O texto que narra a intervenção de Deus na vida de Jairo, se inicia no vs. 21 quando ele pede socorro a Jesus. Aquele homem chega cheio de fé: “Vem, impõe as mãos sobre ela para que seja salva e viverá” (Vs 23). Isto é uma declaração de fé: Se o Senhor vier, ela vai ser curada! Gosto de gente assim! Ele é o principal da sinagoga, mas sabe o que precisa e se entrega nesta busca por aquilo que lhe era essencial.
Jairo, porém, tem que lidar com uma ruptura na sua aproximação com Deus. Nesta angustiante espera surge o incidente da mulher hemorrágica.
Jairo enfrenta alguns dramas:
1. O Drama da Espera - Este é um dos grandes dramas de nossa vida. Quando pensamos que Deus desta vez vai resolver o nosso problema, surge um fato novo que o distancia de nosso socorro. A mulher hemorrágica está ali. Ninguém percebe a angústia de Jairo. Ele tem que lidar com este drama na sua solidão. Sua dor não é compartilhada. No meio da multidão surge uma discussão sobre a mulher, que não lhe interessa, já que sua filha precisa de socorro espiritual urgente. A presença desta mulher interrompe o livramento de Deus para sua família.
Corremos contra o tempo e Deus parece não se preocupar... Marta fala de sua aflição por causa da espera quando seu irmão morreu. “Se estiveras aqui, meu irmão não teria morrido!” (Jo 11.43). O tempo de Deus não foi suficiente. Além do mais, Jairo corre o risco de perder Jesus no meio da multidão.
2. O Drama dos “Profetas do desespero” – Este é o segundo drama relatado no texto. “Não incomodes mais o mestre, sua filha morreu”. Aquelas pessoas cruzam seu caminho para anunciar desesperança e fracasso. Existem muitos que nunca trazem soluções, mas sempre problemas. Afirmam que não vai dar, que não existe mais condições. O homem de fé olha para as crises e vê oportunidades de Deus. Os profetas do desespero anunciam tragédia e caos. Como precisamos de profetas da esperança.
Já aprendi no meu pastorado, a não dar ouvidos às pessoas que apontam para impossibilidades – Não gosto de andar com gente pequena. Isto empobrece minha fé, é contagioso. Em Dt 20.8, depois de excluir alguns homens da guerra por razões recomendadas: Alguém que havia acabado de construir uma casa, plantar uma vinha ou recém casado, o texto diz: “Homem medroso e de coração tímido, vá, volte-se para sua casa, para que o coração de seus irmãos não se derreta como o seu coração”. O medroso ia para a guerra e tirava a ousadia do outro. Os espias de Israel, em Nm 13.30 enfraqueceram o coração daqueles que ficaram: “A terra é boa, verdadeiramente mana leite e mel, mas as cidades são fortificadas, o povo é poderoso, e ali moram os filhos dos enaquins”. Calebe faz calar o povo e disse: “Eia, subamos e possuamos a terra. Se o Senhor se agradar de nós, nos fará entrar na terra e no-la dará”.
Convive no presbitério com um presbítero que era economista, e no auge da discussão do orçamento, sempre indagava ao ser indagado sobre sua opinião: “Vocês querem que eu responda como homem de fé ou como administrador?”
Recebi a visita de um pastor em minha casa quando ainda estava nos Estados Unidos. Nós estávamos empolgados com a compra do prédio, um edifício com estilo gótico, construído em 1870. Tínhamos conseguido um financiamento, e iríamos pagar cerca de U$ 8.000,00 dólares mensais, por 15 anos, mas não estávamos preocupados com isto, Deus estava levantando os recursos. Então este pastor me disse preocupado: “Você não tem medo de que, trabalhando com comunidade de imigrantes, vocês eventualmente não consigam pagar as prestações?”. Até então eu estava despreocupado e seguro, mas a sua pergunta fez um enorme mal ao meu coração.
Em At 11.24, quando se deu um avivamento em Antioquia da Síria, enviaram Barnabé para fortalecer aqueles que eram novos na vida cristã, porque ele tinha três características que um líder do povo de Deus deve ter: “Homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé”. Não basta ser bom, nem apenas ter o Espírito Santo, é necessário ter fé. Projetos do reino de Deus sempre exigem uma disposição de fé.
Neste texto vemos que Jesus só permitiu três pessoas entrarem com ele para orar com aquela menina que morrera. Por que? Não seria porque estes três irmãos, apesar de todas as suas incoerências eram gente que via possibilidades onde os outros não viam?
A Bíblia diz, que Jesus não se incomodou com os comentários daqueles profetas do desespero. "Jesus, sem acudir a tais palavras" (Mc 5.36). Não aceite o veredicto dos pessimistas. Se Jesus tivesse ouvido tais afirmações, o que teria acontecido agora?
Não foi exatamente isto que Marta fez quando Jesus chegou à sua casa depois da morte de Lázaro? (Jo 11). “Meu irmão já cheira mal.”. O que ele faz é colocar empecilhos à ação. Limitar o poder de Deus.:
Eis algumas características destas pessoas:
a. Mestres da incredulidade – Estão ao lado de Jesus, já viram coisas maravilhosas acontecerem, mas não exercitam fé; “Tua filha já morreu, porque importunas o mestre”
b. Risos – Riem das possibilidades, quando a fé nos ensina a rir das impossibilidades. Às vezes ouço a expressão: "Só Deus mesmo..." Só que ao invés de expressar confiança, esta expressão demonstra "falta de confiança". Nossa fé vai até aquele limite. Deus podia fazer até aqui, não mais...
c. Limitam o poder de Deus aos seus próprios limites, e aos aspectos óbvios da humanidade. Os homens pedem para que Jairo não mais incomode a Jesus. Acabou a esperança! A esperança vai até os limites de nossa fé - Não pode ultrapassá-la. Os amigos de Jairo desistiram: A esperança deles ia até antes da morte.
i. Quais são os nossos limites para Deus? Paciente com Aids? Doença terminal?
ii. Marta diante de Jesus: "Se tu estiveras aqui..." Jesus diz: "Ele há de ressurgir". e Marta diz: "Eu sei que ele há de ressurgir no último dia". Tinha uma boa teologia sobre escatologia, mas esbarrava num limite: A morte era ponto final. Quando Jesus insiste em mover a pedra, ela retruca: "Isto é insanidade, já cheira mal, faz quatro dias".
Nossa fé depende do tamanho da percepção que temos de Deus.
Será que Sara não cria? Em Gn18.12 vemos que ela questiona as promessas. Ela ri quando Deus afirma que ela vai dar a luz. “Depois de velha e sendo velho meu senhor, terei ainda prazer?” (Gn 17.17). Deus diz: "Acaso haverá coisa demasiadamente difícil para Deus?" (Gn 17.14).
Até onde pode ir o meu Deus? Onde tenho posto meus limites? A Bíblia nos ensina que “Deus é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós”.
d. Adoram alvoroço – típico de gente sem fé. Adoram a tragédia, o caos! Parecem curiosos quando ocorre acidente na beira da estrada. Param a vida para apreciar o trágico. O texto afirma que havia “alvoroço” (Mc 5.38
Se Jesus tivesse parado diante das argumentações destas pessoas...
Se Jesus tivesse parado diante das argumentações de Marta...
Se Jesus tivesse parasse diante das nossas argumentações...
3. A necessidade do encontro com o sobrenatural – Deus entra na sua casa e o convida para participar de sua experiência no secreto. Acho interessante este convite de Jesus, de tirar todas as pessoas da casa. Ele já havia ressuscitado um morto no meio da rua, o que Jesus queria ensinar agora? Há milagres que só acontecem quando marido e mulher, ao lado de Jesus, clamam. É a experiência do sobrenatural, da ação de Deus. No Antigo Testamento, quando a mulher viu o milagre do azeite na botija, a ordem do profeta foi dada para que ela, entrasse na sua casa, trancasse as portas da casa.
Determinados milagres acontecerão em nossa casa, quando conseguirmos fechar o quarto para que o barulho dos sons, das pessoas, não penetrem mais. Ali, a sós com Deus, vamos ver o milagre de Deus.
Eis algumas características deste encontro:
a. Encontro privativo – Não é com todo mundo. Este encontro se dá ali, no meio do sofrimento, do calor, da dor, com cheiro de morto a nos rodear e Deus visita-nos trazendo o seu balsamo curador. Quantos milagres já se deram desta forma?
b. Encontro que gera assombro, admiração – “foram tomados de grande espanto”. No meio do quarto, carregado da angústia e sofrimento, nossa dor se transforma em assombro. Esta compreensão da presença maravilhosa de Deus no nosso meio.
c. Encontro com o sobrenatural – Ao sairmos deste lugar, ermo e solitário, temos a experiência de Jacó: “Na verdade Deus está neste lugar e eu não sabia”. Tomada de consciência da presença de Deus. Ali experimentamos milagres.
Conclusão:
A. Não valorize situações de tragédia - Rompa com a tendência que fortalece o sentimento de derrota. Acabe com "ambientes de morte". "Por que estais em alvoroço?". Mc 5.39 Despreza as carpideiras, gente que é paga para chorar. Existe alguma coisa aí meio inconsciente. Existe gente que quer criar e respirar o ar mais trágico e dolorido possível, criar um clima de morte. Todos nós passamos pela situação de dor e perplexidade: Is 43.2 diz: “Quando passares pelas águas (eu serei contigo), quando pelos rios (não te submergirão), quando pelo fogo (não te queimará, nem a chama arderá em ti), porque eu sou o Senhor teu Deus”.
B. Exercite fé no meio dos desafios - Qual era o desafio de Jesus? Jesus desafia a Jairo. "Não temas, crê somente". Afirme o impossível e viva nele. Pessoas de fé "da fraqueza tiraram força". Foram capazes de ver o invisível. As pessoas zombam da fé de Jesus: "riam-se dele", mas Jesus não muda sua trajetória. “Sonhe algo tão grande para Deus, que se Ele não intervir, o resultado será o fracasso”.
C. Aproprie-se do milagre - Jesus crê enquanto as pessoas zombam. Um texto da Bíblia me tem desafiado profundamente. “Ao orardes, crede que recebestes". O que esta palavra de Jesus nos ensina é que devemos nos apropriar daquilo que é o objeto da nossa fé. Jesus dá uma ordem impensada. "Menina, eu te mando, levanta-te". (Mc 5.41). Ele quer ensinar que coisas maravilhosas serão possíveis, quando Deus decide fazer.
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