A providência divina na história do
seu povo
Salmo didático de Asafe
¹ Escutai, povo meu, a minha lei; prestai ouvidos às
palavras da minha boca.
² Abrirei os lábios em parábolas e publicarei
enigmas dos tempos antigos.
³ O que ouvimos e aprendemos, o que nos contaram
nossos pais, não o encobriremos a seus filhos; contaremos à vindoura geração,
os louvores do Senhor, e o seu poder, e as maravilhas que fez.
⁵ Ele estabeleceu um testemunho em Jacó, e instituiu
uma lei em Israel, e ordenou a nossos pais que os transmitissem a seus filhos,
a fim de que a nova geração os conhecesse, filhos
que ainda hão de nascer se levantassem e por sua vez os referissem aos seus
descendentes;
⁷ para que pusessem em Deus a sua confiança e não se
esquecessem dos feitos de Deus, mas lhe observassem os mandamentos;
⁸ e que não fossem, como seus pais, geração
obstinada e rebelde, geração de coração inconstante, e cujo espírito não foi
fiel a Deus.
Salmos 78:1-8
Introdução
Quantos
anos são necessários para uma igreja desaparecer?
Estudiosos
afirmam que são 60 anos. Basta que os filhos não permaneçam na igreja, e que
não surjam novos convertidos. Tempo para uma geração desaparecer.
Esta
é a preocupação do Sl 78: O grande desafio é continuar ministrando aos que
chegam. Como comunicar efetivamente a mensagem revelada às novas gerações? O
Evangelho é um conceito transferível e não pode morrer em nós. Deus nos chama
para uma e os filhos fazem parte deste chamado.
Duas
questões perturbadoras podem ser levantadas a partir desta premissa:
- Sua fé chegará à próxima geração? Ou ela é
individual, apenas para você mesmo? Reinhold Niebuhr afirma: “Nada que
valha a pena fazer se completa durante nossa vida.” Paul Meyers diz: “Tudo
o que você é e possui hoje, de bom ou ruim, é o seu legado” um bom legado:
(a) – deve ser baseado em princípios divinos; (b)- deve produzir
resultados duradouros; (c)- Deve ser aplicável a todos.
- Se chegar à próxima geração, que tipo de fé
deixaremos? Será uma fé forte, viva, ou superficial e meramente
institucional? Sua fé é suficientemente forte para alcançar sua descendência?
“Estamos deixando uma herança ou
um legado? O que dou aos meus filhos, ou o que faço por eles, não é tão
importante quanto as marcas que deixo em suas vidas”.
Reggie Joiner afirma: “Manter
este eixo central é forma de “imaginar o final”. Em épocas de crise, em dias
sem esperança, quando não há soluções simples, nem revelação específica de
Deus, o povo de Israel deveria confiar no princípio, mantendo o fim em mente:
Minha família faz parte de algo maior, e Deus deseja mostrar seu poder redentor
em nossa vida”. (Joiner,
Reggie, “Pense laranja”. São Paulo, Ed. Univ. da família, 2012, pg 42).
O
povo de Deus é encorajado no Salmo 78, a transmitir o conhecimento de Deus a
outras gerações. Talvez estivesse na mente a lembrança de um texto bíblico de
Juízes que faz uma análise horrível do que aconteceu ao povo de Deus logo após
a morte de Josué.
“Foi
também congregada a seus pais toda aquela geração; e outra geração após eles se
levantou, que não conhecia o Senhor, nem tampouco as obras que fizera a Israel.
Então, fizeram os filhos de Israel o que era mau perante o Senhor; pois
serviram aos baalins. Deixaram o Senhor, Deus de seus pais, que os tirara da
terra do Egito, e foram-se após outros deuses, dentre os deuses das gentes que
havia ao redor deles, e os adoraram, e provocaram o Senhor à ira.” (Jz
2.10-12)
Duas
coisas assustadoras nos são ditas neste texto de Juízes:
- De uma geração para outra, perderam a percepção
de Deus. Os pais não conseguiram transmitir a grandeza do seu Deus aos
filhos. Isto nos mostra que se não nos aplicarmos em comunicar as verdades
do evangelho, nossos filhos perderão a essência e o sentido de serem
discípulos de Cristo. Não precisaremos demorar muito, a próxima geração já
será atingida de forma direta.
- A próxima geração: “não conhecia o Senhor, nem
tampouco as obras que fizera a Israel.”
- Não conhecer o Senhor é uma verdade pessoal,
intransferível. Cada criança, adolescente e jovem, precisa conhecer a Deus,
de forma individual e pessoal. Todos precisamos de uma experiência com
Cristo. Se você ainda “não conhece a Deus”, e deseja fazer isto, ore
sinceramente. A Bíblia diz: “Buscar-me-eis e me achareis quando me
buscares de todo coração.” Você precisa pedir a Deus para se revelar
pessoalmente a você.
- A geração seguinte não conhecia as obras que
Deus fizera a Israel. Isto tinha a ver com a incapacidade dos pais em comunicar
os feitos de Deus aos filhos. Isto é ensino, educação espiritual.
Precisamos comunicar as verdades de Deus e as manifestações de Deus aos
filhos. Isto gera temor e fé em seus corações. A geração que veio após a liderança
de Josué não fez isto, e os filhos abandonaram a Deus.
O Salmo
78 nos faz pensar em três questões essenciais. Duas delas claras no texto, a
última, implícita.
I.
A Quem Comunicar?
Sujeito
ü Contaremos as vindouras gerações (Sl 78.4)
ü Aos filhos que ainda não de nascer (Sl 78.6)
ü E aos filhos dos filhos que ainda não nasceram (Sl
78.6). Trata-se, portanto, de pensar na comunicação não apenas à geração
imediata, mas a uma geração que virá muitos anos depois de nós. Nossa fé não
pode morrer em nós, nem em nossos filhos. Precisa ser uma fé continuada e
compartilhada.
Deus
“estabeleceu um testemunho em Jacó, e instituiu uma lei em Israel, e ordenou
a nossos pais que os transmitissem a seus filhos.” (Sl 78.5) Deus ordena a
seu povo que os pais comuniquem as verdades da aliança aos seus filhos e netos.
O Evangelho não pode acabar em nós. Nossos pais nos contaram e devemos contar
aos filhos.
Em
geral temos preocupação em que os filhos sejam “bem-sucedidos”, mas a
preocupação bíblica não é econômica, nem sociológica, mas espiritual. Devemos
estar preocupados com a alma deles. O chamado de Deus inclui a família. Van
Groniken escreveu interessante livro sobre este assunto: “A Família da
aliança”, e Susan Hunt fez uma importante análise sobre o Pacto generacional,
no seu livro: “A graça que vem do lar.” (Susan Hunt)
Deus
chama Abraão para fazer um pacto com ele e sua família. O Pacto seria extensivo
à família. “Guardarás a minha aliança.
Esta é aliança que guardareis entrem mim e vós e a tua descendência. Todo macho
será circuncidado.” (Gn 17.9-11) Por que o sinal deveria ser no órgão
reprodutor masculino? Não seria mais simples e fácil um sinal externo, uma
marca na testa, ou uma tatuagem? Por que Deus exige o ritual da circuncisão,
que deveria ser feito pelo sacerdote como um ato religioso, na presença dos
familiares, sem anestesia, sem bisturi, com pedras de pederneira?
O
fato de ser uma cirurgia no órgão reprodutor revela que era algo que tinha a
ver com a descendência. Deus marca os filhos daqueles que estavam sob sua
aliança. Posteriormente Deus deixa claro que os filhos do seu povo lhe
pertenciam e deveriam ser apresentados diante dele, rejeitar a circuncisão dos
filhos era considerado um ato de apostasia e grave rebeldia contra Deus. José e
Maria, como judeus piedosos, levaram Jesus ao templo quando ele fez 8 dias para
realizar a circuncisão. Curiosamente, o oitavo dia é considerado como o melhor
dia para a cicatrização em todo ciclo de existência humana, por causa dos
hormônios da criança. Só um Deus que criou o ser humano, saberia de algo tão
preciso como este aparente detalhe sem sentido.
O
pacto é com a família. Os pais deveriam contar a seus filhos. “Naquele dia
contarás a teu filho dizendo: É isto pelo que o Senhor me fez, quando
saí do Egito, para que coloquem em Deus a sua confiança e não sejam uma geração
obstinada e rebelde.” (Ex 13.7-8)
No
Novo Testamento, Deus deixa clara seu propósito de inserir, não apenas o
individuo, mas toda sua família no pacto, por isto Paulo afirma ao carcereiro
de Filipos “Crê no senhor Jesus e serás
salvo tu e tua casa” (At
16.32) O chamado para seguir a Cristo é individual, mas as promessas de Deus
são extensivas às gerações. Deus tem interesse em sua família e está chamando,
não apenas indivíduos, mas toda família, para ser inserida neste pacto. O
batismo infantil está fundamentado basicamente no pacto da aliança. Cremos que Deus
insere nossos filhos neste pacto quando cremos, e o chamado é para nós com bençãos
para as gerações. É um pacto federativo, no qual nossos filhos estão inseridos,
e isto não tem a ver com algo automático, filhos precisam assumir sua fé, mas é
uma grande benção nascer numa família de Deus, dentro de um pacto.
Pais
precisam transmitir sua fé às próximas gerações. O evangelho não pode acabar em
nós. Dois são os grandes fatores da apostasia:
ü Liderança inescrupulosa – igrejas infiéis causam um
enorme descrédito e cinismo na geração seguinte. Os filhos rejeitam a
hipocrisia, manipulação em nome de Deus e uma vida religiosa mentirosa.
ü Pais cínicos, hipócritas, superficiais ou indiferentes
– Existe um ditado que diz: “Quando pais consideram a igreja opcional, os
filhos a considerarão desnecessária.” A ausência de compromisso dos pais com as
verdades do Evangelho tem o poder de esvaziar o senso de uma fé valorosa. Pais
que tratam superficialmente seu compromisso com Jesus, transmitem uma ideia de
que a fé não tem realmente grande valor para a vida.
II.
O Que Comunicar?
Conteúdo
Se
no primeiro ponto consideramos a quem comunicar, agora precisamos considerar o
conteúdo daquilo que comunicamos. Não se trata apenas de falar, mas o que
estamos falando. A forma e metodologia podem mudar, mas não o conteúdo e a
essência da mensagem. Gosto muito do
lema da Mocidade Para Cristo: “Ao compasso dos tempos, mas ancorado na Rocha.”
- O que comunicar?
Três coisas nos são ditas, mas todas apontam para
uma única direção. Nosso foco deve estar em Deus: (Sl 78.3) “Contaremos às
vindouras gerações:
Þ Os louvores do Senhor
Þ O seu poder
Þ As maravilhas que fez.”
Estas
verdades possuem profundas implicações. Estamos falando de quem Deus é, do que
Ele fez e do que Ele faz. Estamos comunicando aos nossos filhos a compreensão
de que Deus está presente, e não está em silêncio. Ele se move silenciosa e
poderosamente na história. Ele está presente.
Vemos
aqui algumas verdades sobre Deus:
- Deus não é um poder frio e silencioso – A história bíblica está baseada no que Deus
fez nos seus atos - Por isto Deus diz a Moisés: escreve! Deus não é um ser
impessoal, diante, frio e ausente, mas um Deus real e presente. Ele não
está calado. Ele se revela na história dos homens. Ele se revela
historicamente, ele está agindo por meio de seus feitos: intervindo,
operando. Deus não é um dado distante nem um substantivo abstrato. O que
Ele fez e continua consistentemente a fazer- Deus fez e fará!
O
livro de Atos sintetiza isto muito bem:
“Não
se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu
chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria.”
(At 14.17) Ele nunca deixou de dar testemunho de si mesmo. “Os céus
proclamam diariamente a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras de suas
mãos.” (Sl 19.1)
Dr
Francis Schaeffer escreveu um livro com nome muito sugestivo: “Ele está aqui e
não está calado!” A nova geração precisa conhecer os feitos de Deus. Os pais
precisam comunicar isto aos filhos. (Sl 78.6)
- Deus nos deixou sua Palavra – “Ele
estabeleceu um testemunho em Jacó, e instituiu uma lei em Israel, e
ordenou a nossos pais que os transmitissem a seus filhos, a fim de que a
nova geração os conhecesse.” (Sl 78.5-6)
As
Escrituras, Antigo e Novo Testamento, é a Palavra de Deus. Deus nos deu esta
revelação especial para que, como pais, comuniquemos à próxima geração, para
que a nova geração conheça a Deus. Deus se revelou de muitas maneiras e muitas
vezes, pelos profetas, e ultimamente pelo seu Filho, e podemos conhecer seu
plano através de sua Palavra, daquilo que ele mesmo revelou sobre si. O que
sabemos de Deus é aquilo que ele decidiu falar de si mesmo. Ele quis se
revelar, e fez isto dando-nos sua palavra.
A
atual geração evangélica é anêmica e subnutrida na fé, com pouco conhecimento da
Palavra. Deus envia o profeta Oseias para dar um duro recado: “O meu povo
está sendo destruído porque lhe falta o conhecimento, porque tu, ó sacerdote,
rejeitaste o meu conhecimento.” (Os 4.6) Os jovens estão sendo muito
atraídos por músicas gospel, e não há nada errado em apreciar uma boa música
evangélica, mas precisamos ficar atentos ao conteúdo daquilo que tem sido cantado.
Há muita superficialidade nas letras de cânticos contemporâneos, e algumas
vezes graves heresias.
Precisamos
aprender a amar a Palavra de Deus. Qual movimento evangélico enche os estádios nos
dias de hoje? Palavra ou música? Precisamos ler a palavra, estudar a palavra,
ouvir a palavra, nos fortalecer na Palavra. Ele estabeleceu um testemunho em Jacó, e instituiu uma lei em Israel, e
ordenou a nossos pais que os transmitissem a seus filhos, a fim de que a nova
geração os conhecesse.”
Precisamos
atentar para o fato de que a Bíblia é
- Inspirada
- Inerrante
- Autoritativa
- Suficiente
A
identidade judaica:
O
povo judeu ficou disperso do ano 68 com a invasão de Tito Vespasiano, Imperador
de Roma, até 1948, quando numa polêmica assembleia da ONU, foi declarado
novamente uma nação, ainda que não tivesse sequer uma terra para habitar. A
conquista (ou retomada das terras) só foi possível com violentas guerras para
assumir o controle da Palestina e da Judeia. Como este povo conseguiu ficar
tanto exilado e ainda manter sua identidade? O que sustentou o judaísmo na
diáspora?
Estudiosos
e pesquisadores afirmam que isto só foi possível por duas razões:
i.
Uma forte
consciência racial. A compreensão
de que eram um povo, e tinham uma. Identidade. Consciência comunitária. Os
filhos dos judeus sabiam que pertenciam a um povo, que ainda que estivessem
dispersos possuíam uma visão coletiva. Quando vejo pessoas advogando que não
precisam de igreja, nem de uma consciência identitária eu tenho certeza de que
estas pessoas ainda não entenderam que sem uma identidade, a próxima geração
não terá rumo, nem direção. Ela será esotérica, espiritualista, de uma
religiosidade mística, sem conteúdo e pagã.
ii.
A unidade
em torno de um livro: A Lei e os profetas. A Bíblia judaica manteve a identidade de Israel que
esteve tanto tempo disperso. Por todo lugar onde habitavam os judeus mantinham
consigo porções deste livro sagrado, e o liam na sinagoga, todos os sábados,
aprendendo os ensinamentos sagrados.
Estes
dois elementos: A compreensão de um Deus vivo, presente, real, e a identidade
em torno dos livros sagrados, dos livros do Antigo Testamento (e no nosso caso,
também o Novo Testamento), são fundamentais para não perdermos o conteúdo e a
essência da mensagem que precisa ser pregada às novas gerações.
III.
Como Comunicar?
Metodologia
Já
falamos do sujeito da mensagem: A quem devemos comunicar. Do conteúdo da
mensagem, O que precisamos ensinar, e agora precisamos considerar ainda como
comunicar tais verdades. Este ponto é necessário, ainda que por inferência e
dedução.
Isto
tem a ver com a estratégia e na metodologia. Como comunicar a esta nova geração
que aprende de forma diferente, percebe de forma diferente, sente de forma
diferente? Como comunicar a uma geração tão distinta da geração anterior,
influenciada pela linguagem digital e pela inteligência artificial?
Que
tipo de linguagem usar?
- Linguagem relevante – Numa entrevista com 30 jovens na Igreja Presbiteriana
Central de Anápolis, realizado em 2019, 90% afirmaram que o grande sonho
de suas vidas é terem família saudável. Para nossa surpresa, a grande
maioria não falou de estabilidade de emprego ou posição social, dinheiro,
nem status, mas família. Isto foi surpreendente.
Como
comunicar de forma inteligível para que eles entendam e assimilem o que
dizemos? Uma boa ilustração aconteceu aqui na igreja, quando contei uma piada
sobre uma professora que estava organizando sua sala de Escola Dominical para
as crianças de 3-5 anos e depois de conseguir manter a ordem perguntou aos
alunos se alguém sabia um versículo de cor, e um garotinho de três anos disse
que sim e recitou: “Mais bem aventurado é dar que receber!”
A
professora elogiou a criança e perguntou: Seu pai é missionário? E Ele
respondeu: “Não, meu pai é pugilista!”
Quando
contei esta história, metade da igreja riu, mas a outra metade não entendeu. O
termo pugilista é arcaico, e muitos jovens e adolescentes nunca o ouviram.
Então, a maioria das pessoas que riram, eram mais velhas. Os mais jovens não
entenderam a piada. Eu não consegui transmitir de forma eficiente a mensagem
que queria comunicar. Mas se eu dissesse também que ele era lutador de UFC, a geração
mais nova entenderia, mas provavelmente muitos velhos não saberiam o que é UFC.
Comunicação
não é o que você diz, mas o que o outro entende. Temos que pedir graça a Deus
para continuar falando a esta nova geração, com relevância e de forma
compreensível. Temos um enorme gap entre a geração anterior e a geração atual.
Como ser uma igreja que dialoga de forma multigeracional? Como comunicar aos filhos
as verdades de Deus, de forma atraente e profunda?
- Linguagem coerente – Esta é a segunda forma eficaz de comunicar a
esta nova geração. Nosso discurso precisa de integridade. Esta geração
atual pode ser pluralista, relativista e subjetivista, mas é autêntica. Eventualmente
choca-nos pela capacidade de dizer as coisas.
A
minha geração era cheia de pudor, tabus, dificuldade de falar das lutas que
enfrentava, porque o julgamento era muito cruel sobre quem pensava de forma
diferente, mas esta geração, tem coragem de dizer o que pensa, sente, das lutas
que enfrenta, e nós, muitas vezes nos assustamos com a sinceridade e capacidade
de falar dos seus dilemas filosóficos e éticos.
Por
esta razão, a geração atual não aceita autoridade com base nos dogmas e
institucionalização, nem imposição de conceitos. Nossa linguagem só será
validada e aceita, quando perceberem a coerência de nossa vida. Eles rejeitam a
hipocrisia, e o cinismo da igreja e dos pais. É uma geração muitas vezes incoerente,
mas que não aceita incoerência. Se a liderança de uma igreja não for saudável e
honesta, eles rejeitarão.
- Linguagem do
afeto – por último, é necessário
falar que nossa comunicação será eficaz ao passar pelo crivo da
afetividade e do coração. Nossos filhos crerão quando forem capazes de
perceber que o que falamos, ainda que com dureza, é marcado por um amor
autêntico, não de uma linguagem apenas de julgamento, mas que é capaz de
dizer a verdade, marcado por amor, como recomenda as Escrituras: ‘Mas
seguindo a verdade, em amor, cresçamos em tudo naquele que é o cabeça:
Cristo.”(Ef 4.15)
Esta
geração será ganha, e voltará para Deus, quando os afetos permearem nossas
relações. Filhos são ganhos através de pais que disciplinam, com amor;
estabelecem limites, com amor; ensinam o evangelho com amor. A teologia do
afeto tem que marcar esta geração. Eles vão perceber Deus na vida dos pais
quando isto se revelar nos afetos.
Rev.
Márcio Alonso conta a história de um alcoólatra em São Paulo, que ao passar na
frente de uma Igreja Presbiteriana, no meio de semana resolveu entrar. Ali,
impactado pela mensagem entregou sua vida a Cristo. Ao chegar em casa, ainda
sob efeito do álcool, disse a sua mulher que daquele dia em diante, seria um
crente. Sua mulher, olhou para ele com descrédito e apenas resmungou ao ouvir o
que ele falava.
Surpreendentemente,
daquele dia em diante aquele homem não bebeu mais, e no domingo, se vestiu e
disse à esposa que estava indo para a igreja. Ela já havia percebido que algo
diferente estava acontecendo com ele e foi para a igreja também. Movida pelo Espírito
Santo ela também entregou sua vida a Cristo. E daí em diante não se afastaram
da igreja
Eles
tinham um filho adolescente complicado, que começou a frequentar a igreja e a
dar muito trabalho para os diáconos, porque conversava o tempo todo, se
levantava, saia da igreja e entrava novamente, dispersava as pessoas, até que
um dia, um diácono, já meio aborrecido com sua atitude o interpelou: “Por que
você vem a igreja se vem só para perturbar?” Ele honestamente disse: “Meu pai
era alcoólatra, e nossa vida em casa era muito desordenada, as vezes faltava
comida, mas desde que ele veio para esta igreja, ele mudou, e agora ele é
amável e trata a gente de forma diferente. Eu venho a igreja porque, se Deus
mudou meu pai, ele pode me mudar também.”
Conclusão
Ao
lermos este texto, precisamos ainda nos lembra de Cristo, da forma como ele fez
de tudo para se aproximar de nós, para nos atrair a ele, com amor e afeto.
Paulo fala dos “ternos afetos de misericórdia” gerados pelo Espírito de Deus em
nossas vidas.
Precisamos
cuidar da próxima geração, mas isto só será possível se a obra de Cristo
impactar nossa história. Muitas vezes falhamos em educar nossos filhos e
levá-los a Deus, porque nós mesmos temos tido dificuldade de nos apresentarmos
a Deus em espírito e em verdade. Temos uma fé superficial que nos distancia de
Deus, e assim não transmitimos aos nossos filhos a beleza do evangelho, porque
o evangelho ainda não tem tido efeito profundo em nossa história.
Precisamos
de Cristo para ensinar nossos filhos, mas precisamos de Cristo para atingir
nosso coração de forma profunda e indelével para ensinarmos nossos filhos,
precisamos aprender de Deus. Ele deseja fazer isto. Por isto nos diz: “filho
meu, dá-me o seu coração.” Eu preciso apresentar meu coração a Deus. Meu
coração precisa ser alcançado por Deus, para que assim, eu possa também
alcançar meus filhos, netos e a próxima geração.
Há
um poder que emana da cruz, cura e redenção que brota do altar de Deus. O Evangelho
nos fala de um Deus que age em nós e através de nós. Precisamos não apenas de
estratégias e metodologias, mas precisamos de um poder capacitador, para
ensinar nossos filhos a mensagem salvadora do evangelho, de tal forma que esta
mensagem alcance seus corações.
Rev. Samuel Vieira
Uberlândia – MG 15 de Agosto de 2010
Refeito em Anápolis, Nov 2025