Introdução:
Um dos motivos que me
levou a pregar no livro de Atos foi a leitura do comentário de Ray Stedman, que
afirmou: “toda igreja que se sente fraca e desencorajada, desanimada e perdendo
o vigor, deveria ler cuidadosamente o livro de Atos”. Ao ler isto eu disse a
mim mesmo: “A igreja precisa ouvir sobre a obra de Deus no livro de Atos dos
Apóstolos”. Nós precisamos resgatar as promessas de Jesus à sua igreja quando
ela estava sendo implantada.
O que mais precisamos
hoje em dia?
Para mim, nada é tão
urgente, necessário e imprescindível que o poder do Espírito Santo energizando
e capacitando a igreja de Cristo. Precisamos de poder, não necessariamente de
um novo poder, já que ele foi derramado sobre a igreja, mas deste poder
renovado e atualizado em nossas vidas.
Temos visto pessoas se
tornando cativas do pecado e do pensamento, sem forças para obter vitórias,
lares cristãos esfacelados, filhos se perdendo nas drogas e na falta de desejo
de viver, lideranças e pastores desanimados, juventude dispersa, sem desejo de
fazer algo significativo, os idosos não sabendo exatamente o que foram chamados
a fazer.
Crentes sem poder são
crentes que fracassam. Foi isto que o pai do garoto possuído por forças
espirituais disse a Jesus: “Roguei a teus
discípulos que o expelissem, e eles não puderam” (Mc 9.18), e estes
fracassos comprometem a credibilidade da obra de Cristo: “Se tu podes alguma coisa, tem compaixão de nós, e ajuda-nos” (Mc
9.22).
Precisamos de um novo
poder. Ou do “velho poder” atualizado em nós.
Precisamos do
derramamento do Espírito Santo.
Precisamos de
renovação.
Natureza do Poder: O que ele não é?
1.
Organização – Os sistemas da
igreja podem estar funcionando perfeitamente, os programas do culto bem
definidos, a liturgia, departamento infantil bem organizados e visualmente
corretos, os ministérios em ordem, mas isto ainda não é o poder do qual
falamos. O lugar que possui mais organização e paz é o cemitério, mas ali não
tem vida.
2.
Capacidade intelectual. Podemos ter as
pessoas bem preparadas, grandes sermões sendo pregados, professores cultos na
Escola Dominical, mas isto não aponta para o poder espiritual que Jesus tem
para dar. “Não se glorie o sábio na sua
sabedoria, nem o forte, na sua forca, nem o rico, nas suas riquezas. Mas o que
se gloriar, glorie-se nisto, em me conhecer e saber que eu sou o Senhor” (Jr
9.23,24).
3.
Recursos financeiros – A Igreja pode ter
grandes orçamentos, ser uma comunidade administrativamente rica, mas isto não é
o poder. Pedro disse ao coxo em Jerusalém: “Não
possuo prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o
Nazareno, anda!” (At 3.6).
4.
Prestígio político- Poder não é a capacidade de liderar movimentos
e articular pessoas, ter reputação social. Paulo afirma: “Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para
envergonhar o sábios e escolheu as coisas fracas do mundo, para envergonhar as
fortes” (1 Co 1.27).
5.
Barulho emocional e
litúrgico
- Existem muitos impressionados com o
estardalhaço carismático e com as formas de piedade que encontramos nos modelos
pastorais estereotipados espalhados pelo Brasil. Paulo orienta Timóteo a fugir
daqueles que “tendo forma de piedade,
negando-lhes, entretanto, o poder. Foge também destes” (2 Tm 3.5).
Sua procedência
Duas informações
básicas recebemos sobre a natureza deste poder
1.
Ele
vem do Alto – “Ficai em Jerusalém, até
que do alto, sejais revestidos de poder”
(Lc 24.49). Não é obra humana, nem depende da capacidade eclesiástica.
Estas coisas não se articulam na horizontalidade, são verticais. Este poder vem
do alto. Não o espere de qualquer outra direção.
2.
De
Deus – “Recebereis poder ao descer sobre
vós o Espírito Santo” (At 1.8). É obra do Espírito, como afirma o salmista:
“Uma vez falou Deus, duas vezes ouvi isto:
que o poder pertence a Deus” (Sl 62.11). Não é poder humano, nem resulta de
ações governamentais. Este poder “pertence a Deus”, é sua marca e
exclusividade.
Precisamos de um poder
que venha do Alto, e que proceda de Deus. Do mesmo poder anunciado por João
Batista: “Eu vos batizo com água, mas ele
vos batizará com o Espírito e com fogo”. É sobre este poder que lemos em
Atos 2. Ele vem da obra de Deus, do derramamento do Espírito descrito neste
capítulo.
Este poder tem algumas características:
A.
Seu alcance é
abrangente
– “Todos ficaram cheios do Espírito
Santo” (At 2.4). Este texto se refere ao grupo inicial que fazia parte da
igreja de Cristo e que se encontrava em oração (At 2.1).
Embora ele tenha sido
derramado sobre eles, seu impacto atingiu pessoas de diferentes matizes, e que
são identificados apenas como “homens
piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu” (At 2.5). A única distinção que o texto faz é que eram
piedosos, isto é, tinham desejo e fome de Deus, ansiavam com Deus em seus corações,
viviam desejosos de que uma nova realidade espiritual os alcançasse.
O Espírito Santo
quebra as barreiras da religiosidade judaica dominante, que acreditava ser uma
nação eleita, e que Deus só se preocupava com eles. O Espírito avança sobre
estes conceitos e barreiras, alcançando pessoas de diversos lugares.
A discussão sobre o
“dom de línguas” em Atos 2 tem causado muita controvérsia e celeuma, mas o
ponto central aqui não são as línguas, nem o vento impetuoso. O que acontece em
Atos 2 não é um fenômeno de “línguas estranhas” ou angelicais, como pensam
alguns, mas temos aqui “línguas estrangeiras”. As pessoas ouvem falar na sua
própria língua. O Espírito traduzia a mensagem para sua linguagem do coração.
Eles ouviam na sua própria língua materna
(At 2.8).
B.
Ele nos capacita a
ouvir as grandezas de Deus – “Como os ouvimos falar
em nossas próprias línguas sobre as grandezas de Deus” (At 2.11).
Eles estavam atônitos
ao ouvirem as maravilhas de Deus, porque elas se atualizavam em seu coração.
Pense um momento sobre isto: Você tem se maravilhado em ouvir as “grandezas de
Deus”? A obra de Deus na criação, na
manutenção do universo te encanta? A redenção realizada por Jesus quando morreu
pelos seus pecados te deixa em suspense?
Eles não ouviram novas
ideias. O que eles ouviram foram verdades se tornando relevantes aos seus
corações. Não precisamos de “novidades teológicas”, mas da mesma antiga teologia da eleição, da
redenção, da regeneração, da justificação pela graça, mas tais coisas precisam
nos deixar maravilhados.
Aqueles homens estavam
ouvindo na sua língua materna, as grandezas de Deus.
Por que o Espírito
preferiu falar na língua materna?
Porque esta é a
linguagem do coração, do afeto, da intimidade, do sussurro divino. Que momento
mais sublime existe no cântico de uma mãe ao filho enquanto está sendo
amamentado?
Aprendi isto de forma
muito prática alguns anos atrás. Estive trabalhando por quase nove anos na
plantação de igrejas multiculturais nos EUA, e muitas vezes fui convidado a
orar e pregar em inglês. Certamente é bem mais complexo colocar o pensamento
numa língua estrangeira e transmiti-lo, exige muito mais concentração e
esforço, mas o maior desafio, na verdade, era não permitir que aquilo se
tornasse apenas mecânico. Ao pregar em outra língua, os mesmos conceitos
teológicos e as mesmas palavras ditas numa oração, não pareciam ter, emocionalmente,
o mesmo peso efetivo.
Por isto o Espírito
Santo fala na língua materna de cada um, traduzindo afetivamente o evangelho a
cada uma daquelas pessoas no dia do Pentecoste. Estas palavras tinham que fazer
sentido, atingir visceralmente os
ouvintes.
C.
O Espírito rompe as
barreiras da idade
– “E acontecerá nos últimos dias, diz o
Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e
vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões e sonharão vossos
velhos” (At 2.17).
O Espírito desconhece
“conflitos de gerações”, e ignora as barreiras da idade.
Este texto toca em
dois graves problemas atuais: jovens sem visão, velhos sem sonho. Os dois são
muito presentes e com graves consequências.
Temos uma juventude
cansada, desanimada, cética e cínica.
Os pais fizeram
conquistas, nunca tivemos tantas oportunidades, é fácil cursar uma faculdade,
arrumar um emprego, ascender na vida. Vivemos em dias de oportunidade, mas os
jovens da geração millenium estão
desanimados. Falta-lhes visão.
Olho para os
estudantes de teologia. São jovens sem grandes visões, buscando a lei do menor
esforço, atividades sem grandes desafios, ministério sem sacrifício pessoal.
Olho para os pastores jovens e vejo muitos deles jogando a toalha no primeiro
embate, com dificuldade de enfrentar a crítica, sem saber como enfrentar a
oposição tão presente em qualquer função.
Eles refletem a
geração atual.
No Sl 144 o salmista
ora para que as filhas sejam como colunas de palácio, e os filhos com plantas
viçosas. Precisamos de viço, de vida abundante, força, como a
exuberância vegetativa das plantas. Os jovens tem perdido a capacidade de
demonstrar exuberância, falta energia, vida, vigor. A intensidade juvenil, o
brilho nos olhos, a raça, a bravura
Milton Nascimento captou esta perda do brilho na juventude de
seu tempo, 30 anos atrás na musica Carta à República, gravada em 1987.
Carta à República
Sim é verdade, a vida é mais livre
o medo já não convive nas casas, nos bares, nas ruas
com o povo daqui
e até dá pra pensar no futuro e ver nossos filhos crescendo e sorrindo
mas eu não posso esconder a amargura
ao ver que o sonho anda pra trás
e a mentira voltou
ou será mesmo que não nos deixara?
a esperança que a gente carrega é um sorvete em pleno sol
o que fizeram da nossa fé?
Eu briguei, apanhei, eu sofri, aprendi,
eu cantei, eu berrei, eu chorei, eu sorri,
eu saí pra sonhar meu País
e foi tão bom, não estava sozinho
a praça era alegria sadia
o povo era senhor
e só uma voz, numa só canção
e foi por ter posto a mão no futuro
que no presente preciso ser duro
que eu não posso me acomodar
quero um País melhor
o medo já não convive nas casas, nos bares, nas ruas
com o povo daqui
e até dá pra pensar no futuro e ver nossos filhos crescendo e sorrindo
mas eu não posso esconder a amargura
ao ver que o sonho anda pra trás
e a mentira voltou
ou será mesmo que não nos deixara?
a esperança que a gente carrega é um sorvete em pleno sol
o que fizeram da nossa fé?
Eu briguei, apanhei, eu sofri, aprendi,
eu cantei, eu berrei, eu chorei, eu sorri,
eu saí pra sonhar meu País
e foi tão bom, não estava sozinho
a praça era alegria sadia
o povo era senhor
e só uma voz, numa só canção
e foi por ter posto a mão no futuro
que no presente preciso ser duro
que eu não posso me acomodar
quero um País melhor
30 anos atrás... o
mesmo sentimento...
Mas há dois mil anos
atrás, Pedro anuncia que o Espírito Santo daria ao povo de Deus, aos jovens, a
capacidade da visão, de se antecipar ao tempo, de olhar à frente, ter
perspectiva. Ele seria capaz de energizar os jovens a sonharem com o reino de
Deus, e serem desafiados para a obra missionária, a viverem uma nova realidade
marcada pelo Espírito Santo.
O texto muda o foco, e
passa a mirar agora numa outra geração: “Os
velhos sonhariam”.
Convenhamos que se
trata de uma imagem nada convencional. Não parece lógico nem razoável pensar em
velhos sonhando... isto parece coisa de gente nova... tenho lidado com minha
geração, conversado com gente de minha idade, e sei como a idade arrefece o
entusiasmo e pode gerar tentação de comodidade, conforte e burguesia.
Isto tem um profundo
reflexo na geração de idosos que me ouvem agora.
Gente aposentada com
bom salário, alguns com bons investimentos financeiros, sobrando tempo, indo
para a academia, esbanjando saúde, com grande currículo, dons e talentos. Não é
mais razoável pensar em velhos se acomodando que sonhando? O que fazer com os
talentos? Enterrar?
Muitos idosos estão
perdendo a capacidade de sonhar. Alguns estão sendo consumidos pela indústria
do entretenimento, o sonho de bem estar e conforto, o anseio pela eterna
juventude, estética, maquiagem, alguns se tornando obcecados pelo corpo
perfeito, vaidade sem limite, tentando negar o fato da inevitabilidade da
velhice.
Como é possível deixar
o ensimesmamento, o maravilhoso espelho
da auto centralidade, e olhar para fora, enxergar o reino e sonhar os sonhos de
Deus?
Como envelhecer
sonhando e não apenas se mantendo e procurando a auto preservação? Sem se
deprimir pela imagem do espelho e pela impiedosa balança? Estou numa fase que
tudo me engorda, até pensar está engordando. Como envelhecer sem adotar uma
postura cínica e cética com a vida? Amando a igreja de Cristo e o reino de
Deus? Cuidando e acreditando que o reino de Deus está entre nós? Como
envelhecer celebrando e não se tornando ranzinza, sendo referência de Cristo
para a nova geração?
O que você acha que
Deus espera de você na velhice?
“Os velhos sonharão...”
Que tal começar a
pensar e orar sobre este assunto ao invés de se deprimir porque está ficando
velho?
D.
Rompe a barreira
social –
“Até sobre os meus servos e servas
derramarei do meu Espírito naquele dia, e profetizarão” (At 2.18).
Podemos deixar de
servir a Deus com eficiência por causa da barreira social.
Alguns, mesmo tendo
muito, não entenderam o poder de seus recursos quando aplicados para o reino de
Deus. Precisamos entender que “Money speaks”. Dinheiro pode trazer vida e graça
e pode ser fator de cobiça, miséria e desgraça, quando o colocamos como centro
de nossa vida, e mantemos uma relação idolátrica com ele. Entretanto, pode ser
uma benção se entendermos que, através dele, podemos construir o reino de Deus,
investir em vidas, enviar missionários, melhorar estruturas locais e ampliar
nossa tenda.
O foco, porém, deste
texto, se volta para a classe menos privilegiada dos tempos bíblicos: os
escravos, tidos pelos romanos como uma sub-classe. Eles não tinham direitos nem
privilégios, não podem dirigir suas próprias vidas, eram marginalizados e não
tinham voz. Eram escravos.
Mas o texto surpreende
a todos: “Até sobre os meus servos e
servas derramarei do meu Espírito naquele dia, e profetizarão”. O Espírito desconhece as barreiras sociais. A
classe menos privilegiada teria acesso direto aos mistérios de Deus e os
proclamaria aos homens. Eles seriam profetas, falariam em nome de Deus. Que
privilégio, que honra, ser portador das verdades de Deus, ser arauto de Deus! A
obra do Espírito traria esta revolução.
Conclusão: O que precisamos hoje?
O que temos mais
necessidade em nossas vidas?
Maiores recursos?
Influência social?
Corpo mais
atlético?
Ganhar
mais dinheiro?
Quais são as novas resoluções
para o ano novo?
Não! A verdadeira
revolução, a verdadeira transformação se dará por meio de um novo poder, quem
não surge pela ação humana, nem pelo esforço, nem pela auto-ajuda, mas pela
obra do Espírito de Deus.
Como podemos reagir a
isto?
Este texto nos fala de
quatro grupos diferentes, quando veem e ouvem estas coisas. Certamente você vai
se identificar com um deles.
Temos aqui o grupo da
metodologia: “Como os ouvimos falar em
nossa língua materna?” (At 2.11) Eles estão interessados no processo, na logística,
em como as coisas espirituais acontecem.
Temos aqui o grupo
filosófico: “O que quer dizer isto?” (At 2.12) Este
grupo quer entender o significado antropológico, religioso e cultural dos
eventos que presenciavam. Eles possuem uma curiosidade cientifica, expressam
dúvidas fenomenológicas. Eles querem saber a essência, “o que é isto?”
Há o grupo cínico. “Estão embriagados” (At 2.13) É o grupo que olha com desprezo, zombaria e
critica à tudo que veem. Eles não percebem a sobrenaturalidade e acham que os eventos
nada mais são que espasmos psicossomáticos resultantes do álcool.
Mas o texto fala de um
grupo que coloca a questão no lugar certo: “Que
faremos irmãos?” (AT 2.37). Se tudo isto que vemos é algo realmente importante, isto
exige de nós uma resposta profunda. São movidos, tocados, e impactados por
Deus.
O ponto essencial é:
Que atitude tomar? Que resposta dar a tudo isto?
A primeira atitude declarada do texto é: “Arrependei-vos”. (At 2.37).
Arrependimento implica
em algo negativo e algo positivo.
O negativo me faz
entender: “Onde estou e como tenho feito tudo até aqui, não está certo. Eu
preciso construir um novo roteiro para minha história”. É a compreensão de que
o estado atual é inadequado diante de Deus, que continuar vivendo assim é um
grande equívoco.
O positivo me deixa
entender: Há uma nova história possível e que devo percorrer, e nela quero
andar. É a estrada que Deus me convida a andar. Há uma nova trilha, e por ela
devo caminhar.
O filho pródigo ilustra
bem este ponto.
Ele deixou o pai, ele
feriu o relacionamento de amor que tinha, ele ignorou o pai. Distanciado,
percebe que não poderia mais caminhar daquele jeito. “Então, caindo em si disse: quantos trabalhadores de meu Pai tem pão com
fartura e eu aqui morro de fome”. Ele cai em si (não nos outros...) Ele se
auto descobre, tem uma auto compreensão da realidade. “E levantando-se foi”. Isto é arrependimento. O encontro com o mal
presente no coração, e o desejo de admitir que precisa mudar, é preciso
reencontrar o pai, é preciso voltar para casa, restaurar os relacionamentos,
perdoar, reconciliar. E ele volta!
“Que faremos, irmãos?”
Que resposta você dará
hoje à Palavra de Deus?
Como você reage a este
novo poder que lhe é fornecido? A esta nova oportunidade que Deus está trazendo
para sua vida?
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