Natal é uma das maiores festas do cristianismo e não poderia ser diferente, afinal de contas, ela nos fala da grande surpresa para a humanidade quando o Deus criador revelou seu plano outrora oculto em Cristo, resolveu se tornar gente e participar da história da humanidade, se tornando homem.
A forma como Deus faz isto surpreende as expectativas e prognósticos. Profetas e anjos quiseram antecipar o que Deus estava planejando, e não puderam. (1 Pe 1.10-12). Os demônios também foram pegos de surpresa com o plano de Deus. A pergunta dos demônios que é feita a Jesus revela o quanto as forças do mal estavam assustadas. “Viestes aqui para atormentar-nos antes do tempo?” (Mt 8.29). Prestem atenção na expressão: “antes do tempo.” Os demônios sabem do juízo final, mas a encarnação divina era fato novo, e vem antes do tempo que eles supunham que seria o julgamento. A vinda de Cristo, de certa forma, antecipa o juízo sobre as trevas. Isso é surpreendente para os demônios.
Isto também surpreende toda cosmovisão da cultura helênica, que acreditava que o corpo era uma prisão — então, como o Deus supremo resolve cometeria tamanha vileza decidindo se "aprisionar" ao corpo?
É surpreendente também para os judeus, que tinham uma compreensão de um Deus Poderoso, mas distante. Eles precisam agora subverter toda compreensão teológica para assimilar o escândalo da encarnação. A mensagem do Emanuel, “Deus entre nós”, é radical demais para a visão hebraica.
Por tudo isto, o Natal se revela como algo majestoso, sublime e belo. Sua beleza não está nas luzes penduradas em arvores artificiais, nos enfeites, presentes ou encontro de família. Tudo isso pode ser muito bonito, mas esse não é o ponto central e não é aqui que reside a beleza do Natal. A beleza do Natal está no fato de que Deus comunica o seu grande interesse pela raça humana e ele mesmo resolve se encarnar. Por isso o Natal é tão surpreendente.
Ele é surpreendente para os pastores, para os magos, para Herodes. Ele é surpreendente para Maria, para José, para Simeão e Ana, mas o Natal também revela a beleza da obra de Deus e nós precisamos estudar o Natal. O Natal também deve sempre nos surpreender diante da verdade maravilhosa de que “O Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos sua glória, como do unigênito do Pai” (Jo 1.14) Nós precisamos entender o seu significado para nos encantarmos com sua mais profunda beleza, para resgatarmos a capacidade de admirar a beleza deste Deus que adoramos. O Verbo da vida. Jesus, o Filho de Deus, a terceira pessoa da Trindade.
O Relato de Mateus
Gosto muito da forma como o evangelista Mateus introduz o tema da encarnação. “Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim.” (Mt 1.18)
Matheus estava escrevendo para os seus conterrâneos, os judeus, esse evangelho é visivelmente destinado aos estudiosos do Antigo Testamento, para provar que Jesus era o Messias, que todas as profecias estavam se cumprindo agora nesse carpinteiro que nasceu em Belém, que morou em Nazaré, em Cafarnaum. Então nesse carpinteiro residia de fato a grande promessa de Deus. Então Matheus agora, de uma forma quase que coloquial, tenta dizer assim, olha, o nascimento de Jesus foi assim, foi dessa forma que aconteceu. Quero contar para vocês como tudo se deu. Então nós precisamos descobrir e ouvir com atenção o relato que o evangelista Matheus vai fazer agora.
1. Natal é marcado por controvérsias.
Vocês acham que a história do Natal é tranquila ou, para muitos, será que não se parece a história da Bíblia, que está no mesmo nível das lendas?
Mateus faz questão de relatar como o anúncio do Natal foi difícil de ser assimilado. A mensagem do anjo a Maria suscita várias questões complexas. Maria “perturbou-se muito” (Lc 1.29) Ela se submete de forma obediente, mas fica visivelmente perturbada. O enredo era “confuso”, e ela sabe disto. “Como será isto, pois não tenho relação com homem algum” (Lc 1.34).
Não somente Maria teve que lidar com suas perguntas, mas quando José conversa com Maria, ele não fica muito convencido. Ela não duvidava essencialmente de Maria, mas seu relato era fora do convencional. Jesus passa por um tempo de grandes questionamentos interiores e vai dormir perturbado. O que fazer? Ele decidiu “deixá-la secretamente.” (Mt 1.19) A notícia não era assim tão simples de assimilar: Ele terá que lidar com o drama dos familiares, o drama dos amigos e dos habitantes da pequena vila onde moravam. Como eles receberiam a notícia? Se o próprio José ficou desconfiado, e as outras pessoas, o que diriam?
José opta pelo caminho mais razoável, ele não iria embarcar na conversa de Maria.
Existe uma série na televisão que foi ao ar entre 1987 e 1991, cujo título era 30-something. O enredo gira em torno de um grupo de Baby Boomers, nos seus 30 anos e venceu o prêmio M.I. de melhor série dramática, Globo de Ouro, em 1988. Esta série relata as desventuras de um grupo de jovens adultos vivendo os dilemas dos seus 30 anos. Nessa série há um episódio no qual Hope, que é uma das personagens, é uma cristã casada com o marido judeu, Michael, e o questiona sobre sua crença no Hannukah hebraico: “Você realmente crê que um grupo de judeus conseguiu enfrentar um exército usando apenas lâmpadas cujo azeite miraculosamente não acabava?” e Michael explodiu dizendo: “E vocês, cristãos, acham mesmo que um anjo apareceu para uma adolescente que engravidou sem ter sexo, e depois viajou nos lombos de um animal até Belém, cerca de 130 quilômetros, e deu a luz a um menino dentro de um curral que se tornaria o salvador do mundo?”
O Natal é marcado por grandes controvérsias.
2. O Natal é marcado por sobrenaturalidade
A segunda beleza que nós podemos encontrar no Natal é que ele é marcado por sobrenaturalidade. Crer no Natal de acordo com a narrativa bíblica só é possível quando não temos dificuldade de crer no Deus que é todo-poderoso, que age como quer, quando quem quer e executa os seus planos de acordo com suas promessas. Maria tem que aceitar o sobrenatural, José tem que aceitar o sobrenatural e nós precisamos aceitar o sobrenatural. Maria recebe o anúncio e se assusta. Diante da pergunta de Maria, o anjo responde: “Para Deus não haverá impossível em todas as suas promessas.” (Lc 1. 35- 37)
Não há como crer no Natal sem crer no sobrenatural, em um evento divino, profundo. Se você não crê na realidade de um Deus que se move na história, não adentrará o mistério da natividade. o Natal precisa ser colocado na perspectiva da sobrenaturalidade, esta é a fé bíblica, de um Deus que intervém na história, participa e se envolve de forma sobrenatural. A compreensão ortodoxa da Bíblia nos coloca numa perspectiva de transcendência. O Natal lida com o maior de todos todas as controvérsias: O Deus Eterno decidiu se tornar homem...
A declaração que o anjo faz a Maria é a mesma declaração que o Senhor fez a Sara quando afirmou que ela teria um filho. Sara riu no seu íntimo, afinal de contas, a afirmação divina não fazia sentido. Deus censurou sua incredulidade dizendo: “Acaso haverá impossíveis para Deus?” (Gn 18.14) A mesma pergunta também surge em outras partes da Bíblia: “Acaso existe alguma coisa demasiadamente difícil para Deus?”
Sara teve que crer no sobrenatural, Maria creu no sobrenatural, José teve que crer no sobrenatural. Quando José desperta do sono ele não tinha mais nenhuma dúvida ou crise, nenhuma pergunta a mais. Ele faz o que o anjo do Senhor lhe havia ordenado. (Mt 1.23)
Crer no Natal na perspectiva bíblica só é possível quando somos capazes de entender que existe um Deus que intervém na história.
Pode ser que você esteja vivendo um momento de sua vida que algo precisa acontecer, algo sobrenatural. O Natal nos lembra dessa dimensão transcendente da história, de um Deus que age em nosso meio.
3. Natal é um evento profético. “Ora tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito pelo Senhor por intermédio do profeta.” (Mt 1.22)
O Nascimento de Jesus está profundamente envolvido nas afirmações dos profetas que se deram muitos anos antes. Algumas profecias sobre o nascimento de Jesus são bem específicas. Numa delas, o profeta diz que o Messias nasceria de uma virgem.
“Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel.” (Is 7.14)
É uma profecia muito específica, não acham? Como uma criança pode ser gerada sem intercurso sexual, sem o encontro de um espermatozoide com um óvulo? Quando não havia fertilização in vitro nem inseminação artificial?
Outra profecia bem específica é que o Messias nasceria em Belém, uma cidade sem expressão em Judá.
“Tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade.” (Mq 5.2) O profeta reconhece que Belém não tinha relevância alguma, uma cidade humilde, pequena demais, sem relevância, mas dali nasceria o Messias. É uma profecia muito precisa.
Natal acontece no meio desses eventos proféticos. Existem cerca de seiscentas profecias do Antigo Testamento que falam do Messias e que se cumprem Jesus. Quando o anjo comunica a José que ele deveria receber Maria como esposa Mateus faz questão de citar o texto de Isaias que fala do nascimento do Messias seria da concepção de uma virgem.
O que nos ensina o cumprimento profético? Ele nos revela que que Deus está conduzindo a história de acordo com os seus propósitos e planos e nada pode intervir ou impedir que as promessas de Deus se cumpram. “Os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis.” (Rm 11.39) As profecias cumpridas, autenticam as Escrituras Sagradas. Natal é um grande evento profético. Compreender a dimensão profética nos faz refletir sobre o fato de que não caminhamos para o caos, que a história cumpre um propósito, uma direção e um governo divino. Mesmo quando o caos impera, ele cumpre um plano para a ordem que ele mesmo quer dar. A beleza dessas profecias não está apenas na previsão histórica. Deus está preparando a história. A história segue um plano divino.
4. Natal é marcado por grandes promessas: Em quarto lugar, a beleza do Natal se encontra no fato de que o Natal é marcado por grandes promessas. Tais promessas ser aferidas a partir dos nomes desta criança que nasceria.
- Jesus (Yeshua): O nome Jesus vem do hebraico Yeshua, “Deus é o nosso salvador.” O texto diz: “Ela dará a luz um filho e lhe porá o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.”(Mt 1.21)
O Natal anuncia um Deus que salva, e isto já nos revela que os seres humanos são incapazes de salvar a si mesmo. Se preciso de um salvador é porque não sou capaz de salvar a mim mesmo. Jesus, o salvador, nos salvar de nós mesmos, do nosso narcisismo e das decisões que geraram danos, da condenação eterna que nossos pecados trazem, da opressão do diabo. Jesus nos livra de um "currículo errado", pagando a nossa conta e nos resgatando das trevas do pecado. Natal vem nos comunicar o fato de que nós precisamos de salvação fora de nós.
De que que Jesus Cristo veio nos salvar? O texto diz: “Ele salvará o povo dos seus pecados.” (Mt 1,21) Ele vem para salvar de nós mesmos, do estrago e dano que nossas decisões e atitudes. Eu sou livre e perdoado diante de Deus. O nome bíblico de Jesus se conecta à sua missão. Jesus veio nos salvar dos nossos pecados.
- Emanuel: O segundo nome significa "Deus conosco". “Ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco).” (Mt 1.21)
O Deus das Escrituras se revela em Cristo, demonstrando que não é um Deus distante, mas um Deus que se conecta conosco, veste pele humana e anda pelas estradas da Galileia. Por ter experimentado a humanidade, Ele sabe se compadecer das nossas fraquezas. Jesus, a expressão exata do ser de Deus, em quem habita toda a plenitude de Deus, o Criador do universo, que fez todas as coisas pela palavra do seu poder, O Deus homem se encarna, veste uma pele humana. Deus, na sua glória inefável, decide morar conosco.
Em João 17 .5, Jesus diz: “Pai, glorifica-me contigo mesmo, com a mesma glória que eu tive junto de ti antes que houvesse o mundo. Jesus aponta aqui para a sua eternidade.” Jesus fala da sua glória eterna junto ao Pai. Esse Jesus é o Deus glorioso, o grande Eu Sou, que se manifesta na pele de uma criança frágil que precisa ser cuidado. Como diz Karl Barth: “O inteiramente outro se fez inteiramente nosso irmão.”
Na primeira carta de João. O apóstolo do amor, expressa sua surpresa quando relata a divindade de Cristo. João andou com Jesus, comeu com Jesus, caminhou ao seu lado, viu os milagres. Mas agora ao escrever olhando em retrospectiva da história, ele se surpreende pela percepção que agora tem da beleza e da grandeza de Cristo, o que provavelmente não havia percebido em toda sua riqueza durante o ministério terreno de Cristo. Apesar da sua admiração e de ser um discípulo fiel, só agora João, depois de ter testemunhado a ressureição de Cristo e sua ascensão em glória para o céu consegue perceber e descrever toda majestade de Cristo:
“O que era desde o princípio o que temos ouvido o que temos visto com os nossos próprios olhos o que contemplamos as nossas mãos a poupar o com respeito ao verbo da vida e a vida se manifestou e nós a temos visto e delatamos testemunho e vou lá anunciamos a vida eterna a qual estava com o pai nos foi manifestada. O que temos visto e ouvido, anunciamos também a vós outros, para que vós igualmente mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo.” (Jo 1.1-3)
A Resposta que o Natal Exige: Obediência
Para concluir, o texto bíblico nos ensina que o Natal demanda obediência. Quando José despertou do sono, ele fez “como o anjo lhe havia ordenado” (Mt 1.26). Sua obediência tem algumas características:
- Irrestrita e Radical:
Nossas igrejas estão repletas de pessoas que querem ser discípulos ao seu modo, estabelecendo as regras, dizendo o que querem fazer e o que não querem, o que concordam e o que não concordar, mas a obediência real é fazer como Deus diz, e não como pensamos.
O texto diz que José despertou do sono e fez como o anjo lhe havia ordenado. Ele não fez como achava que deveria fazer, o que veio na sua “cabeça.”. Ele obedeceu. Esse é o convite e desafio. O problema é que gostamos de estabelecer as condições da obediência. Não queremos fazer como Deus nos ordena fazer, mas do jeito que achamos que deve ser feito, queremos ser discípulos ao nosso modo ao invés de ser discípulo como Cristo, o Mestre, ordena que sejamos.
Obediência não é fazer do seu jeito, mas é fazer como Deus diz, obediência irrestrita. Quem estabelece as bases do discipulado é Jesus, nós apenas obedecemos ao Mestre. Muitas vezes, não queremos fazer como ele ordena, e acreditamos falsamente que podemos ser discípulos ao nosso estilo e condições. Não é assim o chamado de Deus para a nossa vida, José não ficou argumentando e se justificando, colocando dificuldades em fazer aquilo que o anjo lhe ordenara, ele simplesmente obedeceu.
Jesus afirmou: “Se você crer em mim como diz as Escrituras, do seu interior fluirão rios de água viva.” (Jo 7:37) Não se trata de crer como achamos que deve ser, mas como diz as Escrituras. As regras estão claras. Nós não estabelecemos as condições do discipulado. Jesus é o Mestre. Ele diz o que deve ser feito e nosso papel é obedecer de forma irrestrita.
- Ousadia: A decisão de José trouxe implicações profundas. O Natal demanda uma resposta ousada. Se Deus de fato se tornou homem, não podemos tratar isso de forma superficial. Crer no Natal muda nossa cosmovisão, nossos afetos, prioridades e a forma como administramos a vida.
A segunda característica dessa obediência é sua ousadia.
Ela tem implicações. Quando José assume e decide fazer como anjo ordena, isso traz sérias implicações para sua vida. Ele estará a partir desse momento, debaixo de um questionamento profundo. Quais as implicações para sua obediência?
Ele tem que lidar com os questionamentos familiares acerca da sua decisão de assumir Maria. Ele tem que lidar agora com os questionamentos sociais, seus amigos, a aldeia onde morava. Ele tem que lidar com as críticas e suspeição dos amigos e da desconfiança pública. Sua obediência ousada desperta reações, assim como também acontece conosco.
O Natal demanda uma resposta ousada da nossa parte. Se estes eventos são verdadeiros, se Deus de fato se tornou homem, nós não podemos tratar essas coisas de forma superficial. Como não nos comprometermos de todo o coração com essas verdades profundas e belas do Evangelho? Quando nós cremos de fato somos como que encurralados em direção a uma decisão que vai demandar um compromisso perene. É uma obediência ousada. As verdades do Evangelho nos atingem, mudam nossa cosmovisão, nossos afetos, valores, prioridades, agenda, a forma como administramos nosso dinheiro, como lidamos com a família e os relacionamentos.
Como não responder, dedicando de forma ousada e radical, nossas vidas a esse Deus tão gracioso, belo, amoroso e misericordioso. José tem agora a sua percepção e seu julgamento alterados e a sua obediência é uma resposta a essa nova compreensão. Maria também, tem a mesma compreensão. “Aqui a tua serva, seja feito como o senhor quer.” Maria se dispõe para fazer aquilo que Deus lhe disse para fazer enfrentando toda critica, preconceito e julgamento. A obediência precisa ser radical.
Conclusão
Relembrando os tópicos desta homilia:
- O Natal é marcado por controvérsias.
- O Natal é um evento sobrenatural.
- O Natal é um evento profético.
- O Natal demanda obediência radical e ousada.
Como você responde ao Natal? Herodes, ao ouvir falar do nascimento do Messias, reagiu com oposição e ódio. Mandou executar todas as crianças ao redor de Belém. José e Maria, quando ouviram se submeteram e disseram: "Eis-me aqui... faça-se em mim como Tu queres". A
Esta é a resposta devida ao Natal
Qual é a sua resposta?
O que deseja fazer agora?
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