sábado, 13 de agosto de 2022

Pv 11.29; 13.22 Pais construtores de memórias

 




 

 

 

Introdução

 

Estes textos falam de comportamentos paternos e como isto afeta substancialmente filhos e netos. Um é negativo, o outro positivo.

 

O negativo diz:

O que perturba a sua casa herda o vento.” (Pv 11.29)

 

“Vento” não é uma boa herança. Sabemos de grandes tragédias que o vento pode trazer sobre uma região. Pensem no furacão Katrina com seu efeito devastador em New Orleans em Agosto de 2005. Uma tempestade tropical que alcançou a categoria 3 na terra e categoria 5 no mar, com ventos de 280 km/h e causaram grandes prejuízos na região litorânea dos EUA, de forma mais direta na região metropolitana de Nova Orleans. Mais de um milhão de pessoas foram evacuadas, causou em torno de 2 bilhões de dólares de prejuízo e 1836 mortes diretas.

 

Aristeu Pires Jr., tem se destacado com o design belíssimo de moveis que ele em criado e construído. Sua fábrica de móveis está em Canela, RS. Alguns anos ela foi completamente destruída num vendaval que não demorou mais que 5 minutos, e cujo epicentro, com ventos de até 255 km por hora, foi exatamente sobre sua empresa arrasando-a completamente. Pedaços de madeira foram encontrados a 800 Mts de distância, e a porta de ferro foi arremessada a quase 100 metros. Os eucaliptos ao redor foram arrancados como pequenas ervas daninhas.

 

Colheita de vento é prenúncio de desastre. É isto que acontece ao homem que perturba a sua casa.

 

O segundo versículo fala de coisas positivas:

O homem de bem deixa herança aos filhos de seus filhos, mas a riqueza do pecador é depositada para o justo.” (Pv 13.22). 

 

O que ele faz, não tem efeito apenas na sua descendência imediata, mas abençoa futuras gerações, chegando aos netos. O Sl 78 faz referência até aos “filhos que ainda hão de nascer”, uma geração que nem mesmo nós conheceremos, mas que pode ser abençoada através de comportamentos abençoadores. Pais abençoados deixam um legado positivo para as futuras gerações.

 

Meus pais já estão idosos e algum tempo atrás minha mãe chamou todos os seus filhos para entregar alguns imóveis que eles construíram. Eles dividiram dividiu tudo em partes iguais com todos os irmãos, sem nenhuma desavença ou conflito. Eu sei que muito desta herança, abençoará meus filhos e netos. Muitos dos bens que possuímos, conforto e patrimônio que temos, estão eventualmente relacionados à herança que recebemos dos pais ou dos avós. A Bíblia diz que o homem de bens deixa herança para filhos e filhos. Alguns homens só deixam dívidas, amarguras, memórias desastrosas.

 

Mas o grande legado que podemos receber não é exatamente de bens e herança. Mas da integridade, caráter, amizade. Existem legados maiores que bens e dinheiro.

 

Paul Meyers afirma que um bom legado: possui as seguintes características:

            (a) – deve ser baseado em princípios divinos;

            (b)- produzir resultados duradouros;

            (c)- ser aplicável a todos.

 

É exatamente desta bendita herança que o texto acima está falando.

 

Nas minhas observações e ouvindo pessoas, tenho visto dois aspectos que são extremamente relevantes para a formação das emoções humanas:

 

Primeiro,

o pai é um construtor de memórias. Ele está sempre imprimindo nos filhos, lembranças e percepções que se tornam a base da formação das emoções. Estas memórias podem ser negativas ou positivas;

 

Segundo, A figura paterna, quando é equilibrada, sensata, íntegra, é um dos elementos mais terapêuticos para as próximas gerações. Traz segurança, saúde emocional e confiança nos filhos; ao mesmo tempo, o pai é um dos maiores fatores desagregadores e formadores do núcleo neurótico da personalidade humana.  Pais alcoólatras, distantes, passivos, indiferentes, agressivos, infiéis à sua esposa, drogados ou desligados causam danos quase irreparáveis nas emoções, enquanto pais que transmitem confiança, sensibilidade e cuidado real, são as maiores fontes de graça na alma de um filho. Um versículo bíblico traduzido numa versão moderna diz: “Como são felizes os filhos de um pai honesto e direito” (Pv 20.7 NTLH).

 

Pensemos na construção de boas memórias

 

Podemos criar lembranças duradouras e saudáveis, abençoando as próximas gerações com exemplos, atitudes e compromisso com a fé ou podemos perturbar nossa casa trazendo graves transtornos para filhos e netos.

 

Homens deveriam sempre pedir a Deus a graça de serem construtores de memórias saudáveis. Terapeutas analisam muito hoje as “veredas antigas”, a “cura das memórias”, porque boa parte de nosso desajuste atual tem a ver com abuso, negligência e lutos existenciais ou reais, que causam danos irreparáveis à psiquê. Será que temos deixado memórias de alegria, lembranças saudáveis em nossos filhos?

 

Todas nossas experiências, boas ou más, são acumuladas nos arquivos da existência. Algumas experiências nunca são esquecidas, muitas outras serão sublimadas e aparentemente esquecidas, embora, essencialmente, possam ser ainda mais danosas, porque sequer serão lembradas de forma consciente, apesar de ainda continuarem a afetar decisões, humor e atitudes. Não recordar o fato e episódios não significa cura. Muito mais saudável seria se conseguíssemos lembrar do evento que nos machucou, sem as emoções associadas a ele. Esta é uma boa definição de perdão. Memórias podem ser amargas e doloridas. Muitos hoje gastam fortunas em terapias, para se livrar dos fantasmas do passado e feridas abertas por descaso, indiferença, abandono psicológico, palavras descaridosas e abusos. Por esta razão, precisamos ser agentes de memórias geradores de saúde e graça em nossos filhos.

 

Certo homem me procurou para relatar seu sofrimento. Aos quatro anos de idade, estava envolvido com outro garotinho nestas coisas de curiosidade sexual, quando foi surpreendido pelo pai que o repreendeu severamente. Todas as vezes que seu pai ia jogar futebol, levava-o junto, mas neste dia não o fez dizendo-lhe que ele era uma mocinha, e que por isto não ia com ele. Este homem hoje, além de uma baita crise de identidade sexual, lembra deste evento com muita dor.

 

Temos o desafio de não apenas sermos lembrados como mantenedores e provedores do lar ou disciplinadores dos filhos, mas como quem construiu memórias agradáveis. Esta é a desafiadora tarefa de levar os filhos a terem saudade de eventos engraçados e significativos na vivência familiar.

 

Certo pai resolveu fazer isto de forma criativa: Planejou uma viagem com seus filhos, fez todas as reservas de hotéis, organizou o trajeto que seguiriam de carro, as estradas que deveriam pegar, onde deveriam almoçar, mas disse aos seus filhos que infelizmente não poderia ir por causa do trabalho. Então, assim que sua esposa saiu com eles num carro cheio de bagagens, ele saiu com um amigo em outro carro e adiantou-se ficando esperando no primeiro restaurante onde deveriam almoçar. Quando sua família chegou ao local, ele já estava assentado à mesa, e assim que seus filhos chegaram, o menor, de 7 anos disse: “Aquele homem parece o PAPAI!!!”

Quando um amigo lhe perguntou por fizera isto ele respondeu que gostaria de ser lembrado não apenas pelas broncas que dava e pelas contas que pagava, mas também pelas surpresas que promovia.

 

Parte das boas lembranças que tive como garoto tem a ver com imagens do passado ao lado da família. Numa delas, uma viagem numa Brasília seminova que meu pai havia adquirido, saímos de Gurupí-TO, num percurso de mais de 2 mil km, até o leste de Minas, com 5 filhos dentro de um carro para visitar meus avós. Dentro do carro, comíamos farofa e ouvíamos músicas gravadas em um tape, cantando numa língua que não compreendíamos, as estrofes de Elvis Presley. Ao invés de dizer “It´s now or never”, dizíamos, “It´s maionese”, e tudo estava certo! Lembro-me ainda dos rústicos acampamentos que fazíamos à beira do Rio Formoso, em Tocantins, onde passávamos dias com muita simplicidade e alegria.

 

Quero encorajar os pais a serem produtores de memórias agradáveis, que tragam saúde emocional e mental. Memórias tem o poder de adoecer, mas são capazes também de gerar cura, construir autoestima e valorizar a existência. Memórias positivas se constroem no ambiente familiar, onde os pais são promotores de inesquecíveis e terapêuticas lembranças. Como Pai, uma pergunta que fica sempre em minha mente é a seguinte: O que os nossos filhos e netos, isto é, as próximas gerações, lembrarão a meu respeito?

 

Vamos ao segundo ponto:

Pai como fator desagregador e formador do núcleo neurótico da personalidade humana.

 

Carl Farley afirmou acertadamente que "um garoto é a única coisa que Deus pode usar para fazer um homem". Portanto, precisamos cuidar dos nossos filhos de forma muito especial. Eles são a matéria prima de Deus! Através deles Deus quer forjar a humanidade. Se alguma coisa pode trazer esperança de uma sociedade minimamente civilizada no futuro, será por meio de famílias com pais responsáveis.

 

Lamentavelmente os filhos encontram- se desorientados quanto à sua masculinidade e paternidade. Os modelos familiares encontram- se fragmentados na pós-modernidade, e os pais incapazes de conciliar as demandas sociais e profissionais, com a convivência familiar. O resultado é que os filhos sofrem da ausência física e emocional.

 

George Vailant entrevistou vários homens de negócios, cientistas e professores na meia idade, o resultado foi que noventa e cinco por cento deles afirmaram que seus pais ou foram exemplos negativos na infância ou mencionados como pessoas que não exerceram qualquer influência positiva em suas vidas. Esta pesquisa é assustadora.

 

Jack Sternbach, fez uma pesquisa com homens na fase adulta que assim relataram seus relacionamentos com os pais:

  • 23% eram fisicamente ausentes;  
  • 29% sentiram ausência psicológica dos pais, muito ocupados, desinteressados ou passivos em casa;
  • 18% sentiram a ausência psicológica dos pais que foram muito austeros ou moralistas e sem envolvimento emocional com suas vidas;
  • 15% descreveram seus pais como pessoas ameaçadoras e descontroladas.
  • Somente 15% consideraram seus pais envolvidos em suas vidas.

 

Se queremos criar famílias fortes e emocionalmente estáveis, precisamos cuidar da geração presente. Será uma longa jornada para mudarmos os paradigmas equivocados e construirmos um novo modelo. A tarefa é árdua, porque temos que vencer nossos próprios limites; e longa, já que não se trata de um projeto rápido. Se começarmos agora, só veremos os efeitos desta mudança daqui 20 anos, mas é preciso salvar os filhos.

 

Hoje à noite, um número suficiente de adolescentes capazes de encher os estádios do Mineirão, Beira Rio, Maracanã e Morumbi se prostituirão para sustentar o vício das drogas; um milhão de adolescentes engravidarão até o final do ano, sendo que metade praticará aborto; 60% dos estudantes até o último ano do ensino médio já terão provado ou serão dependentes de drogas. 95% bebem bebidas alcoólicas regularmente e apenas nos EUA, a cada 78 segundos, um adolescente tenta suicídio. Com a estatística aumentando cada vez mais.

 

Precisamos salvar nossos filhos para que as famílias e a nossa civilização sejam salvas.
A mudança pode começar com simples gestos.

 

  • Quantos pais afirmam aos filhos: “eu amo você?”
  • Quantos pais já declararam alguma vez: "estou orgulhoso de você" ou "você fez muito bem"? Quantos pais estão jogando vídeo games com seus filhos ou estão interessados em participar de seus eventos atléticos?
  • Quantos pais abraçam filhos e filhas e contam histórias e geram narrativas levando-os para pescar, para uma tarefa comum de lazer ou para a igreja aos domingos?

 

Se eu pudesse dar uma única receita para a sobrevivência de nosso país eu esta seria a restauração da família. Se me perguntarem como isto pode ser feito eu simplificaria: Salvem os garotos! Eles serão os futuros líderes das novas famílias que construirão o futuro.

 

John Eldridge, no seu marcante livro “Coração selvagem”, sobre masculinidade afirma:

 

“O maior anseio do garoto é ouvir do seu pai: Estou orgulhoso de você! Eu amo você! Todo filho pergunta subliminarmente: “Tenho o que é necessário? Eu sou realmente um homem, papai? Terei tudo o que é necessário... no momento certo?”

 

Leanne Payne afirma:

“Quando o relacionamento entre pai e filho está correto, a árvore tranqüila da força masculina que está dentro do pai protege e alimenta o frágil broto da masculinidade que está dentro do filho”.

 

Conclusão

 

Em 1 Pe 1.18-19 lemos que Jesus veio nos resgatar do nosso fútil procedimento que nossos pais nos legaram. A futilidade tem duas fontes:

 

(a)- Nossa própria futilidade, vazio e ilusão. Como nos equivocamos, gastamos nosso tempo e prioridade em coisas erradas... Como nos iludimos e somos fúteis em nossas atitudes. Jesus veio para nos resgatar desta tendência endógena de nossa alma pecaminosa;

 

(b)- Nossa futilidade na formação familiar, já que Cristo veio nos libertar do fútil procedimento “que nossos pais vos legaram”. Não apenas a nossa futilidade, mas aquela que nos vem como herança e condicionamentos sanguíneos. Quanta doença e dor existe nos lares. Nelson Rodrigues, ácido e crítico dramaturgo brasileiro afirmou que “família, na pior das hipóteses, só serve para dar emprego a psiquiatras e enriquecer a indústria farmacêutica”.

 

Jesus veio nos livrar destes condicionamentos e ambientações patológicos. Ele deseja tocar na gênese, no DNA de nossa existência, e nos trazer vida plena. A obra da cruz é redentiva. E um dos aspectos mais impactantes de uma vida regenerada, que já experimentou a cura por meio do sangue de Cristo, é o cumprimento da belíssima promessa de Ml 4.5-6: “Ele converterá o coração dos pais aos filhos e dos filhos aos pais, para que eu não venha e fira a terra com maldição.” Deus quer trazer benção, saúde emociona, cura, alegria, por meio da família.

 

Que nós, como pais, saibamos construir memórias abençoadoras em nossos filhos.

 

Que o Senhor faça isto hoje em nossa história!

 

 

 

 

 

 

sábado, 6 de agosto de 2022

Lc 7.48-50 Três grandes declarações de Deus sobre nós!

 




 

 

 

Três grandes declarações de Deus sobre nós!

Lc 7.48-50

 

 

 

Introdução

 

Situações inusitadas

A vida muitas vezes nos coloca diante de situações que não sabemos muito bem como reagir, que nunca julgávamos que veríamos ou passaríamos por elas. São cenas bizarras, inesperadas, fora do eixo da “normalidade”. 


Certa vez eu estava fazendo um casamento em Goiânia, e falei que marido e mulher deveriam sempre declarar um ao outro o seu amor, porque esta é uma frase de afirmação. Quando eu digo "eu amo você!", estou na verdade renovando votos, deixando claro onde se encontra o meu coração, e isto fortalece o relacionamento. Nesta hora, lá na frente, no altar, a mãe da noiva falou bem alto: "Estou casado com meu marido por quase trinta anos e ele nunca disse que me ama!" A situação ficou tensa. Então, para quebrar o gelo, eu disse àquele senhor em forma de brincadeira: "Se você não disser que ama a sua esposa, daqui para o final deste ceimonial, vou puxar sua orelha." Todo mundo riu, mas sem dúvida foi uma situação tensa e inusitada.


 É isto que vemos neste texto.

 

Primeiro, um fariseu convidar Jesus para sua casa

 

Primeiro, um fariseu convidar Jesus para um jantar. Esta certamente não é uma cena normal. Jesus se assenta com publicanos, conversa com samaritanos, toca em leprosos, dialoga com prostitutas, mas ser convidado por um fariseu é no mínimo inusitado.

 

Os fariseus se julgavam os guardiões do judaísmo e eram o grupo mais estrito na guarda da Lei. Rigorosos quanto aos costumes e tradições dos anciãos, prontos a lutar para garantir a ortodoxia da religião a qualquer custo. Jesus entra em cena neste universo religioso, questionando determinadas interpretações da lei (é bom observar que Jesus nunca rejeitou a lei, se você acha que ele não prestava atenção às leis, precisa reler o evangelho). Em Mt 5.17-18 ele diz claramente:

 

“Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.” Jesus não veio revogar a lei, mas para cumpri-la.

 

O que ele queria é que a Lei não ficasse no seu aspecto exterior, nem na superficialidade, mas que tivesse uma dimensão mais profunda. Por má interpretação da Lei, ela havia se transformado num instrumento de controle e opressão, e não de libertação. Basta considerar a questão do sábado para entender isto.

 

O próprio evangelista Lucas registra: “Sucedeu que, em outro sábado, entrou ele na sinagoga e ensinava. Ora, achava-se ali um homem cuja mão direita estava ressequida.
Os escribas e os fariseus observavam-no, procurando ver se ele faria uma cura no sábado, a fim de acharem de que o acusar
.” (Lc 6.6-7) Eles usam o sábado para acusar Jesus. Por isto ele  afirmou que “o homem não foi feito por causa do sábado, mas o sábado por causa do homem.” É importante colocar a Lei no seu prisma correto.

 

Então, o texto lido nos surpreende quando observamos que um fariseu convida Jesus para jantar. Esta não é uma cena comum. Pessoas moralistas tinham dificuldade com Jesus e se distanciavam, enquanto os pecadores se sentiam acolhidos e se aproximavam. Pessoas “boas “e “justas” encontram dificuldade porque por se considerarem justas e boas demais, nunca conseguem entender a graça e o perdão do evangelho, porque na sua compreensão, a ética que possuem é sua salvação. Quando muito, entendem que Jesus participa de seu resgate, mas não dependem, de forma tão intensa, da obra de Cristo. Eles serão salvos, em última instância, por seus méritos, esforços, boas obras, caridade e integridade.

 

Se forem perguntados sobre o caminho para os céus, 80% dirão por caridade,  generosidade e boas obras. No fundo, serão salvas por elas mesmas, não pelo que Cristo fez. Dessa forma colocam o foco neles mesmos, não em Cristo. Este foi o discurso do irmão mais velho na parábola o filho pródigo: “Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos.” (Lc 15.29) Sua moral era ilibada, e isto, na sua opinião,  lhe dava o direito de rejeitar o irmão e criticar o pai.

 

Por esta razão, não é comum fariseus convidarem Jesus para suas casas para jantar. O evangelho lhes é ofensivo. Eles não o querem assentado às suas mesas. Jesus deixou claro que: “Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes. Não vim chamar justos, e sim pecadores, ao arrependimento.” (Lc 5.31,32) Se você não se considera um pecador, você nunca sentirá qualquer necessidade do evangelho. Você estará sempre admirado consigo mesmo, nunca com o que Deus fez através de Cristo.

 

Segundo, o comportamento excêntrico de uma mulher

 

Além da inusitada situação do fariseu que convida Jesus para o jantar, temos também a situação de uma mulher excêntrica numa festa familiar.

 

A.    Ela entrou na casa de um fariseu de forma invasiva. Ou você acha que um fariseu convidaria uma prostituta para sua casa?

 

Numa situação natural, ele a teria expulsado, mas considerando o fato de que Jesus estava ali e vários outros convidados presentes, isto o inibiu de um comportamento mais radical

 

B.     O gesto da mulher é excêntrico. Ela derramou um vaso de alabastro com unguento e enxugava os pés de Jesus com seu cabelo e os beijava.

 

Uma cena forte! Estranha. Jesus tinha vindo da rua, ele usava sandálias abertas, estava com os pés sujos, mas aquela mulher não se incomoda e, curiosamente, Jesus também não. Vamos tentar entender a razão disto.

 

O fariseu em seu coração pensa o seguinte: “Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, porque é pecadora.” (Lc 7.39)

 

Mas o que passa no coração de Jesus?


Jesus acolhe a dor e humilhação daquela mulher. Ele dá espaço para que ela possa ser redimida. Ele permite que pessoas quebradas sejam restauradas e não a interrompe. Seu gesto é surpreendente. Ele deixa que ela derrame seu coração e lágrimas, trata da sua dor com respeito. Não esmaga a cana quebrada.

 

Como precisamos de espaço para sermos autênticos, aceitos acolhidos e amados. Para explicar isto ao fariseu, Jesus conta uma parábola:

 

Dirigiu-se Jesus ao fariseu e lhe disse: “Simão, uma coisa tenho a dizer-te. Ele respondeu: Dize-a, Mestre. Certo credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários, e o outro, cinquenta. Não tendo nenhum dos dois com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Qual deles, portanto, o amará mais? Respondeu-lhe Simão: Suponho que aquele a quem mais perdoou. Replicou-lhe: Julgaste bem.” (Lc 7.41-42)

 

Sabe por que pessoas “boas” tem dificuldade para adorar? Ironicamente é porque elas são “boas”. Pessoas boas geralmente não possuem grande admiração por Cristo, mas estão muito admiradas consigo mesmas. E por isto não sabem adorar ou não se preocupam em adorar a Deus. Podem até convidar Jesus para um jantar, mas não possuem capacidade de se derramar e ter intimidade com Deus.

 

Por não ter admiração por Jesus, Simão não se preocupou com regras simples da hospitalidade judaica, citadas aqui por Jesus.

 

-Ele não lhe lavou os pés. Ora, quando Jesus se assenta àquela mesa, não podemos imaginar que as mesas de então sejam parecidas com as mesas de nossos dias. As pessoas ficavam assentadas e os pés ficavam para baixo. Na verdade, as pessoas comiam “deitadas” sobre poltronas e tapetes. Por isto, antes de se assentar à mesa, geralmente se lavava os pés.

 

-Não lhe deu um beijo. A saudação básica do judeu era um beijo no anfitrião. Era como estender a mão e cumprimentar. Por alguma razão insólita e deselegante, ele não fez aquilo que era elementar.

 

-Não ungiu sua cabeça. Este era um ato de acolhimento e afetividade, muito comum entre amigos que chegavam à casa para fazer uma visita.

 

Todas estas três regras básicas foram quebradas, e isto demonstra que apesar dele ter convidado Jesus para sua casa, ele se encontrava desconfortável. Simão não fez o básico.

 

Em contrapartida, a mulher pecadora, se torna extravagante no seu gesto. Simão tinha curiosidade sobre Jesus, mas não demonstra admiração, ao passo que aquela mulher demonstra louvor e gratidão. Esta mulher tem coração adorador, quebrantada, com admiração por Cristo, o que a conduz ao louvor, à gratidão. Sem admiração não há louvor.

 

Tenho pensado muito na questão da admiração, ao fazer uma releitura dos evangelhos nestes últimos dias. Veja quantas vezes as pessoas que conviveram com Cristo demonstraram admiração:

 

- Lc 5.26: “Todos ficaram atônitos.”

-Lc 5.8-9: “Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus.”

-Lc 8.56: A ressurreição da filha de Jairo: “Seus pais ficaram admirados.”

-Lc 8.25: Temor e admiração quando Jesus acalma a tempestade.

 

Tenho a impressão de que nos falta admiração e encantamento por Cristo em nossas vidas e nas nossas igrejas, e isto esta mulher tinha de sobra.

 

Você está encantado por Jesus?

O fariseu recebeu Jesus, mas não estava admirado por Cristo. Duas características se tornam presentes em pessoas que andam com Cristo, mas não estão admiradas.

 

A)- Suspeita – Simão fica de longe! Não se aproxima, não cumprimenta, não lava os pés, não o unge com óleo. Simão é distante, não se rende. Ele fica perto o suficiente para não se envolver. Parece aquela frase de sogra que diz: “Sogra não pode viver tão perto que vá de chinelos, nem tão longe que vá de malas.” Muita gente age assim com Jesus. Quer ficar observando e analisando, mas não quer tocar nem se deixar tocar. São curiosos acerca das coisas espirituais, mas não se rendem a elas.

 

B)- Julgamento - Esta segunda atitude é ainda mais grave. No primeiro incidente ele já julga Jesus. “Se fosse profeta saberia que ela é pecadora.” Tudo que é relacionado às coisas de Deus passa por crítica e julgamento. Ficam analisando a igreja, as coisas que acontecem, as falhas de alguém, a atitude de um pastor, mas nunca se encantam com Cristo e com aquilo que ele faz.

 

Três maravilhosas declarações de Deus acerca de nós

 

Diante deste quadro, o texto conclui com três maravilhosas declarações de Deus acerca daquela mulher e que são maravilhosas quando as ouvimos de Deus. Eu espero que estas três afirmações chegue ao seu coração de forma profunda e impactante.

 

Primeira: Perdoados são os teus pecados (Lc 7.48)

 

Que grande declaração de Deus a respeito desta mulher.

 

A alma culpada vive se autocondenando, e a culpa é um poço sem fundo, não tem limites. Jay Adams afirma que 50% das pessoas que hoje vivem em hospitais psiquiátricos seriam curadas, se a questão da culpa saísse de seus ombros.

 

A culpa nos fragiliza emocionalmente, atinge diretamente nossa saúde, nos debilita espiritualmente.

 

A Bíblia afirma: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.” (1 Jo 1.9). Não importa o tamanho de seu pecado, nem as acusações que pairam sobre sua vida. Ouvir a declaração de perdão é libertador. Você já ouviu a declaração de Cristo sobre sua vida? “Perdoados são os teus pecados?” Se já ouviu você vive em liberdade. Não mais condenação, nem acusação. Se você ainda não ouviu é porque você ainda não entendeu o evangelho.

 

O evangelho é basicamente sobre redenção. Um Deus que resolve perdoar, absolver, restaurar o caído.  Uma das grandes declarações do evangelho encontra-se na carta aos Romanos. “Agora, pois, nenhuma condenação há para aqueles que estão em Cristo Jesus.” (Rm 8.1). Nenhuma!!!

 

Segunda: A tua fé te salvou! (LC 7.50)

 

O que Jesus queria dizer com esta frase? Salvou de que?

 

Certamente ela foi salva da culpa e da condenação. Ela vivia condenada por si mesma, condenada pela sociedade (e aparentemente a sociedade tinha seus motivos, porque ela não tinha boa fama na cidade), mas a coisa mais importante: Ela havia sido salva da condenação de seus pecados.

 

Quanto à autocondenação, gostaria de dizer o seguinte. Tenho visto muitas pessoas severas demais consigo mesmas, vivendo sempre culpadas, sem encontrar alívio no seu autojulgamento. Talvez fosse o caso desta mulher. Ela tinha motivos para viver se culpando, sofrendo a penalidade de sua consciência acusadora, da culpa voraz. Como ela é salva? Encontrando aceitação e perdão aos pés de Cristo. Ela não pede a Jesus cura física, nem encontrava-se endemoninhada. Na verdade, ela não pede nada a Jesus, mas Jesus sabia da sua vergonha e dor. Ele sabia que ela precisava de perdão e restauração. Por isto faz a declaração do perdão de seus pecados. Ela não mais viveria baseada na sua culpa real (ou imaginária), mas na declaração da libertação recebida. Sua fé em Cristo a salvou da culpa e condenação.

 

Sua fé em Cristo tem trazido salvação a você? Libertação da culpa e do medo? A fé em Cristo traz os benefícios de Cristo para nossa vida. Por isto a fé traz graça, alegria e renovação aos nossos corações. Pela fé recebemos os benefícios da cruz, pela fé somos perdoados de nossos pecados, pela fé somos libertos da condenação do inferno.

 

Terceira: “Vai-te em paz!” (Lc 7.50)

 

Ela ouviu a declaração de perdão, recebeu a libertação por meio da fé que ouvindo a afirmação de Cristo a acolheu verdadeiramente no coração. Ela se sentiu curada. Estes dois passos iniciais são essenciais para seguir a vida em paz.

 

Sem ouvir, ou ouvindo, mas não recebendo o perdão, não haverá paz. Eventualmente não ouvimos e eventualmente não acolhemos o perdão – se um destes passos não for assimilado, não haverá paz. Você só terá paz recebendo a mensagem do perdão.

 

Eu gosto muito do conceito da confissão auricular da Igreja Católica, quando o fiel procura o padre para confessar seu pecado, e falar daquilo que está impedindo o avanço de sua fé, embora em não creia em alguns de seus fundamentos:

 

a)- A Igreja Católica crê que a confissão é um sacramento. Eu não defendo esta ideia.

b)- A Igreja Católica crê que o padre pode absolver a pessoa. Eu creio que o perdão de pecados não é uma perspectiva clerical, mas divina. Eu confesso, admito que errei, abandono o pecado e recebo o perdão de Deus. Sem mediação sacerdotal.

c)- A Igreja Católica dá uma série de exercícios espirituais para a pessoa alcançar o perdão, desde rezar alguns “pais-nossos” e “ave-marias”, até participar das missas, ou fazer alguma doação. Mas o perdão de Deus não está condicionado a nada que fazemos. Perdão é ato unilateral de Deus, e ele perdoa livre, voluntária e plenamente.

 

Feito estas ressalvas, reafirmo que gosto da ideia da confissão auricular pelo seguinte: é bom ouvir que fomos perdoados. Que sensação boa deve ser ouvir de seu padre, em quem você confia a declaração de liberdade: “Eu te absolvo em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo.“ Muitas vezes tenho feito isto a pessoas que se sentem culpadas, e que arrependidas ainda não encontram a paz para seguir suas vidas com liberdade. Eu lhes declaro: “Irmão, Jesus já te perdoou, vai-te em paz!”

 

Mas a maior benção acerca do perdão é ouvir do próprio Deus: “Filho, estão perdoados os teus pecados!” Jesus disse isto a muitas pessoas, para espanto e escândalo daqueles que estavam ao seu lado. Esta compreensão do perdão, dado por meio do sangue de Cristo nos dá paz para seguir adiante.

 

Viva sem culpa, sem condenação, sem acusação. Viva em liberdade. Viva olhando para a cruz de Cristo. Muitas vezes você tropeçará, trairá o seu Mestre, mas volte para Deus em contrição e perdão. Viva debaixo do perdão para viver debaixo da paz.

 

Foi isso que Jesus disse a esta mulher: “Vai-te em paz!”

 

Muitas pessoas estão precisando ouvir esta declaração tríplice:

“Estão perdoados os teus pecados!

“A tua fé te salvou!”

“Vai-te em paz!”

 

Estas são as três grandes declarações que precisamos ouvir de Deus.