sábado, 13 de agosto de 2022

Pv 11.29; 13.22 Pais construtores de memórias

 




 

 

 

Introdução

 

Estes textos falam de comportamentos paternos e como isto afeta substancialmente filhos e netos. Um é negativo, o outro positivo.

 

O negativo diz:

O que perturba a sua casa herda o vento.” (Pv 11.29)

 

“Vento” não é uma boa herança. Sabemos de grandes tragédias que o vento pode trazer sobre uma região. Pensem no furacão Katrina com seu efeito devastador em New Orleans em Agosto de 2005. Uma tempestade tropical que alcançou a categoria 3 na terra e categoria 5 no mar, com ventos de 280 km/h e causaram grandes prejuízos na região litorânea dos EUA, de forma mais direta na região metropolitana de Nova Orleans. Mais de um milhão de pessoas foram evacuadas, causou em torno de 2 bilhões de dólares de prejuízo e 1836 mortes diretas.

 

Aristeu Pires Jr., tem se destacado com o design belíssimo de moveis que ele em criado e construído. Sua fábrica de móveis está em Canela, RS. Alguns anos ela foi completamente destruída num vendaval que não demorou mais que 5 minutos, e cujo epicentro, com ventos de até 255 km por hora, foi exatamente sobre sua empresa arrasando-a completamente. Pedaços de madeira foram encontrados a 800 Mts de distância, e a porta de ferro foi arremessada a quase 100 metros. Os eucaliptos ao redor foram arrancados como pequenas ervas daninhas.

 

Colheita de vento é prenúncio de desastre. É isto que acontece ao homem que perturba a sua casa.

 

O segundo versículo fala de coisas positivas:

O homem de bem deixa herança aos filhos de seus filhos, mas a riqueza do pecador é depositada para o justo.” (Pv 13.22). 

 

O que ele faz, não tem efeito apenas na sua descendência imediata, mas abençoa futuras gerações, chegando aos netos. O Sl 78 faz referência até aos “filhos que ainda hão de nascer”, uma geração que nem mesmo nós conheceremos, mas que pode ser abençoada através de comportamentos abençoadores. Pais abençoados deixam um legado positivo para as futuras gerações.

 

Meus pais já estão idosos e algum tempo atrás minha mãe chamou todos os seus filhos para entregar alguns imóveis que eles construíram. Eles dividiram dividiu tudo em partes iguais com todos os irmãos, sem nenhuma desavença ou conflito. Eu sei que muito desta herança, abençoará meus filhos e netos. Muitos dos bens que possuímos, conforto e patrimônio que temos, estão eventualmente relacionados à herança que recebemos dos pais ou dos avós. A Bíblia diz que o homem de bens deixa herança para filhos e filhos. Alguns homens só deixam dívidas, amarguras, memórias desastrosas.

 

Mas o grande legado que podemos receber não é exatamente de bens e herança. Mas da integridade, caráter, amizade. Existem legados maiores que bens e dinheiro.

 

Paul Meyers afirma que um bom legado: possui as seguintes características:

            (a) – deve ser baseado em princípios divinos;

            (b)- produzir resultados duradouros;

            (c)- ser aplicável a todos.

 

É exatamente desta bendita herança que o texto acima está falando.

 

Nas minhas observações e ouvindo pessoas, tenho visto dois aspectos que são extremamente relevantes para a formação das emoções humanas:

 

Primeiro,

o pai é um construtor de memórias. Ele está sempre imprimindo nos filhos, lembranças e percepções que se tornam a base da formação das emoções. Estas memórias podem ser negativas ou positivas;

 

Segundo, A figura paterna, quando é equilibrada, sensata, íntegra, é um dos elementos mais terapêuticos para as próximas gerações. Traz segurança, saúde emocional e confiança nos filhos; ao mesmo tempo, o pai é um dos maiores fatores desagregadores e formadores do núcleo neurótico da personalidade humana.  Pais alcoólatras, distantes, passivos, indiferentes, agressivos, infiéis à sua esposa, drogados ou desligados causam danos quase irreparáveis nas emoções, enquanto pais que transmitem confiança, sensibilidade e cuidado real, são as maiores fontes de graça na alma de um filho. Um versículo bíblico traduzido numa versão moderna diz: “Como são felizes os filhos de um pai honesto e direito” (Pv 20.7 NTLH).

 

Pensemos na construção de boas memórias

 

Podemos criar lembranças duradouras e saudáveis, abençoando as próximas gerações com exemplos, atitudes e compromisso com a fé ou podemos perturbar nossa casa trazendo graves transtornos para filhos e netos.

 

Homens deveriam sempre pedir a Deus a graça de serem construtores de memórias saudáveis. Terapeutas analisam muito hoje as “veredas antigas”, a “cura das memórias”, porque boa parte de nosso desajuste atual tem a ver com abuso, negligência e lutos existenciais ou reais, que causam danos irreparáveis à psiquê. Será que temos deixado memórias de alegria, lembranças saudáveis em nossos filhos?

 

Todas nossas experiências, boas ou más, são acumuladas nos arquivos da existência. Algumas experiências nunca são esquecidas, muitas outras serão sublimadas e aparentemente esquecidas, embora, essencialmente, possam ser ainda mais danosas, porque sequer serão lembradas de forma consciente, apesar de ainda continuarem a afetar decisões, humor e atitudes. Não recordar o fato e episódios não significa cura. Muito mais saudável seria se conseguíssemos lembrar do evento que nos machucou, sem as emoções associadas a ele. Esta é uma boa definição de perdão. Memórias podem ser amargas e doloridas. Muitos hoje gastam fortunas em terapias, para se livrar dos fantasmas do passado e feridas abertas por descaso, indiferença, abandono psicológico, palavras descaridosas e abusos. Por esta razão, precisamos ser agentes de memórias geradores de saúde e graça em nossos filhos.

 

Certo homem me procurou para relatar seu sofrimento. Aos quatro anos de idade, estava envolvido com outro garotinho nestas coisas de curiosidade sexual, quando foi surpreendido pelo pai que o repreendeu severamente. Todas as vezes que seu pai ia jogar futebol, levava-o junto, mas neste dia não o fez dizendo-lhe que ele era uma mocinha, e que por isto não ia com ele. Este homem hoje, além de uma baita crise de identidade sexual, lembra deste evento com muita dor.

 

Temos o desafio de não apenas sermos lembrados como mantenedores e provedores do lar ou disciplinadores dos filhos, mas como quem construiu memórias agradáveis. Esta é a desafiadora tarefa de levar os filhos a terem saudade de eventos engraçados e significativos na vivência familiar.

 

Certo pai resolveu fazer isto de forma criativa: Planejou uma viagem com seus filhos, fez todas as reservas de hotéis, organizou o trajeto que seguiriam de carro, as estradas que deveriam pegar, onde deveriam almoçar, mas disse aos seus filhos que infelizmente não poderia ir por causa do trabalho. Então, assim que sua esposa saiu com eles num carro cheio de bagagens, ele saiu com um amigo em outro carro e adiantou-se ficando esperando no primeiro restaurante onde deveriam almoçar. Quando sua família chegou ao local, ele já estava assentado à mesa, e assim que seus filhos chegaram, o menor, de 7 anos disse: “Aquele homem parece o PAPAI!!!”

Quando um amigo lhe perguntou por fizera isto ele respondeu que gostaria de ser lembrado não apenas pelas broncas que dava e pelas contas que pagava, mas também pelas surpresas que promovia.

 

Parte das boas lembranças que tive como garoto tem a ver com imagens do passado ao lado da família. Numa delas, uma viagem numa Brasília seminova que meu pai havia adquirido, saímos de Gurupí-TO, num percurso de mais de 2 mil km, até o leste de Minas, com 5 filhos dentro de um carro para visitar meus avós. Dentro do carro, comíamos farofa e ouvíamos músicas gravadas em um tape, cantando numa língua que não compreendíamos, as estrofes de Elvis Presley. Ao invés de dizer “It´s now or never”, dizíamos, “It´s maionese”, e tudo estava certo! Lembro-me ainda dos rústicos acampamentos que fazíamos à beira do Rio Formoso, em Tocantins, onde passávamos dias com muita simplicidade e alegria.

 

Quero encorajar os pais a serem produtores de memórias agradáveis, que tragam saúde emocional e mental. Memórias tem o poder de adoecer, mas são capazes também de gerar cura, construir autoestima e valorizar a existência. Memórias positivas se constroem no ambiente familiar, onde os pais são promotores de inesquecíveis e terapêuticas lembranças. Como Pai, uma pergunta que fica sempre em minha mente é a seguinte: O que os nossos filhos e netos, isto é, as próximas gerações, lembrarão a meu respeito?

 

Vamos ao segundo ponto:

Pai como fator desagregador e formador do núcleo neurótico da personalidade humana.

 

Carl Farley afirmou acertadamente que "um garoto é a única coisa que Deus pode usar para fazer um homem". Portanto, precisamos cuidar dos nossos filhos de forma muito especial. Eles são a matéria prima de Deus! Através deles Deus quer forjar a humanidade. Se alguma coisa pode trazer esperança de uma sociedade minimamente civilizada no futuro, será por meio de famílias com pais responsáveis.

 

Lamentavelmente os filhos encontram- se desorientados quanto à sua masculinidade e paternidade. Os modelos familiares encontram- se fragmentados na pós-modernidade, e os pais incapazes de conciliar as demandas sociais e profissionais, com a convivência familiar. O resultado é que os filhos sofrem da ausência física e emocional.

 

George Vailant entrevistou vários homens de negócios, cientistas e professores na meia idade, o resultado foi que noventa e cinco por cento deles afirmaram que seus pais ou foram exemplos negativos na infância ou mencionados como pessoas que não exerceram qualquer influência positiva em suas vidas. Esta pesquisa é assustadora.

 

Jack Sternbach, fez uma pesquisa com homens na fase adulta que assim relataram seus relacionamentos com os pais:

  • 23% eram fisicamente ausentes;  
  • 29% sentiram ausência psicológica dos pais, muito ocupados, desinteressados ou passivos em casa;
  • 18% sentiram a ausência psicológica dos pais que foram muito austeros ou moralistas e sem envolvimento emocional com suas vidas;
  • 15% descreveram seus pais como pessoas ameaçadoras e descontroladas.
  • Somente 15% consideraram seus pais envolvidos em suas vidas.

 

Se queremos criar famílias fortes e emocionalmente estáveis, precisamos cuidar da geração presente. Será uma longa jornada para mudarmos os paradigmas equivocados e construirmos um novo modelo. A tarefa é árdua, porque temos que vencer nossos próprios limites; e longa, já que não se trata de um projeto rápido. Se começarmos agora, só veremos os efeitos desta mudança daqui 20 anos, mas é preciso salvar os filhos.

 

Hoje à noite, um número suficiente de adolescentes capazes de encher os estádios do Mineirão, Beira Rio, Maracanã e Morumbi se prostituirão para sustentar o vício das drogas; um milhão de adolescentes engravidarão até o final do ano, sendo que metade praticará aborto; 60% dos estudantes até o último ano do ensino médio já terão provado ou serão dependentes de drogas. 95% bebem bebidas alcoólicas regularmente e apenas nos EUA, a cada 78 segundos, um adolescente tenta suicídio. Com a estatística aumentando cada vez mais.

 

Precisamos salvar nossos filhos para que as famílias e a nossa civilização sejam salvas.
A mudança pode começar com simples gestos.

 

  • Quantos pais afirmam aos filhos: “eu amo você?”
  • Quantos pais já declararam alguma vez: "estou orgulhoso de você" ou "você fez muito bem"? Quantos pais estão jogando vídeo games com seus filhos ou estão interessados em participar de seus eventos atléticos?
  • Quantos pais abraçam filhos e filhas e contam histórias e geram narrativas levando-os para pescar, para uma tarefa comum de lazer ou para a igreja aos domingos?

 

Se eu pudesse dar uma única receita para a sobrevivência de nosso país eu esta seria a restauração da família. Se me perguntarem como isto pode ser feito eu simplificaria: Salvem os garotos! Eles serão os futuros líderes das novas famílias que construirão o futuro.

 

John Eldridge, no seu marcante livro “Coração selvagem”, sobre masculinidade afirma:

 

“O maior anseio do garoto é ouvir do seu pai: Estou orgulhoso de você! Eu amo você! Todo filho pergunta subliminarmente: “Tenho o que é necessário? Eu sou realmente um homem, papai? Terei tudo o que é necessário... no momento certo?”

 

Leanne Payne afirma:

“Quando o relacionamento entre pai e filho está correto, a árvore tranqüila da força masculina que está dentro do pai protege e alimenta o frágil broto da masculinidade que está dentro do filho”.

 

Conclusão

 

Em 1 Pe 1.18-19 lemos que Jesus veio nos resgatar do nosso fútil procedimento que nossos pais nos legaram. A futilidade tem duas fontes:

 

(a)- Nossa própria futilidade, vazio e ilusão. Como nos equivocamos, gastamos nosso tempo e prioridade em coisas erradas... Como nos iludimos e somos fúteis em nossas atitudes. Jesus veio para nos resgatar desta tendência endógena de nossa alma pecaminosa;

 

(b)- Nossa futilidade na formação familiar, já que Cristo veio nos libertar do fútil procedimento “que nossos pais vos legaram”. Não apenas a nossa futilidade, mas aquela que nos vem como herança e condicionamentos sanguíneos. Quanta doença e dor existe nos lares. Nelson Rodrigues, ácido e crítico dramaturgo brasileiro afirmou que “família, na pior das hipóteses, só serve para dar emprego a psiquiatras e enriquecer a indústria farmacêutica”.

 

Jesus veio nos livrar destes condicionamentos e ambientações patológicos. Ele deseja tocar na gênese, no DNA de nossa existência, e nos trazer vida plena. A obra da cruz é redentiva. E um dos aspectos mais impactantes de uma vida regenerada, que já experimentou a cura por meio do sangue de Cristo, é o cumprimento da belíssima promessa de Ml 4.5-6: “Ele converterá o coração dos pais aos filhos e dos filhos aos pais, para que eu não venha e fira a terra com maldição.” Deus quer trazer benção, saúde emociona, cura, alegria, por meio da família.

 

Que nós, como pais, saibamos construir memórias abençoadoras em nossos filhos.

 

Que o Senhor faça isto hoje em nossa história!

 

 

 

 

 

 

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