segunda-feira, 25 de setembro de 2023

1 Sm 22.1-5 Saindo da zona de segurança

 


 

 

Introdução

 

Segurança é algo fundamental para nossas vidas. Gostamos de segurança, buscamos segurança, queremos segurança.

 

  1. Queremos segurança financeira.

 

Saber que o que ganhamos é suficiente para nos manter. Uma das maiores preocupações do homem moderno tem a ver com a ausência de estabilidade econômica. O que acontecerá no futuro? Depois que eu me aposentar?

 

  1. Queremos segurança pessoal.

 

O Brasil é o quinto maior país do mundo em extensão territorial, com 8.514.876 km2. O país possui um litoral com 7.367 km, banhado a leste pelo oceano Atlântico. O contorno da costa brasileira aumenta para 9.200 km se forem consideradas as saliências e reentrâncias do litoral.

 

Temos lugares lindíssimos, não apenas no litoral, mas no interior. Mas por que o Brasil ocupa uma posição tão insignificante quando se trata de receber turistas estrangeiros? Existem várias razões, desde logística, integração de aeroportos, divulgação, mas uma das respostas mais presentes é a questão de segurança. Ninguém quer sair de férias correndo risco de ser assaltado, ou algo pior aconteça.

 

Vivemos em condomínios, apartamentos, com forte esquema de segurança, buscamos a sensação de que estamos seguros.

 

  1. Queremos segurança emocional.

 

Senso de pertencimento, de que somos amados, desejados, olhados. Que os outros nos consideram. Que não sofremos de abandono emocional. Muitas pessoas são tão desesperadas por aceitação que acabam cometendo atropelos. Na busca por um casamento, pessoas podem colocar tudo a perder.

 

  1. Queremos segurança física.

 

Tomamos suplementos, fazemos academia, fazemos plásticas, tomamos remédios, fazemos dieta e buscamos uma boa alimentação. Queremos ter boa saúde, lutamos para evitar doenças degenerativas, queremos evitar a doença, acreditando que o imprevisto não virá sobre nós ou que ele poderá ser adiado.

 

Embora saibamos que todo cuidado com a saúde é algo importante, a verdade é que ninguém pode impedir a doença, e ninguém pode prever o futuro.

 

Recentemente um amigo acordou com sua esposa cega da noite para o dia. Depois de examinar, descobriram que seu problema era muito mais sério que imaginavam. Não era apenas algo oftalmológico, mas neurológico. Dois meses depois ela foi levada a UTI, onde se encontra entubada, com uma forte crise de demência. Uma situação de muita dor e angústia. Quem pode ter segurança sobre qualquer coisa?

 

Queremos segurança...

 

Este texto nos mostra Davi buscando um lugar seguro. Ele é caçado pelo seu sogro, que vê nele uma ameaça política e cria uma obsessão e se torna paranóico em relação ao que Davi fará. Davi está aguardando uma definição de sua vida. “Até que saiba o que o Senhor vai fazer de mim.” (1 Sm 22.3). Na verdade, sua resposta é muito interessante: O que o Senhor fará de mim?

 

Jr 10.23 afirma: “Eu sei, ó Senhor, que não cabe ao homem determinar o seu caminho, nem o que caminha o dirigir os seus passos.” Nenhum de nós tem poder sobre a morte, sobre a tragédia, as enfermidades. Fazemos nossos planos, mas que determina o nosso caminho é o Senhor.

 

Davi tem uma promessa de Deus. “foi ungido rei.” (1 Sm 16) Mas desde que isto aconteceu, nada demonstrou que ele conseguiria chegar ao trono. Ele é perseguido incansável e implacavelmente por Saul, seu sogro e rei. Sua vida corre sério risco. A força militar de Saul está contra Davi, e por isto, ele precisa sair do território de Israel e se refugiar em Moabe. Ora, os moabitas são inimigos históricos dos judeus, mas apesar da briga histórica, Davi foi acolhido pelo rei de Moabe (1 Sm 22.3-4) Toda sua família e amigos bem como seu exército são recebidos naquele país vizinho. (1 Sm 22.1,2) Ele pede asilo político e recebe. (. (1 Sm 22.3)

 

Por que sair deste local seguro?

Entretanto, um profeta chamado Gade, traz uma mensagem para que ele saia daquele lugar, apesar da aparente segurança. Por que sair da zona de segurança? Não parece fazer muito sentido sair de um lugar seguro. Um grupo de médicos se reunia todas as semanas com o Dr. Joe Wilding para estudar a Bíblia, entre eles estavam cristãos e não cristãos. Certa vez, um não cristão afirmou: “Este Deus da Bíblia é muito estranho. Não dá para sabermos exatamente o que ele vai fazer.”

 

Este texto nos mostra que:

 

  1. Deus vê o que o homem não consegue ver.

 

Nunca saberemos a realidade que se encontrava por detrás da vida de Davi. Ele estava morando num outro país, vivendo no meio de pessoas históricas e tradicionalmente inimigas. O que poderia acontecer com ele vivendo naquele lugar? As coisas estavam em paz, em segurança, mas de fato iriam continuar assim?

 

O que Deus via e Davi não via?

Em 2002, uma profunda inquietação veio ao meu coração, sendo pastor da Igreja Christ The King em Cambridge-MA. A Igreja estava em paz, minha esposa trabalhando, os filhos estudando, mas eu percebia de forma clara que era a hora de deixar a igreja e exercer o ministério em outro lugar. A liderança não entendeu os meus motivos, mas estava claro que era hora de mudança.

 

Quatro razões estavam claras na minha mente:

  1. Eu entendia que Deus precisava enviar outro pastor que pudesse fazer o que eu percebia que não era mais possível fazer. Falta-me entusiasmo, alegria em fazer as coisas. Aquilo que eu normalmente fazia estava se tornando mecânico e eu não estava feliz pastoreando desta forma.
  2. O frio de Boston, onde morávamos, é implacável. São quase 8 meses com temperatura em torno de zero grau. O frio prolongado estava causando alguns efeitos emocionais.
  3. Eu não gostava da ideia de envelhecer nos Estados Unidos. Eu olhava os idosos imigrantes e os achava solitários. A dinâmica dos imigrantes é voltada para a produção, trabalho, e resta pouco tempo para folga. Não gostava da ideia
  4. Queria estar mais próximo dos meus pais, na medida em que eles envelheciam. Vir para Anápolis foi uma benção pois estava a 10 horas de carro dos pais da Sara Maria e 7 horas da casa dos meus pais. Uma viagem de carro me colocaria próximo deles. E de fato isto aconteceu, porque 5 anos depois, o pai da Sara faleceria, e ela pode dar todo suporte necessário para sua família.

 

Um dia, numa conversa com os presbíteros da igreja de Anápolis, falei sobre isto e um dos presbíteros disse: “E pastor... mas o Senhor não pode desconsiderar que estávamos orando para que Deus nos enviasse um pastor...” Desde então, a oração da igreja se tornou o quinto ponto. Mas este era uma razão que eu não considerava.

 

Entretanto, olhando o passado, acredito que todas as razoes, a mais forte para mim hoje é ver como Deus estava cuidando de nós, como família. Ao chegar aqui no Brasil, meu filho que na época tinha 16 anos, me relatou as lutas e pressões que estava sofrendo dos seus amigos. Muitos colegas do Matheus foram parar na cadeia por pequenos delitos, e agora víamos o que então não estávamos enxergando. O canto obscuro na verdade era livramento de Deus. Deus via o que não víamos.

 

Temos acompanhado em oração pessoas muito queridas ligadas a nós, sobre uma possível e gigantesca mudança. Todos os dias eu e minha esposa oramos por este assunto. Recentemente fiz uma pergunta no grupo: “O que está por detrás dessa sua inquietação. Você está numa excelente empresa, com grande salário, num lugar confortável. Por que surgiu este desejo agora de fazer uma mudança?” Ela então começou a explicar o que estava acontecendo, mostrando alguns dados. Sua resposta foi correta, mas a minha maior pergunta estava por detrás de todas estas explicações. O que há por detrás de tudo? Até dos motivos e inquietações? Santo Agostinho afirma: “Quando Deus se agita, o homem se levanta.” Então, o que está por detrás? No princípio dos princípios?

 

Talvez esta seja a razão pela qual Deus também tirou Davi de Moabe. Ele via o que Davi não via.

 

  1. Nem sempre a segurança é real.

 

Quando penso em segurança, dois eventos me vêm à mente:

 

Primeiro, morávamos nos EUA, e todos falam de um país seguro. Nossa vizinhança era pacata, forte esquema de segurança e absolutamente tranquila, mas apesar disto nossa casa foi assaltada em Medford-MA. Ladrões roubaram tudo o que quiseram, entre eles muitas joias e anéis da minha esposa.

 

Segundo todos os anos vínhamos de férias para ficar na chácara de meus pais em Gurupi. Lugar tranquilo. Um dia, quatro ladrões entraram na chácara, fizeram roubo de tudo que podiam a mão armada e ameaçaram toda a família. Momento de muita insegurança e medo, eles eram muito ameaçadores e não sabíamos o que poderia acontecer conosco.

 

Não existe lugar seguro...

 

Certa vez perguntaram a David Livinsgtone, conhecido missionário inglês que trabalhava no coração da África, se ele não tinha medo de se viver em regiões tão remotas, e ele respondeu: “O lugar mais seguro para estar é no centro da vontade de Deus”.

 

  1. Deus estava restaurando o projeto de vida que ele havia estabelecido para Davi. A segurança que ele encontrou em Moabe poderia se tornar um fator impeditivo para que o caminho traçado por Deus para sua vida, pudesse ser atingido.

 

Em Moabe, Davi nunca seria rei. Sua segurança poderia lhe distanciar do alvo estabelecido por Deus. Ele precisava estar na terra de Israel, ainda que o ambiente fosse pesado. Era na tensão e na dinâmica da vida, que Davi aprenderia a se tornar rei, liderar de forma mais oportuna, entender como funcionam as forças políticas. Sua segurança poderia acomodá-lo, tirar seuss sonhos e ideais. Deus o traz de volta para moldar, preparar e resgatar seu projeto de vida: um dia Davi se tornaria rei em Israel.

 

Um dos grandes problemas que temos é ficar na região do conforto. Podemos virar “patos gordos”.  Já ouviram falar desta história?

 

Certo fazendeiro canadense contava a seu amigo que uma das suas maiores tristezas na época do inverno é porque os patos que vinham para sua casa, mas por serem ave migratórias, quando chegava o frio e a alimentação desaparecia, eles tinham que voltar para regiões mais quentes. O amigo afirmou que isto só acontecia por falta de comida, mas se ele fizesse uma cabana e colocasse comida eles não iriam embora. Satisfeito, o fazendeiro resolveu tentar e deu certo. Mas quando chegou a primavera, os patos que chegavam depois de tanto tempo de voo, estavam ágeis, mas aqueles que ficaram apenas comendo, eram agora incapazes de voar. Estavam com excesso de peso.

O fazendeiro percebeu que sua atitude não fez bem as aves, e decidido, destruiu a cabana para que o ciclo de vida das aves migratórias não fosse perturbado.

 

Podemos facilmente virar patos gordos.

 

Quando eu era pastor em Brasília, recebi um desafiador convite para me mudar para o Rio de Janeiro. Eu tinha apenas 30 anos de idade, e assumiria uma igreja desafiadora na zona sul do Rio. Não havia qualquer motivo aparente para deixar Brasília, mas depois de refletir, surgiu um profundo incomodo em meu coração, e depois de orar bastante e sofrer um bocado, Sara e eu entendemos que deveríamos aceitar o convite. E desta forma, me tornei pastor na Gávea, por 4 ½ até sair de lá para os EUA. Esta decisão de mudança foi um grande risco para minha vida, mas sem dúvida, a inquietação que eu sentia vinha de Deus. E certamente fazia parte do seu propósito.

 

  1. Quando perdemos a segurança, podemos ser mais produtivos – Criatividade surge diante da crise.

 

Já viram quantas verbos estão dentro da palavra Crise?

No núcleo dela encontramos o verbo rir: veja como as duas letras RI estão inseridos nestas palavras.

Nesta palavra podemos retirar o verbo “crer”. Três letrinhas formam “CRE”.

Mas dentro desta palavra encontramos ainda “CRIE”, que vem de criatividade, novas ideias.

A zona de segurança pode nos levar a mediocridade, deixar de sonhar, criar, crer, rir.

 

Conclusão

 

Não há problema em querermos estar seguros, aliás, a instabilidade e insegurança constante causam stress. Davi mesmo procurou lugar seguro para si, Deus o orientou nesta direção. (1 Sm 23.29; 24.22)

 

Entretanto, precisamos lembrar que o lugar mais seguro da terra: centro da vontade de Deus.

 

Por isto a Bíblia diz: “Assim diz o SENHOR: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte, na sua força, nem o rico, nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o SENHOR. (Jr 9.23-24). Não confie em seus recursos, na sua força e na sua sabedoria.

 

            Não confie nas próprias habilidades

Nosso conhecimento muitas vezes é absolutamente ineficaz. Isto se dá quando chegamos aos nossos limites. Não sabemos o que fazer. Por mais informações que tenhamos, esbarramos nos limites. Esta é a benção de poder olhar para fora de si, crer em um Deus que transcende nossa existência. Que triste o homem que não consegue ver nada além dele mesmo. Que benção saber que existe um Deus em quem podemos refugiar. Não dá para confiar em nossas próprias habilidades e recursos. Quando vem a dor, a vulnerabilidade, a angústia, não somos capazes de resolver.

 

            Não Confie na sua força – Achamos que saúde é o que interessa, o resto não tem pressa. Confiamos no poder que temos, nas nossas próprias condições humanas.

Bocage, que sempre foi irônico e debochado, que procurava ridicularizar a fé e a religião, no final de sua vida declarou:

 

No ano de 1805, aos quarenta anos de idade, consciente da aproximação da hora final, com os fantasmas mais tangíveis, mais aterradores, mais temidos, sob a forma da doença, Manuel Maria Barbosa Du Bocage escrevia:

Já Bocage não sou!… À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento…
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

 

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!… Tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse, pura!

 

Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:

 

Outro Aretino fui… A santidade
Manchei!… Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!

 

            Não confie na riqueza

 

Sua riqueza pode comprar saúde? Ela pode comprar um bom plano de saúde, mas não pode lhe dar saúde. Sua riqueza pode lhe dar uma mesa farta, mas não o apetite. Uma cama luxuosa e confortável, mas não o sono.

 

Augusto Cury afirma:

“O dinheiro pode nos dar conforto e segurança, mas ele não compra uma vida feliz. O dinheiro compra a cama, mas não o descanso. Compra bajuladores, mas não amigos. Compra presentes para uma mulher, mas não o seu amor. Compra o bilhete da festa, mas não a alegria. Paga a mensalidade da escola, mas não produz a arte de pensar. Você precisa conquistar aquilo que o dinheiro não compra. Caso contrário, será um miserável, ainda que seja um milionário.

 

O texto Bíblico diz:

“...mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR.” Na verdade, confie nisto: em conhecer o caráter de Deus, saber quem ele é. A palavra usada no hebraico para Senhor, é a palavra mais sagrada do hebraico para Deus. “Javé”. Este é o Deus pessoal, o Deus da aliança.

 

Precisamos saber quem é o Senhor. Um Deus pessoal, relacional, que dirige nossa vida. As coisas não acontecem por acaso. Deus tem a história na palma de suas mãos e fará dela aquilo que lhe apraz. Ele é o Senhor. Não estamos à mercê das circunstâncias, ao Deus dará. Existe providência, direção e sabedoria no governo da história.

 

Precisamos saber ainda que por causa do seu caráter, é ele é quem dá a provisão. Não raramente achamos que nosso talento e capacidade de fazer as coisas é que nos capacita a viver. Ele é o Jeová-Jiré. O Deus da provisão. Por isto a Bíblia diz que “O Senhor é meu pastor, e nada me faltará.” (Sl 23.1)

 

Muitas vezes confiamos nos outros

Davi estava “seguro” em Moabe. Ele aparentemente caiu na graça do rei, mas o que Davi não sabia, é que naquele suposto lugar seguro, eles poderiam estar fragilizados e ameaçados.

 

Tendemos a colocar nossa confiança na segurança de um emprego, nas promessas recebidas, e nos frustramos.

 

Não há segurança no conforto moral e financeiro, nem podemos colocar nossa confiança nos homens.

 

O texto central da Bíblia, é o Salmo 118.8 O capítulo que está no centro da Bíblia é o SALMO 118. Antes do salmo 118, há 594 capítulos e depois do salmo 118, há 594 capítulos = 1188 capítulos. exatamente o versículo do salmo 118:8, ele diz: “É melhor confiar no SENHOR do que confiar no homem.” Outra tradução diz: “Melhor é buscar refúgio no Senhor do que confiar no homem”. Existe a mesma quantidade de versículos antes e depois. Não é algo surpreendente?

 

A próxima vez que alguém te disser que deseja conhecer a vontade de Deus para sua vida e que deseja estar no centro da Sua Vontade, referira a ele o centro de Sua Palavra, Salmos 118:8: “É melhor refugiar-se no Senhor do que confiar no homem”.

 

Eu não creio que isto seria algo casual. Tudo que existe na Bíblia não possui casualidade, mas intencionalidade. Portanto é admirável considerar isto. Alguns comentaristas afirmam, entretanto, que o vs. Central é o Salmo 118.15: Mesmo assim, veja que declaração maravilhosa: “Nas tendas dos justos há voz de júbilo e de salvação.” A NVI internacional traduz da seguinte forma: “Alegres brados de vitória ressoam nas tendas dos justos: “A mão direita do Senhor age com poder!”

 

Nossa segurança está em Deus.

 

A grande provisão.

Apesar de refletirmos sobre o cuidado de Deus dando-nos sua provisão, é importante lembrar que o grande desejo de Deus não é se transformar em milagreiro, nem Deus de soluções imediatas. Seu proposito para nossa vida é muito maior e transcendental.

 

Logo depois da multiplicação dos pães, conforme o registro de Joao 6, a Bíblia afirma: “Sabendo, pois, Jesus, que estavam para vir com o ntuito de arrebata-lo para o proclamarem rei, retirou-se novamente, sozinho, para o monte.” (Jo 6.15). Ele não queria ser um rei temporal, seu proposito era ser senhor eterno sobre a vida das pessoas, mas eles queriam transformá-lo em um resolvedor de problemas. Seu proposito para nossa vida, entretanto, é muito maior.

 

A grande obra de Cristo para nós, foi realizada na cruz. Jesus já providenciou tudo que era necessário ao morrer. Quando ele afirmou tetelestai, “tudo está consumado” Era uma afirmação dirigida a Deus, o seu Pai celestial, que o enviou para pagar o preco de nossos pecados na cruz. Nenhum homem seria capaz de pagar sua infinita dívida diante do Deus santo. Nada que fizéssemos seria capaz de resolver o gave problema de nosso pecado. Então, Jesus assumiu nosso lugar na cruz, e com o seu sangue pagou a nossa dívida. Ele nos perdoou, ele nos reconciliou ele nos justificou diante de Deus. “pelas suas pisaduras fomos sarados.”

 

Jesus providenciou a Redenção. Na cruz ele realizou três grandes obras:

 

  1. Livrou todos aqueles que nele creem, do império das trevas. Nos tirou das mãos de satanás e nos transportou para o reino de seu amor (Col 1.13)

 

  1. Satisfez a justiça de Deus, e nos livrou da condenação eterna. Ele nos justificou diante de Deus. Rm 3.25 diz que assim foi a proposta de Deus, no pacto da redenção que ele fez com Jesus. Ele retirou a culpa pelo meu pecado. Toda provisão para meu pecado, para minha vergonha, para minha dor Jesus já fez na cruz.

 

  1. Esmagou a cabeça da serpente. 1 Jo 3.8 afirma: “para isto se manifestou o Filho de Deus, para destruir as obras do diabo.”

 

Não existe lugar seguro que não seja nas mãos do Deus amoroso e bom.

 

 


sexta-feira, 8 de setembro de 2023

1 Cr 12.32 A Igreja do Futuro : Interpretando corretamente o seu tempo




 

“Esses líderes sabiam o que o povo de Israel devia fazer, e a melhor ocasião para fazê-lo” (NTLH)

“Dos filhos de Issacar, conhecedores da época, para saberem o que Israel devia fazer” (RA)

 

 

 

Introdução

 

Deram-me o tema “A igreja necessária”, para pregar no aniversário da Igreja Presbiteriana do Setor Bueno, em Goiânia. Resolvi refletir sobre o contrário desta temática, antes de falar do tema específico.

 

Será que podemos falar de “igrejas desnecessárias” também?

Fiquei pensando sobre igrejas “desnecessárias”, isto é, que não fazem falta a ninguém, que se deixarem de existir, ninguém perde nada.

 

Eis o que pensei:

§  Uma igreja perdeu a capacidade de ser sal. Se tornou insipida, irrelevante.

§  Uma igreja que perdeu a capacidade de ser luz. Por alguma razão decidiu se colocar debaixo da cama, não ilumina, não agride as trevas, não aquece.

§  Uma igreja vivendo um estilo novelesco. Gasta tanta energia administrando conflitos que não tem tempo para sonhar projetos, planejar a visão, sua percepção é “visão de túnel”, incapaz de olhar para os lados e ver as oportunidades que Deus tem colocado diante de si.

§  Uma igreja desnecessária, perde seu valor. Jesus mesmo afirmou que se a Igreja de Éfeso não se autoexaminasse, se arrependesse, e voltasse à prática das primeiras obras, ele a moveria do seu lugar o seu candeeiro. (Ap 2.5)

§  Uma igreja desnecessária, perdeu a capacidade de glorificar a Deus. Ela é irrelevante espiritualmente, portanto, sua presença é insignificante.

 

Dita estas coisas, gostaria de refletir sobre uma igreja que é necessária.

A igreja necessária é aquela que sabe interpretar o seu tempo. É fácil virar monumento e viver de história, que apenas olha para o passado e adora museu, ao invés de se tornar um movimento, com perspectiva no futuro.

 

  1. Conhecendo o tempo, não corremos o risco de nos perder no passado –Quando Davi estava formando o seu segundo escalão e descobriu uma turma interessante dentro de Israel. “Dos filhos de Issacar, conhecedores da época.” (1 Cr 12.32)

 

Davi descobriu um grupo de jovens de uma tribo esquecida de Israel, que se tornou conhecida por serem jovens lúcidos e conectados com seu tempo. Você já ouviu falar desta tribo? Quase não há menção das pessoas desta tribo no Antigo Testamento. O que estes jovens tinham de especial: o texto afirma que eles eram “conhecedores do seu tempo”. Você realmente entende o que está acontecendo ao seu redor?

 

Tenho encontrado muitas pessoas que se perdem na memória de um tempo bom, vivem agarradas a este passado, e não conseguem mais projetar sua vida em relação às novas oportunidades que estão surgindo.

 

Que geração é esta?

            Mística

            Experiencialista

            Relativista

            Pluralista

            Subjetivista

            Relacionamentos descartáveis: Amor líquido.

            Mundo virtual

 

Precisamos de pessoas que saibam traduzir a igreja no seu contexto histórico. Jovens que amam a Deus, que possuam formação sólida e compromisso sério, mas que ao mesmo tempo consigam fazer uma leitura correta da sociedade e dos desafios atuais.

 

Uma igreja necessária é culturalmente relevante. Cultura é perigosa? Sim. Mas somos convidados a nos engajar na cultura por causa de Cristo.

Quando se trata de engajamento e contextualização, a igreja enfrenta dois riscos:

 

A.    Obscurantismo e Isolamento – Carlito Paes afirma que “se o Século XX voltar, muitas igrejas estão preparadas para recebê-lo.” Igrejas historicamente se acomodam. Igrejas que vivem no modelo de 50 anos atrás podem se tornar irrelevantes e desnecessárias no Século XXI. A verdade de Deus é eterna para todas as culturas. O grande desafio é que a igreja precisa se tornar relevante. A Bíblia é relevante, mas talvez não sejamos.

 

Santidade não é separação do mundo.

Sem contextualização a igreja enfrenta o obscurantismo. Não precisamos tornar o evangelho relevante, ee já é.

 

B.     Sincretismo – O outro risco que a igreja enfrenta é do sincretismo. Neste caso o evangelho se perde, tornando-se parecido em excesso com a cultura. Quando o evangelho se “confunde”, torna-se irrelevante e desnecessário: sal no saleiro e luz debaixo da cama.

 

Por que precisamos conhecer a época que vivemos?

 

Muitas pessoas costumam dizer: “Aquele tempo é que era bom” ... ou, “Não é necessário mudar. O tempo bom é hoje!”. Alguns chegam ao absurdo de querer reviver “movimentos” históricos. Temos acompanhado dentro de igrejas evangélicas, pessoas que querem reviver experiência dos homens do passado, sem entender seu contexto e os motivos que levaram Deus a levantar uma geração que foi tão significativa para seu tempo.

 

Pessoas tradicionais tendem a confundir essência com acidente, temporal com eterno, histórico com revelado; sem considerar que o velho, quando surgiu, também era novo.

 

Certa vez participei ativamente da programação de um grupo que queria celebrar uma data histórica. No saudosismo começaram a dizer como era bom o tempo passado, e perceber que o saudosismo florescia. Então, cuidadosamente, comecei a dizer que não era importante saber apenas de onde vínhamos, mas projetar a visão do lugar aonde queremos chegar.

 

  1. Quem conhece o seu tempo, não possui visão romântica nem pessimista da história, mas interpreta a vida considerando a realidade – Sabe fazer a hermenêutica certa e investir seu tempo apropriadamente.

 

Uma conhecida canção de final de ano diz: “every generation, blames the one before”. Como, sem precisar culpar a a geração antiga, podemos ter igrejas e pastorados relevantes? Como ser contemporâneos nesta geração plural, superficial, com grande mobilidade, individual, subjetivista e experiencialista?

 

Stott afirma que os liberais têm relevância sem conteúdo, mas que os conservadores tem conteúdo sem relevância. Será que a realidade precisa ser esta?

 

Precisamos pedir a Deus para que nos dê a graça de ser um homem deste tempo, servindo a própria geração. A palavra de Deus nos afirma que um dos reis de Israel conseguiu efetivamente fazer isto. “Tendo Davi servido à sua própria geração conforme o desígnio de Deus, adormeceu” (At 13.36). Esta é a geração que Deus nos colocou para servir. Como vamos respondê-la, sem comprometer o conteúdo do Evangelho? Como alcançar esta geração virtual que parece já nascer com um chip na cabeça?

 

  1. Quem conhece o tempo, é capaz de projetar o futuro – “Dos filhos de Issacar, conhecedores da época, para saberem o que Israel devia fazer” (1 Cr 12.32)

 

Por conhecerem seu tempo, eram capazes de criar estratégias corretas. Eram “conhecedores de seu tempo para saberem o que Israel devia fazer.”

 

Muitas pessoas querem fazer. Mas sem reflexão. Sem inteligência. Às vezes, fazer menos é fazer mais. Já ouviram falar do ócio produtivo? Nem sempre ação significa eficiência. Se você não conhece as demandas do seu tempo, você vai viver como Margarida, descrita por Chico Buarque: “O tempo passou na janela, só Carolina não viu.”

 

Lá fora, amor
Uma rosa nasceu
Todo mundo sambou
Uma estrela caiu
Eu bem que mostrei sorrindo
Pela janela, ói que lindo
Mas Carolina não viu

 

O lema de Steve Jobs e da Apple é “Think different!”. Esta capacidade de pensar com novas estratégias e ver perspectivas com novas lentes, faz toda diferença na vida. Certa vez, Jobs afirmou que nunca faziam pesquisa de mercado, porque as pessoas não sabiam o que queriam, até ver o que eles estavam oferecendo.

 

Então, para ilustrar, fazia o seguinte comentário. Se Henry Ford perguntasse às pessoas como elas gostariam que fossem os veículos do futuro, certamente eles diriam que queriam mais conforto, e cavalos mais potentes. Eles não conheciam o motor a diesel, então não conseguiam fazer comparações. Para Jobs, portanto, quando as pessoas viam as novas invenções, elas então diziam: “Era exatamente isto que nós queríamos ter”.

 

Visão é a antecipação do futuro. A capacidade de ver e colocar os olhos onde ninguém está vendo. No entanto, as projeções para 2020/2040, surgem agora, daqui a 10 ou 20 anos, você pode estar no mesmo lugar, ou construir perspectivas.  Basta fazer uma leitura da história para que a gente perceba isto. Aqueles que conseguiram dar grandes saltos de qualidade, foram homens com capacidade de ver onde oportunidades onde pessoas viam problemas.

 

Gary L. McIntosh & Glen Martin escreveram interessante livro chamado “The Issachar Factor”, com o seguinte subtítulo:” Compreendendo tendências que confrontam sua igreja e desenham uma estratégia para o sucesso”.  Eles começam o livro falando da revolução que foi a mudança do relógio antigo, manual, em relação ao relógio de quartzo, digital. Contam a história do inventor deste relógio e como ele e ofereceu seu produto aos suíços, tradicionais fabricantes de relógio, mas eles rejeitaram a proposta uma vez que eram detentores de quase todos os relógios fabricados no mundo. Se eles eram donos do mercado, por que mudar?

 

O inventor então, foi procurado pelos japoneses, que revolucionaram a indústria de relógio no mundo. Qual foi o ponto: Os suíços não entenderam as mudanças que estavam ocorrendo, não quiseram ver e perderam o tempo, e ficaram para trás. A história mostra os resultados: atualmente 98% da população do mundo usa relógios de quartzo.

 

Tantos nos dias de Davi, como homem, precisamos de pessoas que saibam retraduzir o contexto histórico em que vivem. A igreja precisa de gente assim: Que amam a Deus, que possuem formação sólida e compromisso sério, e que façam uma leitura correta da vida e dos desafios diante de si.

 

  1. Quem conhece o seu tempo, faz de tudo para viver na dimensão da eternidade – Parece contraditório, mas Brennan Manning afirma que ““todos os cristãos deveriam estar sempre conscientes de sua morte”. Ao entender sua transitoriedade consegue ser relevante, sabe que é mortal e passa. Davi serviu à sua própria geração e adormeceu.

 

Os homens são mortais e passam... A vida passa como vento ligeiro, breve pensamento, flor da erva. O que fazemos agora, ecoa na eternidade.

 

Certo homem estava de forma monótona lendo as genealogias da bíblia, quando observou que todas as pessoas tinham que encontrar a morte no final, já que a Bíblia diz que as pessoas haviam vivido tantos anos, gerado filhos... e morrera! Diante disto, refez sua vida nesta dimensão. Ele compreendeu o seu fim. Sua história vai ser fechada num determinado momento, e ele precisa construir sua vida em relação à estas verdades.

 

Conclusão

 

É impossível conhecer o seu tempo sem a perspectiva do “Cristo de todas as culturas, e do Cristo acima da cultura.” Em Jesus aprendemos a usar de forma sábia o tempo que Deus nos deu.

 

Jesus era encarnado sem perder a dimensão do mistério. Viveu intensamente sua humanidade, soube chorar, soube amar, soube partilhar, soube viver e soube morrer. No meio de toda esta experiência profundamente humana afirmou e ensinou os homens a vivenciar uma sacralidade encarnada. Recusou as tentações do conforto, as ofertas do poder, experimentou o sentido da saudade, do luto e do amor. Descobriu o sentido da afetividade e da traição. Penetrou nos temores dos seres humanos e experimentou fome e sede. Aprendeu o segredo da oração, soube vivenciar Deus no encontro com homens carregados de sensibilidade para com Deus, e na oposição e confronto tantas vezes de homens que eram incapazes de experimentar Deus apesar de serem supostamente representando a Deus. Soube experimentar a Deus no silêncio das montanhas e nas noites que passou na presença de Deus. Conseguiu manter uma relação de integração-inclusão de coisas tão distintas como oração e ação.

 

. Viveu e compartilhou a experiência da sacramentalidade das coisas

Pão e Vinho são dados aos seus discípulos. Mas pão e vinho apontam para algo maior, não são meros objetos. Falam de coisas estranhas. Jesus usa palavras mágicas, mas ao mesmo tempo entendidas e apreciadas pelos seus discípulos. As coisas tinham o poder de aproximá-lo dos seus discípulos, por meio delas uma nova dimensão da vida era ampliada: Descobriam que as coisas tinham sentidos, valores, signos e sinais que apontavam para além. O pão não é mero pão, é verdadeira comida, é carne. Quem come o pão come seu corpo. O vinho não é apenas a uva esmagada; vinho é carregado de gestos e intencionalidades, vinho é sangue, verdadeira bebida, sustento para a alma. As coisas são maiores e têm sentidos mais profundos que os conceitos não podem extrair, e que a razão não pode absorver; é necessário ir além.

 

. Articulou corretamente o natural e o espiritual, o humano e o divino

Na espiritualidade cristã, História de Deus e história dos homens são tangenciais, interrelacionais; realidades que se completam, encontrando-se numa mesma perspectiva, posto que Deus não é alguém longe e distante, mas é um ser pessoal; nem é um poder frio e silencioso, mas é um ser moral que se relaciona com o ser humano, se comunica com ele pelos seus profetas e deseja tornar conhecida sua mensagem a tal ponto que o próprio Filho de Deus resolve penetrar a história.

 

Porque o natural e o sobrenatural se confundem, nenhuma espiritualidade pode ser apenas vertical. A criação é obra de Deus e não do demiurgo mau. Jesus desfruta desta natureza e interage com ela, glorifica ao criador por ela. Assume responsabilidade  com o homem todo e todo homem.

 

A Bíblia nos ensina que Jesus é a chave hermenêutica da história. “Vindo, porém, a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher” (Gl 4.4). Jesus vem nos ensinar existe um tempo específico para nascer, viver, servir e morrer. Este é o nosso tempo... Esta é a nossa geração. Não fomos chamados para servir outro temp. Jesus se identificou com a cultura, geografia, costumes e realidades de seu tempo, e ministrava a palavra, “conforme permitia a capacidade de seus ouvintes” (MC 4.33).

 

Precisamos aprender a imitar o nosso Mestre.