Introdução:
O texto afirma que “...tendo Davi servido à
sua própria geração, conforme o desígnio de Deus, adormeceu, e foi para junto
de seus pais...”.
Lições:
1. Temos um chamado de Deus
para servir uma geração. Num tempo e cultura específicos. Só podemos servir e
tocar uma geração. A qual geração estamos servindo?
2. Não fomos chamados por
Deus para servir uma outra geração, mas àquela na qual estamos inseridos.
Nossos contemporâneos e conterrâneos;
3. Este é o desígnio de Deus
para nossas vidas. Deus nos fez para esta realidade, e isto faz parte do seu
plano para nossa historia. Deus nos chamou para um temo especifico e para um
ministério especifico. Voce não está aqui, nesta hora, neste lugar, por acaso.
Em janeiro de 2003, 10 anos atrás,
precisamente no dia 03/01/2003, cheguei à Anápolis, assustados com a nova
igreja, Eu, Sara e Matheus, com seus 16 anos de idade, forte influencia da
cultura Black dos Estados Unidos, apreciador de rap e hip-hop, enquanto eu
gostava de musica sertaneja, trajando aquelas calças que mostram as cuecas, e
se achando o máximo com o seu estilo. No dia 05, tomamos posse do pastorado e
fomos recebidos na igreja. Fomos morar por um gesto de bondade e doação, na
chácara do Billy e Jussara Fanstone, a quem somos eternamente gratos, e por ali
ficamos cerca de 2 meses.
Muitas pessoas perguntavam porque havíamos
retornado dos Estados Unidos. Naqueles dias a economia brasileira estava
horrível, os poucos e abençoados dólares que trouxe de lá foram vendidos a 3.30
e 3.50, e até mesmo uma pequena quantia vendi a 3.70 por um real. Tínhamos uma
igreja que nos amava, filhos adaptados à cultura, por ter achado, num
determinado momento de nossa vida que nunca sairíamos de lá, nos tornamos
cidadãos americanos, Sara Maria tinha um excelente salário trabalhando num
emprego público, com plano de saúde maravilhoso, filhos adaptados à cultura e
minha filha tinha acabado de ser aprovada para a Universidade Harvard, sem
duvida alguma, uma grande honra para qualquer pai. Então, por que sair de lá e
retornar ao Brasil?
Eu tinha 4 respostas clássicas para dar:
A. Entendia que meu tempo
de pastorado naquela igreja chegava ao fim. Eu já não tinha os mesmos projetos
e entusiasmo que me empolgaram antes. Nos quase 9 anos que ali passamos, estivemos
envolvidos diretamente na plantação de 4 novas igrejas. Trouxera minha
comunidade num determinado patamar, mas agora não estava mais com entusiasmo
como sempre tivera, para continuar naquele lugar;
B. Não suportava o frio
de nossa região. Morando em Boston, leste dos EUA, tínhamos uma temperatura, de
outubro a abril, em torno de zero grau. Em janeiro, a media era de 5 graus
negativos.
C. Gostaria de estar ao
lado de meus pais, e dos pais da Sara na sua velhice. Recebi um convite para
ser pastor de uma grande igreja no recife, mas a geografia da cidade de
Anápolis foi decisiva para nós, pois estamos a 10 hs de carro da casa de minha
sogra, em Piracicaba-SP, e a 6 horas da casa de meus pais em Gurupi-TO. Quando
o meu sogro faleceu, minha esposa pode acompanhar todo o dolorido processo, o
que consideramos uma bencao, apesar de ter sido um tempo muito dolorido.
D. Não queria envelhecer
nos EUA, achava os idosos daquele país muito solitários e queria retornar às
minhas origens. Disse ao meu irmão que a baleia, quando sente a morte
aproximar, procura a região onde nasceu, e ele me disse que eu nem estava
próximo de morrer, nem era uma baleia – confesso que fiquei muito feliz com
estas duas noticias, apesar de não saber se elas são verdadeiras.
Um dia, depois de compartilhar
estas 4 razoes com um o meu conselho, o Dr. Edmo me disse para acrescentar
outra: Esta igreja estava orando para Deus enviar um pastor e eu era a resposta
de Deus, ao me inquietar e trazer para cá.
É assim, realmente que
quero entender minha vida. Quero estar no lugar certo, na hora certa, fazendo a
coisa certa, com os dons que Deus me tem dado, servindo à minha geração, porque
este é o desígnio de Deus para minha
vida.
É exatamente isto que
nos diz o texto: “...tendo Davi servido à sua própria geração, conforme o
desígnio de Deus, adormeceu, e foi para junto de seus pais...” Deus não chamou
davi para servir outra geração, senão a sua; e não nos chamou para servir outra
geração, senão a nossa.
Então, precisamos
saber que geração é esta, a quem nos chamou para servir. Esta igreja precisa
saber a que geração deseja ministrar. Sabendo o seu público, ela terá que fazer
as adequações necessárias para cumprir sua missão.
Eis algumas
características de nossa geração:
1.
Pluralismo
– Admite-se vários universos de “verdades”, opiniões divergentes sobre o mesmo
assunto são possíveis. Não existe um único conceito sobre a verdade, mas
vários. O filme “as aventuras de Pi”, fala-nos de um garoto que se converteu ao
mesmo tempo, a três religiões antagônicas: Hinduísmo, cristianismo e islamismo,
e conseguia conviver com as três. Acho que esta geração é mais ou menos assim.
Para uma mesma teoria, existem varias interpretações.
2.
Relativismo
– Não existem mais absolutos. Tudo depende do seu ponto de vista. Desde que
Hegel formulou a dialética, tendemos a achar que não existe mais certo e
errado, mas o certo, pode ser errado; e o errado, pode ser certo. Não existe
mais verdade, existem apenas teorias. A verdade não é o que é, como afirmava
Sócrates, mas é aquilo que consideramos ser. Isto gera uma ética situacionista.
3.
Subjetivismo
– Esta geração acredita que a verdade não está fora dela, mas dentro dela. É o
humanismo antropocêntrico levado ao extremo. Se eu acho que a palavra de Deus
não é verdade, ela não é. Eu sou a medida de todas as coisas. Eu tenho a
verdade em mim, e não preciso de nenhum conceito fora de mim.
4.
Hedonismo
- “vou ser feliz”, na sua forma mais plena. “To nem ai”... filosofia do tipo:
“estou que nem chuveiro velho, nem ligo; e quando ligo, nem esquento”. Homem de
50 anos querendo resgatar sua adolescência perdida. “Eu me amo,não posso vier
sem mim”.
5.
Mobilização
– Uma geração que muda muito de lugar. Depende de emprego onde tem. Nestes 10
anos de pastorado, só tenho um diácono da antiga geração, todos os demais se
tornaram oficiais depois que cheguei, ou se batizaram, transferiram e vieram no
meu pastorado. 4 destes (Etiene, Samuel Coutinho, Nirlan e Adalton), já mudaram
de cidade e nos deixaram.
6.
Urbanização
e migração. Temos que pensar a igreja com uma teologia urbana, usando os
instrumentais de uma metodologia e sociologia urbana. Nossos modelos e
estratégias precisam se adequar para um novo tempo, se queremos dar resposta a
novas perguntas e necessidades que surgem no contexto urbano. Temos uma igreja
na cidade, mas ainda pensando com uma mentalidade rural.
7.
Pragmatismo
– Esta geração está constantemente perguntando se “Isto funciona?”. O
pragmatismo pode ser um problema na relação com Deus, pois tendemos a
transformá-lo em alguém que terá que satisfazer nossos desejos, e atender
nossas orações do nosso jeito, senão vamos buscar uma opção melhor. Igrejas
tendem a se tornar uma espécie de supermercado com determinados produtos, e se
não temos mais o produto que desejamos, já não mais nos satisfaz.
8.
Experiencialismo
– mudamos o paradigma antigo, fruto do iluminismo descartiano que dizia: “ergo, logo sum”, para uma nova forma de
julgar o falso do verdadeiro. “sinto, logo me autentico”. A verdade não é
estabelecida pela razão, mas pela forma como sinto e interpreto as coisas. Se
me senti legal, então deve ser bom. É o império dos sentidos.
9.
Misticismo
– Milhares de intelectuais, artistas globais, universitários, estão se perdendo
no esoterismo e nos exótico. Dias atrás vimos a mobilização sobre a profecia
maia de que no dia 21.12.2012, seria o fim do mundo. Milhares de pessoas,
realmente se mobilizaram para este dia, fizeram mudanças. Existem pessoas
pagando fortunas hoje em dia para fazerem seu “mapa astral”, e estão definindo
suas vidas, por gurus e mantras. É uma geração mística, sensorial. Festa Rock
in rio, 2012, tinha 50 bancas de médiuns, pagas pela programação, será que
algum pastor foi convidado?
10.
Desconstrucionismo
– Eu prefiro ser, esta metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião
formada sobre tudo. Marido e mulher sem papéis definidos. Ninguém sabe como se
situar, se tem orientação ou não. Soube de uma mãe que comprava revistas
pornográficas para seu filho pré-adolescente, porque, afinal de contas, ele
deveria saber das coisas. Falamos muito de uma geração sem significado, mas
acho que os pais estão mais perdidos que os filhos. Não sabem mais o certo e o
errado, mesmo pais cristãos não estão sabendo se posicionar. Tem medo dos
filhos, mas tem, antes de mais nada, de parecerem radicais.
11.
Envelhecimento
da população – Dia a dia vemos a população envelhecimento mais e mais.
Antigamente comemorávamos com grande festa o aniversario das pessoas quando
faziam 80 anos. Tenho dito na minha igreja, que agora só vamos fazer festa
quando fizerem 90 anos. Isto tem trazido um serio problema que é a ditadura da
estética. As pessoas esquecem que vão envelhecer, e não há nada que consiga
parar este irreversível movimento para a velhice. No novo templo que sonho ver
construído, gostaria de ter na entrada, vagas de garagens para pessoas com mais
de 75 anos. 10 vagas. Prioritárias. Nossos idosos merecem respeito. São pessoas
lúcidas, gente de oração, contribuintes fieis.
12.
Consumismo
– Geração que gasta com vontade. São hotéis cada vez mais caros, viagens cada
vez mais exóticas, carros cada vez mais luxuosos. Gente que gasta dinheiro que não
tem, com coisas que não precisa, para impressionar gente que não gosta.
13.
Geração
virtual – Sem abraço, sem compromissos. Eu te adiciono ou não. Não toca em
ninguém. Filhos não conseguem mais viver sem a “mamadeira”. Dormem abraçados
com os tablets e i-phones, e acordam querendo saber das noticias da madrugada.
Geração plugada.
14.
Família
– universo em frangalhos – recentemente soube de uma mulher que mandou sua babá
levar a filha ao consultório médico, porque teria uma reunião e não poderia
acompanhá-la ao hospital.
Qual é o perfil de sua igreja neste universo
plural? Creio que três filmes podem nos apontar as dicas de como se tenta
responder:
ü Parque Jurássico – uma
igreja que se perdeu no tempo, em termos de propostas e alternativas. Ela não
percebeu que o tempo mudou, que seus filhos mudaram, que seus netos vão exigir
respostas diferentes à perguntas diferentes. Ela não consegue se traduzir no
novo tempo. Ela ainda serve “à outra geração”. Quando se discute métodos e
novas abordagens, soa anti-espiritual. Afinal, sempre fizemos assim...
ü Beleza americana – Uma
igreja que não sabem o que está pensando, nem o que é valor. Tudo está uma
bagunça, quando muito existe uma resposta moralista, que esconde desejos
complicados por detrás e crises não resolvidas. Resultado: Não são os filhos
que estão perdidos, mas sim os pais, e os filhos tentando se encontrar neste
emaranhado de relacionamentos truncados que vivem seus pais e a sociedade.
ü Matrix – Geração
tecnológica. Comunicação visual (imagens). Mulheres definem os valores e o
mercado criando um novo perfil sexual. O místico está por detrás do confuso, o
mundo real e o virtual estão cheios de avatares confusos. Homens em crise na
sua masculinidade, mulheres desencontradas. Que visão a sociedade tem de
igrejas evangélicas? Bizarrices gospel...
Como
ser uma igreja para esta geração:
1. Temos um chamado de Deus
para servir esta geração. Precisamos de graça de Deus para sermos relevantes.
Dar respostas honestas a perguntas honestas. Penetrar no universo de nossos
filhos, de forma coerente, amorável. Ter famílias com mais dialogo, filhos e
pais antenados. Usar os elementos de mobilização e redes sociais. Traduzir-se.
Há uma geração inteira, aberta a ouvir; interessada em saber, precisando de
amizade, aceitação e resposta espiritual para seus dilemas.
2. Precisamos retraduzir
a mensagem – ou atualizar. John stott afirma que os conservadores costumam ter
conteúdo sem relevância, ao passo que os liberais tem relevância sem conteúdo.
Como fazer para que esta antiga mensagem de salvação, chegue aos ouvidos desta
nova geração, de forma poderosa e impactante. Que a obra de cristo seja
traduzida e aplicada aos seus corações de forma profunda. Esta geração exige
coerência e graça, solidez e flexibilidade, posicionamento e amor.
3. Este é o desígnio de Deus
para nossas vidas. Deus nos fez para esta realidade, e isto faz parte do seu
plano para nossa historia. Deus nos chamou para um temo especifico e para um
ministério especifico. Voce não está aqui, nesta hora, neste lugar, por acaso.
Orar para que Deus nos revele como devemos viver. Pedir graça a Deus.
Conclusão:
Só tenho uma vida para
viver. Minha energia e sonhos devem ser consumidos desta forma. À semelhança de
Davi, quero “adormecer”, e voltar para os braços do pai, tendo servido com
todos meus recursos, inteligência, oração – à esta nova geração que está
chegando. Quero como Davi, deixar preparado toda estrutura, para que novos
pastores como Alexandre, Hassen, Giovanni e Alfredo, encontrem uma igreja com
saúde, vigoroso, com vitalidade, proclamando Jesus à esta geração e neste tempo
no qual estamos inseridos.
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