Introdução:
Muitas pessoas
encontram dificuldade em ler o Antigo Testamento. É natural que isto aconteça,
até que a gente se acostume com a linguagem empregada, mas acima de tudo,
descubra a “pista hermenêutica” que nos ajuda a entender e aplicar as verdades
ali contidas. A dificuldade eventualmente é tão grande que certo garoto, vendo
os relatos do AT e comparando-os com o NT, perguntou ao seu pai: “O Deus do
Antigo Testamento é o mesmo do Novo?”. Diante da afirmativa, declarou: “Então ele
deve ter se convertido”.
Por isto, ao lermos o
AT, precisamos entender um princípio simples: O AT está patente no NT e o NT
está latente no AT. Ao lermos a antiga aliança, precisamos entender que tudo
aquilo era paradigmático, e apontava para a Nova aliança. Os sacrifícios apontam
para Jesus, as oferendas e holocaustos contém princípios que devem ser
entendidos à luz do Novo Testamento. O Livro de Hebreus é um livro que nos ajuda
a interpretar corretamente o AT. O autor desta carta afirma que a velha aliança
era sombra das coisas presentes (Hb 10.1).
A função primordial de
Cristo foi se manifestar como o cumprimento das profecias e se identificar com
as promessas. Por isto existem mais de 600 profecias no AT apontando para a
figura de Cristo, algumas com detalhes impressionantes da sua morte. Para que
uma nova roupagem teológica acontecesse, Jesus teve que quebrar alguns
paradigmas que estão na mente dos rabinos e do povo judeu. Existem dois livros
que podem nos ajudar sobre este assunto. O primeiro, Adoração no Novo
Testamento, de autoria do Dr. Russel Shedd; o segundo, escrito de forma menos teológica
e mais pastoral é “Quebrando paradigmas”, do Ed René Kivitz. Se quiser
aprofundar o assunto, vale a pena checar.
Este texto nos fala de
pelo menos dois paradigmas que Jesus quebrou: Sobre o local de adoração, onde Deus deveria ser adorado; e a questão
do tempo: quando Deus deveria ser
adorado. Além destes paradigmas, queremos analisar dois outros aspectos que
formam a espinha dorsal do AT: O Sacrifício e o Sacerdócio.
O texto narra o
encontro de Jesus com uma mulher samaritana. Ela fazia parte de um pequeno grupo étnico-religioso aparentado aos judeus que habitavam na região
onde hoje fica a Cisjordânia. Designavam-se a si próprios como Shamerim
o que significa "os observantes" da Lei. Suas convicções baseavam-se
no Pentateuco assim como o judaismo, mas ao contrário deste, rejeitavam a importância
religiosa de Jerusalém. Os samaritanos não possuiam rabinos e não aceitavam o
Talmude dos judeus ortodoxos, e estes consideravam-nos descendentes de
estrangeiros, que teriam adotado uma versão adulterada da religião hebraica;
como tal, recusam-se a reconhecê-los como judeus ou até mesmo como descendentes
dos antigos israelitas.
Esta
mulher adúltera, faz uma pergunta que estava presente nas questões teológicas
da época: Onde adorar? “Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em
Jerusalém é o lugar onde se deve adorar” (Jo 4.20). Ainda
hoje, a questão da forma, locais sagrados, modelos litúrgicos, são amplamente
discutidos por muitos grupos. Como Deus deve ser adorado?
O tema da adoração sempre está presente nas páginas do AT e NT. Existe
um “jeito” de adorar que agrade a Deus? Deus não rejeitou a adoração de Caim?
Rejeitou os adoradores descritos no livro de Isaias e Amós? Paulo não adverte
para um grupo cristão que a reunião deles era “para pior, e não para melhor”?
(1 Co 11.17).
O sistema de adoração
do AT e do NT possuía 4 pilares: Sacrifício e Sacerdócio, Templo e Tempo. Mas a
forma como tratam destas questões sofre uma alteração profunda entre um e
outro. Vejamos como as abordagens são diferentes:
Sacrifício – Como eram os sacrifícios do AT e como são no
NT?
O sistema de
sacrifício do Antigo Testamento era montado em cima da expiação. Um animal
deveria morrer para que acontecesse a purificação. Quando Jesus foi levado para
o templo, seus pais, por serem pobres, levaram o sacrifício de um par de rolas
ou de dois pombinhos, conforme prescrevia a antiga aliança, e viram o sacerdote
ofertando estas aves conforme os preceitos da lei (Lc 2.22-24).
O autor aos hebreus
afirma que “Com efeito, quase todas as coisas, segundo a lei, se
purificam com sangue; e, sem derramamento de sangue, não há remissão” (Hb
9.22). Por esta razão, quando abrimos o livro de Êxodo e Levítico, vemos
diversas formas de sacrifício, e excetuando as ofertas pacificas que eram
feitas com ofertas de sementes e grãos, toda oferta pela expiação e culpa, eram
feitas com sacrifício. Por isto há sempre a presença de sangue nos sacrifícios,
e não eram pouco sangue. Muitos animais eram mortos em algumas cerimônias ou
dias de festa.
Deus ordenou que
Israel executasse inúmeros sacrifícios
diferentes. O animal tinha que ser perfeito; a pessoa que estava oferecendo o
animal tinha que se identificar com ele. Então, a pessoa oferecendo o animal
tinha que infligir morte ao animal. Quando feito em fé, esse sacrifício providenciava
perdão dos pecados. Outro sacrifício no dia de expiação, demonstra perdão e a
retirada do pecado (Lv 16). O grande sacerdote tinha que levar dois bodes como
oferta pelo pecado. Um dos bodes era sacrificado como uma oferta pelo pecado do
povo de Israel (Lv 16.15), enquanto que o outro bode era para ser solto no
deserto (Lv 16.20-22).
Por que, então, não
oferecemos mais sacrifícios de animais nos dias de hoje? Jesus desestrutura o
sistema de sacrifícios. Ele se oferece a si mesmo, uma vez por todas “assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar
os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam
para a salvação” (Hb 9.28). Não há necessidade de mais sacrifícios, pois Jesus encerra
em si mesmo toda violência, tendo ele mesmo sofrido toda violência para nos
purificar de nossos pecados, “Isto é o
meu corpo. Este é o meu sangue”.
O sacrifício de
animais terminou porque Jesus Cristo foi o sacrifício supremo. João Batista
confirmou isso quando O viu pela primeira vez: “Eis o Cordeiro de Deus, que
tira o pecado do mundo!” (João 1:29). Jesus tomou sobre si o nosso pecado e
morreu no nosso lugar. “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por
nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.” (2 Co 5.21). Através da
fé na obra de Cristo podemos receber perdão. Ele foi o substituto, vicário, e agora torna-se mediador entre
Deus e os homens (1 Tm 2.5). Sacrifícios de animais serviam como um sinal, uma
figura da oba do sacrifício de Cristo a nosso favor.
Portanto, o sacrifício
do AT e do NT, sofre uma reviravolta profunda. Jesus desestrutura o sistema de
sacrifícios ao se oferecer, a si mesmo, uma vez por todas pelos nossos pecados.
Ele assumiu nosso lugar. Qualquer tentativa de sacrificar novamente os animais,
torna-se não apenas ridícula, mas uma ofensa a Deus, já que significa que
desprezamos o que Cristo fez por nós ao morrer naquela cruz.
2. Sacerdócio – Como os homens se aproximavam de Deus?
No Antigo Testamento,
a adoração estava montada na figura sacerdotal. Um dos
papéis principais dos sacerdotes era oferecer sacrifícios em nome do povo.
Representavam o pecador quando este entrava na presença de Deus para fazer seus
sacrifícios. O Pentateuco inclui instruções detalhadas sobre sua função.
Na testa de Arão havia um diadema de ouro no qual se lia: “consagrado ao
Senhor”. O texto afirma que todo povo deveria saber que Arão levaria a culpa de
qualquer pecado que os israelitas viessem a cometer em relação às coisas
sagradas (Ex 28.36-38). Arão era o sacerdote, representando o povo diante de
Deus e intermediando as relações entre Yawé e Israel. O
homem devia ir a Deus por meio de um sacerdote que apresentava os rituais a
Deus.
No
Novo Testamento, a figura do sacerdote, deste homem que se colcoa entre Deus e
os homens desaparece por completo. As poucas passagens em que ocorre a palavra
sacerdote referem-se apenas ao sacerdócio judaico. Em relação com o
Cristianismo, o termo “sacerdote” nunca é aplicado senão a Jesus Cristo. As funções
sacerdotais, relacionadas com o sacrifício e a intercessão, acham-se,
freqüentemente, no Novo Testamento em conexão com Jesus Cristo (Rm 8.34; Ap
1.5). O sacerdócio de Cristo é a tônica da epístola aos Hebreus.
Dentre os princípios
fundamentais defendidos pelos reformadores do século XVI, estava o “Sacerdócio Universal dos crentes”, um dos pontos
doutrinários defendidos por Lutero. Não precisamos de ninguém, exceto Cristo,
para irmos a Deus. No Novo Testamento, Jesus é o
grande sumo sacerdote, portanto, todas as funções do sacerdócio da
antiga dispensação concentram-se nele. Ele é o único mediador entre Deus e os
homens (1 Tm 2.5). Ele é o representante de Deus junto aos homens e o
representante dos homens junto a Deus. Ele é, ao mesmo tempo, o sacerdote e o
sacrifício.
Outro aspecto que nos é apresentado no Novo
Testamento é que todos os crentes
partilham desse sacerdócio, na adoração, serviço e testemunho. “Vós,
porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade
exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das
trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2.9). “...e nos constituiu reino,
sacerdotes para o seu Deus e Pai” (Ap 1.5-6); O Novo Testamento não menciona a
existência de um ofício sacerdotal na Igreja embora Tertuliano e Hipólito se referissem
aos ministros cristãos como “sacerdotes” e “sumos sacerdotes”.
Uma
das verdades maravilhosas do Novo Testamento é que Jesus desmonta a ideia de
homens sagrados. Ir a Deus não é privilégio de alguns iluminados. Por meio de
Jesus, todos são convidados a adentrar o local sagrado. Na hora da morte de
Cristo, o véu do santuário, que isolava os homens especiais dos homens comuns se
rasgou. Não há mais divisão, todos somos aceitos e convidados a adentrar a presença
de Deus. Temos um reino de sacerdotes constituído de todos os remidos de Deus. Por
isto o autor do livro de hebreus nos convida jubiloso: “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim
de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna”
(Hb 4.16).
O novo Testamento fala de dois sacrifícios, e
apenas dois, que atualmente são importantes aos olhos de Deus. Nenhum deles
passa pela espiritualidade popular de auto flagelação e martírio que tanto
vemos ao nosso redor. São eles: O sacrifício da prática do bem e da mútua
cooperação e o sacrifício de Louvor e o sacrifício de louvor! Deus espera que
nossos corações e lábios verdadeiramente o adorem, que nossa vida seja para
glorificar seu nome, que, quer comamos ou bebamos façamos tudo para a gloria de
seu nome. (Hb 13.15).
3. Templo – Onde Deus deve ser adorado?
No Antigo Testamento, Deus se manifestava por meio
de coisas e locais. A arca da aliança tinha 1.10 de comprimento, por 70 cm de largura e 70 cm de altura. Era feita de
madeira de acácia, revestida de ouro. 2 querubins de ouro, colocados sobre ela,
ficavam de frente para o outro, e ali “no meio dos querubins, que se encontram
sobre a arca da aliança, eu me encontrarei com vocês” (Ex 25.22-NVI). Onde estivesse
a arca da aliança, ali estaria a presença de Deus (Ex 29.42-43). O resultado é
que esta arca se tornou uma relíquia e objeto de veneração por parte dos
judeus. Não é sem razão que, misteriosamente, ela tenha desaparecido da
história. Senão os judeus ainda continuariam acreditando que ter a arca por
parte significaria garantir a presença de Deus entre eles.
Posteriormente o judeu desenvolveu uma concepção
clara de que Deus estava no templo. Esta síntese pode ser encontrada em
Habacuque: “O Senhor, porém, está no seu
santo templo; cale-se diante dele toda a terra” (Hab 2.20). O templo era o
local temido, porque Deus habitava aquele espaço sagrado. Quando Antíoco
Epifânio, no ano 164 a .C.,
profanou o Santo dos Santos, matando um porco no sacrifício para louvor da
religião judaica, os ortodoxos judeus quase morreram, porque este era um local
sagrado. Muitos entraram em crise com sua fé, pois afinal, Deus, que morava
naquele lugar, no Santo dos Santos, não deveria ter exterminado os profanos com
sua santa presença?
Esta questão teológica estava na mente da mulher
samaritana. “Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em
Jerusalém é o lugar onde se deve adorar” (Jo 4.20). A pergunta de sua mente
era: “Onde se deve realmente adorar a Deus. Já que você é um profeta talvez
possa resolver esta antiga disputa entre os samaritanos e os judeus”.
Jesus afirma que não se trata de um local santo,
mas de pessoas santas. Disse-lhe Jesus: “Mulher, podes crer-me que a hora vem,
quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não
conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas
vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em
espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores.
Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em
verdade” (Jo 4.21-24).
Jesus desfaz o conceito de um local sagrado. Nem
Gerizim nem Sião são locais santos.
Os ensinamentos posteriores do Antigo Testamento
procuram mostrar o fato de que Deus não está preso numa determinada construção
ou local. Quando Davi resolve construir templo para Deus; Natã, o profeta,
recebeu a seguinte palavra de Deus: Vai e dize a meu servo Davi: Assim diz o
SENHOR: Edificar-me-ás tu casa para minha habitação? Porque em casa nenhuma
habitei desde o dia em que fiz subir os filhos de Israel do Egito até ao dia de
hoje; mas tenho andado em tenda, em tabernáculo. Em todo lugar em que andei com todos
os filhos de Israel, falei, acaso, alguma palavra com qualquer das suas tribos,
a quem mandei apascentar o meu povo de Israel, dizendo: Por que não me
edificais uma casa de cedro? (2 Sm 7.5-7). Deus deixa claro para Davi, que ele
nunca aspirou esta ideia de um “local sagrado”. O tabernáculo era feito de
lona, e a arca da aliança tinha duas varas para carregá-la, e isto representava
mobilidade.
Quando Estevão, o primeiro mártir cristão está
sendo apedrejado pelos guardiões do templo de Jerusalém, ele percebe a
idolatria com que o templo era tratado, e cita então um texto do Antigo
Testamento, proferido por Isaías: “Entretanto, não habita o Altíssimo em casas
feitas por mãos humanas; como diz o profeta: O céu é o meu trono, e a terra, o
estrado dos meus pés; que casa me edificareis, diz o Senhor, ou qual é o lugar
do meu repouso? Não foi, porventura, a minha mão que fez todas estas coisas?”
(At 8.48-50). Deus não habita em templos!
O Rev. Silvio Lobo, pastor da Igreja Presbiteriana Independente de anapolis, meu amigo e colega relatou
que quando resolveram mudar da Engenheiro Portela em Anápolis, e construir um
novo templo, uma irmã abraçou chorando as paredes do templo e disse: “Isto aqui
foi consagrado por Deus, estas paredes são santas”.
Deixe-me dizer o que é santo, e onde Deus realmente
habita na visão do Novo Testamento: “Não sabeis que sois santuário de Deus e
que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus,
Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado. (1 Co
3.16). “Fugi da impureza. Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer é fora
do corpo; mas aquele que pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo.
Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em
vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque
fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo” (1
Co 6.18-20).
Qual é o templo do Espírito Santo? Onde Deus
resolve habitar? Nos nossos corpos. Este é o local sagrado. Por que devemos
evitar a prostituição, a lascívia, o adultério, os vícios, o abuso de nosso
corpo? Porque nele habita o Espírito Santo de Deus. “Se alguém destruir o
santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós,
é sagrado”. Dentre todos os locais do mundo, cada um com sua beleza exótica e
exuberante, Deus resolveu habitar em você. Não existe cachoeira sagrada, local
sagrado, acampamento sagrado, mas pessoas sagradas, porque nelas habita o
Espírito Santo de Deus. Quando alguém se envolve em pecado no seu corpo, está
vilipendiando o Espírito de Deus.
Jesus
desfaz o conceito de um local sagrado – Gerizim ou Jerusalém? Não importa. Deus decidiu morar em você. Jesus esvazia
esta idéia de um local sagrado “A hora
vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai...Mas vem a hora,
e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em
verdade; porque são estes que o pai procura para seus adoradores” (Jo
4.21,23). O Local deixa de ter este caráter sacral. O sagrado são os adoradores
e não o local onde se adora. Infelizmente esta idéia vétero testamentária não
saiu da mente do cristianismo. Existem milhares de pessoas que ainda hoje fazem
romarias para lugares que consideram sagrado.
4. Tempo – Quando Deus deve ser adorado?
Jesus
destrói a ideia de um tempo sagrado – “Vem
a hora, e já chegou em que os verdadeiros adoradores, adorarão o Pai em espírito
e em verdade”. Não é mais um culto realizado em um determinado tempo e
espaço. Culto envolve a vida.
No
Antigo Testamento, dias e datas sagradas foram criadas. Em Levítico 23, são descritos
os dias santos, que deveriam ser respeitados. O povo de Deus precisava guardar
estes dias, pois eram santificados. Ainda hoje, antigas controvérsias sobre
dias santos surgem no meio do povo de Deus. Alguns acham que o sábado é o dia
sagrado, outros defendem ardorosamente a guarda do domingo. Quando Deus deve
ser adorado? Existe realmente o conceito de um dia santo no Novo Testamento?
Ao
analisarmos cuidadosamente, verificamos que o Evangelho traz uma mudança completa
de paradigma. Não mais dia e datas sagradas, mas um estilo de vida que
incorpora e santifica todas as coisas em todo tempo.
A
adoração bíblica necessariamente deve passar por 1 Co 10.31: “Portanto, quer comais, quer bebais
ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” e Col
3.23 : “tudo o que fizerdes, seja em
palavra ou em ação, fazei-o para a glória de Deus”. Nossa adoração tem que
alcançar dimensões mais amplas, a força do nosso culto não deve estar no ritual
(Am 5.21,23 e 8.3), nem na liturgia (forma, paramentos), mas na vida.
É necessário integrar todas as áreas e tempo da minha vida. Não mais um tempo santo, mas uma vida santa. O culto
cristão é o culto da vida, faz da vida liturgia e da liturgia, vida. O esporte
é louvor a Deus; o sexo, dentro dos princípios de Deus é louvor, os negócios
que fazemos e nosso trabalho devem glorificar a Deus. Quando que descanso, tiro
um tempo de lazer, também glorifico a Deus; quando ando de bicicleta, pesco,
dou uma caminhada de motocicleta, faço uma viagem. Tudo é sagrado.
Não
existe um tempo no qual se possa dizer: “agora é espiritual, vou para a igreja”,
ou “agora é profano, vou fazer um negocio”. Esta dicotomização da vida cristã traz
sérios problemas para nossa espiritualidade. Não conseguimos entender que o trabalho,
estudo, casamento, relacionamentos, tudo é um convite para adorar a Deus, e não
apenas no momento em que vimos para “a casa de Deus”. Quando separamos nossas
vidas em coisas santas e coisas profanas,
criamos áreas sagradas e áreas seculares. Dizemos mais ou menos o seguinte: “Isto é para Deus”. E estabelecemos as
áreas “espirituais”: vir a igreja, trazer o dízimo, cantar, ler a Bíblia. Também
estabelecemos as áreas seculares ou profanas: “isto é para mim, não tem nada a ver com Deus”:
Negócio, esporte, matrimônio, relações trabalhistas, etc. Não conseguimos
integrar todas as áreas de nossa vida num culto a Deus.
Desta
forma, concebemos que o sábado, ou o domingo, são santos. Mas e os demais
tempos da minha vida? Quando estou negociando, namorando, brincando? Será que
Deus é glorificado nelas. No entanto, a exortação bíblica é “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei
tudo para a glória de Deus”, e Jesus demonstra isto neste diálogo com a mulher
samaritana. “Os verdadeiros adoradores adoram o Pai em espírito e em verdade”.
Não se trata de um local, nem de um tempo; trata-se de uma vida inteira de
adoração.
Conclusão:
Jesus
muda os paradigmas, e traz uma nova compreensão das verdades do Evangelho. Ao tocar
nestas quatro áreas da vida cristã: Sacrifício, Sacerdócio Templo
e Tempo. Quanto ao Sacrifício as
pessoas os ofereciam para expiar pecados. Milhares de animais, bodes e touros,
foram mortos para expiar pecados. O
sangue derramado apenas apontava para o sacrifício perfeito e pleno que o Filho
de Deus haveria de ofertar à humanidade. Quanto ao Sacerdócio, havia um grupo de pessoas privilegiadas diante de Deus,
mas esta ideia agora é desmistificada: Deus suscita não um grupo de foro
privilegiado, mas ao rasgar o véu do templo destrói esta distancia entre
sacerdotes e não sacerdotes. Todos temos acesso ao Pai por meio de Jesus.
Quanto ao Templo, o culto a Deus era
centralizado em Jerusalém, Deus era adorado no lugar Santo. O templo era o
local para o qual as pessoas afluíam para adorá-lo. Agora, na nova aliança, o local
deixa de ter este caráter sacral. Sagrado são os adoradores e não o local onde
se adora. Até hoje, os judeus oram na parede do muro das lamentações, porque acredita
que Deus está presente naquele lugar; e quanto ao Tempo, não existe mais a ideia de um “um dia de adoração”, nem de
um momento sagrado, mas todos os dias são feitos para adoração a Deus. O dia
que reservamos para ele é uma forma de lembrarmos a nós mesmos de seu cuidado e
adoração.
Jesus afirmou que vinhos
novos devem ser postos em odres novos, para que sua fermentação não destrua os
antigos e surrados recipientes. Novos paradigmas exigem de nós nova disposição e
nova forma de ler e ver as Escrituras Sagradas. Como fez a mulher samaritana,
podemos colocar nossas questões teológicas em formas, estruturas, locais, e
deixarmos de considerar o que o Pai procura como seus adoradores. Pessoas que o
adorem em espírito e em verdade!