quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Desmascarando os Ídolos

Leitura Bíblica: Ez 14.1-8

Introdução:

Quando falamos de ídolos, geralmente pensamos nas figuras caricaturais de pagãos elevando suas preces a esculturas bizarras e representações de animais ou pessoas de sua devoção (Is 44.16-17). Uma definição simples de ídolo, porém, é tudo aquilo que ocupa nosso coração ao invés de Deus. Precisamos reconhecer a tendência que temos em nosso coração em não crer em Deus e criar substitutos em nossa vida.
O profeta Ezequiel fala de “Ídolos do coração”. Representações divinas que construímos na nossa alma e que se tornam substitutos de Deus.
q  “Um ídolo é algo dentro da criação que é colocado de forma inflacionada a assumir o lugar de Deus. Todas as coisas podem se tornar potencialmente em ídolos. Um ídolo pode ser um objeto físico, uma propriedade ou uma pessoa, uma atividade, uma regra, uma instituição, uma esperança, um prazer, um herói…Sendo isto verdade, como poderemos determinar quando alguma coisa é …um ídolo?” Richard Keyes The Idol factory in No God, but God.

A Questão essencial:
"Há alguma coisa ou alguém, além de Jesus Cristo que tem assumido no nosso coração uma função de confiança, preocupação, lealdade, serviço, medo ou prazer?” Existe alguém ou algo que temo, amo, confio ou desejo - Mais que a Deus?

Êxodo 32.1-4,19-24 Facilmente o povo abandona a Deus e se curva diante de deuses falsos. Tão logo Moisés desapareceu por 40 dias, seu irmão Arão, resolve fazer um deus, um ídolo. (Ex. 32) Arão dá uma desculpa esfarrapada e joga a culpa no povo. “Tu sabes que o povo é propenso para o mal” (vs.22) e justifica-se: “eu o lancei no fogo, e saiu este bezerro” (Vs. 24).
Para Lutero, idolatria é o pecado detrás de todos os pecados.

Por que a grande tentação do Antigo Testamento é sempre a idolatria?


  1. O grande problema da vida é a dificuldade de dar a Deus a centralidade de tudo que fazemos (Rm 1.18-23). Num nível motivacional nós não queremos dar a honra que Deus é merecedor, por isso criamos ídolos, ou melhor, estabelecemos coisas como deuses para nossas vidas. Para negarmos o controle de Deus sobre nossas vidas, nós escolhemos outras coisas que possam ser substitutos de Deus. “Eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do criador” (Rm 1.25). Por isso, distorcemos a vida e seguimos a mentira.
ü  Tim Keller. “Na base de nossas escolhas, nossa estrutura emocional, nossa personalidade é um falso sistema de fé centralizado em um ídolo". Os homens “mudaram a glória de Deus” (Rm 1.23). Por esta razão, todo ser humano torna-se escravo. Ninguém de fato é livre porque para quem damos a vida, somos obrigados a servir. Os homens “Adoraram e serviram a criatura em lugar do criador” (Rm 1.25), isto é, quando passaram a adorar, passaram também a servir.
ü  Mesmo após nossa conversão, facilmente somos distraídos pelos “ídolos de nosso coração”. Os homens “Levantaram ídolos dentro do seu coração” (Ez 14.3). Ídolo tem a ver com nosso coração. Deus revela aqui não que estas pessoas adoravam determinados ídolos feitos em barro, mas que os ídolos estavam arraigados nos seus corações.

ü  Ídolos controlam o coração. Por isto o profeta Ezequiel se refere aos ídolos do coração, eles habitam o interior, a nossa alma, afetam o coração e passam a exercer o controle. Ídolos são forjados nos corações (Ez 14.4).

  1. O ídolo, também, nos faz pensar que é impossível ser feliz sem sua presença
ü  Glotunaria - transforma a comida em obsessão.
ü  Ambição - Torna-nos escravos do sucesso.
ü  Luxúria - Nos faz depender de sexo e pornografia.
ü  Ganância– Nos faz viver em torno do lucro.
ü  Vaidade – nos torna prisioneiro da estética.
ü  Os ídolos nos fazem crer que se não tivermos estas coisas não podemos ser felizes.
ü  Karl Meninger – Livro: Pecados de nossa época, fala de um homem rico e avarento: “Eu não posso imaginar tocando nos meus bens, eu morreria se desse mesmo uma pequena parte dele”.  

  1. Ídolo é um sempre um substituto de Deus - O pecado nos predispõe a querer viver de forma independente de Deus. “Adoraram a criatura em lugar do criador” (Rm 1.25).
ü  Trabalho - pode se tornar um ídolo se o perseguimos de uma forma que ignoramos as responsabilidades espirituais;
ü  Família – Mesmo sendo uma instituição divina, pode se tornar um ídolo;
ü  Bem-estar - um desejo legítimo torna-se um ídolo quando não nos desestabilizarmos por causa de nosso conforto.

O que tem ocupado o meu coração? Alguma coisa ou alguém está tomando o lugar de Deus em minha vida? O que tem ocupado minha mente?

  1. Ídolos criam falsa sensação de controle, temos a impressão de que temos poder, mas na verdade, é ele que nos controla.
ü  Ilustração ratinho experimental: Existe uma charge em Psicologia experimental de certa pessoa estava estudando o comportamento de pequenos ratos que precisavam encontrar sua comida dentro da gaiola. Lá pelas tantas, um ratinho olhou para o outro e disse: “acho que esta pessoa está condicionada, porque todas as vezes que eu aberto esta barra ele me dá comida”.
É isto que o ídolo faz conosco. Criamos deuses à nossa imagem e semelhança e pensamos que podemos controla-los, mas não percebemos, na verdade, que são eles quem nos dominam. Os ídolos criam falsas leis, falsas definições de sucesso e fracasso, de valor e estigma. Ídolos fazem promessa de benção e maldição para aqueles que seguem suas leis ou a desobedecem. Por exemplo: “Se fizer bastante dinheiro, estarei seguro”, ou, "Minha vida será bem sucedida se"…ou, "as pessoas me respeitarão e vão gostar de mim, se"…

O resultado, segundo Oden, é que nos tornamos escravos destes ídolos.
  • Torno-me ansioso na medida em que idolatro valores finitos.
    • Exemplo: Idolatria do corpo - Torno-me frágil e ansioso quando percebo que as rugas aparecem e ele não tem mais aquela estrutura bonita.
    • Idolatria do sucesso - Me desespero quando não estou em evidência.
    • Idolatria do dinheiro - Não consigo pensar na idéia de viver sem ele;
  • Sinto-me inseguro quando tais ídolos não estou em evidencia.
  • Experimento vazio e falta de sentido. Alguns chamam isto de desespero, e as formas mais brandas são o desapontamento, desilusão e cinismo.[1]



Conclusão:
Desmascarando os ídolos

É necessário tirar dos ídolos o status que lhe atribuímos de imprescindíveis, insubstituíveis e necessários. Este é o primeiro caminho. Quando Moisés chegou ao arraial, depois de receber, ele quebrou os ídolos (Ex 32.1-24). Isto demostrou como é fragilidade daquele bezerro de ouro em quem o povo de Israel colocou a confiança. Ídolos precisam ser denunciados, desmascarados, porque criam um campo de ilusão acerca deles.
Quando confrontamos falsos ídolos, que criam ilusória percepção de segurança, veremos não apenas como eram frágeis, mas surgirá no coração um grande sentimento de liberdade.
Para lutar contra um inimigo tão astuto, precisamos construir uma liturgia de vida para que possamos consagrar nossos afetos a Deus, o único merecedor de nossa adoração.

  1. Não trazer outros ídolos diante do Senhor –Então falou o Senhor todas estas palavras: eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim” (Ex 20.3).
É estranho pensar que podemos “trazer outros deuses diante de Deus”, mas não é isto que fazemos? Muitas vezes oramos para que Deus nos dê algo, e Deus está olhando para nós e dizendo. “Você não precisa disto! Eu não devo lhe dar isto! Sua necessidade é falsa. Eu quero que você queira a mim, e não isto que você está pedindo!”

  1. Regozijar-se na graça e obra de JesusPrecisamos admitir que temos buscado segurança em nos esquemas e na justiça própria, mas a grande mensagem do Evangelho é que nós somos aceitos em Cristo.  Todos os problemas surgem porque nos esquecemos quão amados somos por Jesus, quão honrados, quão bonitos, quão seguros, quão ricos, quão respeitados e livres somos em Deus. Todas as outras formas de encontrar sentido e prestígio são vãs. Precisamos confiar somente em Jesus.

3.       Guardar-se dos ídolos – Nosso coração precisa estar atento às sofisticadas formas de se revelar em nossas vidas. “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (I Jo 5.21). 

Deixe-me dar uma lista de exemplos de idolatrias sutis, voltando à pergunta que fizemos assim:
a.       Medo – A quem ou o que tememos?
b.       Confiança – Em que ou em quem colocamos nossa confiança?
c.        Desejo – O que tem se tornado o objeto de meu desejo?
d.       Amor – O que eu amo, acima de Deus?
Alguns exemplos:
i.                     Um medo obsessivo de que meu filho não saia bem na vida pode me governar e me dominar completamente, de tal maneira que posso viver constante manipulando-o, controlando-o, preocupado e até mesmo irado. Eu não o confio a Deus, mas passo a ser mentalmente dominado por este medo que passa a exercer o controle minha vida.

ii.                   A vida dos filhos - Quando estávamos nos mudando dos Estados Unidos para o Brasil, no final de 2002, minha esposa, foi tomada de uma grande aflição, quando minha filha Priscila nos pediu para ficar até que ela terminasse o High School. No meio da ansiedade Deus lhe trouxe uma compreensão clara ao coração: "Eu sempre cuidei dela, pode ser que você esteja pensando que a responsabilidade era sua, mas eu apenas a dei a você, para que você estivesse com ela estes anos, mas quem sempre cuidou dela fui eu". Isto acalmou seu coração. Compreendeu que existia um Deus acima, e assim pode colocar sua confiança não mais nos seus recursos, nem no seu domínio, nem naquilo que julgava ser sua responsabilidade, mas em Deus.

iii.                 Desejo por segurança e estabilidade financeira pode se transformar num ídolo. Queremos tanto ter uma vida tranquila, sossegada, recursos financeiros disponíveis, que passamos a colocar nosso coração nisto, e se algo ameaça este ídolo, nos desesperamos, perdemos o controle, porque achamos que a segurança financeira pode controlar a vida. Por isto não somos capazes de ser liberal com meus recursos. Não trago o dízimo à igreja, não contribuo para a obra de Deus porque internamente tenho medo de ficar sem dinheiro. Por isto a Palavra nos ensina que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”, e “a avareza é idolatria”.

Uma senhora idosa, aos 90 anos de idade andava muito preocupada, e seu filho procurou saber o que estava acontecendo. Ela respondeu: “Tenho medo de que meu dinheiro não seja suficiente até o final da vida”. Como ela tinha muitos bens e uma situação financeira tranquila, o filho colocou no papel tudo o que ela possuía e disse: “mamãe, a senhora pode viver neste estilo de vida, por mais 15 anos, sem faltar absolutamente nada para a senhora”. E ela respondeu: “E depois dos 15 anos?”.
Que medo domina sua vida? Quando confiamos em sistemas ou métodos e não em Deus isto é sinal de idolatria. Quem você pensa que controla sua vida? Os ídolos nos fazem crer que circunstâncias, controles externos é que fazem isto, e tiramos assim os olhos de Deus.

É bom entender que tais categorias não são estáticas, mas dinâmicas. Por exemplo, temer que o dinheiro vá faltar e ficar dominado pelo pensamento de que não terá no futuro para as suas necessidades, faz você pôr seu coração e sua confiança nos bens. Confiar no dinheiro e em posses para sua paz pode revelar onde está o seu coração. Dinheiro pode se tornar um ídolo ao qual passamos a servir e obedecer. Jesus afirmou que o dinheiro é uma entidade espiritual, um ser com vida própria, chamou-o de Mamom (Mt 6.24). O termo que é traduzido para riquezas vem do grego e era uma referência de Jesus a um ser espiritual, e pela sua natureza exigirá adoração.
Considere os tipos de comportamentos ou pecados de superfície que podem virar ídolos nos corações. Pense nos pontos acima: A quem eu amo, temo, confio e desejo mais que a Deus?
Considere novamente a avareza, que é idolatria. Um dos ídolos de nossa cultura e de nossa geração. Como você pode saber que isto é um ídolo em sua vida? Como funciona seu desejo, confiança e medo em relação a ele?

As quatro categorias – medo, confiança, amor e desejo – são exemplos de como as coisas podem reger nossas vidas. Considere os tipos de comportamento ou pecados de superfície que podem ser proveniente destes ídolos:

Eu temo:
__ Rejeição das pessoas, ataques ou controle                                            __ Perda do controle
__ Perder, ou não ganhar reputação                                                             __ Falta de dinheiro
__ Ser demitido ou ver meu chefe irado comigo                                       __ Ficar doido
__ Mau comportamento de meus filhos.                                                     __ Meia Idade
__ Meu passado ou meu pecado sendo exposto        .                               __ O futuro
__ Rejeição de minha esposa ou amigos                                                     __ Doenças
__ Perda de uma herança                                                                                __ Velhice
__ acusações de amigos ou esposa (o)                                                         __ Morte
__ Punição                                                                                                         __ Falência.

Eu confio
__ Bebida/jogo (escapismo de frustrações e tédio).                                   __ Meus próprios recursos
__ Sexo/Pornografia (Prazer, alivio).                                                            __ Segurança/ Paz
__ Comida (alivio da monotonia, saúde, prazer, paz).                              __ Meus dons e habilidades.
__ Alguma figura idealizada (atleta, pastor, músico)                                __ Controle/Ordem.
__ Herança, seguros, posses (para manter minha segurança).                  __ Luxúria.
__ Saúde (meu estilo de vida, minha ginástica...)                                      __ Status.
__ Meu trabalho (segurança, status, ganho financeiro)                            __ Dinheiro.
__ Meus filhos, trabalho, casamento (para alegria)
__ Prazer (comida, bebida, drogas, sexo, diversão)
__ Aparência física (ginástica, moda, beleza)

Eu desejo
__ Me sentir bem (comer, beber, drogas, sexo).                                          __ Prazer/conforto
__ Libertação de limitações financeiras                                                      __ Paz em minha casa
__ Adoração/reconhecimento/sucesso                                                        __ Amor dos outros
__ Que meus filhos sejam responsáveis                                                      __ Bens materiais
__ Bênçãos de Deus                                                                                        __ A casa boa
__ Que meu esposo (a)/amigo me ame                                                         __ Conhecimento
__ Circunstâncias sejam mudadas                                                                 __ Aprovação
__ Competência e afirmação                                                                          __ Saúde

Fonte: Apostila Gospel Transformation (Sonship).

Conclusão:
Mais sutil do que tudo ainda, não somente confiamos em outras coisas para nos abençoar, mas também confiamos em nós mesmos. Em outras palavras, podemos nos colocar no trono, e nos transformar em nossos próprios deuses. Assim, o orgulho, a independência e a altivez, passam a nos dominar. Não mais nos curvamos diante de Deus, porque não dependemos dele na vida. Acreditamos que somos senhores do destino, e que somos nós que fazemos a história. Não precisamos de Deus.
Não é esta a sugestão luciférica desde o paraíso? Vocês podem se tornar como Deus! Deus governa o universo em cima de pressupostos mentirosos, ele mente! Você pode se libertar dele e se colocar no mesmo nível espiritual.





Perguntas para discussão:


1. O conceito de Idolatria ficou claro para você?
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2. Onde está o teu coração? O que poderia ser tirado de você sem o qual não conseguiria viver? Até que ponto este medo não revela um ídolo de seu coração?
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3. O que realmente deseja acima de tudo?
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4. Em que você tem consumido sua vida? Onde você tem colocado seus talentos, dons e recursos, além de Deus? Como isto afeta sua espiritualidade?
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5. Você não gostaria de quebrar este ídolo do seu coração? Que sentimento você tem quando você pensa em abandonar este ídolo?
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Samuel Vieira





[1] . Oden, Thomas C., Two worlds: Notes on the death of modernity in America and Russia, chap. 6

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