“Mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam, e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” (Fp 3.13-14)
Introdução
Deixar… prosseguir…
Nem sempre é fácil deixar....
Nem sempre é fácil prosseguir...
1. Deixar... esquecendo-me das coisas que para trás ficam...
A. Deixe as amarguras, ofensas sofridas e feridas abertas.
Numa antiga música o compositor Taiguara afirma:” Só encontro, gente amarga pendurada no passado.”
É fácil contabilizar os ofensores, fazer uma planilha do erro dos outros. Esta é uma situação muito comum no casamento. Casais em crise geralmente gostam de perfilar uma série de erros que o cônjuge cometeu. Me recordo de um destes episódios de aconselhamento que depois de ouvir uma série de mágoas e ofensas, eu disse o seguinte à pessoa que eu aconselhava: Se minha esposa tivesse contabilizado todos os erros que já cometi contra ela, a lista dela seria infinitamente maior. Somos casados há muito mais tempo...
Não dá pra avançar contabilizando as amarguras. Perdoe. Liberte esta pessoa... liberte você.
Paulo afirma:
“Contudo, esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser desqualificado.” (1 Co 9.27)
Fico pensando nesta desqualificação. Certamente Paulo está falando de coisas eternas, mas é importante não ignorar que, facilmente, podemos sucumbir porque fomos feridos... existem muitos pastores e líderes que pregaram aos outros, mas estão sucumbindo por sua atitude de ressentimento, e até mesmo raiva interior, porque não receberam o tratamento que achavam que deveriam receber. Há muitos missionários e esposas de pastores que se perderam por causa da amargura contra a igreja.
b. Deixe a vergonha e culpa.
Todos erramos... eventualmente nossos erros são notórios, públicos, afetam nossa honra, atinge nossas famílias, fere pessoas, traz graves consequências.
Quando tomamos atitudes erradas, nos justificamos e nos explicamos. Eventualmente não percebemos o mal que estamos causando e encontramos razões psicológicas para nosso comportamento, muitas vezes até mesmo culpamos os outros por estarmos fazendo o que fazemos. Isto é muito comum quando se trata de adultério. Além de magoarmos o outro queremos responsabilizar o outro, uma espécie de culpa compartilhada: Estou fazendo isto por que ele (a) me fez isto...
Mas quando verdadeiramente nos arrependemos, quando o Espírito Santo mostra nosso pecado, sentimos muita tristeza, culpa, dor e até mesmo “nojo” de termos sido tão susceptíveis à traição. O arrependimento é a tristeza segundo Deus.
Mas existe outra tristeza que não é mais segundo Deus. Uma pessoa que cometeu tal vileza, pode facilmente passar a viver debaixo da acusação da consciência e do diabo, e não encontra mais a liberdade para viver uma vida de perdão. Davi sofreu muito pelo seu pecado, e foi fascinante a compreensão da graça e do perdão de Deus para sua vida. Ele afirma: “Bem-aventurado é aquele cuja iniquidade é perdoada. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não atribui iniquidade.” (Sl 32.3,4)
Precisamos entender a beleza da tristeza segundo Deus. Ela nos transforma, nos remodela. Mas quando já confessamos o nosso pecado e o deixamos, e ainda vivemos debaixo da culpa e da vergonha, estamos do outro lado da moeda: não estamos vivenciando a graça e a misericórdia de Deus. Desta forma ficamos presos pela acusação da memória.
É preciso deixar a vergonha e a culpa... A culpa é um mal conselheiro. Se quisermos prosseguir, não podemos alimentar a culpa nem viver debaixo da acusação, afinal “Se confessarmos os nossos pecados, ele (Jesus) é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. E o sangue de Jesus, nos purifica de todo pecado.”
“Deixe as coisas que para trás ficam.” Não carregue consigo a vergonha do seu pecado. Jesus já morreu por ele. Confesse e deixe, abrace a misericórdia de Deus. Não viva cativo das amarras da consciência, encontre o perdão em Deus para voltar a viver com liberdade e autoridade. Seu pecado é real, mas o perdão de Deus também é real.
c. Deixe os fracassos e perdas.
Muitas vezes fracassamos, e o fracasso possui um papel didático e pedagógico, ele nos torna fortes, mas o fracasso não pode nos definir.
Muitos tiveram fracassos financeiros. Neste ano um irmão querido foi envolvido numa fraude na compra de um carro que lhe trouxe grande prejuízo. Ele ficou abatido, angustiado e triste e não era para menos. Suas economias tinham pulverizadas e ainda ficou com dívidas para pagar. Mas ele não se deixou abater. Reagiu, foi a luta, e colocou as coisas em ordem. O fracasso se tornou um estímulo para avançar.
Muitas vezes o fracasso nos abate, e passamos a viver em torno do fracasso. Não deixe que o fracasso defina você! Você não pode colocar sua vida num ponto onde ocorreu o fracasso. Aprenda com o fracasso, cresça com o fracasso. Grandes homens de negócio descobriram novas oportunidades quando tiveram um fracasso retumbante. O caos não os controlou. Eles avançaram.
Muitas vezes, diante de grandes projetos e desafios, sinto-me muito fragilizado e tenho medo. Recentemente estávamos discutindo o grande desafio da construção do templo, alguns irmãos estavam receosos. Num determinado momento eu disse: “vocês acham que eu não tenho qualquer dúvida? Não! Minha vida ministerial sempre foi marcada pelo medo de não ter a competência necessária, e a fé para crer que Deus pode fazer infinitamente mais do que pedimos ou peçamos. Temor e Fé. Esta é a dinâmica a vida. Mas ainda assim vamos caminhando e sendo diariamente desafiados.
Se o fracasso vier, por alguma razão, use-o como aprendizado. A Bíblia afirma: “Porque sete vezes cai o justo, e se levanta; mas os ímpios são derribados pela calamidade.” (Pv 24.16).
Muitas vezes o fracasso é financeiro. Um antigo ditado dizia: “vão-se os anéis, ficam os dedos.” Perder não é fácil, tira nossa alegria, nos sentimos humilhados e tristes, mas existe um texto nas Escrituras, no qual Amazias, rei de Judá, contrata o exército de Israel para ir com ele à guerra, mas veio um homem de Deus que lhe disse para não se associar com aqueles homens, porque o Senhor não via esta aliança com bons olhos. Mas o rei já havia enviado uma grande quantidade em dinheiro para ter aqueles homens como aliado, e então “Disse Amazias ao homem de Deus: Que se fará, pois, dos cem talentos de prata que dei às tropas de Israel? Respondeu-lhe o homem de Deus: Muito mais do que isso, pode dar-te o Senhor.” (2 Cr 25.9) Firmado nesta palavra ele foi à guerra apenas com seu exército e retornou vitorioso.
Muitas vezes precisamos olhar para as perdas e dizer: “Muito mais do que isto o Senhor me pode dar...” e não ficarmos presos na perda que tivemos. A vida dá muitas voltas. “Há tempo de ganhar e tempo de perder.”
Conta-se que há muito tempo atrás um rico comerciante viajava num navio no Mississipi, nos EUA, quando ele afundou. O homem levava consigo grande quantidade de barras de ouro para efetuar uma negociação, e sabendo que tudo iria para o fundo do rio, resolveu pegar suas barras de ouro e colocá-las no bolso. Alguns dias depois encontraram aquele homem morto, no fundo do rio, com os bolsos repletos de ouro.
Quem continua trazendo seus fracassos e perdas, infelizmente na conseguirá avançar. “Deixe as coisas que para trás ficam.”
D. Deixe o pecado
Todos vivemos na trágica condição de alimentarmos determinados pecados de estimação. Gostamos de cultivar hábitos e condicionamentos que passam a controlar nossa vida. Seja na esfera da pornografia, imoralidade, ou da ira, vaidade, orgulho. Muitas vezes estes pecados se tornam idolátricos e dominam nossa mente e emoções. Apesar de sabermos que os vícios podem nos envolver e destruir, ainda assim eles nos dão certa satisfação e falsa segurança. O vicio pode nos levar a pensar que não seremos capazes de viver sem ele.
Entretanto, o pecado se torna uma amarra da consciência. Tira a alegria, destrói a paz, enfraquece seu relacionamento com Deus, não te deixa avançar espiritual e emocionalmente. Existem muitas famílias presas, porque estão debaixo do “fútil procedimento legado pelos pais”, como diz o apóstolo Pedro. Este procedimento pecaminoso pode se tornar um fator incapacitador na vida de uma pessoa. Não dá para avançar com vida dupla. A bíblia fala de um homem que começou a frequentar a igreja da Samaria, que era alguém importante na cidade, com certa projeção financeira e status social, e chegou até mesmo a crer e ser batizado, mas Pedro o repreende pela sua conduta, chamando-o a se arrepender e se livrar dos “laços de iniquidade” (At 8.23). Ele vivia amarrado e dominado pelos seus pecados. É preciso largar os vis procedimentos, mas o problema é que sempre vivemos alimentando estes monstros e não sabemos como viver sem continuar neste ciclo interminável de morte e mentira.
Deixe o seu pecado. Sua vaidade pode destruir você, sua ira, seu mau humor, sua indiferença, sua mesquinharia e avareza, sua vaidade.
“Deixe as coisas que para trás ficam.” Abandone seus ídolos, seu comportamento pecaminoso. Volte-se para Deus para ser restaurado.
2. Prossigo para o alvo...
Como afirmamos no início, não é fácil deixar determinadas coisas para trás, e não é fácil prosseguir. O desânimo, a desesperança, a descrença, o cinismo, podem nos levar a não termos ânimo nem fé suficiente para prosseguir. O medo de fracassar e errar novamente, lutar é cansativo e frustrante. Amadurecer não é uma tarefa tão fácil, é difícil virar um homem responsável, ser uma mulher responsável. Às vezes é melhor continuar sendo menino. Como correr uma maratona: eventualmente somos dominados pelo senso de impotência e achamos que não dá pra chegar na reta de chegada.
Por outro lado, há muita distração e entretenimento que tiram nosso olhar do alvo. Não é fácil perseverar, somos tendentes a desistir.
Jordan Peterson no livro 12 Regras para a vida, afirma que pesquisas demonstram que depois de determinada quantidade de páginas de leitura, algo em torno de 600 páginas, parece que o cérebro dá um “salto”. Quantos de nós nos esforçamos para atingir esta meta em um mês, ou quem sabe em um ano?
É necessário seguir para o alvo. Mas qual é de fato a grande meta da vida? O que você espera alcançar? O que dirige sua vida? Qual é sua ambição? O que realmente importa?
Conta-se que um determinado jovem ouviu falar que seu país, a China, estava em guerra com outro país. Então ele disse ao seu pai que iria se registrar para a guerra. Afinal, ele era jovem, forte, sabia manusear bem a espada e a flecha. Seu pai tentou dissuadi-lo, mas ele estava convencido de que ele precisava fazer isto. Montou seu cavalo e partiu. Depois de três dias de caminhada, encontrou um ancião e lhe falou de seu plano, dizendo que queria defender seu país. O ancião então ouviu sua disposição, prestou atenção na sua história, e disse: “Meu jovem, tudo isto que você está querendo fazer é louvável. Só tem um problema: A guerra está no Sul e você está viajando para o Norte.”
Muitas vezes estamos correndo muito, fazendo coisas demais. Não nos falta disposição, mas falta-nos direção. Aonde queremos chegar? Qual é o nosso alvo?
Nesta semana estive em Goiânia visitando um irmão muito querido que esteve internado por sete dias nesta época do Natal. Seu corpo estava fraco, na mesma semana teve um diagnostico de câncer de próstata. Ali no hospital, amparado pela sua esposa, algumas decisões foram tomadas e ele me compartilhou isto com lágrimas:
A primeira delas é que ele deveria diminuir o ritmo de sua vida. Precisava repensar suas prioridades, o que de fato era importante. Fazer menos, viver mais.
A segunda dela é que ele e seu irmão mais velho estavam já algum tempo sem conversar. Eles tiveram algumas divergências e estavam distanciados um do outro. No hospital, sem irmão depois de um longo tempo de silêncio, lhe mandou um recado pela sua filha e eles conseguiram conversar um com o outro. Choraram muito ao telefone, e decidiram que não poderiam viver como estavam vivendo. Sua enfermidade estava agora sendo ressignificada. A dor e o sofrimento estavam permitindo que pudessem enxergar as coisas com mais lucidez.
Paulo afirma: “prossigo para o alvo.” Mas qual é o alvo? aonde queremos chegar? Quando Paulo estava preso em Roma, ele enfrentou muitas lutas: a solidão, o abandono, a pressão política. E para culminar, até mesmo alguns irmãos da igreja lhe causaram danos. Refletindo sobre sua prisão ele disse: “Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei.” (Fp 1.18)
O alvo de Paulo era ver a obra do evangelho se expandindo, e Cristo sendo glorificado. Um antigo cântico dizia: “Estou seguindo a Jesus Cristo, este caminho, eu não desisto. Estou seguindo a Jesus Cristo, atrás não volto, não volto mais.”
Qual era o alvo de Paulo?
“Deixando as coisas que para trás ficam, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação que está em Cristo Jesus.” (Fp 3.14)
Seu alvo é Cristo!
A Bíblia afirma que no processo de discipulado devemos “levar cativo todo pensamento à obediência de Cristo.” (2 Co 10.5). Nossa mente precisa se encharcar das verdades de Deus. Nossa mente está sempre querendo viver de forma independente, não gostamos de saber que alguém mais está dando ordens para nós, mas se você realmente quer viver uma vida que agrade a Deus, a sua mente tem que estar subordinada à sua Palavra. Você se transforma em discípulo. Há um só mestre e Senhor: Jesus. A ele devemos obedecer. Nosso alvo é agradar nosso mestre.
Há ainda uma outra afirmação bíblica que nos leva a pensar
“Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro.” (Ef 4.13,14). Nosso modelo é Jesus.
A Bíblia afirma que, “em Antioquia, foram os discípulos chamados cristãos pela primeira vez.” (At 11.26) O que muitos não sabem é que o termo cristão era uma forma irônica de se referir aos cristãos, uma zombaria, já que significava “pequenos cristos.” Os discípulos queriam imitar o estilo de vida de Cristo, e foram zombados por isto. Mas este deve ser o alvo dos discípulos de Cristo. Ser parecido com ele. Chegar à plenitude da estatura de Cristo. Nada menos que isto!
Esta é a soberana vocação.
Infelizmente nosso alvo é muito disperso. Estamos entretidos e distraídos com muita coisa, esquecemos a razão e o alvo de nossa vida. Paulo afirma: “prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus que está em Cristo Jesus.” Este é o alvo, esta é a nossa vocação. Tudo o que acontecer além disto deve ser direcionado à nossa vida com Deus. Esta é a soberana vocação. Este é o nosso chamado e missão.
Tudo o que me acontece deve me levar a uma atitude de maior santidade, uma forma de reproduzir Jesus.
Certa vez acompanhamos o sofrimento de uma mãe que era colega de faculdade e perdeu seu filho de uma forma trágica afogado na piscina de sua casa. Ela era uma pessoa com uma fé muito sólida, e quando a encontramos depois, ela nos dizia que, durante todo tempo ela foi tentada a perguntar o porquê, mas ela procurava lembrar constantemente de fazer outra perguntar: Para que? Se Deus é amoroso e me ama, para que ele permite que eu passe por uma dor tão lancinante, qual é a razão disto tudo estar acontecendo? O que Deus está querendo nos ensinar, o que precisamos aprender na tragédia, na dor e na perda?
Estou caminhando para o prêmio da soberana vocação em Cristo Jesus. Deus deseja me ensinar algo neste processo. O que me acontece agora tem a ver com seu plano soberano, santo, para que eu receba a coroa da vida eterna. Meu alvo não é algo temporal, mas é eterno. Não é circunstancial, mas é atemporal.