sexta-feira, 1 de setembro de 2023

1 Cr 7.20-23 As coisas não iam bem em sua casa

 


 

 

 

 

² Era filho de Efraim Sutela, de quem foi filho Berede, de quem foi filho Taate, de quem foi filho Eleada, de quem foi filho Taate,

²¹ de quem foi filho Zabade, de quem foi filho Sutela; e ainda Ézer e Eleade, mortos pelos homens de Gate, naturais da terra, pois eles desceram para roubar o gado destes.

²² Pelo que por muitos dias os chorou Efraim, seu pai, cujos irmãos vieram para o consolar.

²³ Depois, coabitou com sua mulher, e ela concebeu e teve um filho, a quem ele chamou Berias, porque as coisas iam mal na sua casa

 

 

 

Introdução

 

Nem sempre as coisas vão bem em nossos lares.

São lutas pesadas, conflitos não resolvidos, amarguras perpetuadas, tristeza e acusação. A Bíblia fala da mulher siro fenícia que vem a Jesus clamando: “Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim. Minha filha está horrivelmente endemoninhada.” Ter uma filha com transtornos psiquiátricos causados pelo diabo é algo pesado. Aquela mulher percebeu que sem Deus seria impossível lidar com toda a tensão causada pelo diabo, e que agia na sua filha. Satanás literalmente aninhou-se na vida

 

Existem muitos lares onde as coisas não vão bem...

 

Este texto nos fala de uma família da tribo de Efraim, e a síntese sobre a condição da família é pesada: “As coisas não iam bem em sua casa.” Outra tradução bíblica afirma: “A desgraça tinha caído sobre o seu lar.” (NTLH) O nome deste homem era Zabede.

 

De fato, as coisas não iam bem...

Ele tinha três filhos, Ézer, Eleade e Berias. Os dois primeiros adotaram um estilo de vida de contravenção, e enveredaram pelas trilhas da marginalidade. Certa vez foram roubar gado de uma fazenda da tribo de Gade, e ali foram mortos em flagrante delito. A Bíblia registra que isto causou muita dor em Zabede. “Pelo que por muitos dias os chorou Efraim, seu pai, cujos irmãos vieram para o consolar.” (1 Cr 7.22) Seus filhos eram marginais, mas isto não impediu que o pai sofresse profundamente a morte deles.

 

A morte dos filhos certamente causou dois tipos de dor:

 

Primeira, a dor física, a dor da perda, do luto. Não importa quão falhos e pecadores sejam os filhos, eles ainda são filhos. Não precisamos e nem devemos acobertá-los, transformando-os em vítimas. Já ouvi alguns relatos de pessoas ligadas a área de educação, que precisam lidar com pais que acham que seus filhos, com mau comportamento e indisciplinados na escola não podem ser repreendidos. Não é sábio defender atitudes erradas dos filhos para protegê-los. A disciplina e a correção são bíblicas e essenciais na formação do caráter, ainda que sejam processos doloridos. A Bíblia afirma que “a criança entregue a si mesma envergonha a sua mãe.” )Pv 19.18)

 

A bíblia fala de Eli, um respeitado sacerdote em Israel, cuja folha de serviço foi maravilhosa. Ele foi tutor e mentor do profeta Samuel, mas na sua biografia, há um grave deslize relacionado aos seus filhos e Deus o repreende severamente por isto:

 

Por que pisais aos pés os meus sacrifícios e as minhas ofertas de manjares, que ordenei se me fizessem na minha morada? E, tu, por que honras a teus filhos mais do que a mim, para tu e eles vos engordardes das melhores de todas as ofertas do meu povo de Israel?” (1 Sm 2.29)

 

Eli não foi censurado por um deslize pessoal, mas pela falta de coragem em confrontar a atitude dos filhos. Justificar comportamentos inadequados pode ter graves consequências. Os dois filhos de Eli morreriam por causa de seus pecados. Deus pesou a mão por causa de suas atitudes profanas.

 

Por outro lado, é interessante observar que é importante respeitar a dor dos outros, Zebabe perde dois fihos, e os seus irmãos vem para consolá-lo. (1 Cr 7.22) A dor é real, ainda que seus filhos mortos fossem meliantes e transgressores. Seus filhos morreram, dois deles ao mesmo tempo, mas ainda eram filhos.

 

A segunda dor que Zebabe teve, certamente foi a dor moral e psicológica. Além de perder seus filhos, eles foram mortos praticando crime. Esta dor talvez fosse ainda maior que a primeira. A vergonha de um pai pelos filhos por comportamento criminoso. A bíblia afirma que “o filho sábio alegra o pai, mas o insensato é a tristeza de sua mãe.” (Pv 10.1)

 

Aqui vemos um homem, com filhos adultos, tendo que lidar com a questão da reputação, com os comentários furtivos dos vizinhos. Já acompanhei algumas situações bem complicadas. Lembro-me da situação de um filho de um pastor, líder de uma igreja, que aos 42 anos se envolveu numa situação moral escandalosa. Ainda é visível na minha mente a dor e a vergonha dos pais por este filho. Cheguei a comentar com minha esposa que não achava justo que os pais sofressem tanto por transgressões de filhos já criados, que devem responder por si. Não acho justa esta relação de co-dependência na qual os pais de filhos adultos se sentem responsáveis e culpados por delitos de seus filhos. Afinal, “os pais não levarão o pecado dos filhos nem os filhos os pecados dos pais. A alma que pecar, esta morrerá” (Ez 18.20), como diz a Palavra de Deus.

 

Mas mesmo entendendo tudo isto, sabemos quão angustiante é para um pai ou uma mãe ver seus filhos tomando decisões erradas, comprometendo o nome da família.

 

Zebabe passa pela dor física, do luto, da morte de seus filhos, e pela dor moral, por terem morrido numa situação tão vergonhosa. De fato, “As coisas não iam bem em sua casa.”

 

A graça de Deus no meio do caos

 

Ao ler este texto, porém, observo algumas coisas interessantes.

Apesar das coisas não irem bem, esta situação não precisa ser definitiva. Deus pode mudar o ambiente de casa, derramando graça, trazendo vida.

 

Veja o que nos diz o texto:

Depois, coabitou com sua mulher, e ela concebeu e teve um filho, a quem ele chamou Berias, porque as coisas iam mal na sua casa. Sua filha foi Seerá, que edificou a Bete-Horom, a de baixo e a de cima, como também a Uzém-Seerá.”

 

A NTLH traduz da seguinte forma:

Depois ele teve relações com a sua mulher, ela ficou grávida e deu à luz um filho. Eles puseram nele o nome de Berias porque a desgraça tinha caído sobre o seu lar. Efraim foi pai de uma filha chamada Seerá. Ela construiu as cidades de Bete-Horom-de-Baixo, Bete-Horom-de-Cima e Uzém-Seerá.” (1 Cr 7.23,24)

 

Fiz questão de colocar outra tradução, porque deixa clara que ele ainda teve uma filha, cujo nome era Seerá, que resgatará a imagem da família, trazendo alegria para seus pais. Seerá era uma mulher dinâmica, empreendedora, com um viés de construção, planejamento, arquitetura e engenharia. Para vocês terem ideia, Ela construiu três cidades: Bete-Horom-de-Baixo, Bete-Horom-de-Cima e Uzém-Seerá.

 

Apesar de tudo que aconteceu com sua casa, Zebabe terá a alegria de ver o nome de sua família sendo restaurado, pela filha que Deus lhe dá. Seerá se tornou uma figura pública tão marcante que a Bíblia faz questão de registrar o nome das três cidades que ela construiu. Certamente era de um dinamismo extraordinário e isto se torna claro na construção das três cidades, sendo que a última leva seu nome.

 

O que aprendemos com isto?

É fundamental continuar vivendo e trazer de volta a vida à sua casa. 

 

Às vezes ficamos abatidos com os problemas e lutas de nossa casa. E de fato sofremos muito, mas é sempre importante lembrar que ainda há muita coisa surpreendente e linda que pode acontecer. Zebabe tenta colocar em ordem sua vida. A Bíblia diz que depois da tragédia e da dor, ele “coabitou com sua mulher, e esta concebeu.”(1 Cr 7.23) Na busca para reorganizar sua história, sua esposa ainda lhe deu um filho e uma filha, e uma destas foi Seerá.

 

A ideia de coabitar é interessante porque nos traz a ideia de que a vida precisa reencontrar seu eixo, precisa reorganizar, ressignificar. Muitas vezes a dor e a tragédia nos abate num nível que somos incapazes de dar o mínimo de ordem ao caos. A dor se torna mera dor e passamos a viver nossa história em torno da tragédia. Não precisamos negar a dor, mas não podemos viver em torno da dor.

 

Certa vez, Dr. Elon Gonçalves, conhecido pediatra de e presbítero da igreja em Anápolis, começou a assistir um rapaz que aparecia na igreja, sempre pedindo ajuda. Ele tinha o vírus da Aids, e a igreja sempre o ajudava. Mas, apesar de ser HIV positivo, tinha saúde e certo dia Dr. Elon decidiu conversar de forma mais enfática com aquele rapaz, e o que ele disse, nós nunca esqueceremos: “você não pode transformar sua dor em patrimônio.”

 

O que isto quer dizer?

Muitas vezes usamos a dor para justificar nossa negligência e para justificar comportamentos que adotamos. A dor parece se tornar um capital que podemos acionar sempre que houver necessidade.

 

Quando fazemos isto, passamos a viver em torno da dor, que pode vir em forma de uma doença física, emocional, depressão, ansiedade, culpa, vergonhar, uma traição. Desta forma, transformamos a dor na coisa mais importante da vida. Perdemos a capacidade de avançar por causa de uma experiência negativa.

 

Zebabe decide continuar vivendo. Ele precisa namorar sua mulher, ele precisa ter orgasmo (e aqui eu quero que você entenda em todos os sentidos, seja ele real ou simbólico). A vida precisa acontecer.

 

Você precisa normalizar sua vida porque você não sabe onde Deus pode levar sua história.

 

Outro aspecto fenomenal que encontra neste texto, será relatado quase no final desta perícope, e passa quase despercebido:

“... de quem foi filho Num, de quem foi filho Josué. “

 

O que vemos aqui?

O texto está falando do que aconteceria na genealogia deste homem cuja experiência foi devastadora. Da sua linhagem nascerá um dos líderes mais respeitados na história de Israel. De suas veias surgirá Josué, o sucessor de Moisés.

 

Este texto nos enche de esperança.

Muitas vezes não fazemos ideia do lugar para onde Deus quer nos levar, e o que ele deseja fazer de nossa vida se continuarmos perseverando.

 

Não dá para jogar a toalha, desistir.

Paulo afirma que somos “Abatidos, porém não destruídos - Esta afirmação diz literalmente: "Ainda que eu caia", ou "ainda que eu seja knock down, não serei knock-out". Knock down é quando o lutador recebe um soco e cai tonto pela pancada, e knock-out é quando o lutador recebe a pancada e não consegue mais se levantar. O que Paulo está afirmando é “mesmo que beije a lona", atingido, não serei destruído. O fato de cairmos não significa que a luta acabou. É necessário se levantar com a convicção de que existe jogo pela frente.

 

A característica do cristão não é a ausência de tribulação, nem a ausência de batalhas, mas que toda a vez que o desânimo ou a descrença vier, podemos ser surpreendidos por outro enredo que o Senhor construirá a despeito das circunstâncias desfavoráveis. Podemos perder uma batalha, mas não a guerra.

 

Somos inclinados a nos desesperarmos, pensando ser o fim de tudo. A Bíblia diz o contrário.

 

Em Jr 29.11 lemos: "Há esperança para teu futuro". Por isto Paulo afirma em 1 Co 4.12. "Quando perseguidos, suportamos..." Sempre existe uma rota alternativa.

 

Existe um famoso incidente na história do futebol americano, envolvendo Roy Gregalo, um renomado jogador de Atlanta. Ele jogava pela universidade, mas já era reconhecido como um grande jogador. Seu time chegou à final e todas as esperanças e olhares foram colocados sobre ele. Seu time tinha grande chance de ganhar e ele estava no auge. Foram para a decisão, estádio lotado, 70 mil pessoas. O jogo começou, os lances calculados e planejados, quando de repente, uma bola caiu no colo de Roy Gregalo. Ele saiu correndo com ela, mas no meio da confusão dos jogadores e dos gritos da torcida, ele correu contra seu próprio time, e fez um touch down contra. Só depois da loucura cometida ele se deu conta.

 

No intervalo, ele estava tão envergonhado que disse ao seu técnico que não voltaria para o campo. Seu técnico olhou nos seus olhos e disse: “Você vai voltar, reparar o que fez e eu espero que você arrebente neste jogo!” Ele voltou, seu time foi campeão, e os comentaristas afirmam que este foi o melhor jogo da vida deste atleta.


Não importa a tragédia que possa ter atingido sua casa, Deus tem o poder de modificar a nossa história família.


A história de minha casa tem muito a ver com isto que estou falando. 


Meu pai era um próspero empresário, dono do único posto no interior de Minas Gerais, quando as coisas começaram a ir mal em sua casa. Boa parte por causa de decisões erradas. Ele entrou numa roda de jogo e perdeu, literalemnte, o dinheiro para comprar um caminhão de combustível. A bomba de gasolina do posto incendiou num curto circuito e ele teve queimaduras de segundo grau. Ele comprou um carro roubado com documentos falsificados, e pagou este carro duas vezes: Ao ladrão que o vendeu, e à polícia quando veio atrás responsabilizando-o por receptar mercadoria roubada. As contas chegavam e as dívidas se acumularam. 


Quando olhamos para o passado, sabemos que Deus estava no processo de alcançar seu coração e salvar sua alma. Deus usou toda esta experiência de dores e perdas para que ele pudesse se aproximar do Evangelho e tomasse uma decisão por Cristo.


Tenho acompanhado famílias em frangalhos, destruídas, quebradas financeiramente, divorciadas, filhos em desordem, mas que são restauradas por Cristo no meio do caos e da desordem.


Boa parte de seus problemas 


Conclusão

Não podemos fechar tudo isto que estamos falando, sem pensar no evangelho.

Este texto sobre a família de Zebabe, nos fala de fracassos, derrotas, vergonha e superação.

Não é esta a nossa situação diante de Deus?

O que a Bíblia nos ensina sobre quem somos?

 

A Bíblia fala que todos pecamos, todos estamos destituídos da gloria de Deus. Que diante de Deus não há justo, nem sequer um. Que nenhum homem é capaz de se justificar diante de Deus. Que aquele que diz que não comete pecado está vivendo no autoengano.

 

A Bíblia faz questão de demonstrar o fracasso de seus personagens. Só existe um herói: Jesus. Ele é o homem perfeito, que por causa da nossa situação de fracasso, assumiu nosso lugar. Nós não podemos ler qualquer texto da Bíblia e ficarmos nos referindo ao fracasso e sucesso de homens. Não é disto que queremos falar

 

Precisamos olhar para Cristo, o que ele fez.

 

Se olharmos para nós, podemos incorrer em dois erros que os Evangelhos sempre tentam nos livrar dele:

 

Primeiro, o desespero humano. Olharmos a vida como gente fracassada, incapaz, e passarmos a viver em torno da vergonha e humilhação. No caso deste homem, a vergonha de ter dois filhos assassinados porque estavam roubando gado de uma tribo vizinha. Que vergonha! Este homem poderia seguir sua vida de dor, viver pra sempre marcado pela culpa e humilhação, mas não é isto que vemos. Deus é capaz de restaurar as pessoas mais fracassadas, levantar-nos das condições mais humilhantes e trazer dignidade. Viver em torno da dor e da vergonha não é o caminho do evangelho.

 

Segundo, o orgulho espiritual. Quando isto acontece, passamos a acreditar que nós fazemos, nós podemos, nós somos capazes. A vida de Zebabe demonstra que ele não foi capaz, seus filhos se perderam, fizeram coisas erradas. O que temos aqui é a graça de Deus que no meio de sua dor, sua esposa, lhe dá outro filho e levanta uma filha tão admirável quanto Seerá. É Deus fazendo, ajudando, trazendo conforto. Este texto não é sobre este homem. As coisas iam mal em sua casa. Mas é sobre Deus. Não há espaço para orgulho humano e também não há lugar para desespero.

 

Precisamos olhar para Cristo.

Ele é o homem perfeito. Ele sofre a nossa humilhação, assume nossa vergonha, enfrenta a cruz em nosso lugar. Jesus é quem nos sustenta, é ele quem nos mantém.

 

Podemos sempre olhar com esperança, porque este Jesus, que foi morto e humilhado, levantou-se da sepultura ao terceiro dia e está assentado a direita de Deus Pai, de onde intercede por nós através do seu sacrifício e de seu sangue.

 

As coisas podem estar indo mal em sua casa, mas não precisam continuar assim. Com Jesus há sempre esperança de restauração.

 

Que Deus nos ajude!

 

 

 

 

2 comentários:

  1. Que texto esplêndido. Hoje era justamente isso que eu precisava ler. Deus te abençoe Pastor Samuel

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  2. Muito edificante , a Biblia é extraordinaria confortante, obrigado pr. Samuel.

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