domingo, 12 de fevereiro de 2023

2 Co 5.1-10 Quatro verdades essenciais

 



 

 

 

Introdução

 

Preguei este texto a oito meses atrás, na Igreja Presbiteriana Central de Anápolis, numa situação muito peculiar. Foi no sepultamento do querido Pr. Edson Caetano (Pr. Black). Na verdade, preguei um esboço de seu sermão, que ele expôs, em um outro funeral, seis meses antes, e quando seu esboço me chegou à mão, decidi literalmente pregá-lo. Era uma mensagem carregada de esperança, confiança e certeza nas promessas do Evangelho. Eu simplesmente usei o seu esboço e de forma transparente disse à igreja de quem era o sermão. Entendi que esta era a melhor forma de anunciar as verdades da fé que ele professava.

 

Hoje estou pregando no mesmo texto com uma abordagem diferente. Paulo fala de esperança, morte e ressurreição usando figuras simples e emprega algumas verdades fundamentais. Ele fala de quatro verdades fundamentais para nossas vidas. Estas verdades são libertadoras, carregadas de esperança e consolo.

 

Vivemos em tempos de dúvidas e desencanto. Nossos filhos são enviados para a escola, onde os professores falam da necessidade de questionar, rejeitar absolutos, reinventar sua própria verdade. O pluralismo admite que cada pessoa tem a sua verdade. O relativismo afirma que a verdade não é o que é, mas depende de seu ponto de vista, mesmo que nossas ideias sejam opostas, cada um tem a sua verdade. O subjetivismo afirma que a verdade está dentro de você, portanto, a verdade é o que você pensa que é. Isto leva a sociedade moderna viver sempre pautada por incertezas. Ninguém sabe de nada, porque não há nada que se possa saber e cada um experimenta sua própria angústia, neste contexto de incertezas e questionamentos.

 

Ainda existe outro aspecto que precisa ser mencionado: Se você tem algum conceito ou pressuposto, você é tido como radical e preconceituoso. Gosto muito de repetir uma frase que ouvi certa vez de uma mulher cristã: “Eu não tenho preconceitos, eu tenho conceitos.” A coisa mais abençoadora e consoladora da vida é termos nossos pés firmados em verdades divinas. No final da sua vida, Paulo afirma: “Pois eu sei em quem tenho crido, e estou bem certo de que ele poderoso para guardar o meu tesouro até o dia final.”

 

Neste texto, vamos estudar quatro verdades essenciais. Estas verdades precisam ser cravadas em nossa mente. Sistematicamente este texto vai descrevendo estas verdades, que fazem diferença profunda em nossas vidas.

 

1.     Temos uma casa eterna nos céus – “Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus.” (2 Co 5.1)

 

Esta é a primeira verdade. Paulo não fala em termos de dubiedade antes afirma: “Sabemos!” Este versículo nos fala da morte e a ressurreição. Para exemplificar ele usa figuras da moradia: “casa terrestre” e “tabernáculo” referindo-se ao corpo atual. A casa terrestre é precária, temporária, transitória. Ela se enfraquece, adoece e morre, é passível de enfermidades, é transitória.

 

Esta é a realidade do nosso corpo: frágil, vulnerável, com prazo de validade limitada. Temos a compreensão clara da vulnerabilidade e fragilidade. Ao mesmo tempo temos a convicção e alegria de saber que existe uma casa celestial, permanente e eterna. Nosso corpo sofre o impacto dos anos, enfrenta enfermidades, mas o corpo da ressurreição será glorioso.

 

Paulo usa uma figura muito conhecida dos judeus em seus dias. As tendas eram feitas de madeira para sua sustentação e de couro de animais para a cobertura. As pessoas ao se mudarem podiam carregar sua “casa” consigo. Tratava-se de uma habitação provisória, temporária. Mas o texto faz um contraste desta tenda com a casa celestial que é de natureza perene e permanente.

 

A morte muda nossa condição. Tira-nos do provisório para o permanente. Nosso corpo atual é corruptível, mortal e decadente, mas o corpo da ressurreição será incorruptível, imortal e glorioso (1 Co 15.53,54).

 

William Barclay afirma que embora a Bíblia se refira ao nosso corpo na condição atual como frágil e decadente, não compartilha do conceito da filosofia grega de que a matéria é má e que o corpo é como uma prisão da alma. A morte não é a libertação da alma da prisão do corpo, mas a remissão de ambos, corpo e alma; bem como da mudança de um corpo de fraqueza para um corpo de poder; do terreno para o celestial; do temporário para o permanente; do mortal para o imortal; do corruptível para o incorruptível. Hernandes Dias Lopes afirma que “Isso não é um desejo especulativo, mas uma certeza inequívoca, pois se trata de algo que os cristãos sabem”. Paulo expõe isto de forma mais plena em 1 Co 15 e 1 Ts 4.13-18.

 

Não cremos que a morte determina o fim da existência humana; nem que a alma fica vagando em busca da luz; não cremos que a alma se reencarna posteriormente em outro corpo; nem que ela vai para o purgatório expiar seus pecados; não cremos que ela fica dormindo no túmulo junto com o corpo em decomposição e nem na aniquilação da alma por Deus. Cremos que na ressurreição corpo e alma são reunidos novamente e que o corpo é glorificado para se tornar apropriado para a vida na eternidade. Quando morremos, há uma mudança de endereço (2 Tm 4.6-8), e o corpo ressurreto deixa de ser uma tenda frágil para tornar-se um edifício permanente.

 

Por compreender esta verdade, o cristão vive em uma santa expectativa celestial. Paulo fala de um gemido, um anseio profundo. “E, por isso, neste tabernáculo, gememos, aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial.” (2 Co 5.2). O gemido revela este desejo por algo superior, mais profundo. Paulo afirma que toda natureza criada geme, ansiando por esta libertação. (Rm 8.22) e os crentes aguardam a redenção do corpo (Rm 8.23). É a certeza de que, o melhor ainda está por vir. A revelação final que Deus tem preparado para seus filhos amados. A redenção que também atingirá toda natureza e redimirá toda criação da situação angustiosa gerada desde que o pecado entrou no mundo e também atingiu a criação.

 

A redenção final não tem um aspecto apenas pessoal, mas possui uma dimensão ecológica. Toda natureza será redimida do cativeiro.

 

2.     Um selo de garantia eterna – “Ora, foi o próprio Deus quem nos preparou para isto, outorgando-nos o penhor do Espírito.” (2 Co 5.4) Para que essa gloriosa promessa se cumpra, Deus nos concedeu o penhor do Espírito quando cremos em Cristo. (2 Co 5.5)

 

Esta é a segunda verdade essencial para nossa vida. Ao nos dar o seu Espírito Deus coloca em nós uma marca espiritual, um sinal sagrado, que é o seu selo, e de quebra nos dá o seu penhor em garantia da vida eterna.  É este penhor que nos garante. Antigamente era muito comum as pessoas irem a uma agência bancária, e como garantia do pagamento do dinheiro emprestado, deixarem as joias de família assegurando que o pagamento estava assegurado. Penhor é a garantia do pagamento.

 

A palavra "penhor" (grego: arrabon) demonstra que Deus nos garante aqui e agora. Portanto, o avalista é o próprio Deus. Se dependesse de nós, não conseguiríamos caminhar até o fim, nem teríamos certeza alguma da vitória, mas o Espírito nos foi dado como garantia “até o resgate de sua propriedade, em louvor da sua glória.” (Ef 1.13-14) Nós já temos o depósito que garante o pagamento na sua totalidade no dia do acerto de contas. Podemos afirmar que estamos firmes até o final, por causa do Espírito Santo. Eu não me garanto, quem me garante é o Espírito de Deus. O penhor é a garantia de que não caminhamos para um fim tenebroso, mas repleto de glória. (2 Pd 1.19)

 

Somente a presença do Espírito em nós, pode dar segurança para enfrentarmos a morte com convicção. Nenhuma palavra pode consolar, nenhum argumento, apenas a presença do Espírito. Que penhor tremendo Deus nos tem dado!

 

Perguntaram ao Dr. Russsel Shedd: “É possível perder a salvação?” E ele respondeu: “Bom, isso depende... depende de quem te salvou. Se foi Cristo quem te salvou então é impossível, agora se foi outro quem te salvou, então, sim, é possível perder a salvação.”

 

No horizonte do cristão não há nuvens, trevas e incerteza, mas a convicção dada pelo espírito da glória por vir. "Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito." (1 Co 2.9) Há uma promessa objetiva de redenção e uma experiência subjetiva da habitação do Espírito Santo em nós.

 

Esse fato nos relembra que as glórias prometidas para a eternidade já começam aqui. A existência atual é o fundamento da vida na glória. O penhor do Espírito é a garantia de que a obra que Deus começou a fazer em nós será concluída. “Aquele que começou boa obra em vós, há de completá-la até o dia da redenção.” (Fp 1.6) Deus não é Deus de obras incompletas. Ele completará as promessas de vida eterna que prometeu.

 

3.     Uma esperança concreta – “Entretanto, estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor. É por isso que também nos esforçamos, quer presentes, quer ausentes, para lhe sermos agradáveis.” (2 Co 5.6-8). Um dia viveremos com o Senhor. (2 Co 6-8)

 

Esta é a terceira verdade essencial. A Bíblia nos ensina que por causa das promessas de Deus, “estamos em plena confiança.” Não é uma esperança insegura, claudicante e titubeante, mas uma certeza firme.

 

A segurança da vida eterna tem dois efeitos no tempo presente: Bom ânimo e confiança plena: Temos, portanto, sempre bom ânimo, sabendo que, enquanto no corpo, estamos ausentes do Senhor; visto que andamos por fé e não pelo que vemos.” (2 Co 4.5-6)

 

Bom Ânimo

A vida é cheia de doenças, dores, insegurança. É fácil se sentir desencorajado, desanimado e abatido. As convicções espirituais, repletas de esperança, nos fazem transcender, e a olhar a vida com maior amplitude. Isto nos traz ânimo.

 

Certa vez ouvi um pastor afirmando que quando nos sentíssemos desanimados, bastaria ler, em voz bem alta, o texto do Salmo 27.13-14 que diz: “Eu creio que verei a bondade do Senhor na terra dos viventes. Espera pelo Senhor, tem bom ânimo, e fortifique-se o teu coração; espera, pois, pelo Senhor.” De fato, esta é uma promessa maravilhosa.

 

E o que dizer do Salmo 23, Salmo 46 e tantos outros textos bíblicos repletos de entusiasmo, ânimo, que fazem nossa autoestima levantar? Quando Jesus viu os seus discípulos abatidos, o que ele lhes falou? “Eu disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz.  No mundo passais por aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” (Jo 16.33) Crer em Jesus traz encorajamento aos nossos corações.

 

Confiança plena

Outro aspecto maravilhoso é a confiança plena.

 

O apóstolo Pedro afirma: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança.” (1 Pe 1.3). Não é uma esperança morta, destituída de sentido, mas uma esperança viva, fundamentada em promessas fiéis. Não é uma esperança nos políticos que criam falsas expectativas, ou num sistema judiciário corrupto e pervertido. A esperança em Cristo é viva! “Porquanto a Escritura diz: Todo aquele que nele crê não será confundido.” (Rm 10.11) Gosto muito desta expressão: “Não será jamais confundido.Somos confiantes quanto ao futuro e corajosos quanto ao presente. Por isto a morte jamais será uma tragédia.

 

“Pois, na verdade, os que estamos neste tabernáculo gememos angustiados, não por querermos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida.” (2 Co 4.9)

 

4.     Um tribunal justo: “Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo.” Todos compareceremos perante o julgamento de Deus.

 

O caminho da glória é também o caminho do juízo. Cada pessoa ouvirá o veredicto de Deus no dia do juízo: Rev. Hernandes faz cinco comentários sobre o tribunal de Cristo:

 

   a)      O tribunal de Cristo será justo. Ninguém poderá escapar dele.

   b)      O tribunal de Cristo será imparcial. Seu julgamento não receberá nenhuma influência de fora.

   c)      O tribunal de Cristo será meticuloso. O que semearmos, isso colheremos.

   d)     O tribunal de Cristo será revelador. Julgará tanto nossas ações como intenções (1 Co 4.5).

   e)      O tribunal de Cristo terá uma sentença. Ali os infiéis serão condenados eternamente e os justificados receberão as recompensas das promessas e da graça

 

Conclusão

 

A partir deste texto refletimos sobre quatro verdades essenciais:

Temos uma casa eterna nos céus: “Casa não feita por mãos, eterna, nos céus

Temos um selo de garantia eterna: “O próprio Deus nos outorgou o selo do Espírito”

Temos uma esperança concreta – “Estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor. “Isto traz bom ânimo e confiança plena

Temos um tribunal justo: “Todos compareçamos perante o tribunal de Cristo.”

 

A fé cristã se baseia na história, e não em fábulas, isto é, que Jesus viveu, morreu e ressuscitou, e que a ressurreição é o evento central na recriação por Deus do nosso mundo caído. Não apenas as ideologias totalitárias do século passado, com suas falsas certezas, nem as promessas messiânicas do presente, nem a manipulação das informações da imprensa atual, nem os ímpios julgamentos de tribunais no presente. A verdade resiste e se manifesta. Nem o secularismo pós-moderno ou o relativismo, com suas falsas dúvidas, tem sido incapaz de responder às angustiosas questões existenciais e espirituais que surgem. Por que nasci? De onde vim? Para que existo? Para onde vou? Somente a verdade de Deus, pode trazer consolo, graça, segurança e direção,

 

Quando olhamos para este texto, vemos a beleza da fé cristã. Que benção estarmos firmados em tão grandes promessas. Que benção poder alicerçar nossa vida na obra de Cristo e no seu sacrifício. Não estamos indo para o nada. Nossa vida tem propósito. Existimos para um projeto específico e abençoador. Que bom conhecer e fundamentar nossas vidas nestas quatro verdades essenciais.

 

Um comentário: