. “Nós somos testemunhas” (vs 15).
A
fé cristã está sempre fundamentada em fatos. Não é uma religião de ideias, ou esperança
sentimentalista, mas de fatos que podem ser atestados pelas testemunhas como as
provas documentais diante da lei. É assim que a justiça trabalha, sobre fatos.
Pedro afirma que a ressurreição de Cristo era incontestável, ninguém poderia
negá-la.
Na
verdade, o primeiro argumento de toda mensagem cristã é confrontar a mentira,
ilusão e fantasia que o homem tem sobre os fatos, o evangelho tem que nos
trazer de volta a realidade. A verdade, muitas vezes é dura porque confronta
mentiras que criamos sobre os fatos e sobre nós mesmos. O nosso mundo tem sido
governado por ilusões. O carnaval atesta isto muito bem. A falsa liberdade e
falsos conceitos que governam nossa cultura revelam a mentira que os homens
querem criar sobre a vida e sobre si mesmos. por isto Jesus inicia seu ministério dizendo: "Arrependei-vos e crede no Evangelho".
Naturalmente
a culpa é uma força destrutiva nos seres humanos, e ninguém pode viver dominado
pela culpa, mas a característica fundamental da humanidade é o senso de culpa,
que gera perturbação, infelicidade, e que nos leva imediatamente a procurar
novas emoções. Culpa produz medo e nos leva a esconder, como uma criança
descoberta num erro pelo pai, ou como Adão fez diante de Deus.
A
culpa pode nos mover em duas direções:
A.
Escapismo – O homem foge e tenta se esconder. O escapismo
logo se torna desespero, porque se você se esconde da vida, ela se torna sem
sabor e sem cor. Fugir da "inevitabilidade terrível de tudo". Por causa da culpa não trabalhada, uma geração inteira tem
tentado se esconder por meio das drogas, sexo, e outros canais possíveis como o excesso de trabalho e o entretenimento. O apego ao celular, certamente revela esta
necessidade de se esconder. Afinal, “depois do celular, ninguém está mais
inteiro em lugar nenhum”. O resultado disto é o desespero que se torna uma
força destrutiva da humanidade. Busca-se o desligamento afetivo, que gera auto
destruição.
B.
Hostilidade – Este é o outro caminho: ressentimento,
amargura e ira. Ressentimento produz hostilidade, por isto esta geração é tão
violenta e destrutiva. O resultado é sempre o mesmo: profundo senso de culpa e
medo, trazendo destruição de uma forma ou de outra.
Assumir a responsabilidade pelo pecado, confessar e arrepender, porém, é apenas o primeiro lado. Se pararmos no pecado, não encontramos libertação nem cura.
Assumir a responsabilidade pelo pecado, confessar e arrepender, porém, é apenas o primeiro lado. Se pararmos no pecado, não encontramos libertação nem cura.
2.
A resposta de Deus à
culpa humana - “E pela fé no seu nome fez o seu nome fortalecer a este que vedes e
conheceis; sim, a fé que vem por ele, deu a este, na presença de todos vós,
esta perfeita saúde” (At 3.16).
Depois
de denunciar a culpa, Pedro fala do perdão. Apenas o cristianismo reconhece a culpa
real, e somente ele fala do perdão real. Só quem pecou pode ser perdoado.
Negar a culpa traz um sentimento difuso e confuso na alma. Experimentar
profundamente o perdão é a única resposta possível à culpa humana. Pedro fala
da resposta que Deus dá à culpa humana.
Este
paralítico faz parte da humanidade culpada, não porque tivesse feito algo que tivesse causado a paralisia, e sim porque sofria o efeito da doença. O que Deus fez? Deus o
fortaleceu, e lhe deu, perfeita saúde. É desta forma que Deus demonstra seu
perdão e reage ao pecado e à culpa humana. Ele reage em graça e amor,
restaurando, restituindo a integridade física, pelo nome de Cristo. Pela fé em
Cristo, podemos ser curados. Olhe para ele. Aquele homem olhava para os
apóstolos, mas Pedro afirma que sua cura viria no nome de Jesus. Apenas o poder
e a autoridade de Cristo podem restaurar a vida de um homem incapaz de andar.
“E agora,
irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também os vossos príncipes. Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de
todos os seus profetas havia anunciado; que o Cristo havia de padecer. Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam
apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela
presença do Senhor, E envie ele a Jesus
Cristo, que já dantes vos foi pregado. O
qual convém que o céu contenha até aos tempos da restauração de tudo, dos quais
Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio” (At 3.17-21).
Deus
vê a atitude humana como um ato de ignorância e cegueira
– “E agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância”.
Esta é a visão que Deus tem da raça humana caída.
Foi isto que Jesus declarou na cruz: “Perdoa-lhes,
porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34). Talvez em
nenhum lugar da Bíblia veremos uma afirmação que demonstre tanto como Deus vê
os seres humanos: ignorantes, cegos, andando nas trevas, sem saber o que fazer.
O
ser humano se equivoca, toma rotas erradas, nega a Deus, ignora os sinais, faz confusão na sua vida, como
declara Eclesiastes: “Eis o que tão
somente achei, Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias” (Ec
7.29). Quantas vezes já ouvi pessoas dizendo: “eu não sabia o que estava
fazendo!”
A
verdade é que nossos esforços sinceros e boa vontade não são suficientes para que nossa vida
seja dirigida com sabedoria. Longe de Deus estamos sempre causando desordem.
Mas quando enxergamos isto de forma clara, significa que nosso orgulho caiu por
terra, e que não mais ignoramos nossas fraquezas. É exatamente nestas horas que
Deus começa a agir de forma poderosa. Quando nos deparamos com nosso fracasso e
o admitimos. A tristeza segundo Deus,
produz arrependimento e vida.
Aqui
nos deparamos com a mensagem central das Escrituras: A graça de Deus.
Em
Jesus acontece o cumprimento profético: “mas
Deus, assim, cumpriu o que dantes anunciara por boca de todos os profetas: que
o seu Cristo havia de padecer” (At 3.19). A realidade da raça humana,
ignorante e cega, não surpreende Deus. Jesus veio exatamente para isto, para
morrer pelos nossos pecados.
3. A necessidade de
arrependimento – Agora Pedro anuncia a importância de
responder à graça de Deus que nos foi manifestada em Cristo. “Arrependei-vos,
pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham
assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor“ (At 3.19).
O Arrependimento desemboca em três grandes
bênçãos:
a)- Pecados perdoados – “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para
que sejam apagados os vossos pecados”.
Esta é a primeira promessa. Toda vez que houver
verdadeiro arrependimento da verdadeira culpa, haverá verdadeiro perdão, pelo
sangue de Jesus.
Esta é uma das maiores promessas do evangelho, e
uma das mais difíceis de crer. Satanás não quer que você creia nesta verdade,
que seus pecados são perdoados através de Cristo. Muitas pessoas ainda estão
tentando fazer algo para serem perdoadas, talvez se auto condenando, acusando
outros, se justificando, mas o que nos torna aceitáveis e limpos diante de Deus
é o sangue do Cordeiro. A fé no nome de Jesus nos dá saúde perfeita. A solução está na fé em Cristo.
b)- Tempos de refrigério- “...e venham assim os tempos do refrigério pela
presença do Senhor”.
Não é possível ter descanso e refrigério na alma,
quando estamos sobrecarregados pela culpa e auto-condenação. Por isto Jesus, surpreendentemente
ao ver o paralítico que desceu do eirado até o lugar onde eles estava, olhando
para ele lhe disse: “Perdoados estão os seus pecados!” Os homens se admiraram,
eles devem ter dito: “Não o trouxemos para isto, e sim para ser curado
fisicamente”, mas Jesus, que conhece a natureza humana, deve ter olhado para
aquele homem e visto o quanto ele estava sobrecarregado com o senso de culpa,
rejeição e condenação que sentia por não poder andar como os outros homens.
O perdão de pecados, o sentimento de que somos
perdoados por Deus e aceitos diante dele, nos traz tempos de refrigério. Deus
me perdoou, não sou mais culpado. Que noticia pode ser melhor que esta? Por
isto, depois do perdão vem o tempo de paz e prosperidade, quando a alegria de
Deus se manifesta em nós. Isto acontece quando pessoas se voltam para Deus, em
arrependimento, e descobrem que seus pecados foram “cancelados”. A Bíblia não
diz que você não tem pecado, mas que eles foram pagos. “Tudo está pago!”, foi
esta a afirmação de Jesus ao Pai. Não há mais culpa, não há mais condenação. “Justificados, pois, pela fé, temos paz com Deus
por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 5.1)
c)- A manifestação escatológica e final de Cristo
- “E envie ele a Jesus Cristo,
que já dantes vos foi pregado. O qual convém que o céu contenha até aos tempos da
restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus santos
profetas, desde o princípio”(At 3.20-21).
Pedro
está olhando para o curso de toda história da humanidade até a sua consumação.
Deus está preparando um grande evento escatológico. A volta de Cristo! Isto
acontecerá, quando Deus enviar novamente Jesus, para restaurar todas as coisas.
O perdão de pecados, inicia este novo tempo, de restauração, de saúde perfeita,
como Deus fez neste grande sinal operado na vida do paralitico. Este milagre é
o sinal que aponta para algo muito maior: a restauração final de todas as
coisas em Cristo Jesus.
Conclusão
O
mundo se encontra em desespero, culpa e medo. O arrependimento é o caminho pelo
qual Deus deseja iniciar um novo tempo na história individual e coletiva. Pedro
argumenta com os judeus dizendo: “vocês conhecem as profecias, e ao ressuscitar
Jesus, Deus deseja abençoar a humanidade e nos apartar da iniquidade" (At 3.26).
A obra de Deus em Cristo tem o propósito de nos livrar do peso da condenação,
do pecado, da culpa e da iniquidade.
A
obra de Deus em nós não se inicia perifericamente, na resolução dos problemas que
estão na superfície, no nosso senso de culpa e inadequação, mas o propósito de
Deus é perdoar, trazer tempo de refrigério para a alma inquieta e perturbada, e
nos apartar da iniquidade, que nos tem dirigido tantas vezes.
Tudo
isto só pode ser feito em nome de Jesus, e pela fé em Cristo.
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