sexta-feira, 19 de junho de 2020

Zc 11.15 Os apetrechos de um pastor insensato

Pesado, mochila. Menino, seu, mochila, carregar, tentando, chapéu.


O Senhor me disse: Toma ainda os petrechos de um pastor insensato.”(Zc 11.15).
Minha esposa e eu temos um hobbie, amado por muitos e questionado por alguns: Nós amamos pescar! Na verdade, preciso fazer uma correção. Quem ama pescar sou eu, ela é viciada em pesca... é um caso de libertação espiritual (orem por mim, irmãos). Quando vamos pescar, ela fica o dia inteiro na beira do rio e não quer voltar sequer para almoçar. Ela afirma que este é o momento no qual ela realmente consegue relaxar e não se preocupar com mais nada.

Os amantes da pesca sabem que existe todo um ritual em torno da pescaria. Desde comprar molinetes, organizar as compras, planejar a viagem, e, o fundamental, os apetrechos da pesca, ou as tralhas. Olhamos os molinetes, as carretilhas, linhas, anzóis, canivete, lanterna, alicate e repelentes. Bem, podemos acrescentar ainda algum doce para colocar na sacola, junto com os apetrechos. Afinal, ficar sem água e sem doce na beira do rio não é algo muito bom.

“Apetrecho” ou “petrecho” não são termos comumente empregados. O Dicionário Online de Português define da seguinte forma: “Acessórios: conjunto das coisas ou do que é necessário a certos usos: apetrechos de viagem.”

No livro do Profeta Zacarias, Deus fala em linguagem simbólica, sobre os “apetrechos” de um pastor insensato. Isto é, o que o pastor sem temor de Deus leva em sua bagagem. Deus observa o que estes homens que, usando das prerrogativas do título pastoral, fazem na sua vida e que apetrechos levam no seu alforje. Quais são os acessórios que levam consigo?

Primeiro, o pastor insensato, não tem nenhuma preocupação com o rebanho.

Todo capítulo 11 de Zacarias é destinado aos pastores de Israel, que tinham a responsabilidade espiritual de conduzir o rebanho do Senhor. “Porque eis que suscitarei um pastor na terra, o qual não cuidará das que estão perecendo, não buscará a desgarrada, não curará a que foi ferida, nem apascentará a sã; mas comerá a carne das gordas e lhes arrancará até as unhas”. (Za 11.16)

A primeira coisa que Deus observa nos acessórios de tais pastores é a completa indiferença com as ovelhas. Ele não cuida das que estão perecendo. Não há interesse em olhar para as que estão fracas e desgarradas, não cura a ferida de nenhuma delas, não as trata, nem apascenta a sã. Em outras palavras, há uma completa alienação entre o pastor e seu rebanho.

Quando o rebanho de Cristo é tratado desta forma, as ovelhas são dilaceradas. O texto do profeta afirma que tal pastor só deseja “comer a carne das ovelhas gordas, até arrancar as unhas”. Sua ação é devastadora. Ele só tem interesse em si mesmo. Naquilo que traz proveito para si mesmo. Ele não se interessa pelo que pode acontecer com o povo de Deus. Ele espolia a gorda, come a sua carne, tira a sua lã, mas não se preocupa com seu bem estar.

Já vi pastores matando igrejas, distanciando ovelhas do rebanho. Quando vejo alguns tentando se manter no seu posto por causa do status do seu cargo, segurança e salário que recebem, sem atentar para a condição da igreja eu começo a me perguntar se tais pastores não se encaixam exatamente dentro do que a Bíblia aponta neste texto. Honestamente, se pessoas nos perseguem em igrejas que pastoreamos, e insistimos em nos manter na posição por causa dos privilégios, ou porque nos sentimos magoados, não deveríamos pensar que, antes de qualquer coisa, que esta igreja é de Cristo?

João Batista faz uma afirmação surpreendente: “O que tem a noiva, é o noivo; o amigo do noivo que está presente e o ouve se regozija por causa da voz do noivo. Pois esta alegria já se cumpriu em mim. Convém que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.29,30). João Batista não queria ficar no lugar do noivo e ter um caso com a noiva de seu amigo. Ele era apenas “amigo do noivo”. Sua alegria é ouvir a voz do noivo, vê-lo se alegrando ao encontrar-se com a noiva. Nenhuma pretensão de usurpar o lugar do noivo. A noiva é de Cristo, não dele. Sua alegria é saber que o noivo está feliz.

Tome cuidado para não ter um caso com a noiva de Jesus. Lembre-se que a igreja é dele. Você sai da igreja, a igreja continua, assim deve ser. Se tiver que sofrer, sofra por causa do noivo. É ele quem edifica a igreja (Mt 16.18). Você é cooperador (1 Co 3.6,9). Você é instrumento, está de passagem, a igreja deve ficar. Não destrua a igreja de Cristo. Não seja responsável por fechar uma igreja ou destruí-la. Cuide do rebanho que Deus colocou nas suas mãos. Demonstre real interesse por estas ovelhas, considerando que elas pertencem ao rebanho de Jesus.

Segundo, o pastor insensato, tem interesse apenas em tirar o máximo proveito de suas ovelhas.

Em Zacarias 11.5 lemos: ‘’Aqueles que as compram matam-nas e não são punidos; os que vendem dizem: louvado seja o Senhor, porque me tornei rico; e o seus pastores não se compadecem delas”. Que relato impressionante e dramático.

Quem compra as ovelhas é o açougueiro. Este, naturalmente não tem qualquer relação de afeto e cuidado. Eles a destinam para a matança. Faz parte do seu oficio. Eles são açougueiros e não pastores. Entretanto, os que as vendem, que são os pastores, ainda espiritualizam o que fazem dizendo: “Louvado seja o Senhor porque me tornei rico.”

Duas coisas são péssimas para a alma de qualquer pessoa: Dessacralizar o sagrado e sacralizar o pecado. Aqui temos um exemplo clássico de como o profano, o mal, pode assumir uma roupagem de espiritualidade e ainda ser associado a Deus. Tais pastores estão dizendo “louvado seja o Senhor! Aleluia!”. Quando Deus não é glorificado nestas coisas. Na verdade, isto agride a Deus. Não sem razão, logo a seguir veremos Deus exercendo juízo sobre tais pastores: “Dei cabo de três pastores num mês”. (Zc 11.8). Deus é bem direto ao julgar tais pastores: “Ai do pastor inútil que abandona o rebanho!” (Zc 11.17).

Certa vez estava caminhando com um colega à beira de um lago e ele me relatou uma experiência que teve com uma de suas ovelhas.
-        “Não conseguiria fazer outra coisa senão pastorear. Eu amo o pastorado!”
E sua ovelha, que era seu amigo intimo, perguntou de forma desconcertante:
-        “Você ama o pastorado ou os benefícios que você recebe do pastorado?”

Algumas pessoas não tem nenhuma alegria em pastorear o rebanho de Deus, entretanto, permanecem no pastorado porque possuem salário ou ganho significativo. Não pastoream por vocação, mas por oportunismo. Há um grande risco quando se pastoreia desta forma.

Terceiro, o pastor insensato abandona o rebanho

““Ai do pastor inútil que abandona o rebanho!” (Zc 11.17).
Seu pastoreio vai até o momento em que a crise chega. Quando as coisas estão tranquilas, em ordem, sem ameaças, ficam ali ao lado do rebanho, mas quando o urso, o lobo ou o leão chega ameaçadoramente, eles saem em disparada, deixando o rebanho desprotegido.

A ovelha é um dos animais mais indefesos da natureza. Em geral, um animal tem chifres para se defender, tem velocidade para correr, tem fortes dentes, mas a ovelha é suscetível a qualquer ameaça. Por isto, ao contrário do rebanho de gado, ovelhas precisam de pastores por perto. Na região de Mozarlândia-GO, ouvi um relato de um fazendeiro que perdeu em uma noite, 16 ovelhas mortas por uma única onça. Porque quando ela mata uma, as outras, ao invés de correrem, ficam por perto e se tornam também presas fáceis. Não sabem sair em debandada em fugir.

Quando Deus nos chama de suas ovelhas, ele está descrevendo nossa fragilidade e vulnerabilidade. Não gosto do texto de Lucas, no qual Jesus afirma: “Ide! Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos” (Lc 10.3). Acho esta figura desproporcional e desigual. Ele está falando de cordeiros, que são os filhotes do rebanho. Preferia que ele tivesse dito: “Ide! Eis que vos envio como lobos para o meio de cordeiros”. Acho que desta forma eu teria mais chance de sobreviver no contexto de disputa e voracidade. O que nos dá vantagem, e isto alegra meu coração, é saber quem é o meu pastor. Isto me dá segurança. Porque, se “O Senhor é o meu pastor, nada me faltará. Ele me faz repousar em pastor verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso.” (Sl 23.1).

Em Março de 2020, nossas igrejas foram fechadas por causa da pandemia do Covid-19. Foi um tempo assustador, de incertezas e instabilidades. Na época, circulou na internet um texto de Martinho Lutero, enfrentando a pandemia de seu tempo. Em 1527, portanto, dez anos depois de afixar as 95 teses em Wittemberg, menos de 200 anos após a peste negra ter dizimado metade da população da Europa, a praga ressurgiu na própria cidade de Lutero. Numa de suas cartas o famoso reformador reflete sobre as responsabilidades do cristão. Considere cuidadosamente sua visão pastoral.

Se Alguém Deve Fugir de uma Praga Mortal
“Pedirei a Deus para, misericordiosamente, proteger-nos. Então farei vapor, ajudarei a purificar o ar, a administrar remédios e a tomá-los. Evitarei lugares e pessoas onde minha presença não é necessária para não ficar contaminado e, assim, porventura infligir e poluir outros e, portanto, causar a morte como resultado da minha negligência. Se Deus quiser me levar, ele certamente me levará e eu terei feito o que ele esperava de mim e, portanto, não sou responsável pela minha própria morte ou pela morte de outros. Se meu próximo precisar de mim, não evitarei o lugar ou a pessoa, mas irei livremente conforme declarado acima.''

Outro personagem recente da história do cristianismo chama nossa atenção. Trata-se de Dietrich Bonhoeffer. Quando Hitler estava no poder, os protestantes se dividiram e a igreja oficial apoiou cegamente o nacionalismo do III Reich. Bonhoeffer assumiu liderança na “Igreja confessante”, que se opunha ao nazismo e   à legislação contra os judeus. Em 1937, o regime fechou o seminário onde ele lecionava. Em 1939, foi aos EUA para uma série de conferências. Poderia ter ficado a salvo em outro país, já que a situação na Alemanha era tensa. Apesar disto resolveu voltar para estar com sua pequena comunidade e continuar a defesa dos grupos perseguidos. Ele afirmou: “Devemos participar da amplitude do coração de Cristo na ação responsável, ele que, com toda a liberdade, aceita a hora e se submete ao perigo. Posteriormente seria julgado pelo nazismo,  condenado e enforcado no dia 9 abril de 1945, poucas semanas antes da queda de Hitler.

Pastores que abandonam o rebanho são descritos por Deus como psicopatas. Nenhum sentimento e compaixão. Nenhuma identificação e cuidado. “Não se compadecem”, (Zc 11.5), diz o Senhor, e até “dão glórias a Deus!” quando deixam suas ovelhas nas mãos de açougueiros.

Só um pastor insensato usaria este apetrecho tão iníquo!

Exortação

Deus se dirige aos pastores, na expectativa de trazer-lhes arrependimento e mudança de atitude.

1.     Deus exorta os pastores a apascentarem as ovelhas – Curiosamente Deus afirma que tais ovelhas também eram rebeldes. “Perdi a paciência com as ovelhas, e também elas estavam cansadas de mim” (Zc 11.8). Não apenas os pastores se rebelaram, mas as ovelhas também haviam se desviado. Por isto Deus se refere a elas como “ovelhas destinadas para a matança” (Zc 11.7).

Apesar de conhecer a qualidade das ovelhas, Deus exorta os pastores a “apascentarem as ovelhas destinadas a matança” (Zc 11.7). As ovelhas eram rebeldes, mas isto não deveria ser razão para os pastores deixarem de cuidar do rebanho como Deus queria que cuidassem: com esmero, zelo, cuidado. Mesmo ovelhas teimosas.

Pastoreai o rebanho de Deus, que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que foram confiados, antes, tornando-se modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcessível coroa da glória” (1 Pe 5.2-4).

Pastoreai o rebanho de Deus. As ovelhas são de Cristo. Exerçam o pastoreio de boa vontade, sendo modelos. A coroa da glória será dada pelo supremo pastor. Como alguém humoristicamente afirmou: “O salário na obra de Deus não é grande, mas a aposentadoria é doutro mundo”.

2.     Pastores insensatos são julgados severamente por Deus – Dei cabo dos três pastores num mês” (Zc 11.8). Não podemos tratar com leviandade o pastoreio, porque o dono do rebanho zela pelas ovelhas.

Ai do pastor inútil que abandona o rebanho!” (Zc 11.17). Estar na posição de liderança  do rebanho exige diligência, seriedade e disposição. Não podemos fazer a obra do Senhor relaxadamente. “Procura apresentar-te a Deus, aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15).

O apóstolo Paulo enfrentou sérias acusações da Igreja de Corinto, que ele mesmo tinha fundado. As pessoas o acusaram de atitudes não cristãs, que andava “em disposições de mundano proceder” (2 Co 10.2). Você já foi acusado por alguém de sua igreja por ser mundano ou leviano? Os irmãos criticavam sua mensagem, achando fraca e desprezível (2 Co 10.10). Alguém da sua igreja já insinuou ou afirmou que seu sermão é fraco e sem conteúdo? Apesar de tudo isto, Paulo não deixou de pastorear com zelo aquela igreja e exercer seu ministério com fidelidade e sacrifício.

...gratuitamente vos anunciei o evangelho de Deus. Despojei outras igrejas, recebendo salário para vos poder servir, e, estando entre vós, ao passar privações, não me fiz pesado a ninguém” (2 Co 11.7,8.9). Paulo não tinha salário na igreja. Ele vivia de ofertas de outros irmãos fora da comunidade, especialmente da igreja da Macedônia, ele passava privações, isto é, não tinha nem mesmo o necessário para suas necessidades, entretanto, entendeu seu chamado: “Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma. Se mais vos amo, serei menos amado?”(2 Co 12.15). Se gastar, é uma coisa; deixar que outros nos gastem, é outra história. Ser humilde é uma coisa, mas ser humilhado, é outra inteiramente diferente. Mas Paulo não mediu esforços para exercer fielmente seu ministério, porque o fazia para Deus.

3.     Deus, e apenas Ele, julgará suas ovelhas – Este texto nos fala de pastores insensatos e ovelhas rebeldes, que ignoravam o pastoreio

Perdi a paciência com as ovelhas, e também elas estavam cansadas de mim” (Zc 11.8). “Porque eis que suscitarei um pastor na terra, o que não cuidará das que estão perecendo, não buscará a desgarrada, não curará a que foi ferida, nem apascentará a sã; mas comerá a carne das gordas e lhes arrancará até as unhas” (Zc 11.16).

Deus julga não apenas os pastores, mas julga também as ovelhas.

Pastores tem mania de tentar controlar o rebanho, de exercer domínio sobre as ovelhas. Quando ovelhas não querem ser pastoreadas por nós, deixe que o Senhor do rebanho trate diretamente com elas. Muitas ovelhas serão disciplinadas por Deus, por causa de sua rebeldia. Chega um momento em que Deus desiste de pastoreá-las: “Então disse eu: não vos apascentarei; o que quer morrer, morra, o que quer ser destruído, seja, e os que restarem, coma cada um a carne do seu próximo” (Zc 11.9). Ovelhas que não permitem que o supremo pastor as pastoreie, serão deixadas à sua própria disposição, e o resultado será catastrófico em suas vidas. 

Ovelhas rebeldes não devem ser motivo de nossa negligência, abandono e descuido. Muitas ovelhas estão no aprisco, mas são lobos vestidos de ovelhas. Apenas a forma. Andam como ovelhas, circulam no meio do rebanho. O apóstolo Paulo afirma que tais ovelhas rebeldes, “...seguindo a carne, andam em imundas paixões e menosprezam quaisquer governo. Atrevidos, arrogantes, não temem difamar autoridades superiores... eles se regalam nas suas próprias mistificações, enquanto banqueteiam convosco; tendo os olhos cheios de adultério e insaciáveis no pecado, engodando almas inconstantes, tendo coração exercitado na avareza, filhos malditos” (2 Pe 2.10,13,14). Esta descrição de Pedro é sobre membros da igreja, que gostam das festas da igreja, são super-espirituais, místicos, mas insaciáveis no pecado. Na verdade ele está falando de falsos mestres na comunidade. E quando a igreja que pastoreamos tem este tipo de membresia mundana, comete os mesmos graves pecados descritos pelo apóstolo Pedro já no Século I?

Se alguém tem que julgar o rebanho é o pastor do rebanho.
Deixa o pastor supremo ser o pastor, de fato.

Conclusão
Este texto de Zacarias, como todo o livro, possui certas complexidades, já que boa parte é um texto escatológico, com linguagem simbólica e imagens apocalípticas. Ele possui muitas similaridades com o livro de Apocalipse, tanto na linguagem quanto em seus símbolos.

Mas este texto também é profético.
Em Zacarias 11.12-13, temos uma referência messiânica.
“Eu lhes disse: se vos parece bem, dai-me o meu salário; e se não, deixai-o. Pesaram pois, por meu salário trinta moedas de prata. Então, o Senhor me disse: Arroja isso ao oleiro, esse magnífico preço em que fui avaliado por eles. Tomei as trinta moedas de prata e as arrojei ao oleiro, na Casa do Senhor.”

Naturalmente trata-se de uma referência à Jesus.
No Evangelho de Mateus lemos:
Por isso, aquele campo tem sido chamado, até ao dia de hoje, Campo de Sangue. Então, se cumpriu o que foi dito por intermédio do profeta Jeremias: Tomaram as trinta moedas de prata, preço em que foi estimado aquele a quem alguns dos filhos de Israel avaliaram; e as deram pelo campo do oleiro, assim como me ordenou o Senhor.”(Mt 27.8-10).
No livro de Atos ainda encontramos o seguinte relato:
“Irmãos, convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo proferiu anteriormente por boca de Davi, acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam Jesus, porque ele era contado entre nós e teve parte neste ministério. (Ora, este homem adquiriu um campo com o preço da iniquidade; e, precipitando-se, rompeu-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram” (At 1.16-18).

A profecia de Zacarias certamente se refere ao mesmo episódio, apontando para Cristo.

E o que isto tem a ver com esta mensagem?

Tudo parece apontar para o fato de que, nem mesmo Cristo, o grande pastor das ovelhas, foi isento do julgamento e condenação de suas próprias ovelhas. “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10.11). Apesar de saber que seu destino seria o julgamento e a venda por um dos membros de seu colegiado, de uma de suas ovelhas que estava na liderança com ele, Jesus nunca deixou de assumir seu papel de pastor e de cuidar de suas ovelhas:

Eu sou o bom pastor, conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim. Assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas. Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor” (Jo 10.14-16).

Jesus é o nosso modelo pastoral.
Nossa fidelidade, lealdade e zelo não devem estar associada ao tratamento que recebemos. Nosso pastoreio deve ter em mente a vocação que recebemos de Deus. O supremo pastor, que é Jesus, foi traído e vendido por 30 moedas de prata. “Então, o Senhor me disse: Arroja isso ao oleiro, esse magnífico preço em que fui avaliado por eles.” Este texto tem um tom de ironia. Este foi o “magnifico preço em que fui avaliado”. Esta foi a avaliação que Cristo recebeu. Este foi o preço. Sua vida valia trinta moedas de prata...

Os apetrechos de um pastor insensato e inútil não devem estar na nossa bagagem. Não fazem parte de nosso embornal. Não devem estar entre os acessórios que usamos. 

Eugene Peterson afirma:
“Ao pastorado constitui qualidade inerente combinar dois aspectos do ministério: um, apresentar a palavra eterna e a vontade de Deus e dois, cumprir a primeira tarefa no meio das idiossincracias do local e das pessoas (o verdadeiro lugar onde o pastor vive, as pessoas especificas com quem convive). Se qualquer um desses dois aspectos for despreparado, não acontecem um bom pastorado” (Eugene Peterson, o pastor que Deus usa). Niteroi, Ed. Textus, 2003, pg 18).

Usar os apetrechos corretos, as ferramentas reveladas por Deus, os acessórios espirituais da simplicidade, devoção, cuidado, diligência, são ainda a melhor estratégia para se ter um pastorado sábio, consistente e que glorifica a Deus.

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