Introdução
A fé cristã se sustenta sobre premissas fundamentais. Jesus afirmou: “Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus.” (Mt 22.26) Um falso pressuposto teológico é destrutivo para nossa vida e mortal para nossa alma. Jesus também afirmou: “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” (Jo 8.32). Se é certo que a verdade liberta, também é certo que a mentira escraviza, subjuga e oprime.
Neste texto há três premissas que jamais devem ser esquecidas. Elas são libertadoras e abençoadoras.
1. Deus nos fez novas criaturas – “Aquele que está em Cristo, nova criatura é, as coisas antigas se passaram, eis que se fizeram novas.” Esta é a primeira premissa.”
Novas criaturas. Que premissa maravilhosa!
Sem Jesus, estávamos longe das promessas, éramos por natureza filhos da ira de Deus (Ef 2.3) por causa de nossos pecados, eternamente condenados. Mas agora Deus nos fez novas criaturas. “Se alguém está em Cristo (não na igreja), nova criatura é.”
Novas criaturas são forjadas e formadas pelo novo nascimento. Uma acao do Espírito Santo sobre nossas vidas. Novas criaturas são criadas por Deus para viverem para Deus, e não para si mesmas.
Em 1937, o famoso médico sul africano, Christian Barney, realizou um procedimento até então questionável e arriscado, fazendo o transplante de um coração. Este procedimento cirúrgico foi um sucesso e passou a ser realizado no mundo inteiro.
Este texto, entretanto, está falando de algo ainda mais necessário e profundo. Deus fez um novo procedimento por meio de Cristo. Ele tirou nossa velha natureza, orientada pela carne e pelo nosso Eu, e colocou em nós novas orientações geradas pelo seu Espírito. Isto é revolucionário e transformador. Você quer um novo coração?
A verdade é que, o antigo coração, centrado nos desejos pecaminosos, frutos da velha natureza, sempre traz muitos problemas. David Livinsgtone certa vez afirmou que “um coração com Cristo é um coração missionário; mas um coração sem Cristo é um campo missionário.” O coração do problema humano é o problema do coração.
Ser nova criatura é uma das grandes bençãos que recebemos de Deus. Apenas esta cirurgia realizada pelo Espírito Santo é capaz de nos transformar para a glória de Deus.
2. Tudo provém de Deus – “Ora tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo e nos deu o ministério da reconciliação.” (2 Co 5.18)
Esta é a segunda grande premissa deste texto.
O evangelho não é sobre nós, nem sobre nossa capacidade de fazer as coisas. O Evangelho é sobre Jesus, o que ele fez, o que ele é capaz de fazer. Por isto a Bíblia não tem heróis. Assim como os famosos personagens da Marvel Comics, nossos heróis bíblicos também são frágeis, têm pés de barro. Batman tem seu lado sombrio e obscuro, meio ligado às trevas. O homem aranha é desengonçado e nunca se dá bem com as meninas.
Quando olhamos a Bíblia, observamos que ela não está interessada apenas em contar a história dos homens, desvinculado da intervenção de Deus. Quem são nossos heróis sem Deus? Abraão? Que logo depois da promessa de Deus que faria dele uma grande nação e que através da sua vida, abençoaria todas as famílias da terra fica amedrontado e mente contra sua mulher, comprometendo sua integridade. Sansão? Um dos gigantes da fé. Frágil, pusilânime, inconstante, que estava sempre tropeçando na sua impulsividade...
O foco da Bíblia está no Deus que dirige a história humana. “Não a nós Senhor, mas ao teu nome dai glória.”
A missão começa em Deus. Ele estava consigo mesmo reconciliando o mundo através do sacrifício de Cristo. Por isto Jó indaga: “Porque, como se justificaria o homem para com Deus?” (Jó 9:2). Essa pergunta inquieta todos aqueles que buscam um relacionamento sincero com Deus. A maldade do homem o desqualifica diante do Deus justo e santo. A Bíblia afirma que “nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei” (Rm 3.20).
A beleza do Evangelho é que eu aceito que tenho pecado contra Deus e mereço sua punição, mas ainda assim sei que Deus é gracioso e me declara justo por meio de Cristo. Por causa de Jesus eu me torno aceitável perante Deus.
“Como pode o homem justificar-se diante de Deus?” Ninguém é capaz de se justificar diante de Deus. Todos somos pecadores e imperfeitos. O que Deus fez? Ele fez uma proposta a Jesus, de que ele entraria em nosso lugar e assumiria a condenação em si mesmo. “...A quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, pra manifestar a sua justiça.” (Rm 3.25) Aquele que sofreu o agravo, toma a iniciativa de restaurar o relacionamento.
Tudo provém de Deus...
Vs. 18 – Ele nos deu o ministério da reconciliação.
Vs 19 – Ele nos confiou a palavra da reconciliação. Colocou sobre nós, a grande responsabilidade de realizar seu projeto para a história humana.
Vs 20 – Ele nos fez embaixadores. Quando falamos, representamos o rei que nos transformou em seus representantes.
3. Deus nos provê justiça perfeita – “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós, para que nele, fossemos feitos justiça de Deus.” (2 Co 5.21)
Sempre que pregamos o evangelho, precisamos lembrar do caráter de Deus. Sendo amoroso, não deixa de cuidar de nós. Este é o lado mais fácil de compreender sobre Deus. Ele é bom, misericordioso, gracioso, perdoador. Mas há um outro lado, igualmente importante, que tendemos a rejeitar e nem sempre considerado: Deus é justo. Sendo justo ele não pode deixar impunes os nossos pecados.
Então o que fez Deus para conciliar esta realidade?
A Bíblia diz que o salário do pecado é a morte. Nós merecemos o castigo por nossas transgressões e pecados. É o que o grande teólogo Charles Hodge chamou da base judicial de nossa redenção.
Então o que Deus fez?
Jesus assumiu o nosso lugar. “Deus o fez pecado por nós” como diz o texto. O ofendido assume um papel de ofensor. Sua oferta de si mesmo se transforma em nosso resgate.
É neste ponto que encontramos o maior de todos os obstáculos: Como um Juiz absolutamente justo e reto pode de alguma forma justificar (declarar justo) um criminoso absolutamente culpado e condenado? Como qualquer ser humano pode escapar da condenação do inferno? O próprio Deus nos diz que aquele “que justifica o perverso e o que condena o justo abomináveis são para o senhor, tanto um como o outro.” (Pv 17.15) Então, por causa de sua justiça, ele colocou Jesus em nosso lugar. Ele não deixou os pecados impunes, mas apiicou sua ira em Cristo. Jesus satisfez a justiça requerida por um Deus santo.
Na serie Nárnia, de C. S. Lewis, Aslam ajuda a libertar Edmundo da Feiticeira e se oferece para morrer em seu lugar para pagar sua culpa e é humilhado por sua inimiga. A feiticeira branca pensou que com isso teria se livrado de Aslam, mas o ato de amor assumindo o lugar de Edmundo, devolveu sua vida e o livrou da condenação.
No final, para surpresa de todos, Edmundo, que comprometeu toda ordem de Nárnia ao fazer pacto com a feiticeira, recebe o nome de "o Justo" porque foi justificado por Aslam. Edmundo se vendeu e traiu por um manjar turco, mas mesmo assim Aslam se entregou e morreu no lugar do traidor.
No final Aslam lhe diz: "Eu morri em seu lugar, Edmundo. Só eu posso lhe condenar, mas achei por bem não fazê-lo. Uma vez justificado, o passado deve ser enterrado e tudo, a partir de então, se faz novo. "... não vale a pena falar do que aconteceu. O que passou, passou."
Assim como Edmundo, o traidor, foi perdoado e justificado, sabemos que traidores como nós podem ser restaurados. Se você já experimentou a graça de Cristo, conheço muito bem um destes traidores: você!
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