Introdução
Bem-vindo à era das questões de gênero, sexo e sexualidade. Nunca se falou tanto sobre este assunto. Nações inteiras tem se dividido e polarizado em relação a este assunto. De um lado, países liberais que não só aprovam, encorajam e financiam movimentos sobre o direito civil e até mesmo cirurgias para mudança de sexo e luta pelos direitos civis da comunidade LGBT; do outro, países conservadores, que perseguem e matam pessoas com comportamentos homossexuais. Catar, o país que abrigou a Copa do Mundo em 2022, foi muito criticado pela imprensa da esquerda, por causa de suas restrições sobre este assunto e pelas suas leis restritas.
Para muitos, a sua identidade está ligada à sexualidade. Isto é um grande problema, porque o ser humano é muito mais que um ser sexual. Ele é um ser de relação, ser espiritual, ser de afetos, ser social. A sexualidade é pouco para nos definir, e quando nossa identidade está apenas focada na sexualidade, corremos o risco de perder a essência de nossa natureza.
A igreja também tem sido cobrada sobre sua posição acerca deste assunto. Recentemente o Pr. Ricardo Gondim afirmou que na sua comunidade em São Paulo, pessoas homossexuais podem se tornar membros, ocuparem funções de liderança e até mesmo serem ordenadas. Sem restrições. Isto causou enorme escândalo na igreja evangélica.
Uma das perguntas recorrentes é qual a visão da Bíblia e da igreja sobre o assunto. O que pensamos? Qual a nossa visão? Nestas horas, precisamos olhar com atenção para as Escrituras Sagradas. O que significa ser homem? Mulher?
Durante séculos, a humanidade sempre esteve alinhada à narrativa bíblica: “Criou Deus o homem à sua imagem e semelhança. Macho e fêmea os criou.” (Gn 1.26) Mas para muitos, a letra da música “Masculino e Feminino”, de Pepeu Gomes, está mais correta que as Escrituras Sagradas.
“Ser um homem feminino
Não fere o meu lado masculino
Se Deus é menino e menina
Sou masculino e feminino.”
A crise moderna: Ser homem ou mulher é uma questão apenas de autocompreensão, e não está ligada à anatomia nem aos cromossomas, tem mais a ver com cultura e imposições conceitos que com o corpo em si
Em algumas universidades americanas, o banheiro é unissex. É discriminatório obrigar uma pessoa a se dirigir a um banheiro que não se identifique com sua identidade de gênero.” Bem-vindo ao novo e selvagem mundo, contrariando a visão de Aldous Huxley.
Qual é a expectativa para o Macho? Se tal afirmação pode ser feita? O que é ser mulher?
Na visão cultural o homem é o provedor, mais agressivo, menos emocional, interessado em esportes e na sua carreira. A mulher: mais relacional, emocional, socialmente menos agressiva. Os defensores da ideologia do gênero afirmam que as diferenças são impostas, culturais e psicológicas.
Por esta razão, precisamos retornar às Escrituras. “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (2 Tm 3.16-17) Precisamos ler a Bíblia, não para confirmar meus pensamentos, mas para sermos transformado pelas suas verdades. Qual foi a última vez que você mudou um ponto de vista por causa do ensinamento bíblico?
O que aprendemos na Teologia bíblica na criação? “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” (Gn 1.27)
Desta afirmação surgem duas linhas de interpretação:
Igualitariarismo
Homem e mulher são iguais em tudo. Ambos criados à imagem e semelhança, ambos recebem tarefas indiferenciadas sobre no ato da criação.
Complementarianismo
Homem e mulher são iguais em dignidade, valor e essência, mas são distintos nas suas tarefas. Quando a Bíblia fala de auxiliadora, afirma que são iguais no valor, mas complementares nas tarefas.
Particularmente defendo a ideia do complementarianismo. Muitos cristãos bíblicos divergem da minha linha de interpretação. Esta visão afirma que
Há igualdades
- Sua condição – ambos feitos à imagem de Deus.
- Sua vocação – ambos recebem o mandato de dominar a terra. Mordomia da criação, cuidado e reprodução dos filhos. Na vocação, necessitam um do outro.
- Sua satisfação – mútua aceitação e alegria. Eles se aceitam
Há diferenças:
a. Sexualmente diferentes - Distinção não apenas de constituição física, mas também na forma de ser, perceber, reagir e relacionar. Diferença hormonal.
b. Diferença funcional – um tem o que falta no outro. Complementariedade, não competição. A diferença torna possível o enriquecimento mútuo.
O que é Imago Dei?
- Aspecto Estrutural - A imagem de Deus fala da natureza. Quem somos nós?
- Seres espirituais
- Seres racionais
- Seres volitivos
- Seres morais
- Seres criativos
- Aspecto funcional – O que somos chamados a fazer?
- “Tenham domínio sobre os seres criados.” (Gn 1.26)
- “Multiplicai-vos, enchei a terra.” (Vs 28)
- Aspecto Relacional – “Macho e fêmea os criou.”
- Deus é Trino, relacional: “façamos”
- Adão/Eva: Relacionais
Temos o grande desafio de ver a beleza de Deus na diferença, não como opositores, adversários, mas complementares. Larry Crabb escreveu um livro falando sobre a necessidade de “celebrarmos a diferença!”
O que não vemos na criação? Subordinação feminina ou dominação cultural e histórica.
Não existe superioridade em razão da sexualidade. Quando Deus afirma que faria uma auxiliadora, isto não denota inferioridade, já que o mesmo termo é usado algumas vezes no Antigo Testamento para se referir a Deus. Portanto, não há subordinação.
Quando Deus criou o homem e a mulher, os chamou ambos de Adam. “homem e mulher os criou, e os abençoou, e lhes chamou pelo nome de Adão, no dia em que foram criados.” (Gn 5.2) Adão (Adam), vem de Adamã, no hebraico, terra, mas quando o pecado adentra o coração humano, Adão muda o nome da mulher, chamando-a de Eva. É uma distorção, ele deixa de chamá-la de companheira, termo que destaca identidade (Gn 2.23), e a nomeia, chamando-a de Eva (mãe de todos os viventes), que ressalta sua função (Gn 3.20). A utilidade suplanta a identidade, torna-se um meio para atingir um fim. O sujeito passa a ser objeto. Na cultura semítica, quem nomeia tem controle sobre o outro.
Masculinidade nas Escrituras
O que é a essência da masculinidade?
Homem/mulher, são igualmente dignos de honra, criados à imagem e semelhança de Deus: valor, dignidade e importância. Nenhuma superioridade ou inferioridade, ainda que distinto nas funções.
Gênero (masculino ou feminino), dado como dom divino, definido biologicamente por Deus. Ser macho ou fêmea faz parte inerente da natureza humana. Não se trata de uma construção social ou cultural.
Gênero não é maleável
Gênero não é cultural
Gênero é biológico.
Tive uma professora peruana de fisiologia humana no CEUB/ Brasília, que certo dia suscitou um debate na classe perguntando: “Porque, biologicamente, podemos afirmar que homossexualismo é errado?” As respostas foram filosóficas e até mesmo teológicas, mas ela insistia numa resposta centrada na Biologia. Até que um aluno afirmou: “se não houver heterossexualidade, não há procriação, nem reprodução da espécie.” E ela desenvolveu sua aula a partir deste ponto.
Algumas considerações importantes:
- Masculinidade e feminilidade são definidas biologicamente. Nenhum pai ou mãe tem dificuldade em afirmar que o sexo da criança quando ela nasce. Não há dúvida biológica, nem teologicamente. Ninguém fica em dúvida, fazendo cara de interrogação. Quem define sexualidade não são os pais, mas o corpo.
- Por causa da queda humana, homens e mulheres passaram a construir imagens nebulosas sobre quem são. O pecado traz confusão ao coração do homem.
Podemos falar de distorções na construção da sexualidade, e alguns fatores predisponentes são devem ser considerados na formação da confusão sexual.
Algumas confusões:
- Mães projetam uma deformidade sexual em seus filhos, tratando um garoto, como garoto. Foi assim que acompanhei um transsexual, cuja mãe, desde cedo, o vestia de menina.
- Pais distantes, frios, ausentes e passivos. Figuras masculinas que não inspiram nem servem de modelos aos filhos
- Pais violentos e agressivos. Que levam seus filhos ainda pequeno a odiarem a figura masculina, procurando se identificar e defender a mãe por abusos verbais e violências físicas.
- Mães dominadores e superprotetoras
- Sexualidade precoce. Muitas crianças são expostas à vida sexual ainda muito cedo, quando ainda não estão emocionalmente maduras para lidar com lares marcados por excessiva liberdade sexual e pornografia.
- Abuso sexual. 85% dos abusos são cometidos dentro de casa por amigos, parentes, tios, avôs, e até mesmo pais. Há muita doença que tem o poder de deformar e destruir a possibilidade de uma visão bela e santa da sexualidade.
- Podemos, ainda, em último lugar, nos referir à educação sexual que é feita por professores liberais, colegas de escola, que destroem a visão natural da sexualidade.
É bom observar que estamos falando de fatores predisponentes, e não determinantes. Muitas crianças passaram por toda distorção da sexualidade, mas ainda assim mantém sua visão sexual de forma equilibrada. Seriamos ainda levianos e superficiais em não afirmar ainda que há muitos outros fatores psicológicos e até mesmo espirituais que transcendem esta pequena lista de fatores predisponentes que enumeramos.
O grande objetivo de Satanás sempre foi perverter a harmonia e beleza do que Deus criou. Ele sempre propõe formas de perversão que vão muito além da sexualidade em si. Adão e Eva tinham tudo no Paraíso, mas ainda assim, Satanás foi capaz de criar desejos em Eva, e dar-lhe a impressão de que lhe faltava algo, de que Deus a estava privando de algo que deveria ter sido dado.
O grande alvo de Satanás é perverter a criação divina.
Além do mais, perversão sexual se dará por causa de escolhas pessoas, morais e individuais. Não apenas somos vítimas, mas a inclinação de nosso pecado nos leva a querer e desejar coisas pervertidas, afinal, “todas as maças do diabo são bonitas, mas todas tem bicho.”
Aplicações finais
- A você que tem impulsos homossexuais.
Nem todo desejo é legítimo. A Bíblia usa o termo “concupiscência”, que significa literalmente “desejo estragado.” De alguma forma Satanás perverte a beleza de Deus. E isto se aplica a pessoas hetero ou homossexuais.
Em Mateus 19.12 Jesus faz uma afirmação interessante:
“Porque há eunucos de nascença; há outros a quem os homens fizeram tais; e há outros que a si mesmos se fizeram eunucos, por causa do reino dos céus. Quem é apto para o admitir admita.”
Ele afirma que por causa de Deus, e pelo desejo de santidade, muitos decidiram consagrar sua sexualidade, para glorificarem o nome de Deus. Muitos jovens decidiram viver vida de castidade por causa da glória de Deus, e isto independe de direção ou impulso sexual.
Paulo afirma:
“Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça. Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça.” (Rm 6.11-14). Isto se aplica a todos discípulos de Cristo, solteiros ou casados, que tenham inclinação heterossexual ou não.
Este estilo de vida de santidade, deve consagrar membros e sexualidade por causa do amor a Deus. Não deixe que seus impulsos e paixões determinem sua identidade e controlem sua história. Sam Allberti é um conhecido conferencista canadense que decidiu não se casar por causa de seus impulsos homossexuais, e tem vivido sua vida para dar glórias ao nome de Deus e falado abertamente sobre este assunto.
- A você que tem amigos homossexuais.
Trate e ame respeitosamente a todas as pessoas, independente de sua inclinação sexual. Deus não nos dá o direito de tratar com descaso, desamor, indiferença ou crítica, pessoas que encaram a vida de forma diferente da sua.
Por outro lado, não apoie, concorde, ou encoraje sua escolha. Você pode pensar de forma diferente, sem necessidade de hostilizar. Se disserem que você é preconceituoso, diga que você não tem “preconceito”, mas que você tem “conceito”. Preconceito tem a ver não com a discordância de visão, mas com a hostilidade com que você trata aqueles que sentem e agem de forma diferente da sua.
Estabeleça um relacionamento de santidade, e isto se aplica não apenas às relações homossexuais, mas é exigido daqueles que também possuem inclinação heterossexual.
- Se você é pai, ou mãe, de uma pessoa que se declara homossexual.
A primeira palavra que quero dar é: Ame seu filho (a).
Amar não quer dizer que você concorde, ou aceite seu estilo de vida. Deixe claro o que você sente, o que você pensa, o que diz as Escrituras Sagradas sobre este assunto. Defina-se!
Estabeleça as fronteiras:
-Deixe claro que esta opção é dele (a), que você vai amá-lo sempre, não vai hostilizar, mas que não quer ser parceiro naquilo que você discorda. Você não quer ser cúmplice de algo que você não aprova. Você não é obrigado a concordar com sua orientação sexual.
- Estabeleça fronteiras e limites. Muitos pais cristãos, para serem modernos, permitem que seus filhos tragam namoradas (ou namorados) para ter sexo dentro de casa. Isto significa concordância e aprovação. Seu filho (a) pode fazer escolhas, mas você não deve apoiar e encorajar tais atitudes.
-Dormir no mesmo quarto? Não! Sendo heterossexual ou homossexual, esta não pode ser a atitude de pais cristãos.
- O comportamento da igreja
Tem se tornado claro que a igreja está despreparada para lidar com esta questão. Certamente teremos um longo tempo de discussão e reflexão sobre este assunto, mas queria caminhar com três linhas de pensamento.
Francis Schaeffer:
“A igreja deve ser santa e fiel, mas acolhedora e sem preconceito.” Este equilíbrio é muito tênue, mas ele deve ser buscado com todas as forças. Como amar o pecador? Como ser santa, como Jesus era, e ao mesmo tempo dizer amorosamente: “Nem eu te condeno, vá e não peques mais?”
Rick Downs
Quando pastoreávamos a igreja Christ The King em Cambridge, MA, lidávamos com muitos jovens universitários numa sociedade progressista e liberal. Um dia a igreja recebeu um bilhete que dizia mais ou menos assim: “Somos um casal homossexual. Estamos frequentando a igreja já faz algum tempo. Temos nos sentido amados, acolhidos e queríamos saber se vocês nos aceitariam na condição de homossexuais.” Muito sabiamente o Pr. Rick Downs respondeu, ignorando completamente a questão da sexualidade e focando no aspecto mais importante: “Ficamos muito felizes em receber vocês em nossa comunidade. Vocês são sempre benvindos, mas queríamos indagar se podemos estabelecer as bases do discipulado para seguir a Cristo.”
Isto é importante, pois para seguir a Cristo, não somos nós quem estabelecemos as condições. Somos seus discípulos, ele é o Mestre. Portanto, faremos o que ele nos ordenar, e como servos o obedeceremos.
Hernandes Dias Lopes:
A terceira reflexão vem do Rev. Hernandes: “A igreja aceita todos, mas não aceita tudo. Venha como está, mas não permaneça como és.”
Temos pensado muito a nossa fé a partir da perspectiva do que queremos. Recordando o versículo que usamos no início, na orientação que Deus dá a Caim. “Se procederes bem, é certo que serás aceito, mas se procederes mal, é certo que serás aceito. O seu pecado será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo.”
- A você que é heterossexual, e julga o irmão por causa de seu pecado homossexual.
Temos que lembrar que santidade é exigida a todos, independente da orientação sexual que possuem.
É fácil nos escandalizarmos com filhos de amigos quando sabemos que são homossexuais, julgá-los e condená-los, como se eles fossem piores do que outros jovens (ou casais), que vivem uma vida promíscua, de formicação ou adultério, pecando igualmente contra o Senhor, e ferindo a sua santidade.
Arrependimento deve ser pregado a todos, independente da idade, sexualidade, estado civil, cor ou sexo.
O filho pródigo que saiu de casa estava perdido na sua orientação moral. Era relativismo moral, achando que poderia fazer tudo o que vinha na cabeça, seguindo seus instintos e impulsos morais. Ele estava perdido e precisava ser achado.
Mas o filho que ficou em casa, estava igualmente perdido, na sua justiça moral, vivendo como “um justo amargurado”, julgando a todos, inclusive o seu amoroso Pai. Ele também precisava se arrepender da sua justiça própria.
Esta parábola nos ensina que existem duas formas de estar perdido: Relativismo moral e legalismo frio, mas existe apenas uma forma de ser salvo: receber o amor, a reconciliação e o amor do Pai. Jesus morreu na cruz para nos reconciliar com Deus. Ele é o meio de nos restaurar diante do Pai.