Introdução
Toda instituição passa por crise.
Participei do desdobramento de um Presbitério, e a proposta que foi trazida é que a igreja que tinha mais condições financeiras deveria levar consigo todas as igrejas deficitárias. Argumentei que esta decisão era muito arriscada, porque conquanto aquela igreja estivesse vivendo de fato, um tempo muito especial, é bom lembrar que igrejas passam por dificuldades. Colocar apenas igrejas frágeis com uma única Igreja era um grande risco! Igrejas passam por fáceis de crescimento e declínio. Ciclos. Felizmente o concilio foi razoável e fez o descobramento utilizando outros critérios além do financeiro.
A Igreja primitiva é descrita como idílica, perfeita, vive num clima de euforia até o cap. 4, sendo visitada pelo Espírito Santo, resiste à perseguição ousadamente.
O cap. 5, porém, chama para a realidade dos fatos. Era uma igreja vitoriosa sem triunfalismos. É uma igreja com Ananias e Safira.
No cap. 6, os problemas continuam a surgir: pobres, cestas básicas, propriedades vendidas. Uma minoria, os "helenistas" sente-se discriminada. Havia um murmúrio de que as viúvas de tradição hebraica estavam sendo privilegiadas. Crises, comentários...diz que me diz...
A crise em Jerusalém surge por causa do seu crescimento. Era preciso administrar a chegada de tantas pessoas sendo que muitas delas precisavam de cuidado e apoio financeiro. Coisas boas podem também gerar crises.
- Problemas surgem por causa da própria dinâmica orgânica – “Multiplicando-se o número dos discípulos.” (6.1) Até mesmo um bom motivo pode trazer desequilíbrio.
Crescimento gera crise. Crescer dói.
Em Maio 2023 o Conselho da Igreja de Anápolis gastou duas horas para reorientar o projeto da construção do novo templo, isto depois do projeto já ter sido aprovado e apresentado a igreja. A liderança tem investido muitas horas pensando em estratégias, currículo, meios mais eficazes para acolher as pessoas que tem chegado a igreja.
- As ameaças surgem de dentro. Na verdade, problemas internos são os únicos que nos ameaçam
No cap. 5, após serem ameaçados e açoitados, saem do Sinédrio sem medo – At 5.40,41. As ameaças do Sinédrio não lhes impunham medo.
No cap. 6, a língua dos fofoqueiros faz a igreja tremer. Nossas guerras internas ameaçam mais que os romanos "cupim da língua suspeita". A Igreja só morre por suicídio, não por ataques do diabo. Sucumbe pelo peso de nossas próprias falhas.
Curiosamente a crise é de cultura, como veremos adiante. Um grupo, numa igreja multicultural, se sente desprestigiado, marginalizado, em relação a outro.
Notícia boa: O maior inimigo da Igreja não é o diabo;
Notícia ruim: Seu maior inimigo é você mesmo.
Nunca Israel foi destruída pelos seus inimigos, Deus demonstrou isto sobejamente por meio dos profetas.
Este texto nos revela como a Igreja apostólica resolveu uma crise interna, que ameaçou a unidade da igreja nascente. O que ela fez? Como lidou com a crise? Os princípios contidos neste texto são fundamentais para que aprendamos a lidar também com os dilemas que toda comunidade eventualmente encontrará.
- Não evite o conflito. Não jogue para baixo do tapete.
“Então, os doze convocaram a comunidade dos discípulos.” (At 6.2) Eles decidem discutir e tratar o assunto. Eles não o evitam. Existem muitos conflitos que são altamente produtivos, e serão capazes de colocar a igreja num outro patamar.
O silêncio, a indiferença, a recusa em lidar com o problema, para evitar desgaste e confrontação pode causar ruídos imensos e danos irreparáveis.
- Apresente uma proposta coerente e teologicamente bem fundamentada. “disseram: Não é razoável...”. At 5.2. Frise a palavra “razoável”. É uma questão da coerência e lógica. É necessário usar argumentos, colocar a mente para pensar. Eles já tinham pensado, conversado, debatido o assunto antes de apresentá-lo à igreja.
Discirna a questão do grupo -
a)- Detecte os pontos fracos - Onde está nossa vulnerabilidade ?
b)- Aprenda a ser amigo da honestidade - Valorize sua consciência. Deus ainda fala com voz interior.
c)- Saiba discernir as raízes das más ações - Muitos pecados interiores vêm da preguiça, mental, espiritual, física, vácuos de autoridade, excesso de leviandade, espírito crítico.
d)- Não estabeleça exigências irreais ao próximo - Deus não requer de nós sucesso, mas fidelidade;
e)- Seja ensinável
f)- Desenvolva um relacionamento com Deus, sem exigência, de lado a lado. Experiência relacional.
- Nossos problemas são resolvidos quando identificamos nossas prioridades - A Igreja Primitiva está lidando com graves problemas internos. Ela tem que agir. O que fazer?
Estabeleça prioridades. Os discípulos entenderam que não era possível lidar sozinhos com todas as necessidades. Eles precisavam descobrir alternativas. Cortela afirma que “prioridade não tem S”. Se não discernirmos o urgente do prioritário, corremos o risco de nos perdermos.
Um dos dilemas da igreja que está em franco crescimento é fazer mudanças necessárias. Como adequar o espaço? Como acolher de forma diferenciada? Como começar a pensar com uma mentalidade, não mais de igreja pequena, mas de uma igreja grande. As categorias devem mudar. Novos tempos e situações exigem novas abordagens.
Antes de mais nada, ela reformula, reestrutura sua forma de ação. Uma das decisões cruciais é planejar a estrutura da Igreja, reformular. Nesta mudança, decide se ater a dois ministérios: Oração e Palavra.
Uma das grandes dificuldades da Igreja diante das crises é valorizar demais as crises, e se perder nas críticas. Não se assentar para reformular…
Uma das melhores formas de responder às críticas, é criar uma nova estratégia. Muitas vezes a crise demonstra nossa necessidade em mudar. Temos que parar de nos defender e perguntar: O que este feedback que estão me trazendo tem de verdadeiro? Caso negativo, por que estão criticando?
Onde vamos colocar nossas atenções? O que poderia acontecer aqui? Todos saírem para resolver o problema das viúvas, esquecendo-se de outras áreas que precisam ser continuadas.
Quando a crise surge, novamente é localizada. Não deixe que exacerbem o valor da crise, que maximizem o ponto vulnerável. Trate deles. Mas não se esqueça que outras coisas importantes estão acontecendo. E precisamos continuar.
Eles percebem suas limitações. Não iam poder alcançar tudo, ser Onipotente... "cimento fino, racha". O tempo que você valoriza em um lado, é o que você desvaloriza noutro.
- Quando tivermos problemas, porque nossas intenções estão sendo questionadas, nossos atos devem ser radicais
Estevão, Prócoro, Filipe, Timão. Nicanor, Pármenas e Nicolau são todos gregos. Nenhum é judeu, embora a liderança da Igreja até ali tenha sido toda judia.
Quando acusada de não orar, que a liderança deve fazer? Orar com mais intensidade… ensina-se o povo orar, orando.
Acusada de displicente? O que fazer? Responder com santidade e busca.
Acusada de desorganizada? O que fazer? Reestruturar, planejar, reorganizar.
Nenhuma comunidade terá saúde maior que a da liderança, e jamais pode exigir atitudes maiores que a que ele está vivendo.
- A solução de problemas requer pessoas com duas virtudes essenciais, que embora distintas, não podem andar separadas:
5.1. Cheios do Espírito Santo
5.2. Cheios de sabedoria
Pode alguém ser cheio e não ter sabedoria? Pode alguém ser sábio sem ser cheio do Espírito?
A grande crise da Igreja, não é se o Espírito está ou não agindo, mas é a crise do bom senso. É uma igreja infantilizada, gente imatura, sem senso crítico. Tenho visto algumas coisas na Igreja que conspiram contra o bom senso.
De outro lado,
-Biblicistas secos, excelentes exegetas, sem deixarem suas almas serem tocadas pelo Espírito Santo. Grandes historiadores, porém, áridos. Tais pessoas precisam se embriagar na oração, ter alma quebrantada.
Júlio Andrade Ferreira afirma que encontrou muitas pessoas que eram irmãos na razão e não na fé, e que encontrou muitos que eram irmãos na fé e não na razão. Será que não podemos ter os dois andando juntos?
- Abalos internos não podem ser vistos como ameaça, mas como oportunidade para descobrir novos valores
De onde surge Estevão? De uma crise.
Ninguém toma seu ministério ou puxa seu tapete. Deus é Senhor de seu ministério, exalta e abate. Deus é soberano...O problema não era para destruir, é para ser resolvido. A crise revela o potencial de Estevão que até então era um membro anônimo da comunidade.
Crises não podem ser vistos como ameaça, mas como oportunidade de repensar modelo e a estratégia. A Igreja precisa agir imediatamente. Ao invés de ser apostolar, passa a ser ministerial. Deixa de ser regida pelos apóstolos e passa a ser regida pelos presbíteros e diáconos. Foi a primeira eleição na história da igreja.
- Toda crise deve ser administrada com reverência
Os apóstolos não perdem a autoridade. Eles "impõem as mãos". (At.5:6). Resolvemos nossas questões enquanto a comunidade nos respeita. Isto se aplica no seu casamento: Reverenciar como filho, como Pai. Na solução dos problemas deve-se preservar o temor a Deus. Liderança tem que ter reverência pela Igreja, pelo Corpo de Cristo.
Muitas vezes tentamos resolver as crises com atitudes que não revelam o temor do Senhor. São as manipulações, as conversas no corredor da igreja, as discussões infindáveis, a indiscrição e grosseria. A reverência gera respeito, temor. Estamos diante de coisas sobrenaturais e devemos tratar a igreja com sobrenaturalidade.
- O processo de amadurecimento de uma comunidade não pode ser demorado - Algumas pessoas não tolerariam entrar em alguma coisa ainda em fluxo. Para onde estamos indo? Estamos desnorteados internamente. Quem somos face à modernidade?
Os neo-convertidos não toleram uma igreja se achando...O que será daqui a 10 anos? As crises devem ser resolvidas com prontidão e maturidade. Identidade da Igreja agora. Temos que entrar na síntese, não na dialética tese/antítese.
É preciso destruir as paredes velhas, ampliar as salas, melhorar o visual. Não dá pra ficar com rebocos caídos e banheiros sem terminar. É necessário concluir etapas.
- Crises devem ser resolvidas para que o reino avance. O vs 7 nos diz isto: A igreja crescia. Ela continua avançando porque não gastou tempo demais resolvendo problemas.
Muitas igrejas vivem num estilo novelesco, com problemas que não se resolvem, infindáveis, que passam de uma geração para a outra. O reino de Deus perde. A igreja gasta toda sua energia resolvendo as lutas internas e não consegue ver as oportunidades e os campos que já estão brancos.
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