quinta-feira, 31 de agosto de 2023

2 Cr 33.1-16 Nunca é tarde para mudanças

 


 

 

Introdução

 

Manassés é um dos mais perniciosos reis em toda a história do povo de Israel. Ele assumiu o trono quando tinha 12 anos, e daí para a frente seu coração se afastou de Deus e de seus propósitos, de uma maneira estranha. Seu afastamento trouxe consequências imensas para sua vida e para o povo de Israel.

 

a.      Ele se curvou diante dos deuses da terra que Deus havia expulsado de Canaã, ele ressuscitou velhos hábitos religiosos condenados por Deus (2 Cr 33.2).

 

b.      Ele reconstruiu altares pagãos que o seu piedoso pai, Ezequias, havia derribado (2 Cr 33.3).

 

c.      Ele se tornou sincrético na sua religiosidade, abarcando vários deuses.

 

d.      Ele se tornou sacrílego, contaminando o sagrado templo de Salomão, lugar construído para cultuar a Deus (2 Cr 33.4).

 

e.      Ele sacrificou filhos a Moloque. Um culto pavoroso, no qual os filhos primogênitos eram atirados vivos a uma fogueira acesa como oferendas a este deus pagão (2 Cr 33.6).

 

f.       Era místico e esotérico: adivinha pelas nuvens, praticava feitiçarias, consultava com médiuns e necromantes (2 Rs 21.6).

 

Manassés era espiritualizado.

Atraído a todas as formas de cultos pagãos, mas nunca se inclinava ao Deus verdadeiro. Comportamento semelhante aos artistas e músicos brasileiros, que se inclinam diante de deuses da umbanda, são dados a cultos da terra, tomam chás alucinógenos em cerimonias religiosas pagãs, mas não se curvam diante do Deus verdadeiro.

 

Sua influência trouxe graves problemas para a nação, induzindo muitos à prática de uma religiosidade que distanciava o povo do Deus de Israel. Ele se recusou a ouvir o Senhor quando este lhes enviou os profetas (2 Cr 33.10). Sua rebelião se tornou oposição a Deus, posteriormente apostasia, trazendo o juízo de Deus.

 

O julgamento veio de forma severa. (2 Cr 33.11).

 

A péssima sugestão que Satanás sempre fez à raça humana de que “pode pecar que não há juízo de Deus” (Ml 3.13,14), mais uma vez é desmascarada. O juízo de Deus sobre Manassés trouxe humilhação pública, decadência social e muito sofrimento. Manassés foi levado para a Babilônia, com ganchos e cadeias. No primeiro caso, o nariz era perfurado, e as pessoas eram levadas como animais, no segundo, eram acorrentados e além do seu peso precisavam carregar as pesadas correntes no severo calor do deserto.

 

Manassés, convertido?

 

Na cadeia e no exílio, o arrogante e místico rei, que desprezou a Deus e recusou ouvir sua voz, passa por uma reviravolta existencial, e tem um encontro com Deus. Manassés se converteu.

 

O texto narra sua mudança: “Ele, angustiado, suplicou deveras ao Senhor seu Deus, e muito se humilhou perante o Deus de seus pais” (2 Cr 33.12).

 

Observe os termos descritos aqui:

 

Angustiado”. Sabe o que é angústia.?

É um sentimento profundo de dor, que atinge o peito, consome o ser, e quando o médico pergunta ao paciente o que ele está sentindo ele diz: “Tá doendo, aqui!” e passa a mão genericamente no peito. Ele não sabe o que sente, nem onde sente a dor, mas o que ele sente é visceral, profundo.

 

Suplicou deveras ao Senhor”- Ele, de verdade, suplicou a Deus. Em geral pensamos que suplica é uma oração. E de fato é. Só que é uma oração acompanhada de choro e lágrimas profundas. O texto diz que ele “muito se humilhou”. Sua oração veio de dentro da alma.

 

Já oraram assim? Já tiveram uma situação semelhante na qual suas orações não se organizam, mas você está ali orando a Deus, quebrantado e moído? Esta foi a experiência  de Manassés.

 

“...Muito se humilhou perante o Deus de seus pais”. É muito importante esta menção, porque na verdade ele retorna ao Deus de Israel. Ele não dirige suas preces a Moloque, nem aos deuses de Canaã. “...então, reconheceu Manassés que o Senhor era Deus”.

 

Certo vez ouvi uma afirmação de que conversão tem muitas fases:

A primeira é a conversão dos deuses falsos para o Deus verdadeiro;

A segunda, do meu eu e da vida auto centrada, à obediência e submissão;

Terceiro, do bolso, último a se converter e o primeiro a esfriar.

 

Manassés se converte ao Deus de Israel. Ele percebe a natureza do Deus de seu povo. Ele reconhece que só o Senhor é Deus, e que não há outro Deus.

 

Encontrando Deus na Babilônia

A espiritualidade no Antigo testamento é marcada pela centralidade do culto em Jerusalém e no templo. O judeu acreditava (e acredita), que Deus deve ser encontrado em Jerusalém, na terra santa. Alguns cristãos sionistas modernos, lamentavelmente possuem esta visão distorcida da adoração e do tamanho do Deus das Escrituras Sagradas.

 

Entretanto, Manassés não encontra Deus em Israel, nem no sagrado templo, mas sua experiência de transformação e conversão acontece na Babilônia.

 

Ele encontra Deus nos lugares improváveis da vida.

 

Já leram o livro de Philipe Yancey: “Encontrando Deus nos lugares inesperados”? É onde não se espera que Deus é percebido. Durante anos, Manassés esteve no templo, mas rejeitou a Deus frontalmente e não o discerniu. Agora numa prisão, em terra distante, Deus se revela ao seu coração de forma sobrenatural. E “Deus se tornou favorável para com ele” (2 Cr 33.13).

 

Isto acontece por uma razão muito simples: “Deus não frequenta igrejas, apenas corações” (Pe Antonio Vieira).

 

Tempo de mudanças

 

A história de Manassés nos revela que nunca é tarde para mudanças.

Revela-nos ainda que não importa o nível de sua decadência moral e falência espiritual, Deus tem poder para mudar sua história.

 

Se olharmos para o currículo espiritual deste homem, veremos que ele foi rebelde, idólatra, prepotente, arrogante, desobediente, mas ainda assim sua história foi transformada.

 

É muito importante considerarmos uma história como esta. Muitas vezes achamos que para nós não há mais esperança, que nada pode acontecer por causa dos desvios praticados, muitas vezes fomos longe demais no nosso histórico de desvio. A história de Manassés vem nos falar do triunfo da graça de Deus sobre o pecador. É sempre possível recomeçar.

 

É possível que o homem vá para longe demais de Deus, escrevendo uma trajetória de decadência, mas sempre é possível mudar. Nunca é tarde para que a obra de Deus triunfo no coração do pecador.

Comece reconhecendo seu pecado, se humilhando diante de Deus.

 

Reconheça que ele é realmente Deus...

Não se trata de delação premiada. Um artifício jurídico usado para favorecer o criminoso, que mesmo não tendo arrependimento, resolve contar um pouco dos seus imbróglios e se delatar. Arrependimento não é isto. Trata-se de voltar, de fato, para Deus.

 

Assim, de forma surpreendente, Manassés é restaurado. E Deus lhe dá uma segunda chance. Miraculosamente, o rei decide enviar-lhe de volta para Jerusalém e reassumir seu reinado. Isto não é um comportamento comum entre imperadores e dominadores. Manassés volta, mas ele é um novo homem. Sua conversão não foi circunstancial e oportunista. Ele decide agora buscar a glória de Deus.

 

Ao retornar, eis algumas de suas atitudes.

i.                Ele restaura Jerusalém que havia sido destruída pela guerra (2 Cr 33.14). ele restaura tanto os muros quanto o exército.

 

ii.               Ele restaura o templo. Ele que tanto havia profanado o lugar de Deus, agora decide trazer Deus de volta para o centro de Israel (2 Cr 33.15).

 

iii.              Ele destrói o que construiu. Nos tempos do seu paganismo, havia construído muitos altares a ídolos e outros deuses, mas agora ele manda destruir. O que ele fez, manda desfazer.

 

iv.              Ele restaura o culto (2 Cr 33.16). Não apenas o “local do culto”, mas o culto mesmo. Numa linguagem moderna diríamos: “Ele voltou à comunhão do Senhor”.

 

v.               Ele reconhece que apenas o Senhor era Deus. Até então, ele dividia seu coração a outros deuses e cultos, mas agora ele se quebranta diante do único Deus verdadeiro.

 

Manassés tem o seu coração mudado.

Deus muda sua condição.

Se o meu povo, que por mim se chama, com fé se humilhar e orar.

Eu ouvirei as suas preces e sararei sua terra”.

 

Antes do filho pródigo ser restaurado à condição de vida digna, ele precisa passar pelo momento de dor... “então, caindo em si...

 

A alma precisa ser tocada para que mudanças surjam.

Muitas vezes queremos bençãos de Deus com infidelidade, queremos mudança sem transformação no coração, queremos graça sem arrependimento, perdão sem confissão, misericórdia sem quebrantamento. Quando o coração muda, a situação também é tangenciada. E se Deus não mudar a situação, mas se tivermos o coração mudado, teremos condições de enfrentar a calamidade com outros olhos. “Se diante de mim, não se abrir o mar; Deus vai me fazer andar por sobre as águas”.

 

Pe Antonio Vieira afirma que “arrependimento não é pedir perdão, é se voltar para Deus”. A alma precisa mudar a história ser transformada.

 

Queremos mudar a situação?

Deus quer mudar o coração.

 

Mude seu jeito de pensar, de agir, de se comportar. Transforme sua rebeldia em obediência, sua rebelião em submissão, e você vai experimentar uma história com desdobramentos absolutamente diferentes.

 

Manassés, na cadeia, não tinha mais nada a perder, mas agora tem a Deus. Antes tinha tudo e desprezou a Deus, agora não tem nada, mas é restaurado por Deus.

 

Conclusão

Esta é a trajetória proposta pelo Evangelho.

 

A.    Não interessa onde você esteja, Deus pode restaurar sua história. Manassés estava na Babilônia, dentro de uma masmorra. Ali ele orou de coração ao Senhor e foi ouvido.

 

Você pode estar na caverna da culpa, na escuridão do pecado, no calabouço dos vícios, vivendo longe do Senhor, fugindo de Deus. Mas se seu coração retornar ao Senhor, onde você estiver, Deus o ouvirá.

 

B.     Não importa como você esteja, Deus pode transformar sua história.

 

A história de Manassés é uma história de equívocos, transgressões, maldade. O juízo de Deus veio sobre sua vida, mas o arrependimento mudou sua história. Não importa como você está. Jesus é o carpinteiro de Nazaré, perito em consertar madeira torta.

 

C.    Não interessa o que você tenha feito, não importa a gravidade de seu pecado, há sempre graça abundante em Deus para nos restaurar.

 

Paulo afirma que ele era o maior dos pecadores, mas ainda assim foi alcançado pela graça. Ele prendeu e mandou matar muitos Irmãos da igreja primitiva, e depois se tornou o maior apostolo do cristianismo. Deus restaurou sua história, o perdoou, o justificou. Deus pode fazer isto conosco também.

 

D.    Deus não olha para você como você é, mas como você pode ser.

 

Assim Jesus fez com Pedro: “Tu é Shimon (areia), mas tu serás Petros (Pedra”. Areia é sem consistência. Você aperta nas mãos e sai entre os dedos. Frágil, inconstante. Pedro é rocha, firme, inabalável. Jesus olhou para o frágil e inconstante Pedro e anunciou que ele seria transformado numa rocha inabalável.

 

Miguel Ângelo, grande pintor renascentista, olhava para uma rocha bruta de mármore e não via apenas um bloco de pedra, mas ele vislumbrava a obra de arte que aquela pedra poderia se transformar.

 

Certa vez estava em Olinda. Sara e eu estávamos admirados com a habilidade de uma artesã que com apenas um raio da roda de bicicleta pegava uma casca da árvore de cajá manga e fazia uma obra de arte: barcos, casas, aldeias, vilas. Como ela capaz de fazer isto? Ela nos disse: “Veja só, quando eu olho para esta casca, eu vejo as figuras e as formas. Por exemplo, aqui eu vejo um barco. Aqui eu vejo uma casa.’ E nós, admirados, olhávamos para aquela casca e víamos apenas uma casca. É Assim que Deus faz conosco. Ele vê formas onde nada vemos; arquitetura, onde nada existe.

 

A cruz e nossa restauração

 

A cruz é lugar de negação, de morte, de condenação, mas este lugar se transforma em lugar de vida e restauração. A cruz aponta para o fracasso do homem, mas aponta para a misericórdia de Deus. Fala-nos de uma humanidade que rejeita a Deus, mas fala-nos de um Deus que busca o homem. Fala-nos dos pecados da raça humana e do desprezo pela vida ao mesmo tempo que nos fala da graça incondicional de um Deus que se doa por inteira à raça humana.

 

Com Jesus é sempre fazer o caminho de volta. Deus permite retorno.

Há sempre a possibilidade de restauração e mudanças. Ele pode tirar o pecador de sua condenação e dar-lhe absolvição. Foi isto que Jesus fez na cruz. Ele nos resgatou das trevas para sua luz, tirou-nos do tremedal de lama e colocou nossos pés sobre uma rocha.

 

Tenho encontrado pessoas que parecem ter ido longe demais no seu cinismo, indiferença, chafurdada em pecado, opondo-se a Deus. Temos a tendência de olhar para elas com certo descrédito. Parece não haver mais retorno para sua condição de depravação e destruição.

 

Haverá ainda esperança?

Muitas desacreditam de si próprias, dominadas pela escravidão do pecado, dos vícios. Aquilo que faziam por prazer agora se tornam seu pesar. Vem a angústia, o vazio da alma, a solidão, a escravidão de um estilo de vida de mentira e engano, de malandragem, esperteza, aos laços da iniquidade que agora amarram. Nem elas mesmas acreditam que algo possa ser feito. O desespero, a dor, a solidão, o descrédito passam a dominar seu coração.

 

Tive o privilégio de receber como membro de nossa igreja um querido pastor que por conflitos pessoais e institucionais se afastou da igreja e abandonou a comunhão do povo de Deus por 22 anos. Ele era uma pessoa muito querida, mas as feridas, e o distanciamento foram esfriando seu coração. Agora, estava voltando a comunhão, dando aulas na Escola Dominical da congregação e auxiliando o pastorado da igreja. Ele havia pastoreado a igreja (sede) da qual agora se tornara membro (congregação). Algo muito simbólico.

 

Entre um café e uma boa prosa, resolvi convidá-lo para pregar no aniversário da igreja. Uma proposta ousada, sem dúvida. Ele disse que não teria coragem de pregar, porque ele havia pisado na bola, traído a confiança de muitas pessoas e não se sentia autorizado a pregar novamente. No final de sua fala ele me disse: “O senhor entende minha situação, não é pastor? Certamente o senhor concorda comigo.” Olhei diretamente para seus olhos e disse que não entendia o que ele me falara. Ele ficou admirado e disse: “Não?”

 

Eu lhe disse que ele não devia nada a ninguém a não ser Deus. Que sua esposa o havia perdoado, que ele era membro em plena comunhão com a igreja, que apesar de tudo ele era muito querido da igreja e que o que ele estava dizendo era o anti-evangelho. O evangelho restaura qualquer pessoa em qualquer situação. E que o seu ponto de vista, não fazia nenhum sentido, à uz da mensagem do evangelho.

 

Ele relutantemente, aceitou o convite. Para minha surpresa, quando anunciei quem seria o pregador, muitas pessoas antigas se levantaram e bateram palmas. Eu nunca havia visto uma cena como aquela, nem antes; e nem vi depois. Comovente. Ele subiu, pregou uma mensagem simples e abençoadora e todos fomos edificados. Creio que esta foi a forma que Deus usou para lhe dizer de uma vez por todas: “Filho, estão perdoados teus pecados. Vai e não peques mais!”

 

Deus pode mudar?

 

Is 1.18 afirma: “Vinde pois e arrazoemos, porque ainda que vossos pecados estejam vermelhos com a escarlate, eles se tornarão brancos como a neve”.

 

Arrazoar é discutir, argumentar. Deus é quem está convidando seu povo para experimentar liberdade e cura, para ser restaurado. Deus convida o seu povo para experimentar a graça da restauração.

 

Portanto, duas lições profundas podem ser tiradas da vida de Manassés:

 

Primeiro, independentemente da capacidade de Deus nos amar de forma incondicional, o pecado traz sérias consequências.

 

Segundo, independentemente da gravidade do pecado, é sempre possível retornar. Nunca é tarde para mudanças!

 

 


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