Introdução:
Todos nós levantamos questões
pessoais e existenciais que precisam ser respondidas. Algumas destas questões
estão relacionadas ao universo, a Deus, a valores, família, instituição,
significado, propósito, e dependendo da resposta que recebemos de outros, ou
damos, darão todo sentido à vida, ou nos levarão à morte.
Neste texto Paulo levanta duas
questões relacionadas a Deus:
Quem és tu Senhor? (At 22.8)
Que farei Senhor? (At 22.10).
Paulo está sendo acusado de
transgressão da lei e heresia contra o templo e contra Deus. Havia duas escolas
de teologia em Jerusalém: Shammai e Hillel. A primeira era mais conservadora, a
segunda um pouco mais aberta. Por causa de sua devoção e aplicação à Lei, Paulo
se tornara uma das grandes promessas, estudando aos pés de Gamaliel, respeitado
professor. Seu zelo e exatidão na interpretação e aplicação da lei o levou a
perseguir duramente os cristãos. Agora, porém, convertido, deixa de ser
perseguidor e se torna perseguido.
Diante das ameaças dos judeus,
ele faz sua defesa (apologia, vs 1).
Seu testemunho aqui é um modelo
de como podemos dar nosso testemunho cristão aos outros. Muitos afirmam que não
sabem como evangelizar, mas o método mais eficiente que temos é o de falar o que
Deus fez em nossa vida. O testemunho é o método mais eficaz e simples de
evangelização.
O exemplo de Paulo em At. 22 é
muito importante para que construamos a base de um testemunho.
Como Paulo apresenta seu
testemunho?
Primeiro, quem eu fui
Paulo fala de sua vida pregressa.
Testemunhar tem a ver com a afirmação de que algo foi visto, ouvido,
vivenciado. Uma testemunha é alguém que viu, ouviu ou participou de algo
importante e precisa dizer o que viu. Jesus disse que nós seríamos suas
"testemunhas" (At 1.8).
Por que testemunhar ?
1. Testemunhar é ordem do Mestre
- At 1.8
2. Testemunhar é a tarefa básica
dos cristãos - At 22.15
3. Porque o testemunho é o meio
que Deus usa para alcançar outros - At
26.28
4. Porque o testemunho é o único
meio de tornar conhecido os fatos entre os homens para sua salvação – Mc 16.15
Ele era um
zeloso religioso, conhecido entre os anciãos de Jerusalém e sua escola. Um
implacável paladino que fazia cruzada em nome do Deus de Israel, perseguindo
aqueles que “se desviava”, não apenas dentro de Israel, mas fora dos limites
territoriais de seu país, indo para a Síria para perseguir os cristãos em
Damasco. Ele usa duas palavras para definir seu estilo de vida religioso:
Exatidão doutrinaria
Zelo
Paulo dá seu testemunho e faz sua
defesa, usando sua história. Ele era judeu, e fala de sua lealdade às origens
religiosas e ao templo (At 21.28); Ele fala de sua origem de nascimento. “nascido em Tarso” primeira cidade da
Cilícia, não apenas financeira mas em distinção intelectual, onde ficava uma
das grandes universidades do Império Romano. Ele fazia tudo “segundo a exatidão da lei de nossos
antepassados” (At 22.3). Ao escrever aos Filipenses que “quanto à justiça que há na lei,
irrepreensível” (Fp 3.6).
Nos seus testemunhos, Paulo sempre
fala do que ele era antes de conhecer Jesus. Esta mesma estrutura será
encontrada no capitulo 26 (At 26.4-12). "Quanto à minha vida..." Ao
compartilhar sua fé com alguém, comece falando de sua vida, dos seus temores,
dos seus pecados, das suas inseguranças. Afirmar sua fragilidade serve para
identificar você com aquele que te ouve. Ele pode perceber que você nunca foi
alguém especial, mas que mesmo assim, você pode participar da graça de Deus.
Segundo, sua experiência com Deus
Neste segundo momento, Paulo fala
do seu encontro com o Cristo ressurreto.
Ele fala de seu inusitado e
surpreendente encontro com Cristo no caminho para Damasco.
Ele demonstra que seu chamado foi
obra absoluta do amor de Jesus por sua vida. Quando falamos do processo de
conversão, vemos a absoluta graça de Deus sobre a vida de Saulo. O que ele fez
de bom para ser chamado? Ele era perseguidor, blasfemo e insolente, como ele
mesmo se define (1 Tm 1.12). Qual destes aspectos sensibilizou Deus para ir de
encontra a Paulo? Nenhum. A conversão de Saulo demonstra que Deus tomou a
iniciativa. Deus vem ao seu encontro. Paulo Washer diz: “Eu não encontrei a Cristo, ele me encontrou. O perdido era eu, e não
ele” .
Sua salvação demonstra a obra da
graça de Deus. Não é mérito. Assim como não foi mérito a vida de Abraão, Raabe,
Jefté, Davi e todos os demais que foram alcançados pela obra do Espírito Santo.
Tudo começa em Deus. Ele é o autor e consumador da nossa fé (Hb 12.2).
Paulo se defende usando sua
experiência. Algumas delas carismáticas. Ele fala de sua experiência na viagem
para Damasco (At 22.8), e no êxtase que teve dentro do templo (At 22.17-18).
No nosso testemunho aos amigos
precisamos demonstrar o que Cristo fez. Demonstrar a graça de Deus é algo
fundamental para a vida do outro. Muitas
vezes enfatizamos muito a vida anterior, mas deixamos pouco espaço para falar
da graça de Deus. Fale deste aspecto. Demonstre o que Jesus fez por você:
1.
Perdoou os seus pecados, morrendo na cruz por você.
2.
Ele está dirigindo sua vida, cuidando de áreas emocionais, espirituais e
nutrindo você de fé.
3.
Ele lhe deu a Vida Eterna. Você caminha com esperança em seu coração.
Terceiro, o que eu sou em Cristo
Todo testemunho genuíno de
conversão deve começar com a descrição da obra da nossa realidade sem Deus, com
a obra dele em nossa vida, e com o resultado daquilo que o Espírito Santo fez
em nós. Muitos de nós temos testemunhos poderosos para compartilhar às outras
pessoas.
Paulo fala daquilo que estava
acontecendo em sua vida, da obra que Deus tinha preparado para ele: “porque terás de ser testemunha diante de
todos os homens das coisas que tens visto e ouvido” (At 22.15).
Por isto, no testemunho que
damos, precisamos demonstrar o que somos agora por causa da obra de Cristo em
nossas vidas. Isto não significa que você é melhor que ninguém (qualquer ar de
superioridade pode levar seu testemunho a ser ineficaz e inoperante). Afinal, a
obra é de Cristo, não sua. O que importa é a graça de Jesus. Quanto menor
ênfase em você e mais no amor de Jesus, mais realista será seu testemunho e
menos arrogante. Muitos arrogantes caem... Tudo o que você é agora, foi Deus
quem fez (2 Co 4.5).
Duas questões essenciais
Ditas estas palavras, voltemos às
questões que são levantadas no texto.
Quem és tu Senhor?
Precisamos saber quem é Deus, e o
que ele espera de nós.
Paulo afirma em Romanos 10.2 que
os judeus tinham zelo, porém, sem entendimento.
Qual era o grande equívoco do
povo judeu, e ainda é da maioria hoje, mesmo dos religiosos que frequentam
igrejas evangélicas?
Paulo responde: “Porquanto, desconhecendo a justiça de
Deus e procurando estabelecer a sua
própria, não se sujeitaram à quem vem de Deus” (Rm 10.3).
O grande risco do homem é tentar
construir sua própria religiosidade, ignorando que Deus já providenciou todos
os recursos para nossa salvação por meio da obra de Cristo. Precisamos da
justiça de Cristo diante de Deus, e não das nossas habilidades morais e
espirituais para estarmos diante dele. Aceite a Jesus e não tente construir um
currículo espiritual diante de Deus.
O coração do homem é religioso.
Atualmente está muito em moda usar o termo espiritualidade. Um termo moderno,
vago, ambíguo, mas que descreve o anseio do ser humano por Deus, pela
eternidade.
É muito fácil ser uma pessoa
espiritualizada e ainda assim estar muito longe de Deus. Por exemplo, vocês
acham que os atuais homens bomba do islamismo são pessoas religiosas? Claro que
sim. A questão é que tipo de espiritualidade eles desenvolveram.
Paulo era um homem zeloso,
entretanto estava na contramão e se tornou opositor a Deus.
Ele prendeu (At 20.4)
Ele torturou (At 22.19)
Ele matou (At 22.20). Paulo foi o
promotor, advogado de acusação, de Estevão, o primeiro mártir do cristianismo.
Paulo fez uma cruzada contra os
cristãos por causa do seu zelo a Deus. Mesmo nas cidades estranhos os
perseguia. Sua sinceridade foi bastante? Não! Ele era sincero, mas estava
errado. Sinceridade não basta!
A religiosidade que você
desenvolve depende da ideia do Deus que você tem. “os homens se parecem com seus
deuses”. Por isto é possível se tornar fanático, religioso, e ainda assim estar
muito longe de Deus porque o conceito que você tem da divindade não coaduna com
o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo.
Veja o exemplo do místicos
pagãos. Temos uma porção de amigos que creem em deuses das montanhas, das
cachoeiras, que fazem suas preces a pirâmides, buscam a energias de pedras,
cristais, duendes, fadas madrinhas. Paulo afirma que os homens, mesmo tendo um
conhecimento primário de Deus revelado na sua criação e na natureza, resolveram
“mudar a glória do Deus incorruptível em
semelhança da imagem do homem corruptível, bem como de aves, quadrupedes e
repteis”(Rm 1.23).
Paulo era religioso, mas ele não
conhecia a Deus.
Muitos afirmam “todos caminhos
levam à Deus”. Não, muitos caminhos levam a deuses falsos, idolatria, morte e
condenação. O caminho de Saulo, não o levava a Deus, mas o tornava num opositor
a Deus. “Eu sou Jesus nazareno, a quem tu
persegues”(At 22.8). Em Atos 26, Paulo afirma que Deus o censura dizendo: “Dura coisa é recalcitrares contra teus
aguilhões” (At 26.14). O fanatismo espiritual de Paulo o levava à oposição
à Cristo, ao distanciamento de Deus, e não à Deus.
Você conhece o Deus verdadeiro
quando se encontra com Jesus de Nazaré. Foi isto que Jesus disse a Paulo: “Eu sou Jesus!~ (At 22.8).
O encontro com Jesus traz três
consequências ruins a Paulo e isto acontece a todos nós ainda hoje:
Primeiro, perda de referência – “guiado pela mão” (At 22.11). você não
tem mais senso algum, e percebe que toda sua segurança foi colocada em cheque.
Paulo precisa ser guiado pela mão. Há um momento na sua vida espiritual com
Cristo que seus pressupostos e valores são insuficientes para você se orientar.
Precisa de outra referência.
Segundo, perda de percepção – “Tendo ficado cego” (At 22.11). Falta de
percepção. As lentes e os focos antigos da visão já não mais conseguem nos
orientar. Não servem mais. O que víamos e acreditávamos ser o certo, agora se
torna obnubilado.
Terceiro, Falta de projeto – “Ali te dirão” (At 22.10). Espere um
momento. Quem ditava e orientava seu coração era ele mesmo, agora, outros dirão
como deve ser o estilo de vida? Discipulado implica nisto. É Jesus, e não mais
você, quem deve estabelecer as regras do discipulado. Você está agora “sob nova
direção”, a direção do Espírito Santo.
Que farei, Senhor?
Esta é outra pergunta essencial.
Não apenas saber quem Deus é, mas entender o que este Deus deseja de minha
vida, isto é, como responder corretamente a este Deus.
Quando passo a conhecer a Deus,
descubro que ele tem um propósito para minha vida. Seu propósito (ou sua
missão), direciona o meu estilo de vida. Paulo agora, desorientado, que antes
se achava tão seguro; desarmado, agora cego; que estava tão seguro de suas
atitudes, agora sente a necessidade de perguntar: “Que farei, Senhor!”
Esta pergunta direciona sua
história.
O ponto central não é o que eu
faço, mas o que Deus quer fazer comigo.
Muitos sofrem com isto, porque
querem ter o controle de suas vidas. Numa geração tão consciente e tão seguro
de seus propósitos, que coloca toda força na ação do homem e não em Deus, esta
pergunta pode ser revolucionaria.
E se Deus deseja fazer algo
comigo que eu não quero?
Deus é cheio de surpresas, e
agora?
O mais importante aprender deste
texto é que Deus tem uma missão para sua vida. Você não é uma peça solta no
universo. Isto gera angústia e desespero. A falta de sentido e propósito tem
sido uma das questões mais desafiadoras para o ser humano moderno.
No dia 8 de abril de 1994, um
eletricista acidentalmente descobriu um cadáver
em Seattle, Washington. Ao chamar a polícia, descobriu que se tratava de
Kurt Cobain, a lenda do rock que cometera suicídio. Um tiro explodiu sua cabeça
tornando difícil a identificação. Suas tentativas anteriores com overdose não
foram bem sucedidas.
Ele era um talentoso guitarrista
da banda Nirvana, cujo álbum Nevermind
vendeu 10 milhões de cópias. Mangalwadi afirma que nenhuma banda capturou tão
bem a perda de rumo, de centro e de alma de sua geração quanto esta. O termo nevermind significa, “não se preocupe!”
e Nirvana é a palavra budista para salvação. Significa a extinção permanente da
existência de um indivíduo, a libertação da nossa alma da miséria e vazio.
A taxa de suicídio, homicídio,
abuso de drogas, alcoolismo, evasão escolar tem sido marcante entre os jovens
no Brasil. Em 2017, cerca de 60 mil pessoas foram assassinadas no Brasil, e 80%
destas mortes se deram entre 15 e 27 anos.
Combain adotou o vazio filosófico
e moral que a banda AC/DC, chamaria de “estrada para o inferno”. Seus discos
foram populares até 2008 e venderam mais que os de Elvis Presley. Em 2002,
alguns anos após sua morte, sua viúva vendeu os rascunhos de seus diários
por 4 milhões de dólares. Neles estava
escrito: “Gosto de Punk rock. Gosto de drogas (mas meu corpo e minha mente não
permitem usá-las). Gosto de jogar cartas de modo errado. Gosto de sinceridade.
Não tenho sinceridade...Gosto de reclamar e de não fazer nada para que as
coisas melhorem”.
Ao se matar, Cobain viveu
conforme o que creu. Ele compreendeu que o nada, como realidade última, faz do
nada algo positivo.
O problema da humanidade nunca
foi ético, mas filosófico (prefiro o termo teológico, porque se conecta à
experiência de Deus e do Infinito). A ausência de uma referência de sentido,
esvazia a alma humana, jogando-a no caos. O livro de Eclesiastes afirma, “Deus
pôs a eternidade no coração do homem”. Este anseio infinito pelo sentido e
valor da alma que se distanciou do seu Criador, não será preenchido por nada,
senão o próprio Deus. Afinal, “o homem tem um vazio em forma de Deus” (Pascal).
A pergunta, “que farei Senhor”, tem a ver com o sentido e propósito da sua
história. O que te ocorre hoje, precisa estar conectado à eternidade.
Conclusão:
Quando estas questões se tornam
palpitantes, o que acontece conosco?
Paulo diz aqui: “cai por terra!”
Valores, cosmovisão, prioridades,
passam sob questionamentos.
Qual deve ser minha reação?
O próprio Deus orienta:
“Levanta-te, recebe o batismo, e lava os teus pecados, invocando o nome
de Deus” (At 22.16).
Receber o batismo no livro de
Atos muitas vezes está conectado ao perdão de pecados. Isto levou a igreja católica
a desenvolver uma doutrina do batismo que se chama “ex opere operato”, dando a ideia de que o batismo, por si mesmo, o
mero ritual em si, traz salvação.
A igreja reformada afirma outra
coisa: O batismo é um sacramento, que é “um sinal invisível de uma graça invisível”.
O batismo fala de algo profundo que aconteceu no coração humano, e se torna um
sinal daqueles que experimentaram esta obra em seus corações.
Ele não é o evento em si, mas
aponta para algo profundo: a obra de Deus em nossas vidas.