domingo, 23 de junho de 2019

Equívocos


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Uma das conhecidas máximas de Sócrates, filósofo grego, é a seguinte: “Quanto mais sei, mais sei que nada sei”.
Como facilmente julgamos erroneamente o que vemos, ou interpretamos de forma incorreta o que nos é dito. É fácil se equivocar no julgamento dos fatos, assim como é fácil se equivocar acerca das pessoas.

Na Bíblia há um relato interessante sobre isto. O profeta Samuel é enviado por Deus à casa de Jessé para ungir um de seus filhos para ser rei em Israel. Eram oito filhos, incluindo Davi que não estava presente, e quando Eliabe entrou, Samuel disse consigo: “Certamente, está perante o Senhor o seu ungido. Porém, o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque o rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração”.

O grande problema é que não seguimos o que é verdade, mas o que julgamos ser a verdade. Não necessariamente julgamos os fatos corretamente, mas damos a interpretação dos fatos; nem avaliamos corretamente as pessoas, mas a visão que desenvolvemos acerca delas.

Por isto é que você já teve ter vivido situações nas quais posteriormente admitiu que estava equivocado em relação a alguém, tanto por dar crédito a alguém duvidoso, quanto para suspeitar de alguém fidedigno.

Errar na interpretação é errar na vida. Nossos pressupostos e valores nos guiam e passamos a viver baseados naquilo que cremos e aceitamos como verdadeiro. Por isto, errar na avaliação cobra um dividendo tão caro. Quando a realidade vem à tona e revela o equívoco, ficamos irritados, frustrados ou nos tornamos vitimizados. 

Mark Twain afirma: “O que nos causa problemas não é o que não sabemos. É o que temos certeza que sabemos e que, no final, não é verdade”.  O pensamento é o produto mental decorrente da capacidade que todos os seres humanos possuem de trabalhar com a sua mente. Infelizmente muitas vezes cometemos “erros de pensamento”.

Em outras ocasiões, consideramos que existe somente o preto e o branco e nos esquecemos do cinza. Na verdade, existe uma zona cinzenta na qual as cores não são muito definidas mas ainda assim queremos afirmar que são pretas ou brancas.

A verdade é que todos nós, cometemos equívocos. Uma atitude de humildade e confissão, pode ser redentora. Muitas vezes o problema não é apenas cometer equívocos, mas insistir em sustentar uma mentira, mesmo depois que já entendemos nosso erro, simplesmente porque somos incapazes de dizer: “Me perdoa!”, ou “eu reconheço minha falha”, ou ainda “me ajude!” O equívoco pode real, mas a cura também pode ser completa, quando deixamos de sustentar aquilo que, no final, descobrimos que é falso. Isto é libertador!

sexta-feira, 21 de junho de 2019

Hac 2.4 O justo viverá pela fé



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Introdução:

O que existe neste enunciado que é tão importante para a fé cristã? Deus mesmo estava profundamente interessado que isto fosse afixado num mural, colocado num outdoor. “O Justo viverá pela fé”.

Habacuque está passando por uma grande crise na fé – e Deus lhe pede que coloque estas palavras num local, para que, pessoas que passassem correndo, pudessem lê-las. O que significam estas palavras?

Qual a resposta que Deus dá?
Deus lhes diz algo que é tão essencial que Deus pede para que seja colocado num “out-door”. Deus se instala como o primeiro agente publicitário, Deus quer que isto seja clássico na teologia e prática cristã: O JUSTO VIVERÁ PELA FÉ!" Habacuque se diz alucinado com tudo. As notícias não eram boas, a catástrofe era inevitável. E Deus diz: "O Justo viverá pela fé" (Hab 2.4). O cristão deve andar assim, pela fé, vendo o invisível, crendo contra a esperança, vendo graça em situações onde existem tragédias, vendo Deus no meio do caos, vendo luz na escuridão.

1. A Fé supera nossas variações de humor. Fé não pode se basear na emoção. Apesar da emoção não ser inimiga da fé, ela não sustenta a fé. Muitas pessoas acham que porque sentiram, tiveram um calafrio, isto significa que Deus os ouviu. Mas fé e emoção são coisas absolutamente distintas. Obviamente gostamos de ter uma experiência mais calorosa, mas não podemos confundir nossos arrepios com manifestação de Deus. Fé está acima das emoções.
Um antigo hino afirma:
"Mesmo na tempestade podeis andar,
sem ter medo da escuridão.
Quando o dia surgir. Haverá um sol, e as aves cantando estarão.
Andai pelo vento, andai pela chuva.
Pois logo vem o sol.
Andai com Deus nos vossos corações e a sós não andareis.
E a sós não andareis!".

Uma das coisas mais importantes da minha vida foi, ainda jovem, ter estudado as quatro leis espirituais desenvolvida pela cruzada estudantil e profissional para Cristo. Ela nos ajudou a compreender o lugar da Fé, emoção e Razão na espiritualidade cristã..

Bill Bright defendia a seguinte idéia:
Razão, Emoção e Fé, são três elementos que caminham juntos na experiência cristã, como se fossem vagões de um trem, mas quem deve puxar a locomotiva, é a Fé.

Quando nos firmamos na nossa razão, encontramos problemas, apesar da fé cristã ser exeqüível, e, como diz Francis Schaeffer, “quando a fé cristã é levada às últimas consequências ela sempre faz sentido”, existem coisas que são mistérios de Deus. Nunca poderemos explicar todas as questões relacionadas à vida e os mistérios de Deus (Deut 29.29).

Quando nos firmamos nas emoções, sofremos tremendamente, porque nossas emoções variam de circunstâncias para circunstâncias e de tempos em  tempos. Ora estamos tristes, ora felizes.
Duas ilustrações nos ajudam a entender este ponto.

Considere a questão da salvação.
Certo rapaz cria em Jesus como Filho de Deus, entregou sua vida a ele, aceitava o plano da salvação e declarava que Ele era o salvador de sua vida, mas aguardava uma “experiência emocional”, afinal, alguns amigos tiveram tal experiência, sua mãe lhe falava também de algo que havia acontecido em sua vida. Ao invés de se firmar nas promessas de salvação que a Bíblia lhe dava, e assenhorear-se das promessas da Palavra de Deus, estava em dúvida porque “não sentiu” o que julgava ser necessário.
Sua fé não pode se firmar em experiências, mas na Palavra. Firme-se na Palavra, e creia no que Deus lhe prometeu.
A promessa é esta: "Quem tem no Filho tem a vida eterna. Quem não crê já está julgando, porquanto não creu no Unigênito Filho de Deus". "
..."Para que, todo aquele que nele crê, tenha a vida eterna" (Jo 3.15).
Não é uma questão de sentir, mas de crer.

Considere o perdão de pecados.
Você já confessou seus pecados e os abandonou. O que diz a Bíblia? “O que confessa e deixa alcança misericórdia” (Pv 28.13). Mas pode ser que você diga: “Eu não sinto que fui perdoado”. Neste caso, sua fé se baseia no que você sente ou no que a Palavra diz? “Sentir”  é uma experiência emocional, mas perdão de pecados não é uma questão de sentimento, mas de fé. “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.18).
"Aquele que confessa e deixa, alcança misericórdia, mas o que endurece o seu coração cairá no mal" (Pv 28.13,14).
Portanto, tome posse da promessa de Deus. Creia nisto. Firme-se nas suas verdades, não em seu coração inconstante.

É isto que a Palavra quer dizer ao afirmar: O Justo viverá pela fé!
Habacuque mostra como suas emoções estão abaladas:
1.  Ele tem uma profunda comoção interior - “O meu íntimo se comoveu” (3.16). Um agitamento interno, taquicardia.
2.  Voz trêmula – "à sua voz tremeram os meus lábios" (3.16). O profeta encontra-se estarrecido, pasmo, atrapalhado e confuso com tudo o que sente e percebe.
3.  Tem dores musculares e ósseas – "entrou a podridão nos meus ossos, e os joelhos me vacilaram" (Hab 3.16). Sente fraqueza na sua coordenação motora, sente seus ossos fragilizados.


Considere suas orações
Muito da nossa frustração nas orações está relacionada ao fato de que queremos sentir para "saber" que Deus ouviu nossas orações. Entretanto, o que precisamos não é de "sentir", mas saber, que Deus ouviu nossas orações. Podemos e devemos crer que Deus ouve.
Afinal, as promessas de Deus são claras a este respeito:
"Tudo que pedirdes em meu nome, crede que recebestes". 
"Entretanto, Deus me tem ouvido e e tendido a voz da oração. Bendito seja Deus, que não me rejeita a oração, nem afasta de mim a sua graça"(Sl 66.19-20). 
Alguns afirmam: Minha oração não passou do teto. Mas sua oração não precisa passar do teto, porque Deus está aqui, abaixo do teto também. Apenas declare e ore, pedindo com fé, em nome de Jesus. 

Qual é o problema?
Impotência espiritual! Sabe que o inimigo vem e Israel não tem forças para enfrentá-lo, e além do mais, sabe que Deus está por detrás deste incidente. No entanto, mesmo com suas emoções em frangalhos, ele se lembra do que Deus diz: "O justo viverá pela fé". Seu fundamento não são suas emoções, nem sentimentos, mas a confiança em Deus.

2.  Fé não pode se basear nas circunstâncias.  Ela transcende as circunstâncias.
É exatamente isto que Habacuque vivencia. Ele não apenas está confuso em seus sentimentos, mas as circunstâncias históricas, também não lhe são favoráveis. Tudo está caótico. Veja a descrição que ele faz das possibilidades que teria que enfrentar. Leia o texto de Hab 3.17.

Þ  Figueira não floresce.
Þ  Videira não produz.
Þ  A colheita da azeitona falha.
Þ  Os Campos não produzem.
Þ  Ovelhas são arrebatadas dos currais - ladrões saqueiam, a peste atinge.
Þ  Não há gado. Os bandidos dizimaram nossos rebanhos.

A dor atingiu a nação santa, ferindo o povo escolhido. O ímpio está avançando e obtendo vitórias. Os “porquês” da história estão massacrando sua lógica, e podem abalar sua fé, mas ele se lembra que O Justo viverá pela fé!
Quando você entende isto, a pergunta que passa a ser significativa na sua vida não é o porque, mas o para que de Deus.

Será que ainda assim creríamos? Você já passou por situação idêntica? 
O que significa viver pela fé?

Viver pela fé é a Teologia do “ainda que”.  Isto é, não se abater quando todas as perspectivas são ruins, quando nossa história parece se desmoronar. Habacuque descreve aqui uma catástrofe numa economia agro-pastoril, ele pensa na possibilidade de que tudo o que existe de ruim pudesse acontecer de uma hora para outra.

Vamos traduzir isto para nossa economia:
Seria como se estivéssemos diante de uma situação de falência e quebra em todos os segmentos econômicos do país, uma espécie de grande depressão que acometeu os Estados Unidos nos anos 29-32. Existe uma crise de dinheiro, você perde o trabalho, funcionários começam a ser demitidos mais e mais. Você tem o aluguel para pagar, vem a doença, falta o dinheiro para compra de matéria básica para casa. E agora?

É fácil falar de viver pela fé quando se tem um emprego, quando há comida na mesa, quando se vive numa economia estabilizada, quando se tem boa casa, quando a escassez do dinheiro não atinge substancialmente áreas que comprometem apenas o nosso luxo. Mas, e se tudo isto faltasse?

Não é este tipo de Teologia do Sucesso que arrebenta a mulher de Jó? Quando ela percebe que servir a Deus não era mais uma bom negócio, quando Deus lhes privou de certas coisas essenciais, ela não teve dúvidas em dizer: "Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre!" (Jó 2.9). 

Se olhássemos para a vida de Jó, atualizando-a para o dia de hoje, o veríamos com um líder bem sucedido da igreja, homem "integro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal" (Jó 1.8). Certamente era membro da Igreja, talvez fosse para o culto num carro do ano, fizesse parte do Coral da igreja, trouxesse todos os seus filhos para a casa do Senhor. Aquele homem era um sucesso, sua fé lhe dava vitória, era um sucesso, se deu bem na vida. Esta é a fé de pessoas vitoriosas, sem crises. Mas, e quando a crise vem? Dias depois, Jó precisa continuar ainda crendo quando nada disso mais existe. Será que daria para crer ainda, continuar firme no Senhor diante de situações tão catastróficas? O que pode nos sustentar nos dias maus?

"O justo viverá pela fé"- Ele não se baseia nas suas emoções, nem nas circunstâncias. Ele confia na Palavra de Deus, nas promessas de Deus no caráter de Deus, na fidelidade de Deus, naquilo que Deus é. Sua fé não está firmada na vitória conquistada, nem nas circunstancias, mas em Deus.
Em Mat 14 vemos Jesus andando sobre as águas, Pedro é convidado a também agir da mesma forma, mas quando começa a andar, passa a “reparar na força do vento”, e por isto começou a afundar. O que lhe aconteceu? Tirou os olhos do Senhor, colocou-os no vento. Parou de olhar para Deus, e passou a olhar as circunstâncias. Naufragou!

Viver pela fé, é viver no ainda que…É ter certeza das coisas que ainda não são visíveis - É crer a despeito de…É ser capaz de dizer em meio ao caos: Eu sei que o meu redentor vive! Jó 19:25
Não é resignação, nem comodismo, nem escapismo, mas alegria positiva no meio da dor e da ameaça. Ele pode regozijar-se na tribulação e ser triunfante a despeito da crise de sua história humana. Como é possível encontrar alegria.

  1. Salvação não pode se basear naquilo que fazemos, nem está relacionada aos nossos méritos. O justo viverá pela fé. Este é o princípio mais radical do texto, e tem a ver com o projeto de salvação que Deus nos queria comunicar.

Esta ideia é central na teologia bíblica do Novo Testamento. Então, precisamos definir esta fé. Paulo afirma: “Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo o que crê, a justiça que vem pela fé no Filho de Deus”.
A Bíblia está falando de um tipo específico de fé. A fé que olha para Jesus. A fé que coloca sua confiança no Filho de Deus que ressurgiu entre os mortos.

Jesus certa vez perguntou: “Quando o Filho do Homem vier, porventura achará fé na terra?” Jesus não está falando de uma fé genérica, fé nos duendes, nas fadas, nas entidades. Há muita crendice, superstição, e fé colocada em ídolos, deuses. Não é sobre esta fé que Jesus está se referindo, mas da fé que descansa na obra plena e cabal de Jesus, que morreu na cruz para nos resgatar das trevas, do diabo e de nossos pecados.

Este texto é revolucionário na história. Todas pessoas que entenderam esta expressão foram transformadas por ela. Todos os avivamentos se sustentaram na doutrina da justificação pela fé. São pessoas que pararam de confiar na sua obra, e colocaram sua confiança em Cristo, e apenas em Cristo, para sua salvação. Estas pessoas entenderam que “o justo viverá pela fé”, na obra plena e suficiente de Cristo realizada no calvário.

Pessoas que historicamente tiveram suas vidas revolucionadas por esta frase:

A.                   Revolucionou e sustentou a vida de Habacuque. Ele estava abatido e alarmado, mas agora ele entende a beleza de viver pela fé, depender apenas de Deus. Por isto Deus disse para colocar esta frase num outdoor. Ela é tão importante que não pode ser esquecida ou negligenciada. Todos precisam ler e viver baseados nesta declaração divina.

B.                    Fez mudança radical no coração do apóstolo Paulo – ele cita este texto em Rm 1.16, aplicando-o ao contexto da salvação do homem. “A justiça de Deus se revela no Evangelho, como está escrito, o justo viverá pela fé” (Rm 1.17). Paulo o aplica à essência do Evangelho. Quem entendeu esta verdade, entendeu o Evangelho, quem ainda não  entendeu, vai continuar achando que salvação é uma questão de esforço pessoal, de mérito individual. Para Paulo, o justo baseia sua relação com Deus, nesta grande verdade bíblica. ,”O justo viverá pela fé”.

C.                    Revolucionou o pensamento de Agostinho – Um monge nascido em Cartago (atual Tunísia), que impactaria todo o pensamento do cristianismo e de forma mais direta, a vida de Calvino, já que as suas ponderações sobre a soberania de Deus e sobre a eleição foram transformadoras no coração deste reformador, foi profundamente impactado pela doutrina da justificação pela fé no Filho de Deus.

D.                    Revolucionou a vida de Lutero – Lutero era um piedoso monge agostiniano, que acreditava que suas orações e penitências, o livrariam do fogo do inferno., mas vivia atormentado pela culpa e pelo medo. Durante muito tempo viveu crendo que suas obras seriam capazes de prover justiça pessoal, mas não conseguia encontrar paz interior, porque está firmado nele mesmo para sua salvação.. um dia, quando subia as escadarias de uma igreja, fazendo penitências, e orando o Pai Nosso em cada um dos quase 150 degraus, esta afirmação veio à sua mente e ele entendeu claramente que o homem pecador é justificado diante de Deus, somente pela e através da fé. Posteriormente escreveu: “ A justiça de Deus não é algo que ele requer, mas é algo que Ele próprio nos concede”. Isto mudou a perspectiva de salvação que até então Lutero possuía.

E.                    Dois séculos depois, John Wesley, avivalista inglês, e fundador do metodismo, no dia 24 de Maio de l738, na Aldergaste St., em Londres, entendeu que: “Esta doutrina significa o fim de qualquer ilusão a nosso próprio respeito (Bondade, boas obras, moralidade, esforços). Não preciso fazer nada para minha salvação, apenas descansar na sua justiça". Wesley entendeu que havia apenas uma espécie de justiça que agradava a Deus, e esta era a justiça perfeita criada por Jesus. “o justo viverá pela fé”.

F.                    Finalmente Karl Barth, que no meio do liberalismo alemão no início do Século XX, ao fazer a leitura do comentário de Lutero, foi profundamente impactado com esta verdade. Este é o mesmo pensamento que pode transformar a história do cristianismo no Brasil. Esta é a doutrina que pode mudar sua vida.

Recentemente estava conversando com dois casais que vieram de igrejas pentecostais históricas e me assustei ao perceber que eles não conheciam as doutrinas fundamentais da fé cristã como a Justificação pela fé. Estou absolutamente certo de que, na medida em que conheceram o significado desta doutrina, suas vidas serão completa e radicalmente transformadas. Esta verdade é libertadora e radical.
Todos avivamentos históricos resgataram profundamente esta doutrina, ao voltarem seriamente para estudarem a Palavra de Deus.

Conclusão:

Esta é a grande verdade da fé cristã. A justiça de Deus já foi satisfeita na cruz (Is 53.4). Deus pede que Habacuque a coloque com letras grandes.

Existem, porém, três coisas que precisamos entender como verdades essenciais do Evangelho, antes de experimentarmos a liberdade da Justificação pela fé em Cristo Jesus.

1.  A justiça própria é a inimiga número 1 do Evangelho- Quando agimos com base nas nossas próprias conquistas, ignoramos a justiça de Deus e tentamos construir nosso próprio currículo de retidão, e nos esquecemos da cruz (Rm 10.1). Paulo afirma que queria se apresentar diante de Deus, sem qualquer justiça pessoal (Fp 3.10), porque entendeu que sua justiça era a roupagem de Cristo sobre sua vida.

O justo não vive por meritocracia, moralidade ou esforços, mas olhando firmemente para a obra de Cristo. “Vivo pela fé no filho de Deus”

2.  A fé nos transporta do mundo natural, para o mundo espiritual – Você não pode ouvir determinados sons, ou saber de onde vem o vento, mas eles não podem ser negados por causa da capacidade sensitiva que você não possui.

Viver pela fé consiste em viver baseado, não em circunstâncias, nem naquilo que nos acontece, nem no que sentimos, mas naquilo que Deus é e nas promessas reveladas na sua palavra.
Épocas de crises são oportunidades de desenvolvermos nossa fé. Afinal, “O justo viverá pela fé”. O autor da carta aos hebreus afirma: “Mas, o justo viverá pela fé, se ele recuar, a minha alma não terá prazer nele” (Hb 10.38)

O justo vive:
            Não pelo que vê – acontecimentos bons ou ruins.
            Não pela sua capacidade moral – pelo que faz.
            Não no que sente – suas emoções

Lutos familiares, perdas, tragédias, não deveriam nos levar a  ficarmos revoltados contra Deus, nem transformar nossa vida num cenário de amargura, mas num motivo de dizer: “Não estou entendendo o que me acontece, as coisas não estão boas, todavia eu me alegro no Senhor e exulto no Deus da minha salvação”.

Será que conseguimos viver pela fé?

Alegria no Senhor! É isto que significa viver pela fé. Basear toda nossa vida no caráter e nas promessas de Deus, e não ficar a mercê dos dias bons e maus. Existe uma frase em Hb 11.27, que nos mostra porque Moisés foi o grande líder que foi.  Ele permaneceu firme como aquele que vê o invisível”. Vida baseada no princípio da fé, que crê a despeito das circunstâncias, e que continua firme, ainda que…

Isto é tão importante que Deus manda colocar num out-door!

O Justo viverá pela fé, não nas ondas instáveis das emoções e nem nas variações circunstanciais da vida. O Justo viverá pela fé!

sábado, 1 de junho de 2019

Jó 1.13-23 O Problema do Sofrimento



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Introdução:

Não é fácil equacionar o problema da dor e do sofrimento...
Filósofos, teólogos, religiões, sempre estão procurando dar uma resposta para o sofrimento, mas a verdade é que nunca entenderemos, na sua profundidade o sentido da dor.
É fácil fazer equações, filosofar sobre o sofrimento, e até mesmo procurar dar respostas simplistas e carregadas de fórmulas que decoramos, como fizeram os amigos de Jó, diante de sua incrível dor.
Apesar de, aparentemente estarem dissertando sobre as respostas imediatas que o judaísmo propunha, o resultado foi que eles não apenas foram impiedosos no seu julgamento com Jó, como foram censurados ainda por Deus, por causa do julgamento que fizeram.
Eles tentaram encontrar uma equação simples para a dor:
Se você faz o bem... então Deus te abençoa e tudo te irá bem...
Se você faz o mal... será punido, e as consequências serão desastrosas para a vida...
Embora saibamos que o pecado, a transgressão, a quebra das leis, tragam sofrimento, a verdade é que o sofrimento tem muitas causas, além do pecado. Veja quantas destas causas aparecem no texto:

  1. Deus: Que permite que o mal aconteça. Esta é, na visão de Jó, a causa primeira da dor. A crise de Jó é maior, não apenas pela magnitude de sua dor, mas porque seu sofrimento se tornou uma questão teológica. Por que Deus permite que eu sofra, mesmo vivendo  de forma justa e íntegra?

  1. Diabo. Este é o executor do mal, e aquele que conspira contra a vida de Jó. Ele deseja o mau, e tem a permissão de Deus para realizá-lo. Por detrás de todo sofrimento, podemos entender, que há algo que se opõe à vida. em inglês, uma das palavras para ações malignas é evil, e quando prestamos atenção, vemos que evil (mal) é o contrário de live (viver).

  1. Pessoas. Agentes dos maus. Vemos aqui a ação dos Sabeus (Jo 1.15), que vieram abruptamente, levaram saquearam e mataram os servos ao fio da espada. Muita dor é causada por causa de pessoas más, dos perversos. Muito sofrimento é causado por ações humanas: guerras, luta pelo poder, ambição desenfreada, crueldade.

  1. Causas Naturais: A natureza gera tragédias. Os bois lavravam quando veio o fogo, vieram raios, tempestades (Jo 1.16) e grandes ventos (Jó 1.19). Quando estudamos a força dos terremotos, o poder dos vulcões, que destroem civilizações inteiras, a força das águas nas enchentes, ficamos assustados. Uma catástrofe como um vulcão, fogo, ciclones, tempestades, pode destruir uma cidade inteira como vimos alguns anos atrás em Memphis.

Portanto, existem muitas causas de sofrimento.
O diálogo do Senhor com Satanás nos desmonta, e mexe com nossos esquemas mentais. (Jo 2.3). Jó está no meio de um embate de forças espirituais. Satanás está procurando ter o controle da vida de uma pessoa, e Jó é seu alvo preferencial, neste momento específico da história.

Entre as causas do sofrimento que encontramos na Bíblia, pelo menos sete são descritas, por isto não é sábio tentar responder de forma simplista questões complexas. O sofrimento é resultante do pecado, mas nem todo sofrimento possui relação com o pecado, e nem todo pecado causa sofrimento visível (pelo menos imediato). Há sofrimentos provenientes de ações pecaminosas, mas Deus pode usar o sofrimento para nos modelar. Sofrimento nas Escrituras pode ser pedagógico, com a finalidade de ensinar o povo de Deus, ou até mesmo com finalidade redentiva, como no caso de Jesus e sua obra de expiação pelos pecados da raça humana.

No caso de Jó, o diabo encontra-se por detrás de seu sofrimento. “Satanás saiu da presença de Deus” e seu objetivo era causar aflições a Jó (1.12; 2:7).  Ao dizer isto o texto aponta para uma ação maligna.

A)- Apesar do diabo ser o agente da dor, não se resolve a dor, amarrando o demônio. Não adianta amarrar o demônio quando ele tem autorização de Deus;

b)- Não se resolve o problema remoendo-se de culpa porque estamos sofrendo. Este texto quebra exatamente a relação sofrimento x pecado. Sofrimento nem sempre é consequência  de pecados cometidos. Portanto, não necessariamente pode ser alimentado com culpa.

Jó ignora a causa do sofrimento, embora sofra as consequências dos efeitos de todas aquelas ações cujas causas são ignoradas por ele. Nós sabemos, porque estamos na arquibancada, como observadores do drama, mas Jó está no picadeiro. Da mesma forma, passamos por muito sofrimento, sem sermos capazes de entender os motivos pelos quais somos submetidos a isto. Um acidente fatal, uma morte estúpida de uma criança, uma tragédia. Como explicar isto? Quem poderá decodificar os processos humanos e a permissão do Deus soberano?

Jó vive num mundo espiritualmente ambíguo , sem dicotomia entre o material e o espiritual. O ataque dos sabeus é humano, mas espiritual; o fogo que caiu do céu é um desastre da natureza, mas possui um componente espiritual; o grande vento que matou os dez filhos de Jó, de uma única vez, uma tempestade tropical de categoria cinco, é tudo fruto da ação da natureza, que é neutra e cega em sua natureza, mas permeada por uma incrível ação de espiritualidade, já que quem está por detrás é Satanás - e isto não é contemplado por Jó.

Apesar deste componente espiritual ou místico, o sofrimento não é utópico, mas algo real, que Jó experimenta e sua consequência é avassaladora. Sabe lá o que é perder dez filhos de uma única vez? O estilo literário do livro de Jó é dramático. Jó possui relacionamentos, amizades, funcionários, mexe com agropecuária, come com sua família, cuida de sua vida profissional mas é atingido frontalmente pelo trágico. De repente, sua vida, tal como ele a conhecia, não existe mais; seus bens desapareceram, seus filhos se foram e a saúde sofre graves variações, ainda que ele não fosse um homem doente até então. Sua vida sofre uma reviravolta sem precedentes. Fracassado, no fundo do poço, vê sua mulher dizendo: “amaldiçoa a Deus e morra!” Jó está no centro do conflito, sem entender os movimentos da história, seus amigos são coadjuvantes, e não sabem quão duro é estar no papel principal quando a dor nos atinge. Quem foi diagnosticado com câncer é que sabe o peso disto, quem perdeu um filho ou passou por uma tragédia ou abuso  é que sabe o impacto disto sobre sua vida.

O texto porém, vai ensinar que, por maiores que sejam as tragédias, nada vai acontecer sem a permissão de Deus – Satanás não é livre para fazer o que deseja. Ele age por permissão. Ele não é soberano, nem tem todo poder. Sua ação é limitada pela liberdade delimitada por Deus.

Jesus menciona isto para Pedro. Quando Satanás quis colocá-lo à prova, ele teve que fazer um requerimento a Deus e Jesus afirmou: "todavia roguei ao Pai para que não desfalecesse".  Satanás também quis "peneirar" Pedro, e só não o fez porque não teve permissão. Deus nunca perde o controle da história. Os céus nunca são pegos de surpresa.

Princípios:

1.     Vivemos num mundo estruturalmente ambíguo - As forças espirituais do mal tentam nos destruir, aparentemente vivemos num mundo cego e impessoal, mas os relatos bíblicos nos ajudam a criar uma percepção de sobrenaturalidade. Precisamos ver além da história, do comum, do ordinário e ter uma âncora firme, que contemple os céus. Apesar da dor continuar sendo um mistério, devemos perseverar em nossa confiança em Deus.

2.     Não há no texto uma ideia maniqueísta de Deus-Jó-diabo. O maniqueísmo afirma que Deus e o diabo vivem "competindo" num mesmo pé de igualdade. O texto bíblico demonstra exatamente o contrário: Deus e o do diabo não colocados num mesmo nível de poder. Deus não corre o risco de perder. Deus é Senhor absoluto, “os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis”. Deus não é de se aventurar. A vida de José do Egito é outra história que nos mostra claramente isto. Quando Deus chama, ele cuida até o final. Seus propósitos são executados de acordo com seus planos.

3.     Não devemos abrir mão de Deus por causa da tribulação  - A vida de nos revela isto ( 1.9-10). Jó não negocia sua relação com Deus, porque o mais importante não era sair da dor, mas glorificar a Deus no meio da dor. Em todas as circunstâncias, “Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma” (Jó 1.22). Quaisquer que sejam as circunstâncias, nunca devemos nos  esquecer que Deus é o Senhor absoluto da história e trabalha a favor daquele que ele ama.

4.     Feche-se a tentação do porque. Sofremos mais pelos “porquês“ que pelos fatos em si mesmo. O nosso porque é extremamente egoísta. Porque comigo?  Implicitamente estamos dizendo que somos merecedores de um tratamento vip?  A pergunta mais certa seria, “Por que não comigo?“ Os companheiros de Jó tiveram muitos problemas depois que tentaram “explicar” o sofrimento dele. Quase sempre as tentativas de explicação são desastrosas:

-É a vontade de Deus...
-Se você tivesse fé...
-Se você estivesse na igreja.. .
-Se você não tivesse pecado...

O fato dos amigos de Jó o condenaram, acrescenta dor à sua dor. Agora ele não tem mais o sofrimento físico, real e brutal, mas o espiritual: "Será que errei? Será que fiz algo e por isto estou recebendo uma punição divina?" . Ao colocar Jó como responsável espiritualmente pelo seu sofrimento, os amigos trazem mais dor, culpa e aflição. Muitas vezes, o melhor instrumento de consolo é o silêncio. Melhor ficar em silêncio que tentar explicar a dor. Uma das coisas que a Palavra de Deus nos ensina claramente é que Deus usa toda dor para o bem. “Vós intentastes o mal, mas Deus transformou o mal em bem, como hoje vedes“ (Gn 50.15).

5.     Precisamos tomar cuidado para não agredir inconscientemente a Deus - Deus é Todo-Poderoso mas não evitou a tragédia de Jó. Isto pode gerar em nós uma relação de suspeita e desconfiança sobre o seu caráter. Muitos dos nossos “porquês“ não são perguntas, mas agressões a Deus.  O sofrimento é sempre o momento no qual Deus demonstra que é Senhor da vida, tanto nos momentos claros, quanto nos momentos de contradição. Agostinho entendeu isto claramente ao afirmar: “Tu estavas comigo, mas eu não estava contigo”.

Elie Wiesel, prisioneiro judeu no gueto de Auschivtz, escreveu um poema chamado “a noite”, no qual retrata com muita precisão a dor. Dois judeus e uma criança foram condenados á forca por tentarem fugir do gueto. Os homens morreram logo, a criança ficou agonizando, por causa de seu corpo leve. “Então alguém perguntou: Onde está Deus? E eu permaneci em silêncio. Meia hora depois, clamou novamente. Onde está Deus?! Onde? Uma voz dentro de mim respondeu: Deus está li pendurado na forca”. Embora não compreendamos o mistério da dor, Deus se identifica e protege o que sofre.

O livro de Jó termina demonstrando que Deus é capaz de restaurar a situação mais caótica, o quadro mais sinistro - Jó perdeu bens, saúde, entes queridos, apoio de pessoas, sofreu incompreensão de amigos. O sofrimento o faz passar por experiências que somente situações de calamidade podem gerar. Jó aprenderá coisas que só são perceptíveis no meio do sofrimento. Determinadas verdades só se aprendem com os olhos cheios de lágrima.

O maior de seu aprendizado foi o conhecimento de Deus. “Eu te conhecia só de ouvir falar, mas agora os meus olhos te veem. (Jó 42.5) Nas circunstâncias desagradáveis, você vê o Deus que não abre mão de você. Jó adquire uma nova percepção de valores e da vida. Provações são oportunidades para conhecermos melhor a Deus.

Conclusão:
Todas as teorias religiosas admitem o sofrimento como uma realidade na vida. Buda define a vida da seguinte forma: “Viver é sofrer!”.

Nenhuma religião, porém, elabora a dor de forma tão profunda quanto o cristianismo.

Jesus é chamado de “varão de dores”. Isaias 53 afirma: “Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens esconderam o rosto, era desprezado, e dele na fizemos caso” (Is 53.3).

Jesus experimentou a dor da forma mais profunda possível. Sua dor foi tanto física, quanto existencial, uma vez que “Certamente  ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nos o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido” (Is 53.4). Sua maior dor foi o abandono do Pai na cruz, por causa de nossos pecados, e do peso de nossos pecados que ele, abnegadamente decidiu assumir. Ele pagou nossos pecados, ele redimiu nossas culpas, ele assumiu nossa condenação. “O castigo pela paz estava sobre ele e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.5).

Entretanto, uma coisa maravilhosa que vemos em Jesus: Ele não via a dor como mera dor.
A dor, para ele, tinha propósito e intencionalidade.

...ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu servo, o justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si”. (Is 53.11).

A dor para Jesus não era um acidente de percurso de um Deus distante e despreocupado. Ele via a dor não como mera dor, mas percebia nela o propósito de ser esmagado.

Talvez aqui seja a grande crise nossa no meio da dor: Não conseguimos sair da dor em si. Não conseguimos avançar.

Quando Jó percebeu isto, quando ele foi capaz de ver que no meio de seu sofrimento, Deus sempre esteve olhando e não estava nem alheio nem distante, isto mudou sua perspectiva: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem”.

Só quando temos a mesma compreensão que encontramos em Jesus, podemos ver além da dor. A dor é real, machuca, fere, maltrata, mas de uma forma que não conseguimos entender, ela é pedagógica e tem propósito.

Que Deus nos ajude!!!