Introdução
Que
igreja queremos ser? Qual é a igreja ideal? Onde queremos chegar?
Existem
muitos modelos de igreja, e precisamos ter modelos que nos inspirem,
metodologia que nos ajudem a sermos mais relevantes e eficazes nas estratégias.
Novos tempos exigem novas respostas. Entender quem somos e onde estamos, o que Deus
espera de nós, é sempre desafiador. Queremos uma igreja bíblica, relevante, dinâmica,
frutífera, que evangeliza, discipula pessoas, e tem uma abordagem contemporânea,
para um novo tempo na história.
Mas,
estratégias, técnicas, marketing, relevância, tudo isto pode ser ineficiente se
perdermos a essência de quem somos, e perdermos a capacidade de entendermos o
que Deus espera de nós e como ele sonha sua igreja. As igrejas emergentes atraem
muitas pessoas, usam estratégias inteligentes, mas pecam por não cuidarem do
seu conteúdo. Igrejas que anunciam a mensagem a Teologia da Prosperidade, são hábeis
em atrair as pessoas, mas o seu conteúdo não apenas não é bíblico, mas é oposto
à Bilbia, por isto, herética na sua abordagem. Recentemente vimos pastores de
renome no brasil defendendo a tese de que devemos “atualizar a Bíblia”, e isto
foi dito num contexto no qual ele entende que a igreja precisa ser aberta a
determinados grupos que defendem práticas contrárias à ética cristã.
A
verdade é, queremos ser uma igreja viva, contemporânea, adaptada à realidade,
contextualizada, mas acima de tudo, queremos uma igreja bíblica. Uma igreja que
reflete o caráter de Cristo. A igreja cujo dono, Jesus, se comprometeu em edificá-la.
Queremos ser a igreja que Deus deseja construir na terra, a igreja que Deus tem
em mente. Ele é o Senhor, e ele é quem deve dizer que igreja ele deseja que
sejamos.
Esta
igreja pode ser encontrada aqui neste texto de Apocalipse. O texto fala da “Nova Jerusalém”, mas veremos
como esta “Nova Jerusalém” é a igreja de Cristo. Ela é representativa da
Igreja. Basta ler com atenção a Palavra de Deus, pois este é um dos poucos
textos de apocalipse que é autoexplicativo. Nós não precisamos elucubrar sobre
seus símbolos e nem tentar fazer uma hermenêutica acurada para saber de se
trata este texto. O texto é claro, direto, não deixa margem de dúvida sobre seu
significado.
Veja seu significado.
João é convidado a conhecer
a esposa de Cristo. “Vem, mostrar-te-ei a
noiva, a esposa de Cristo…E me transportou em Espírito…e me mostrou a santa cidade,
Jerusalém, que descia do céu”. (Ap 21.9-10). A noiva de Cristo é revelada
a João na medida em que ele enxerga a cidade idealizada por Deus. A Nova
Jerusalém, figurativamente, revela a igreja que Deus sempre quis ter, a igreja
idealizada por Deus.
Este texto nos revela a
igreja que Deus planejou, revela como Deus anseia em ver sua igreja, e o seu plano
para sua noiva. Mostra não a realidade historicamente crítica, ou as feições
tantas vezes meramente humana e algumas vezes quase demoníacas que a suposta
igreja cristã tem mostrado no decorrer da história eclesiástica.
Os afrescos de Miguel Ângelo,
conhecido artista renascentista, tinham uma característica marcante: Os rostos
dos anjos eram sempre muito ruborizados, vermelhos, excessivamente corados, e
quando lhe perguntaram porque ele usava aquela cor forte, respondeu que os
anjos estavam com vergonha de saber quem estava liderando a igreja.
Este texto mostra não a
igreja que é dominada por homens inescrupulosos, mas a igreja que Deus planejou
e criou para executar os seus planos na história. Por isto, este texto, é ao
mesmo tempo desafio e julgamento. Esta é a noiva por quem Cristo morreu, esta é
a igreja que ele está edificando no transcurso da história. A Igreja,
historicamente, tem sempre sido enganada, se apartando da simplicidade do
Evangelho, e não raras as vezes, tem perdido a pureza devida a Cristo, mas este
texto nos traz de volta pra compreender como Deus espera que seja sua igreja.
O texto de Apocalipse 21 nos
mostra esta igreja idílica. Esta é a noiva de Cristo com bastante azeite na sua
lâmpada para não ser surpreendida quando o noivo voltar. Esta é a igreja de
Cristo na sua pureza e exercendo sua plena autoridade moral, sem impureza, sem
rugas, nem manchas.
A realidade histórica da Igreja
A Igreja de Cristo, historicamente
nos apresenta duas facetas.
Uma destas faces é positiva.
Tem sido fiel no meio da
perseguição, da apostasia, da heresia. Tem defendido os valores morais do
Evangelho, pregado o Evangelho com autoridade, esvaziado o inferno com sua
pregação de poder, confrontado os poderes das trevas, tem tirado milhares da
superstição, do medo do diabo, livrado milhares da culpa, trazido paz ao
coração dos homens, e levado a mensagem do Evangelho para libertação de vidas e
trazido restauração a milhões de lares.
Esta é a Igreja militante, a
verdadeira igreja de Cristo, que no meio dos embates mais duros tem levantado o
estandarte do Evangelho, e se mantido fiel, muitas vezes com o preço de sua
própria vida.
Outra face é negativa.
Uma igreja que tem deixado
suspeitas morais na sua liderança, uma igreja politiqueira e interesseira, que
negocia status por fidelidade, que vende valores para se popularizar, que
sacrifica a mensagem para enganar e atrair gente sofrida e incauta. Esta é a
razão pela qual temos hoje uma igreja traumatizada, neurotizada, crítica e
descrente. Tenho encontrado pessoas na convivência da igreja que tem perdido a
fé por ver tantos desmandos internos. Gente que tem se tornado amarga. Gente
que já viu tantos sinais do Espírito no meio do povo de Deus, e que já foi até usada
por Deus na sua obra, mas que hoje questiona se aquilo era realidade ou
emocionalismo artificialmente gerado. Gente que vive a crise daquele pai do
garoto possesso que quando é perguntado por Jesus afirma se tinha fé, afirmou: “Eu creio, Senhor, ajuda-me na minha falta
de fé”.
É gente que crê sem crer.
Vive uma distensão imensa na alma porque, ao mesmo tempo que crê, está com o
coração seco por não saber realmente se deve crer ou não. Gente traumatizada,
neurotizada, ferida, amarga, crítica, ressentida.
Pessoas com este tipo de
experiência descobrem não o que a igreja de Cristo deveria ser, mas se
encontram com o lado mais negativo e sombrio destas comunidades, e esta
experiência normalmente desemboca em algumas atitudes extremamente negativas:
1. Tornam-se críticas da igreja
ao invés de tornarem-se cooperadoras
Um
dos casos exemplares foi de uma mulher, que depois de muitas frustrações na sua
igreja de origem, começa a participar do culto em nossa igreja e sempre me
dizendo à porta da Igreja. “Pastor, estou te avaliando…” Um dia, depois de
quase dois meses de tapinhas na minhas costas e com sorrisos zombeteiros, olhei
para os seus olhos e disse: “Filha, tem quase dois meses que você está me
avaliando, deixe-me avaliá-la agora: Durante este tempo, muitas coisas boas
aconteceram na igreja e você não foi abençoada, senão vejamos: enquanto você
avalia o pastor, você olha com crítica a mensagem, e portanto, a palavra não
pode penetrar em você. Enquanto você avalia a comunidade, você não se entrega,
fica na periferia dela, não faz amigos, não se deixa tocar. Enquanto você avalia, você não contribui para
o Reino com seus dons e talentos. Enquanto você avalia, sua atitude é de
crítica, tentando descobrir falhas que certamente você vai encontrar. Enquanto
mantiver esta atitude, você não receber a graça de Deus, e nem vai poder ser
usada pelo Senhor. Creio que está na hora de você mudar sua atitude. Devemos ir
à igreja, para sermos abençoados pela mensagem, para termos comunhão com o
corpo de Cristo, para glorificarmos a Deus através dos cânticos e das orações.
Devemos ir porque amamos o Senhor, e nos abrimos para a operação do Espírito
Santo em nós. Esta sua atitude de crítica, vai drená-la espiritualmente, lhe
roubar bênçãos e a alegria do Senhor”.
Ela admitiu que isto era verdade, mas logo depois saiu novamente da
igreja, levando e fazendo outras feridas naquela comunidade.
2. Não aprendem a amar a igreja
de Cristo, e esta relação confusa com o Corpo de Cristo afeta diretamente a
vida espiritual de seus filhos
Pessoas
assim, facilmente tornam-se críticas e amargas contra a igreja. O resultado é a
incredulidade que brota no seu coração e depois se instala no coração dos
filhos, que passam também a ser críticos da igreja e a rejeitá-la. Isto
acontece especialmente com pessoas que são líderes numa comunidade. Diante das disputas
internas, falta de piedade dos pais e da liderança da igreja, os filhos tomam
posição de defesa e acusação e finalmente rejeitam, não apenas as falhas da
comunidade, mas passam a descrer do conteúdo do Evangelho;
3. Esvaziam suas almas
Por
causa da animosidade, da contenda, dos ciúmes e da inveja presentes na igreja,
facilmente perdem a comunhão com o Senhor, o vigor do primeiro amor, a alegria
da salvação. Nunca vi uma pessoa cheia do Espírito que não tivesse uma relação
de amor e cuidado com a igreja, e que não estivesse debaixo da autoridade
espiritual da igreja.
Muitas
vezes viver numa comunidade não é fácil, mas é na comunidade que aprendemos a
paciência, que exercitamos o perdão, e é bom lembrar que Deus criou os membros
do corpo não para estarem separados, mas para viverem em harmonia e refletissem
a presença de Cristo na experiência comunitária.
4. Pessoas assim, geralmente
buscam a igreja perfeita. Criam uma imagem idealista da igreja e se frustram facilmente. Muitas
passam a visitar várias comunidades, mas sempre de forma crítica, encontrando
falhas aqui e acolá, tornam-se cada vez mais distantes do propósito de Deus
para suas vidas. Costumo dizer a estes turistas cristãos: Se você achar uma
igreja perfeita, não entre nela porque você pode estragá-la.
Obviamente, o que dizemos agora é
apenas um preâmbulo para abordarmos este texto, que fala da Igreja de Cristo. O
que Deus quer fazer da sua igreja? Qual é o projeto definitivo e eterno que ele
estabeleceu para a sua noiva, para o seu povo pelo qual ele morreu? Quais as
características desta noiva estão prefiguradas neste texto? O que estava na
mente de Deus quando ele formou a igreja?
1. A Igreja de Cristo tem a Glória de Deus sobre ela – “...
a qual tem a glória de Deus”. (Ap 21:11) A presença de Deus deve marcar a sua Igreja,
porque ela desce dos céus e revela a natureza de Deus. Ela reflete sua glória, é
o espelho de Deus na história.
Duas passagens das escrituras nos
demonstram esta revelação de Deus sobre a sua igreja:
a)- O
Tabernáculo – Nos dias de Moisés o povo de Deus foi instruído para
construir uma tenda, onde ficava a arca e se ofertavam os sacrifícios, onde o
povo se reunia para adorar a Deus. O povo de Deus estava no deserto, mas naquela
tenda o sinal distintivo de Deus estava presente: a nuvem de dia, para
proteger-lhes do sol, e uma coluna de fogo, a noite para iluminar o caminho.
Quando a nuvem se levantava, eles desmanchavam suas tendas, e seguiam a
movimentação da nuvem. O povo só se movia quando estas manifestações de Deus se
davam. A Glória de Deus estava sobre aquele povo e sua presença enchia o
tabernáculo.
b)- A Igreja Primitiva – Uma das declarações mais
impressionantes no relato de Atos 2-4 sobre a existência da igreja é que “em
cada alma havia temor”. (At. 2:43) A tradução das NIV é “awe” (uma
palavra que é mais usada como uma interjeição), dando ideia de que, porque Deus
estava ali, na alma das pessoas havia “espanto”.
Sem a glória de Cristo,
presente e manifesta no meio de seu povo, a igreja torna-se esvaziada do seu
poder de impacto. Esta é a primeira verdade que este texto revela sobre a
igreja de Cristo vista por João no céu. O protótipo, o modelo, o design, a proposta
de Deus para sua comunidade. Sem a glória de Deus, podemos ser uma grande e
poderosa instituição, mas ainda assim sermos uma realidade pálida do que Deus
deseja de sua igreja;
2. A Igreja tem proteção – “Tinha grande
e alta muralha.” (Ap 21.12) Esta muralha representa a proteção de Deus para
a sua igreja.
A
Igreja de Cristo não é desprotegida, existe fortíssima e cerrada oposição
contra a igreja de Cristo, estamos numa guerra espiritual, na qual a igreja é o
exército de Deus, mas sem sua presença protetora, sem o seu Espírito, seriamos presa
fácil. Tornamo-nos fortes por causa da muralha de proteção que Deus tem
colocado sobre a sua igreja. Se ela não for fortemente protegida, com grandes e
altas muralhas, será destruída. São muitas as forças contra a igreja,
Ateísmo,
Filosofia,
Sistemas políticos e
religiosos,
Sistemas de valores e propaganda,
Perseguição,
Heresias,
Apostasia.
A igreja precisa de muralhas
contra os inimigos. Esta muralha é a presença do Senhor Jesus. “Edificarei
minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (Mt 16.18)
Este texto nos fala de três verdades fundamentais sobre a igreja, e é bom pensar
sobre cada um deles:
A. A igreja é de Cristo e não de
homens. “Minha igreja”.
B. Jesus tem compromisso de
levar adiante o seu projeto: “Eu Edificarei, a minha igreja.”
C. Por causa do seu cuidado, a
igreja é vitoriosa e indestrutível: “as portas do inferno não prevalecerão
contra ela.”
O apóstolo Paulo, falando do
povo de Deus afirma: “As armas da nossa
milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus para destruir fortalezas,
anulando sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus”
(II Co.10:4-5)
O texto de Apocalipse revela
que nas portas desta Nova Jerusalém, protótipo da igreja de Cristo, há um forte
de esquema de segurança, porque pelas suas portas podem entrar heresias que
causam profundos danos ao corpo de Cristo e infiltrações satânicas como liberalismo
teológico e ética permissiva que podem confundir o povo de Deus.
3. A Igreja é protegida, mas não é uma estrutura fechada – ela tem portas
para todos os lados – 21:13
São portas em todas as
direções:
Norte
Leste Oeste
Sul
Existem portas para todos os
lados, e estão abertas, não fechadas. Isto aponta para a natureza missionária
da Igreja, seu projeto de ser e existir para o mundo.
Um dos grandes problemas da
igreja é o seu ensimesmamento, facilmente se transforma em gueto, fecha-se em
torno de si mesma. A Igreja é um organismo vivo, e como tal precisa se
reproduzir, ampliar fronteiras. Esta igreja tem espaço aberto para todos os que
precisam de conforto, direção, acolhimento, proteção, cura e direção, para
todos os que se encontram perdidos e cansados.
Esta igreja, contudo,
denuncia o perigo do fechamento e distanciamento cultural. Facilmente a igreja
torna-se um fim em si mesma, sem visão, sem missão, sem sonhos, sem projeto.
Torna-se ensimesmada, fechada, não receptiva. A Igreja de Cristo é retratada
aqui com portas abertas. Em nenhuma circunstância, sob nenhum pretexto, a nenhum
grupo racial, social ou político a igreja pode ter suas portas fechadas.
“Suas portas nunca jamais se fecharão de dia, porque nela não haverá
noite.” (Ap 21.25).
Portas abertas a todo tempo,
a todas as horas. Só quando a igreja se abrir, poderá realizar sua missão, e as
nações poderão trazer-lhe glória e honra. (Ap 21.26).
4. A Igreja possui fundamentos absolutos e claros – O texto afirma que “a muralha da cidade tinha doze fundamentos,
e estavam sobre estes os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro.” (Ap 21.14).
A
Igreja de Cristo é antes de tudo Apostólica.
Paulo
afirma que a família de Deus está “fundamentada
sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a
pedra angular.” (Ef.2.20)
Isto
é, sua estrutura está na base apostolar. Nada é mais eficiente ainda hoje
contra as heresias e desvios teológicos que o fundamento no qual a Igreja está
construída. Um prédio só é seguro se seus alicerces o forem. A cidade de Maceió
está vivendo dias de horror e calamidade, porque seu solo está afundando. Uma mina
de extração e exploração de sal encontra-se a 1200 Mts abaixo da cidade, e o
terreno está cedendo. Cinco bairros inteiros da cidade tiveram que ser
evacuados diante da eminente tragédia. Os alicerces são frágeis. Se a igreja não
possuir um alicerce seguro, ela não sobreviverá.
Muitas vezes a igreja é tudo, menos
apostólica. Houve uma determinada época que a Igreja resolveu afirmar que além
de apostólica precisava ser Romana, e estabeleceu outro fundamento que era a
tradição. Isto foi um grande tropeço para a igreja de Cristo na sua história. O
fundamento no qual sua muralha é erigida, e esta base é apostolar.
Muitos ainda querem
fundamentar a igreja em cima de outros pressupostos como a experiência pessoal.
Afirmam que tiveram novas revelações, novas profecias, novas experiências
sobrenaturais e que Deus está trazendo uma nova mensagem, complementar ou
contrária ao que já foi dada aos apóstolos. Isto tem trazido enormes prejuízos
para a mensagem do Evangelho. Desconfie do novo, da novidade teológica. Em
teologia, o novo quase sempre é a negação do velho e nossa base é velha, nosso
fundamento é antigo. Foi dado aos apóstolos.
Portanto, “Ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu
vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, sejá anátema.”
(Gl 1.9)
O Salmo 11.3 indaga: “Ora, destruídos os fundamentos, que poderá
fazer o justo”. Quando vamos comprar
uma casa, além do seu aspecto exterior, estamos profundamente interessados em
saber como vai sua base. Se ela estiver ruim, mesmo que tudo o mais pareça
excelente, certamente não vamos querer adquirir tal propriedade. Se os
fundamentos teológicos da igreja forem destruídos, a igreja estará mortalmente
ferida.
5. A igreja triunfante é adornada de pedras preciosas – é ornamentada. “Estão
adornadas de toda espécie de pedras preciosas.” (Ap 21.18-21)
A igreja
causa admiração por causa de seus ornamentos. As pessoas admiram sua beleza.
Estas pedras têm apenas a função de ornamentar, de adornar, representa valores
estéticos. Assim, o povo de Deus, deve ser admirado pelos seus adornos, suas
obras, seus atos, sua missão, seu ministério, seus atos de justiça e de
misericórdia.
A igreja tem sido admirada
na história pelo adorno de sua misericórdia, socorrendo os desvalidos, os
miseráveis, estendendo a mão ao aflito, tornando-se a voz daqueles que não tem
voz, sendo socorro para o órfão e a viúva. Quantas vezes a igreja tem sido
admirada na história de sua existência pelo seu poder de resistência a governos
tiranos, sua incapacidade de se curvar diante das ameaças de déspotas, sua
perseverança e resistência diante da oposição e da ameaça.
Muitas vezes a igreja tem
sido admirada pelo adorno de seu ministério, restaurando famílias, indivíduos,
culturas e nações, livrando povos do obscurantismo, da opressão maligna, da
ignorância e do medo. Estes são os adornos da igreja de Cristo. Pedras raras e
de grande valor tem sido colocada sobre este fundamento apostólico.
Além disto, estas pedras
revelam outros aspectos da noiva de Cristo: sua solidez, durabilidade e
esplendor. Estas realidades são experimentadas historicamente, de forma muito
opaca na igreja militante de Cristo, da qual temos participado. Mas o propósito
original de Deus é que ela esteja ornamentada de pedras preciosas, que revelem
o esplendor daquele que é seu senhor, a durabilidade de seu projeto, e a
solidez de suas convicções e de sua mensagem.
6. A Igreja celestial vive em intensa comunhão com o Senhor e o Cordeiro –
(Ap 21.22) “O seu santuário é o Senhor.” Mais
adiante lemos: “Contemplarão a sua face,
e na sua fronte está o nome dele”. (Ap
22.4)
Estes
textos revelam a completa intimidade do Senhor com o seu povo. Não haverá mais
santuário, símbolo da presença de Deus entre o seu povo, porque a presença de
Deus será agora real e perceptível. O templo, para os judeus, simbolizava a
presença de Deus no meio de seu povo, mas na Nova Jerusalém, a presença de Deus
não é simbolizada por um templo, ela é simples e puramente experimentada na sua
mais absoluta dimensão.
Templo relaciona-se a algo
estrutural. O contraponto aqui é a rigidez e a institucionalização dos sistemas
eclesiásticos, que engessam a alegria e a exultação do Espírito que está sendo
derramado sobre a igreja. Muitas instituições eclesiais, já perderam a
capacidade de ser uma comunidade que experimenta o amor do Pai, a graça do
Filho e a comunhão do Espírito Santo. Certa feita ouvi de um conhecido líder
evangélico, num encontro de liderança cristã em Brasília um desabafo que me fez
estremecer. “A liderança de minha denominação, conspira contra a Santidade”.
A Igreja é chamada para
vivenciar a comunhão do Senhor, experimentar a alegria de sua presença e a
celebrar a vida restaurada e redimida que o Cordeiro de Deus nos propiciou.
7. A Igreja celestial não se prende a estruturas ou edifícios humanos, mas
na relação com o seu Senhor - “Nela não vi santuário, porque o seu santuário
é o Senhor, o Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro.” (Ap 21.22)
A Igreja descrita
não tem preocupação com estrutura, com edifício, pelo contrário, celebra
exatamente o contrário: A absoluta ausência de santuários, vestuários,
indumentárias. Ela está feliz com a presença do Senhor, e isto lhe basta. Sua
alegria está em saber que o Senhor é o santuário que eles não precisam de nada
mais.
Muitas
vezes idolatramos estruturas, exaltamos templos e as maravilhosas construções.
Vivendo em New England, Nordeste dos Estados Unidos, me deparava diariamente
com prédios belíssimos, luxuosíssimos, arquiteturas centenárias e lamentava,
porque dentro destes prédios, não existe mais salvação, pessoas não estão se
convertendo, vidas não têm sido transformadas. Poucos dias atrás estava num
encontro de pastores, e um pastor batista estava louvando a Deus porque,
utilizando as estruturas de um velho templo batista na cidade de Cambridge, MA,
conseguiram restaurar o batistério, que estava entulhado de coisas do
Departamento Infantil, depois de anos sem uso…
A
realidade mais bela no Reino de Deus, não é nossa relação com edifício ou
coisas, mas com pessoas e almas.
O
apóstolo Paulo afirma que, a velha aliança foi escrita com tintas, em tábuas de
pedras, mas a nova era escrita em tábuas de carne, isto é, no coração. (2 Co 3.3).
Entre
a Velha e a Nova aliança existe uma grande mudança. As coisas deixaram de ter
valor absoluto e passaram a ter valor relativo. O que importa agora não é mais
o cerimonial e santificação exterior, fundamentada na santificação de objetos
do Templo, na separação de objetos. O que importa agora é a atitude do coração,
se a obra de Deus está marcada nas nossas mentes, nas nossas emoções, nos
nossos afetos. Tem a ver com o interior, tem que ser escrita “nos corações.”
Na
Nova aliança, o importante não é se adoramos o Senhor em Sião ou Refidim, mas
se o adoramos “em espírito e em verdade.”
(Jo 4.24)
A
noiva de Cristo tem sua preocupação e contentamento maior, na comunhão com o
Senhor, e não na ordem dos objetivos na liturgia de um culto. Seus valores não
estão presos a obras humanas, mas à convivência e à relação com o Pai
Celestial. Não está preocupada com prédios luxuosíssimos ou com estruturas
grandiosas, mas com o valor inalienável da convivência com o Senhor. Prédios
são relativos, porque são transitórios. O que importa é a presença de Deus!
Templos não fazem uma igreja viva, liturgia e formas de governo, hierarquia e
estrutura também não fazem uma igreja fiel à sua missão. A única realidade que
pode caracterizar o sentido mais profundo da igreja é a presença de Deus no
meio dela, é o toque do Espírito sendo percebido, vidas sendo resgatadas, pessoas
sendo curadas e redimidas pelo Sangue do Cordeiro, enfim, a relação desta
igreja com o Senhor
8. A Igreja gloriosa recebe sua iluminação, sua claridade do Cordeiro,
porque Ele é a sua lâmpada. “A cidade não precisa do
sol, nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e
o Cordeiro é a sua lâmpada.” (Ap 21.23).
Não
tem luz própria, não é autóctone. Toda sua luminosidade vem de Jesus.
Algum
tempo atrás um casal me pediu que eu abençoasse a união deles. Depois de
entrevistá-los, descobri que aquela mulher, que se via como evangélica, tinha 3
filhos no Brasil que ficaram com seu esposo, e viera tentar sua vida na América
e ao encontrar outra pessoa passaram a viver juntos. Mas como ela era “crente”,
não queria viver naquele relacionamento sem que um pastor orasse por eles e os
abençoasse.
Depois de
lhes mostrar que a Bíblia condenava claramente aquela atitude dela, uma vez que
era casada com outro homem e estava vivendo um regime de concubinato, mostrei
ainda que eu não podia abençoar o que Deus não abençoava, porque eu não tinha
capacidade de dar benção por mim mesmo, e se tentasse ministrar benção sem a
benção de Deus, o efeito poderia ser contrário, minhas bênçãos se
transformariam em maldição para suas vidas. (Mal 2.1-3).
Muitas vezes a igreja se esquece desta realidade de
que todo Poder, toda glória, todo domínio, toda benção, toda luminosidade vêm
do Senhor. Não podemos fazer acontecer um avivamento, porque isto é obra
de Deus. Não podemos converter ninguém, porque isto é obra do Espírito.
Não podemos curar quem quer que seja por nossos próprios esforços,
porque isto é prerrogativa divina. Não podemos existir sem Jesus, porque o
Cordeiro é a lâmpada da igreja. Não existe pastor poderoso, o poder é de Jesus.
Ele vai conseguir realizar a obra do Senhor na medida em que for fraco, porque
se torna canal da benção de Deus. A Igreja vive sua dialética, é forte porque é
fraca. Tem claridade, porque não tem luz própria. Seu candeeiro é Cristo.
9. A Igreja que Deus tinha em mente é referência para as nações e traz
cura para os povos “As nações andarão mediante a sua luz, e os
reis da terra lhe trazem a sua glória.” (Ap 21.24).
O
seu poder moral, sua autoridade se afirma diante de poderosos, e em
reconhecimento desta realidade lhe é trazida a glória e a honra das nações. (Ap
21.26).
Quando
a Inglaterra era uma das maiores potências mundiais viveu debaixo de uma
profunda depravação moral. Stott afirma que o povo britânico era, no século
XVIII, tão profundamente depravado e corrupto quanto nenhum outro povo da
cristandade: A cruel tortura de animais no esporte, a bebedeira bestial do
populacho, o tráfico desumano de negros africanos, o sequestro de compatriotas
para a venda como escravos, a selvageria do sistema penitenciário e do código
penal, a mortalidade infantil, a obsessão universal pela jogatina, a expansão
devassadora da imoralidade, a prostituição do teatro, a prevalência cada vez
maior da ilegalidade, da superstição e da libertinagem; a corrupção e o suborno
da vida pública, a arrogância e a truculência das autoridades eclesiásticas.
Como
este cenário mudou?
“Tal
mudança surgiu de uma nova consciência social…dada à luz e nutrida pelo
reavivamento evangélico através de um cristianismo vital e prático – um
reavivamento que iluminou os postulados centrais da ética do Novo Testamento,
tornou real a paternidade de Deus e a fraternidade dos homens”.
-Assim
foi para Sierra Leone com a abolição da escravatura em 1787, sob a liderança de
Wilberforce.
-Sob
a influência poderosa de William Carey, a igreja conseguiu por fim à prática
ritualística do extermínio das viúvas hinduístas na Índia que eram queimadas
vivas no funeral de seus maridos.
-As
primeiras forças que se opuseram à escravidão nos Estados Unidos saíram
principalmente de entre os convertidos nos reavivamentos de Finney.
-“Os
missionários desempenharam papel muito importante na abolição de escravos
forçados no Congo. Resistiram ao comércio de escravos no Sul do Pacífico.
-Lutaram
ferrenhamente pelos direitos humanos no combate ao ópio, à atadura dos pés e à
exposição das meninas recém-nascidas na China. Abriram guerra à queima das
viúvas, ao infanticídio e à prostituição sagrada na Índia e, acima de tudo,
romperam a escravidão social e econômica do sistema de castas que afetava os
inferiorizados e marginalizados”.
E o que dizer do Brasil, com
milhares de vidas sendo libertas da escravidão da idolatria, da prática das
religiões animistas, da consagração e rituais macabros feitos nos terreiros de
umbanda e macumba? A Igreja que Deus tinha em mente tem o poder de iluminar as
nações e de trazer esperança aos povos.
10. A Igreja sonhada por Deus, traz cura para os povos.
“E as folhas de suas árvores são para a cura dos povos.” (Ap 22.2).
O
que sai dela, é vida, saúde, redenção, libertação, justiça, misericórdia. Cura
para os povos.
Nem
sempre a igreja historicamente é agência de restauração e cura. Muitas vezes, a
igreja que deveria ser terapêutica, torna-se uma igreja que adoece as pessoas,
neurotiza famílias, causa enfermidade e dor. Mas uma marca da verdadeira igreja
será sempre a sua capacidade de curar, de restaurar, de redimir. A Igreja
verdadeira segue, pelo poder do Espírito, curando vidas, salvando almas,
restaurando lares, sarando feridas, curando traumas, libertando opressos e
possessos.
A
Igreja de Cristo é o mais eficaz agente de cura.
A Igreja gloriosa confronta a maldição e profetiza
benção. “Nunca mais haverá qualquer maldição” (Ap 22.3). Ela existe para
quebrar maldições, romper pactos sinistros. No lugar onde ela for estabelecida,
haverá confronto com os poderes das trevas, pois sua mensagem “livrará do
laço do passarinheiro e da peste perniciosa…Não te assustarás do terror
noturno, nem da seta que voa de dia, nem da peste que se propaga nas trevas,
nem da mortandade que assola ao meio-dia.” (Sl 91.3-6) Nunca mais haverá
qualquer maldição! Louvado seja o nome
do Senhor.
11. Só se pode participar desta igreja que Deus planejou, aqueles que são
achados inscritos no livro da Vida – “Nela, nunca jamais
penetrará coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominação, mas somente
os inscritos no livro do Cordeiro.” (Ap 21.27)
O
que nos impressiona é o sistema seletivo aqui descrito, que por sua natureza
rígida, exclui a todos nós.
Quem
é capaz de dizer, não tenho nenhuma mancha, sou incontaminado? Por outro lado,
sabemos que ninguém é inscrito no livro do Cordeiro se não for lavado pelo seu
sangue. O convite não é para justos, mas para os redimidos. É capaz de
participar de tal projeto, não aquele que se julga superior espiritualmente,
mas aquele que, por ser um “grande pecador”, sente necessidade de ter um
“grande salvador” e encontra a redenção na obra expiatória de Cristo.
Na
Igreja terrena, joio e trigo se misturam, não dá para discerni-los antes da
colheita. O Senhor da obra, curiosamente recomenda que não tentemos arrancá-los
antes da época da colheita. Só o tempo vai trazer o necessário discernimento.
A
Igreja atual é susceptível de contaminação, não raramente graves abominações
são reveladas no meio do povo de Deus, grandes escândalos. “É inevitável que venham os escândalos”.
A
igreja sonhada por Deus, contudo, por causa da presença gloriosa de Deus e de
sua absoluta transparência revela e denuncia a mentira, a abominação e práticas
pecaminosas que a contaminam e enfraquecem. Para se participar da Igreja
gloriosa, é necessário, porém, que nosso nome seja escrutinado por aquele que a
tudo vê. Um requisito essencial para se participar dela é que o nosso nome
esteja inscrito no livro da vida!
12. A Igreja que Deus tem em mente é celestial é eternamente vitoriosa – “Reinarão pelos séculos
dos séculos.” (Ap 22.5)
Não
há força que possa se opor ao poder da Igreja de Cristo.
Quem se levantar contra a
igreja de Cristo será destruído, esmagado. Esta Igreja é imbatível e
eternamente vitoriosa. Vai reinar junto com Jesus, quando ele voltar nas
nuvens, e não há poder que possa mantê-la na terra.
E quando o Filho do homem vier
em sua majestade e todos os anjos com ele, aparecerá nos céus o sinal.
“Todos os povos se
lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e
muita glória. E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os
quais reunião os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra
extremidade dos céus” (Mt.24:30-31),
“Depois, nós, os vivos, os
que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o
encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor.
Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras”. (I Ts.4:17-18).
Samuel Vieira
Orlando, Flórida
24.02.2001 72o. graus F