Introdução:
O maior pavor da humanidade não é a falta de Deus, mas a existência de um Deus indiferente. Mais difícil hoje não é pregar sobre o existir, mas sobre o querer de Deus. O primeiro mandamento não fala contra o ateísmo, mas contra o politeísmo: “Não terás outros deuses diante de mim.”
Para resolver este dilema filosófico, teológico, existencial, as igrejas criam duas alternativas antibíblicas:
- Ensinam técnicas de como fazer Deus acordar:
- Jejum vira arma de pressão contra Deus.
- Cria-se um sistema de sacrifício, que é pagão.
- Cria-se frases mágicas: “palavras de confissão positiva”.
- Cria-se uma espécie de métodos para obrigar Deus a fazer. Se eu fizer a minha parte, ele me deve e precisa fazer. Deus se torna “refém” de atitudes espirituais. Não é isto uma espécie de “feitiçaria”? Manipular o sagrado?
- Crer virou um problema. Quando Deus não faz é porque não cremos o bastante. Neste caso, quando a resposta não veio isto aconteceu porque faltou fé. Além do problema da dor que enfrentamos, nos sentimos culpados porque a culpa é nossa de Deus não nos ter dado. Temos dificuldade para entender a soberania e os mistérios de Deus.
Neste relato bíblico, o sono de Jesus não é indiferença, mas algo para o crescimento dos discípulos.
- Negam a soberania de Deus – Isto tem se popularizado muito com a “teologia relacional”, ou “Teísmo aberto”. Uma espécie de maniqueísmo moderno. Negam a soberania e o controle de Deus sobre a história. Afirmam que Deus não faz a história, mas transita por ela. As tragédias e situações adversas não tem nada a ver com Deus, no máximo admitem que Deus encontra-se ali no meio da dor, mas o sofrimento humano não tem relação com a divindade.
Entretanto, ao lermos a Bíblia e olhamos a história da igreja de Jesus durante todos estes séculos, observamos que homens e mulheres de Deus também enfrentaram problemas com “o sono de Deus”, “silêncio, ou aparente apatia de Deus.” Várias vezes a Bíblia nos mostra homens tendo a experiência de conviver com um Deus que parece esquecer, não se importar, e tendo que lidar com o grande desafio do “silêncio de Deus”. A cena que mostra Jesus dormindo neste texto que lemos, apenas reflete um todo ainda mais complexo nas Escrituras.
Asafe, Salmo 73, no meio de uma crise existencial profunda que refletia sobre os problemas da prosperidade dos ímpios afirma: "Ao despertares Senhor, desprezarás a imagem deles (dos ímpios)" (Sl 73.20).
Habacuque: “Tu és tão puro de olhos que não toleras o mal, e a opressão não podes contemplar; por que, pois, toleras os que procedem perfidamente e te calas quando o perverso devora aquele que é mais justo do que ele? Por que fazes os homens como os peixes do mar, como os repteis, que não tem quem os governe?” (Hb 1.13-14)
Isaias: “Vós, os que fareis lembrado o Senhor, não descanseis, nem deis a ele descanso até que restabeleça Jerusalém e a ponha por objeto de louvor na terra.” (Is 62.6-7).
Salmo 77:9: “Esqueceu-se Deus de ser benigno? Ou, na sua ira, terá ele reprimido as suas misericórdias?”
Francis A. Schaeffer escreveu um livro importante para nos lembrar que Deus nunca deixou de dar sinais na história da humanidade, mesmo nos tempos mais difíceis e pesados. : “He is there, and he is not silent”. (Ele está aqui e não está calado) O Livro de Atos registra: “Contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria.” (At 14.17) Muitos outros textos bíblicos nos falam desta maravilhosa realidade da presença de Deus na história e na natureza (Sl 65.9; Sl 104; Jr 31.35; Rm 1.20)
No entanto, nossos sentimentos nos levam equivocadamente a ter a impressão de um distanciamento divino: “Se ele se importasse... Se Deus me ouvisse... Se Deus olhasse...” Veja o sentimento do Salmista:
⁶ De noite indago o meu íntimo,
e o meu espírito perscruta.
⁷ Rejeita o Senhor para sempre?
Acaso, não torna a ser propício?
⁸ Cessou perpetuamente a sua graça?
Caducou a sua promessa para todas as gerações?
⁹ Esqueceu-se Deus de ser benigno?
Ou, na sua ira, terá ele reprimido as suas misericórdias?
¹⁰ Então, disse eu: isto é a minha aflição;
mudou-se a destra do Altíssimo. (Sl 77.6-10)
O texto de Mc 4.35 mostra-nos Jesus dormindo em meio à crise dos discípulos. Esta realidade do silêncio de Deus, e do "Deus que dorme" é assustadora para todos nós. Por isto os discípulos indagam: "Mestre, não te importa Senhor que pereçamos?". Além da rudeza do temporal e da violência da tempestade, ficam desesperados com a indiferença do Mestre.
Será Que Deus é Indiferente e Insensível?
Muitos acham que a resposta a essa pergunta é Sim. “Se Deus se importasse’, pensam eles, ‘será que este mundo não seria um lugar bem diferente?” Vemos ao nosso redor um mundo cheio de guerras, ódio e sofrimento. E todos nós estamos sujeitos a adoecer, sofrer e perder pessoas amadas. Assim, muitos perguntam: “Se Deus se importasse conosco e com os nossos problemas, não impediria que tais coisas acontecessem?”
O que vemos no texto:
- O fato de sermos obedientes, não impede a tribulação.
É Jesus quem diz seus discípulos para atravessarem o mar, sabendo o que os espera – “Passemos para a outra margem.” (Mc 4.35) O oposto disto tem sido ensinado pelo Teologia da Prosperidade. Um dos seus pontos é a confissão positiva, que afirma: Nenhuma doença, nenhuma crise, nenhuma falência. Basta decretar. Tal concepção é falsa.
Justo e injustos sofrem e são abençoados.
Stanley Jones fala no seu livro “Cristo e o sofrimento humano” que numa aldeia da Indonésia, houve um furacão, e apenas a casa do cristão, numa aldeia de 250 pessoas, ficou em pé. Ao mesmo tempo que existem situações em que apenas a casa do cristão é afetada. O epicentro de um vendaval que atingiu a incrível velocidade de 273 Km em Canela, RS, afetou diretamente o nosso irmão Aristeu Pires Jr, que é um homem que teme a Deus. Na Chacina do Realengo em 2010, uma adolescente da igreja de Piraquara, foi assassinada.
Jesus afirmou: “Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo passais por aflição, mas tende bom animo, eu venci o mundo”. (Jo 16.33)
Pedro afirma: “Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo”. (1 Pe 4.12)
Perguntaram ao Dr. Francis Shaeffer, logo após ter descoberto seu câncer: Por que o Senhor está doente? Karma? Pecado? Castigo de Deus? E ele respondeu: “Estou doente porque sou humano, e não estou livre de nada daquilo que faz parte da humanidade caída”.
- Jesus usa todo este processo para nos revelar seu poder e autoridade
O texto mostra que Jesus foi com eles (Mc 4.36). Seu silêncio é didático. Você nunca teve a impressão de que Deus está dormindo no seu barco? “Mestre, não te importas que pereçamos?”.
Pessoas que dizem não crer em Deus, em geral crêem, mas não gostam da forma de Deus agir.
Jonas esteve em crise com Deus por isto: “Sabendo que és misericordioso, compassivo, longânimo, me adiantei fugindo para Társis”.
Ateísmo, muitas vezes é um antiteísmo. Como posso reclamar, blasfemar e acusar alguém que não existe? Estas atitudes são um tipo de fé mas que tem raiva contra Deus pela situação vivida e não necessariamente uma negação da existência de Deus.
O ponto que motiva tais atitudes é: “Deus é indiferente, ele não vê minha dor”. A Bíblia nos mostra que Deus usa este momento para revelar seu poder: “Acalma-te, emudece!”.
Algumas conclusões
- A presença de Jesus não impede o temporal, mas revela quem está no controle da situação – Não estamos nas mãos dos ventos, temporais e circunstâncias. Existe um Deus no comando. “Eu sou Deus – Aquietai-vos e sabei” (Sl 46.10). Só desta forma podemos entender por que Jesus repreende seus discípulos. O medo deles era ou não legitimo? Jesus, entretanto, os repreende. O que está em jogo é o fato de que eles não estão crendo que Deus está acima daquelas circunstâncias que eles têm de enfrentar. “Deus é nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações. Portanto não temeremos ainda que as águas tumultuem e espumejem, e na sua fúria os montes se estremeçam” (Sl. 46.1)
- Deus usa tribulações para revelar-nos seu poder - Deus "não dorme", sem razão. Seu silêncio é pedagógico. Ele deseja nos ensinar que "o vento", não se encontra fora de seu domínio. “Quem pecou, este ou seus pais para que nascesse cego?” (Jo 9.1) Jesus afirma que nem aquele homem cego, nem seus pais, mas aquela situação era uma forma de Deus revelar seu poder. Deus usa a tribulação para revelar sua glória aos homens.
- A presença de Jesus gera admiração e louvor – “Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?” Toda crise é uma oportunidade para aprendermos a glorificar o nome de Deus. Ver Deus no meio dos vendavais nos ensina a dar glórias a seu nome.
Conclusão
Deus não é um poder frio e silencioso:
Sl 121.4 – “Ë certo que não dormita nem dorme o guarda de Israel”
Is 43.1-5: “Quando passares pelas águas, elas não te submergirão, quando pelo fogo, não te queimarás”
Jo 14.18: “Não vos deixarei órfãos”.
Jo 16.20: “Em verdade, em verdade vos digo, que chorareis e vos lamentarei, e o mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria”.
Tragédias e circunstâncias podem vir, mas temos a convicção de que não estamos entregues ao acaso, à coincidência ou a uma direção cega. Somos filhos de Deus, que fará de tudo para que nossa alegria seja completa, e sua glória se revele por inteira em nosso coração.